Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

28 dezembro 2012

São Paulo e Rio de Janeiro

Recentemente li o excelente Capital da Solidão, uma história da cidade de S Paulo escrita por Roberto Pompeu de Toledo. O que me levou a comprar o livro foi a necessidade de passar tempo, a grata surpresa de ver que a livraria Book Stop onde comprávamos os livros texto dos professores Butija e Dárcio do Colégio Bandeirantes resiste bravamente às décadas na R Bernardino de Campos, e o fato que história é a única coisa que tenho paciência de ler entre os achados em livrarias comerciais.

Mas divago. O fato é que recomendo fortemente o livro, que apesar de ser escrito por um jornalista, com base em fontes historiográficas, eu consideraria uma fonte primária pela abrangência da concepção e clareza da escrita.

Para fazer par comprei recentemente A História do Rio de Janeiro de Armelle Enders. O ponto de vista centrado numa cidade me parece muito apropriado para elucidar as partes da história que permanecem obscuras na historiografia de países ou épocas. Na verdade o motivo para essa compra é que Os Donos do Poder de Raymundo Faoro, sobre o qual esse blog certamente escreverá num futuro próximo, tem massa excessiva para leitura na cama numa época de feriados e viagens. Novamente, digressiono.

Esse livro-companheiro, embora de maneira nenhuma seja um mau livro, não está me entusiasmando tanto. O motivo principal há de se revelar a superioridade de minha ignorância sobre o Rio, e meu maior interesse por S Paulo. O motivo desse post é considerar outros.

Em 1o lugar, a cidade de S Paulo teve uma existência semi-autônoma, até certo ponto independente da coroa portuguesa. A história do Rio de Janeiro se confunde, ao menos como contada pela pesquisadora da Sorbonne nesse livro relativamente curto, com a história do Brasil e de Portugal; e assim traz menos surpresas ou revelações para o paulistano medianamente letrado.

Em 2o lugar, a documentação paulistana é farta - as atas da Câmara Municipal se preservam desde a origem dos Campos de Piratininga. Agradeceria alguma informação sobre a documentação carioca existente até nossos dias, mas especulo que tenda mais para o que já conhecemos sobre o Brasil todo. De qualquer modo, a apresentação do indispensável contexto luso-brasileiro reduz as oportunidades para revelar as características específicas da história urbana do Rio.

Finalmente, o livro do jornalista paulista é superior ao da historiadora francesa. Além de estar estruturado como uma fonte secundária ou didática, este contém ao menos um erro de interpretação imperdoável. Um tema fundamental da história carioca pré-independência são as invasões francesas do Rio e Lisboa. A cada uma delas, a autora da "História do Rio de Janeiro" ressalta a tensão entre o reino de Portugal e seu antigo aliado, a Inglaterra, indicando até que a preocupação primordial da Coroa durante a ocupação napoleônica de Lisboa fosse a autonomia das colônias em relação à pérfida Albion.

Essa visão galocêntrica da história detrai da qualidade do livro e coloca em dúvida a análise apresentada. Se houver alguma revelação importante na parte sobre o Rio de Janeiro imperial, ou sobre meu herói Pedrão, volto a escrever sobre o assunto.

PS: Cheguei até o fim do império. A conclusão é que o livro não é bom. Trata-se na verdade de uma história política do Brasil, de um ponto de vista franco-carioca. Não de uma história da cidade. Como exemplo, os mapas são escassos, insuficientemente informativos, e surpreendentemente, não foram traduzidos. Quando o título de um capítulo leva a esperar que finalmente a história urbana se revele, o texto logo recai na política da capital, tendo a cidade, sua economia, sua sociedade, e sua cultura apenas como temas secundários. O texto não revela o mesmo amor pelo objeto historiografado que lemos em cada página de Pompeu de Toledo.

Se uma grande história urbana do Rio já foi escrita, por favor me esclareçam.

25 dezembro 2012

Fraude, ética, e relevância na ciência

Existem eventos isolados de fraude em ciência.
Os artigos científicos fraudulentos são uma pequena minoria das publicações.
Afirmações científicas errôneas não se deixam reproduzir, estender, ou confirmar.
O impacto de artigos fraudulentos tende a sumir com o tempo.

Alguns indivíduos pouco merecedores se beneficiam com a fraude acadêmica.
São casos de injustiça.
Duas são as formas de injustiça que merecem a atenção de uma pessoa com senso de ética: quando um indivíduo obtém benefícios que não merece; e quando os azares da vida impedem que uma pessoa obtenha os merecidos sucessos. Isso é assunto para um post futuro, mas de maneira geral podemos dizer que a 1a preocupação é típica da ética conservadora, ou de direita, enquanto a 2a forma é central para a ética humanista, ou de esquerda.
O caso de um pesquisador cuja carreira progride graças à fraude é uma injustiça do 1o tipo.
É raro que os benefícios individuais da ciência fraudulenta persistam indefinidamente.

A detecção da fraude na ciência ocorre pelo processo de reprodução e extensão dos resultados.
Eliminação e punição da fraude exigem controle adicional da atividade científica.
A introdução de controles externos atrapalha o desenvolvimento científico.
Os danos do controle externo são mais duradouros do que o efeito de possíveis fraudes.

A eliminação e punição de fraudes tendem a virar uma caça às bruxas contraproducente do ponto de vista científico, embora parcialmente justificável como preocupação ética do 1o tipo.

Existe um problema ético sério na ciência, que é o da relevância.
É difícil identificar a priori se uma linha de trabalho tem importância futura.
A ciência não dispõe de critérios claros para detectar trabalhos irrelevantes.
Pesquisas irrelevantes abundam em todo o meio acadêmico.
Trabalhos irrelevantes podem ser executados por má fé.
Mais frequentemente, resultam de pressão pela obtenção de resultados imediatos.
A proliferação de pesquisa irrelevante é uma barreira ao avanço científico e tecnológico.
A irrelevância nega a pessoas de bem o acesso aos frutos da ciência e da tecnologia.

A relevância é uma preocupação científica séria e uma preocupação ética do 2o tipo. Ela exige um esforço redobrado da comunidade acadêmica.

24 dezembro 2012

Christmas in Massachusetts

Two of the remaining newspapers in the United States (I forgot which is the other) give us an opportunity to compare the quality of their writing. The New York Times has a simple, informative piece by a young scholar reminding that religious intolerance among Puritans extended to banning Christmas celebrations. A week later the Wall Street Journal responds with a diatribe by a religious activist bringing the words "ethnic cleansing" to push his side of the debate about religious freedom.

The gift of free speech renews itself. Merry Christmas y'all!

22 dezembro 2012

English so-called soccer, TV so-called news

Yesterday on a flight to Colorado I watched MSNBC, Fox TV, and English soccer for the 1st, and hopefully last, time.

Microsoft TV was gloating about the double conservative shanda, Congress Republicans trying to bring the country down rather than tax people who make more than a million dollars a year, and the gun lobby trying to bring more guns into schools. Well it's a liberal's right to gloat, but I don't need to watch. Fox News was trying to avoid mentioning any news - they spent time trying to remember whether they used to have 5 or 6 talking heads in the show, and then moved on to a story about an American detained in Mexico over gun possession charges - apparently the US should invade Mexico over this or something like that.

If that is news, then so-called premier league can be called soccer. Although it looked to me that the keepers kick the ball to each other and the remaining 10 players try to pass the ball back to the keeper. So I fell asleep. The world may not have ended, but TV is over for me.

17 dezembro 2012

Corinthians, o campeão dos campeões!


Um colega escreve que o Tite é um grande técnico, e que gosta da ideia de um time de futebol virar um empresa de capital aberto.

Se é o caso de abrir o capital, não sei. É possível gerenciar bem um clube que continua sendo sem fins lucrativos. A diferença é entre gestão profissional e amadora. Quem quer ser amador, tem que se divertir, e aceitar derrotas. Para ser profissional, tem que ser sério, e aceitar os limites da competência de cada um. O problema são os camaleões do mundo moderno. Perante os futebolistas, são gerentes financeiros. Perante os banqueiros, são dirigentes esportivos. Mudam de cor, para não serem devorados.

Foram esses os caras que reafundaram o Palmeiras, o Belluzzo acima de todos. Não tiveram a humildade nem competência para aceitar as lições do rebaixamento, e vão ter que começar de baixo mais uma vez.

Há outros bons técnicos no Brasil além do Tite. O problema é que eles não têm apoio dos dirigentes, que ganham dinheiro e começam a achar que sabem de futebol. A direção do Corinthians sabe que quem entende de futebol são os bons técnicos e os jogadores. Outro time teria demitido o Tite quando perdeu algum jogo. A direção do Corinthians manteve o técnico competente e investiu no time, em vez de embolsar o faturamento.

A vantagem que o Timão tem é a Fiel, que bota mais torcedor em Yokohama (68.275) do que o São Paulo bota na Bambinera de Paraisópolis (67.042). E falando no São Paulo, tenho dúvidas se o velho mito da boa gestão sãopaulina não é exatamente isso - um mito. O time há muito é sustentado pela renda do estádio, que ficou obsoleto. Agora que a competição apertou, os dirigentes demitem o técnico a cada vez que querem evitar olhar para os próprios erros.

12 dezembro 2012

I didn't really scoop Paul Krugman

Last year after going to a bat mitzvah in N Jersey I wrote about Rabbits in New England. Now Paul Krugman writes that we should be paying more attention to how profit from capital is increasing at the expense of wages.

He is right and there is something wrong in the USA.

08 dezembro 2012

O fractalista

Recentemente li o memorial de Mandelbrot. Devo começar dizendo que nunca acompanhei muito o trabalho do matemático, em parte porque uma vez ouvi uma conferência dele em Yale e não aproveitei muita coisa. Mas recentemente esperando a condução li 2 artigos nas Notices of the AMS sobre a vida e matemática do Mandelbrot. E me dei conta que um conjunto de importância no estudo do antigo problema de Lur'e tem dimensão fractal. Então o presente do livro do próprio Mandelbrot foi bem recebido.

Uma coisa que falta no tal memorial (sim, estou usando o termo com ironia) é matemática. Além disso, trechos do texto são repetitivos. E ele gosta de name dropping. Diverte, mas não é de bom gosto. Como disse Nimzovich, autopromoção é aceitável só quando o reconhecimento merecido é injustamente negado. Mas podemos dizer que o reconhecimento a Mandelbrot foi tardio, embora abundante, então a autopromoção não chega a desmoralizar.  O maior interesse foi ler o autor contando sua vida. Me chamaram a atenção alguns pontos.

Mandelbrot nunca se adaptou à rotina acadêmica, recebeu tenure aos 75 anos (sempre há esperança). Passou a maior parte da carreira na IBM Research Labs. Os laboratórios de pesquisa pura de grandes empresas, Bell Labs, Xerox PARC, Phillips, são hoje uma vaga saudade. Existiram numa época de grandes monopólios aceitos pela sociedade. Os bons, especialmente nos Estados Unidos, eram muito bons. Os ruins, por exemplo no Brasil, eram muito ruins. Mas isso é outra conversa. Na universidade de hoje, Mandelbrot ficaria ainda menos confortável. Os laboratórios fazem falta.

Ele tinha uma péssima impressão dos bourbakistas, o que criou atritos até com seu próprio tio, Szolem Mandelbrojt, um matemático de qualidade. Não estava de todo errado. O formalismo matemático faz sentido filosófico, é até útil, mas se sai de controle atrapalha a ciência e a educação. Não há motivo para deixar de estudar algo só porque não conseguimos provar teoremas completos. Nem para estudar algo só porque os teoremas se deixam provar e se transformar em publicações. Figuras ajudam o entendimento. Por outro lado, a informalidade atrapalha na aplicação das ideias da geometria fractal. Como dizia Amadeu Matsumura, desenhos não provam nada.

Acadêmicos que se saem mal das memórias são os economistas de Chicago. O solitário leitor saberá por que isso produz um sorriso nesse blogueiro. Eugene Fama, em particular, aparece como um pseudo-bourbakista da economia, sem o conhecimento matemático dos Bourbaki originais, nem a honestidade deles. Para ele o formalismo é apenas um instrumento de autopromoção. Diz Mandelbrot que a hipótese dos mercados eficientes é conveniente e às vezes útil, mas não se verifica; e Fama não merece nem o crédito nem a culpa de tê-la inventado, apenas de ter trocado seu nome. Como dizia o Prof Waneck....


Como dizia o Prof. Waneck...

Os economistas são aqueles que não sabem álgebra. Entraram na universidade pela porta dos fundos. Perante os humanistas, são técnicos; perante os engenheiros, filósofos. São os camaleões do mundo moderno: mudam de cor, para não serem devorados.

28 novembro 2012

Adam Smith sobre a burocra acadêmica


Vejam a perfeição do texto linkado. Tem tudo a ver com as discussões sobre currículo da Poli.

Smith: Wealth of Nations, Book V, Chapter 1, ARTICLE II: Of the Expence of the Institutions for the Education of Youth, V.1.130-V.1.146

Como é um pouco longo, seguem abaixo alguns trechos supimpas. Grifos meus. Para discussão de abordagens pedagógicas, a frase definitiva é: 

No discipline is ever requisite to force attendance upon lectures which are really worth the attending, as is well known wherever any such lectures are given.

V.1.133
In every profession, the exertion of the greater part of those who exercise it is always in proportion to the necessity they are under of making that exertion.

V.1.134
The endowments of schools and colleges have necessarily diminished more or less the necessity of application in the teachers.

V.1.136
It is the interest of every man to live as much at his ease as he can; and if his emoluments are to be precisely the same, whether he does or does not perform some very laborious duty, it is certainly his interest, at least as interest is vulgarly understood, either to neglect it altogether, or, if he is subject to some authority which will not suffer him to do this, to perform it in as careless and slovenly a manner as that authority will permit. If he is naturally active and a lover of labour, it is his interest to employ that activity in any way from which he can derive some advantage, rather than in the performance of his duty, from which he can derive none.

V.1.137
If the authority to which he is subject resides in the body corporate, the college, or university, of which he himself is a member, and which the greater part of the other members are, like himself, persons who either are or ought to be teachers, they are likely to make a common cause, to be all very indulgent to one another, and every man to consent that his neighbour may neglect his duty, provided he himself is allowed to neglect his own. In the university of Oxford, the greater part of the public professors have, for these many years, given up altogether even the pretence of teaching.

V.1.138
If the authority to which he is subject resides, not so much in the body corporate of which he is a member, as in some other extraneous persons, in the bishop of the diocese, for example; in the governor of the province; or, perhaps, in some minister of state it is not indeed in this case very likely that he will be suffered to neglect his duty altogether. All that such superiors, however, can force him to do, is to attend upon his pupils a certain number of hours, that is, to give a certain number of lectures in the week or in the year. What those lectures shall be must still depend upon the diligence of the teacher; and that diligence is likely to be proportioned to the motives which he has for exerting it. An extraneous jurisdiction of this kind, besides, is liable to be exercised both ignorantly and capriciously.

V.1.139
Whatever forces a certain number of students to any college or university, independent of the merit or reputation of the teachers, tends more or less to diminish the necessity of that merit or reputation. The privileges of graduates in arts, in law, physic*113 and divinity, when they can be obtained only by residing a certain number of years in certain universities, necessarily force a certain number of students to such universities, independent of the merit or reputation of the teachers.

V.1.141
If in each college the tutor or teacher, who was to instruct each student in all arts and sciences, should not be voluntarily chosen by the student, but appointed by the head of the college; and if, in case of neglect, inability, or bad usage, the student should not be allowed to change him for another, without leave first asked and obtained, such a regulation would not only tend very much to extinguish all emulation among the different tutors of the same college, but to diminish very much in all of them the necessity of diligence and of attention to their respective pupils. Such teachers, though very well paid by their students, might be as much disposed to neglect them as those who are not paid by them at all, or who have no other recompense but their salary.

V.1.142
If the teacher happens to be a man of sense, it must be an unpleasant thing to him to be conscious, while he is lecturing his students, that he is either speaking or reading nonsense, or what is very little better than nonsense. It must, too, be unpleasant to him to observe that the greater part of his students desert his lectures; or perhaps attend upon them with plain enough marks of neglect, contempt, and derision. If he is obliged, therefore, to give a certain number of lectures, these motives alone, without any other interest, might dispose him to take some pains to give tolerably good ones. Several different expedients, however, may be fallen upon which will effectually blunt the edge of all those incitements to diligence. 

V.1.143
The discipline of colleges and universities is in general contrived, not for the benefit of the students, but for the interest, or more properly speaking, for the ease of the masters. Its object is, in all cases, to maintain the authority of the master, and whether he neglects or performs his duty, to oblige the students in all cases to behave to him, as if he performed it with the greatest diligence and ability. It seems to presume perfect wisdom and virtue in the one order, and the greatest weakness and folly in the other. Where the masters, however, really perform their duty, there are no examples, I believe, that the greater part of the students ever neglect theirs. No discipline is ever requisite to force attendance upon lectures which are really worth the attending, as is well known wherever any such lectures are given. Force and restraint may, no doubt, be in some degree requisite in order to oblige children, or very young boys, to attend to those parts of education which it is thought necessary for them to acquire during that early period of life; but after twelve or thirteen years of age, provided the master does his duty, force or restraint can scarce ever be necessary to carry on any part of education. Such is the generosity of the greater part of young men, that, so far from being disposed to neglect or despise the instructions of their master, provided he shows some serious intention of being of use to them, they are generally inclined to pardon a great deal of incorrectness in the performance of his duty, and sometimes even to conceal from the public a good deal of gross negligence.

V.1.146
The parts of education which are commonly taught in universities, it may, perhaps, be said are not very well taught. But had it not been for those institutions they would not have been commonly taught at all, and both the individual and the public would have suffered a good deal from the want of those important parts of education.

Apoio da Usp a estudantes menos favorecidos

A Usp devia montar um programa de apoio a estudantes de colégios menos favorecidos. Professores da Usp visitariam colégios, conversariam com administradores, professores, e estudantes, com o objetivo de aproximar a universidade das populações menos assistidas sociedade. Os professores da Usp poderiam dar apoio direto falando sobre suas sobre suas especialidades acadêmicas, tirando dúvidas sobre assuntos tratados nas aulas dos colégios, e respondendo perguntas gerais.

Um compromisso razoável seria de uma semana de trabalho por ano para cada professor, podendo ser redistribuído de forma razoável entre os docentes das unidades e departamentos. Seriam 2% do trabalho total da universidade, o que não pode ser considerado excessivamente oneroso. Esse programa  desmistificaria a experiência universitária, mostrando a frações da população que a Usp é uma instituição acessível, embora seletiva. Assim teria um impacto muito maior do que iniciativas como quotas, pontuação extra, e outros esforços na direção de maior justiça social que têm sido discutidos, sem a maioria dos problemas que essas iniciativas podem trazer.

Eu não sei como organizar um programa desses. Mas confio que face a face com estudantes de colégio os professores da Usp vão saber dar o melhor de si e fazer uma contribuição inestimável à justiça social. O maior obstáculo é a inércia burocrática, que certamente vai preferir criar comissões e reuniões para gerar relatórios e criar regras que ficam aqui dentro da universidade, contam pontos nas carreiras, mas têm impacto nulo sobre a ciência e cultura no país.

15 novembro 2012

Em 1889....

Hoje é aniversário do 1o golpe militar da história do Brasil. O governo constitucional só foi restabelecido 5 anos depois, com a posse do paulista Prudente de Morais na presidência.

Dizem que o então presidente americano, Benjamin Harrison, quando soube da Proclamação da República do Brasil, disse ter deixado de existir a única verdadeira república na América Latina. A citação pode não ser atestada, mas não deixa de ter um fundo de verdade.

10 novembro 2012

I have nothing against numbers.

I like numbers. Some of my best friends are numbers. But you can't trust numbers. You never know on whose side they are. If you torture a number, it will confess anything. You just can't trust numbers.

09 novembro 2012

Gerrymandering rule


Proposed rule:
No portions of any two cities or towns shall be in a district if the said cities or towns are joined by a paved road which stays within the State, if the length of the said road between the two towns is not longer than two thirds of the shortest distance of a drive beginning in one said city or town, ending in the other, and remaining within the district.
The rule above has the goal of enforcing a practical measure of convexity upon voting districts, with the goal of avoiding extreme cases of gerrymandering. It is an attempt to answer a questions that @JohnAllenPaulos asked on Twitter

Another different answer mentioned in the conversation is splitline districting.



05 novembro 2012

Nowhere to run

"Nowhere to run" é o melhor episódio da melhor série de TV americana, Murphy Brown. Se alguém conseguir assistir, boa diversão. Alguém lembra se era nesse episódio que a secretária da Murphy Brown só dizia "Sure, fine, no problem"? O melhor momento é quando Miles conta que recebeu sua primeira ameaça de morte.

Miles: Some guy called. He said if we don't drop the story he's gonna send me to Toledo in several small sandwich bags.
Murphy: Is that what this is all about? Hey, everybody, Miles, just got his first death threat! Death threats happen to every good journalist, Miles. You've gotta look at it as a right of passage.

Miles: I'm sorry I had my rite of passage. There was a rabbi and a big buffet.

Ao contrário da vida real, a máfia do programa de TV telefonava diretamente para o Miles, não para o chefe dele.

02 novembro 2012

Darboux's method

Darboux's method, as explained by Cartan, is a systematic way to find whether a partial differential equation can be solved using ordinary differential equations techniques. If so we may be able to solve a given equation point-by-point, or curve-by-curve, without the need to find the complete solution. Ordinary equations are easier to solve and, most important, the answers are a lot easier to understand, so Darboux's method should be widely used. That does not seem to be the case. Why? I have a number of explanations, possibly all equally wrong.

1 - The number of situations for which Darboux's method gives useful answers is too limited. As I understand, that happens when the exterior differential system admits so-called Monge characteristics, which, for many equations of practical importance, may not be the case.

2 - Darboux's method is used more often than my growing ignorance has been able to discern.

3 - Physicists, the people who most often solve partial equations, need complete solutions. In this case a complete numerical solution is less complicated and more useful than a piecewise solution along given curves.

4 - Numerical methods using computers are convenient for finding complete solutions. However they are not likely ever to be useful for finding real-time answers in engineering applications such as feedback control. This is of course the reason I am interested in Darboux's method.

5 - Cartan is difficult to read. There exist more recent texts, including ones by Burke; Arnold; Ivey & Landsberg; Stormark; Olver; and Bryant, Chern, Gardner, Goldschmidt & Griffiths. Except for Burke and Arnold, who wrote for physicists and are not complete explanations of Cartan, they are not that much easier going than the originals.

6 - Cartan wrote in French, as did Darboux. That should not be a serious problem, because everybody should be able to understand mathematics written in French. Or so thought our teachers when they began to translate all of science into English after Europe devolved into barbarity in 1933. They translated German and Russian, but of course translating French was not urgent - the literature in Italian and the other European languages was smaller. By now the subset of researchers who would consult a French original is a proper subset of the French-speaking scientists, possibly not even a very large one. So Cartan is still somewhat shrouded in mystery.

7 - Darboux's method requires working with complex characteristics, even for real differential equations. Of course imaginary and complex numbers are the delight of every self-respecting electrical engineer, may you have the same joy. The less fortunate might find them challenging.

I would not be very keen on alternative 1 being the main explanation. The others appear in the order of how amused I am by them.

31 outubro 2012

Currículo da Poli - engenharia elétrica

Como os leitores desse blog podem saber, a Poli está discutindo currículos de graduação. A proposta de flexibilização que mencionei foi aprovada em algumas instâncias. Aproveitando as mudanças curriculares, os diversos cursos dentro da engenharia elétrica querem unificar os currículos até o 3o ano, o que considero bom.

O problema é que cada departamento enxerga a unificação do currículo como uma oportunidade para introduzir as disciplinas lecionados por seus docentes para um número maior de alunos. A discussão já está demorando muito e foca exclusivamente conteúdos que os departamentos querem que sejam ensinados em sala de aula. Com isso, chegamos a uma proposta na qual o 2o e 3o ano tem mais de 28 créditos de aula por semestre, tendo sido eliminado o espaço para as disciplinas eletivas e os interessantes laboratórios de práticas de eletricidade, cursos focados em projetos dados aos alunos de 2o ano.

Hoje um professor disse que "os alunos da Poli não têm maturidade para tomar decisões, e por isso temos que fornecer currículos extensos e rígidos para eles". Disse o que quis, ouviu o que não quis. A verdade. E a verdade dói. Com isso, ganhei um inimigo, ou mais. Mas isso não vem ao caso.

O que quero pedir aos alunos e ex-alunos que me leem é que identifiquem das matérias na tabela abaixo as que mais necessitam ser removidas do currículo proposto. Notem que algumas são velhas conhecidas, enquanto outras são metástases de disciplinas desfuncionais. Em alguns casos o conteúdo é óbvio, em outros fica como lição tentar adivinhar exatamente. Para cada disciplina, as recomendações podem incluir "considere como fundamental para engenharia elétrica e deve ser ensinada nos 3 primeiros anos", "elimine do currículo", "pode virar optativa", "pode ser interessante para alunos de quarto ou quinto ano de alguma ênfase", ou outras recomendações.

As discussões estão tendo quase nenhuma participação estudantil - na verdade a 1a vez que vejo alunos foi hoje, porque eu estava dando uma prova na sala de computadores ao lado e alguns dos meus alunos vieram escutar e deram algumas opiniões. Então a opinião de alunos e ex-alunos é fundamental. Me respondam nos comentários por favor.

Notem que são 28 matérias se eu contei certo, portanto 4 semestres inteirinhos para serem comprimidos em 2 anos, nos quais ainda deveriam caber os assunto básicos como físicas e matemáticas, além de eletivas e disciplinas de projeto.


Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3
Grupo 4
Grupo 5
Grupo 6
Eletromag.
Circuitos I
Intro. Eletrônica
Sistemas Digitais I
Sistemas e Sinais
Química
Ondas e Linhas
Circuitos II
Eletrônica I
Sistemas Digitais II
Controle
Energia Meio Amb.
Conversão
Lab. Circuitos I
Lab. Eletrônica I
Lab. Digital
Lab. Controle
Intro. Eng. Elétr.
Lab. Conversão
Lab. Circuitos II
Lab. Eletrônica II
Algor. e Estrut.
Intro. Redes e Com.
Res. Mat.

Variáveis Compl.

Lab. Programação

Fen. Transp.

Circuitos III




30 outubro 2012

Energy of hurricanes

According to the Wikipedia entry, the power of ONE cyclone is estimated at 10^15 Watts, that is to say, 200 times the electrical power generated worldwide.

Even if climate change produces a small number of extra hurricanes and typhoons a year, burning carbon fuels generates a lot more power in the form of hurricanes than in the form of electricity. An incredible form of leverage!

This mechanism would not work if it were true that humans cause hurricanes by allowing people of the same sex to marry, or that global warming is caused by Fernando Henrique Cardoso's neoliberal policies. These arguments may not be scientifically tenable but who knows?

28 outubro 2012

Vote cedo, e vote sempre

Votei 2 vezes hoje, então vou escrever sobre um assunto que aparece a cada eleição: no Brasil o voto é obrigatório. Assim diz a Constituição, e assim diz a tradição: se não fosse obrigatório, ninguém levava a sério. Votar é um direito, e também é um dever. Muito simples.

Não deixa de ser uma imposição, especialmente as punições para quem deixou de votar. Em geral reclama contra o voto obrigatório quem sabe não estar fazendo grande coisa pelo país, e procura alguma picuinha para culpar o país por sua pouca eficácia. Não somos forçados a votar em um candidato, nem outro, podemos anular o voto. Comparecer às urnas ocupa poucos minutos, justificar a ausência é fácil, e a multa em caso de não comparecimento é simbólica. Ou seja: o fardo para o cidadão é leve, não justifica maiores reclamações e muito menos uma emenda constitucional.

Mas a figura da multa é antipática. O voto é obrigatório mas o cidadão não precisa ser punido por não votar. Sem falar na visita ao cartório eleitoral, com funcionários pagos por nós para prestar um serviço indesejado, às vezes sem muita amabilidade. 

Um aperfeiçoamento que pode ser feito por regulamentação ou lei ordinária, sem mudança na Constituição, é o seguinte: quem não vota nem justifica a ausência fica isento de qualquer multa ou punição, bastando para isso que escreva de próprio punho uma carta endereçada à Justiça Eleitoral explicando o motivo de não ter votado. Qualquer explicação serve: doença, cansaço, viagem, desafeto ou ojeriza aos candidatos; protesto, bebedeira, ou pura preguiça; contanto que manuscrita e assinada. Isso dá ao eleitor a oportunidade de extravasar suas frustrações e exercitar as nobres artes da caligrafia epistolográfica. 

A Justiça Eleitoral deve arcar com as despesas de postagem  e até promover um concurso premiando as melhores justificativas. Vão ter o que fazer e se divertir. Por outro lado, prestigiando quem vota, o eleitor que comparece à urna ganha uma cocada, doce de goiaba, ou bananinha. Gera diversão, e emprego!

22 outubro 2012

Ameaças dos ministros

No programa politico hoje, o ministério da Dilma em peso ameaçando o eleitor paulistano de forma implícita mas pouco sutil: ou votam no PT, ou então o governo federal não manda dinheiro nenhum para S Paulo. Para quem prestou mais atenção nos detalhes, diversas contradições que não vale a pena enumerar. Mas o ponto principal ficou claro: ou votam no candidato afinado com o partido do governo federal, ou os impostos que o paulistano paga continuam sendo desviados exclusivamente para outros estados.

Parece propaganda de um candidato desesperado, não de alguém que lidera as pesquisas confortavelmente. Se o eleitor paulistano, tradicionalmente independente e orgulhoso, prestar alguma atenção às ameaças, Haddad perdeu as eleições no programa de hoje.

14 outubro 2012

Kleztival

Não esqueçam de ir ao 3o Festival de Música Klezmer, até 21 de outubro, em diversos locais da cidade. Links para o programa no site do Instituto de Música Judaica Brasil e no Guia da Folha. Na foto, Beny Zekhry tocando com Frank London dos Klezmatics e outros.

13 outubro 2012

Comentário no blog da Raquel Rolnik


Há tantos erros nesse artigo que talvez fosse mais fácil tentar achar os acertos. Mas vamos aos principais.

1 - A região mais central de S Paulo historicamente foi a que votou contra a ditadura, contra Jânio e contra Maluf. Isso não surpreende, porque as pessoas que tiveram oportunidade de estudar mais se defendem melhor da pressão das ideias reacionárias. O PT ganhou os votos na periferia, que tendia a votar nos candidatos mais à direita, pela força de suas ideias e simplificação da apresentação.

O artigo confunde esse ponto usando um conceito inadequado, de "voto anti-petista", o que se explica pelo usa da janela "histórica" curta de menos de 10 anos, somada ao uso rígido da dicotomia direita-esquerda, que não representa adequadamente o pensamento do eleitor.

2 - As sutilezas da variação da porcentagem de votos nos últimos 4 anos não indicam uma mudança secular do padrão de comportamento do eleitor, e são melhor explicadas como opções dependentes das qualidades dos candidatos. Em particular, Haddad é um candidato muito melhor que Marta Suplicy. Essa não é a minha opinião particular - fio a opção do Lula, um dos maiores entendidos em política brasileira!

3 - O fenômeno Russomanno foi uma "bolha" que estourou. Se a eleição tivesse sido alguns dias depois, ele teria ficado em 4o ou 5o lugar, talvez a velocidade da queda de intenção de voto. O fenômeno se explica pelo fato que muitos eleitores decidem na última hora e antes disso dizem qualquer nome que conhecem, e não tem maior significado quanto às grandes questões urbanas.

Acho que esses 3 são os principais erros. Agradeço a atenção.

11 outubro 2012

Inspeção veicular em S Paulo

Acabei de fazer a inspeção do meu Fiat do século passado (anno 1999) na Controlar. A inspeção veicular em S Paulo é rápida, eficiente, e barata. Bom trabalho da prefeitura de S Paulo. Comparação, em Massachusetts a inspeção anual é feita em postos de gasolina, e custa o dobro. Aqui foi necessário montar toda a estrutura das inspeções - acredito que os responsáveis avaliaram corretamente que a inspeção descentralizada feita em oficinas mecânicas já existentes não iria funcionar. O preço está bem razoável.

@sgoldbaum me indica que o contrato da empresa responsável pelo programa Controlar está sob investigação, que não é claro que o programa melhorou a qualidade do ar, e que há distorções no programa.

Capacidade técnica a empresa tem: agendamento e inspeção são eficientes. Nem todos os carros são cobertos, mas a qualidade do ar tem melhorado apesar do aumento do número de carros circulando. Para garantir isso a inspeção é indispensável, porque um carro irregular polui mais do que centenas ou milhares de carros com equipamento antipoluição adequado. O prefeito Kassab está certo em declarar que o programa beneficia a saúde do cidadão, conforme citado no artigo acima.

Quanto ao resto das acusações do Ministério Público, não sei. Boa parte são filigranas legais, que não interessam nem a mim nem ao cidadão comum, embora sirvam para gerar emprego para advogados e polemistas políticos. Contrato perfeito no Brasil não há, nem negócio público insuspeito. Os promotores que apresentem suas denúncias, os advogados da prefeitura que preparem contratos rigorosamente dentro da lei, o ministério público que investigue irregularidades, e os juízes que decidam - cada um faz seu trabalho. Uns defendem a saúde do cidadão, outros servem ao lobby dos automóveis, e outros só querem aparecer.

Como cidadão, o que me interessa é que no total geral o programa é bom e barato. 

09 outubro 2012

Partido do Kassab

O partido novo do Kassab é o grande vencedor das eleições: elegeu mais prefeitos do que o antigo pefelê teve na eleição anterior. Se bem que muitos são prefeitos de cidades pequenas, nunca antes na história desse país um partido cresceu tão rápido. Beneficiou-se do colapso do antigo partido, mas também do PMDB e do partido Verde. Os verdes estavam numa boa trajetória, mas as pininbas entre Penna e Marina fizeram o partido retroceder vários anos.

O prefeito paulistano avaliou corretamente que estava limitado pelas deficiências dos ex-arenistas, e fez um excelente trabalho político montando o novo partido. Continuamos sem saber qual necessidade do Brasil ou que demanda do eleitor esse novo partido atende, mas o fim do pefelê não vai me provocar lágrimas.

Infelizmente para isso Kassab se descuidou do emprego de prefeito. Exemplo: obras do largo da Batata pararam depois que o metrô ficou pronto. Metrô é caro, praça custa pouco, não há desculpa senão desleixo ou peior.

O eleitor paulistano avalia corretamente que seu funcionário descuidou do serviço nos últimos anos.

07 outubro 2012

A Bucha

Os presidentes do Brasil que estudaram na Faculdade de Direito de S Paulo foram, a maioria deles pelo menos, membros da Bucha, uma sociedade secreta quase tão antiga quanto a faculdade. A wikipedia diz até que a Bucha tem relação com a Skull & Bones, sociedade secreta de Yale da qual são membros os presidentes Bush pai e filho, mas essa afirmação não é substanciada.

Durante a ditadura Getúlio a Bucha entrou em completo segredo. Nunca mais se ouviu falar dela. O único presidente da Faculdade de Direito desde 1930 foi Jânio, que provavelmente não foi membro da sociedade secreta liberal.

Será que ela ainda existe? Será que o Haddad foi membro da Bucha, uma sociedade liberal? O que isso significaria para o Brazil? Absolutamente nada, mas daria um romance.

Nunca antes na história desse país....

Com a eleição de hoje, são 30 anos que eu voto para prefeitos, governadores, presidentes, senadores, deputados, e vereadores. A partir de 1982, a única eleição fajuta, de cartas marcadas, foi para presidente em 1985.

Nunca antes na história desse país um cidadão teve direito de eleger seus representantes por tanto tempo.

(Há algum exagero na frase acima: houve eleição de 1894 a 1926. Mas faz tanto tempo que se eu não escrevesse ninguém ia lembrar, e se eu não fizer a conta ninguém vai perceber que foram 33 anos. Ninguém fora o leitor do blog, digo ;-)

Votei em alguns políticos bons, outros nem tanto. Os constituintes do PMDB que elegi escreveram uma Constituição muito melhor que os meio político brasileiro. Graças a ela o estado de direito consegue se defender até agora das tentativas de subversão por políticos e juristas, algumas delas objeto de posts nesse blog que defende solitariamente nossos direitos constitucionais: abcd.

No total geral, estou satisfeito.

05 outubro 2012

Fallacy of the political commentator

American voters respond to the state of the economy. When unemployment is going down, support for the incumbent president increases. When unemployment increases, voters move towards the opposition.  There seems to be consensus about this fact, which is largely true for several other countries.

Now the way to measure unemployment is through the report on jobs which is published monthly. So far so good.

From this the professional commentators seem to have concluded that voters will change their opinion on a given date of the month, with basis on the fall of the jobless rate. The enormity of this fallacy is unbelievable. Homework: identify the Latin name of this erroneous mode of reasoning.

04 outubro 2012

Debate do Grêmio Politécnico

Debate sobre educação organizado pelo Grêmio Politécnico: vieram 2 dos 3 debatedores, e a audiência completa.


Debate sobre educação no Grêmio Politécnico. Presença do engenheiro que dá aulas, prof Piqueira da Poli, do diretor Aguiar do colégio Bandeirantes, e anfiteatro cheio de estudantes. Ausência ou atraso da filósofa Marilena Chauí. Debatedores presentes têm visão positiva e propositiva da educação no Brasil. Aguiar diz que se ficarmos entre Serra e Haddad temos propostas boas e honestas para ensino na cidade de S Paulo. Piqueira discorda e acha indispensável pagar melhor os professores, o resto das propostas interessa pouco. ENEM tem utilidade. Mas indefinição se avalia ensino ou seleciona alunos para faculdade causa confusão. Ensino médio especializa cedo demais por culpa do vestibular Fuvest e das exigências das burocras universitárias.

27 setembro 2012

Políticos na sinagoga

Existe desde pelo menos a redemocratização o hábito, talvez um pouco polêmico, de políticos em campanha visitarem sinagogas no Yom Kipur. Em geral eles escolhem os lugares grandes nos horários mais solenes, quando são vistos pelo maior número de judeus eleitores. As visitas são respeitosas e eles não abrem a boca, muito menos para pedir votos. Atualmente, autoridades eleitas às vezes fazem essas visitas nos anos ímpares, quando não há eleição.

Por 2000 anos os judeus tivemos relações de temor ou ao menos desconfiança com as autoridades. No Brasil de hoje, os políticos nos visitam, na pior das hipóteses, para pedir votos, como pedem a todos os cidadãos. Na melhor interpretação, tomam tempo dos dias atarefados apenas para mostrar respeito pelos judeus, e desta forma pela liberdade de religião e consciência em geral.

Não há o que discutir. Essas visitas são apenas positivas, e de tão positivas talvez sejam desnecessárias. Também não há problema em não mostrar a cara. Para os políticos judeus, sugiro que para ganhar votos e credibilidade com o eleitorado daria mais certo continuar na sinagoga rezando depois que os demais políticos se retiram para outras visitas e afazeres. A única outra coisa é que fiquei torcendo para o Haddad vir no final do jejum trazendo uns kibinhos, o que infelizmente não aconteceu. Ficam as sugestões para a próxima campanha.

Avaliação de professores: desisto

Becker-Posner desistiram de avaliar professores. Eles estão falando de primário, ginásio, e colégio, não de universidade, mas na minha opinião os argumentos deles se aplicam à universidade brasileira. É impossível medir a qualidade do trabalho de professor, e salários variáveis só conduzem a política de escritório.

A única coisa a fazer é usar critérios sérios para contratação, dar bons salários para todo mundo, e prêmios e bônus para quem se destaca. Se Posner escreveu isso, também desisto de buscar um método de avaliação de professores. Não vou ser eu que vou ensinar latim para o papa.

No mesmo blog Becker escreveu cautelosamente que talvez seja possível avaliar professores pela taxa de variação das notas em exames. Há 5 argumentos contrários:
1, que exames são medidas muito incertas;
2, que não são específicos;
3, que o esforço gasto na preparação para exames tem efeito negativo no aprendizado;
4, que a sugestão talvez faça sentido para alfabetização e aritmética mas não se aplica à universidade e nem a bons colégios; e
5, que derivada amplifica ruído na malha fechada e controle derivativo puro nunca é bem sucedido.

Juntos os 5 argumentos são definitivos. Posner ganhou a discussão. Ponto final.

18 setembro 2012

4 paths to success, 1 to failure

Four are the paths to success: genius, which is the most unusual; the path of diligence, which is the most righteous; the path of luck, which is the most uneven; and the path of dishonesty, of which we do not speak.

Success in business, but also in many other areas, is often a combination of the 4 paths, in varying degree and intensity.

The path to failure, in contrast, consists always in the incorrect judgement of which of the paths led to success, in oneself and in others. Confucius would doubtlessly have told Mitt Romney about that.

13 setembro 2012

11 setembro 2012

As propostas falam por si

Para quem precisa de alguma ajuda para decidir votar contra Mitt Romney basta consultar suas para educação. A exposição do conselheiro da campanha aparece em artigo no NYTimes. A parte crucial é a seguinte:
A Romney education adviser, Scott Fleming, said that in his first year as president, Mr. Romney would work to make financial aid available ... to fewer students.
Mr. Romney’s running mate, Representative Paul D. Ryan of Wisconsin, is the author of the House’s 2013 budget proposal, which would ... let the tuition tax credit expire.
In addition, private lenders and banks — rather than the government — would return to issuing federally subsidized college loans.
Mr. Fleming also said that Mr. Romney would act quickly to eliminate the Education Department’s “gainful employment” rule for college career programs. The regulation, introduced last year with for-profit colleges as the primary target, withholds grants and loans from institutions that do not provide training and credentials that translate to a “recognizable” profession.
Fim da dedução para taxas escolares é aumento de impostos. Rotear os empréstimos concedidos pelo governo através de bancos privados é desperdício - os bancos cobravam taxas significativas por serviços supérfluos, uma vez que os fundos são federais. E eliminar os regulamentos serviria para permitir que escolas lucrem com cursos inúteis ou fraudulentos subsidiados pelo governo federal.

Ou seja: o objetivo não é cortar impostos nem diminuir os gastos do governo, muito menos aumentar sua eficiência. O objetivo republicano é apenas e tão somente desviar dinheiro público para organizações que os apoiam. A desonestidade, a mendacidade, e a corrupção dos republicanos ficam melhor expostas nas palavras dos assessores da campanha do que nos discursos dos democratas. Num post anterior comparei Romney com Maluf. Mas as propostas de campanha parecem mais as de um Valdemar Costa Neto.

08 setembro 2012

How to save the Euro

While struggling with a class of matrices that appears useful in the study of elliptic partial differential equations, I found out that a much simpler problem, that of saving the Euro, admits a solution, and that it is unique.

Italy and Spain must set a date 2 years in the future to hold a referendum on whether to continue using the Euro. The governments will promise to campaign for the Euro while making all preparations for an orderly transition back to separate currencies. This gives an deadline for European financial authorities to get the economies back on track.

So far, the authorities have not shown they feel the problem is theirs. They have been happy procrastinating and pushing unsound austerity measures designed to clear their own conscience by blaming the less fortunate for European economic troubles. It is necessary to give the bureaucrats an ultimatum.

If Europe can execute the correct maneuver out of the crisis, then unemployment will go down and the people will vote to remain in the Euro. If it persists in the current course, then the currency integration project will end. The authorities must be told they are responsible for failure.

06 setembro 2012

Romney seria paulista, mas qual?

Afirma @gugachacra: "Romney, se fosse brasileiro, seria paulista. Daqui a pouco, explico no Globo News Em Pauta @gnempauta". Concordo com o Chacra, como de hábito. Mas se Romney fosse paulista, seria um paulista qualquer? Não, um paulista especial: Paulo Maluf.

Ambos membros da cultura dominante em seus países, anglo no caso dos Estados Unidos, mediterrânea no Brasil, porém de subgrupos, os mórmons e os árabes, vistos com desconfiança pelos reacionários. Dotados de ambição pessoal desmedida, sempre viram os cargos públicos como meio, e não como fim. Embora a nenhum se questione o patriotismo, acumularam enormes fortunas não-declaradas em paraísos fiscais de além-mar.

Como Romney, Maluf é odiado mais por suas virtudes do que por seus defeitos. A inteligência, a riqueza, e a obstinação não ficam bem para certos setores da opinião pública. A diferença principal é a frase atribuída a Maluf: estupra mas não mata. Romney não se pronunciou sobre o atentado violento ao pundonor, mas alguns de seus correligionários parecem vê-lo com relativa tolerância. Também não consta que Maluf acredite em fusão a frio como Romney.

05 setembro 2012

Exigência de diploma para jornalista

O Supremo Tribunal Federal já resolveu que a exigência de diploma para a prática do jornalismo contraria a liberdade de expressão, e portanto é inconstitucional. Diz o artigo 60, parágrafo 4 da Constituição: "Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir... os direitos e garantias individuais." A garantia de liberdade de expressão é portanto uma cláusula pétrea da Constituição.

Ou seja, a discussão no Congresso sobre a volta dessa exigência é inconstitucional. A restrição da liberdade de expressão não pode ser feita nem mesmo por emenda constitucional. É um ponto claríssimo da nossa Constituição, que não está sendo apresentado nem pelos congressistas, nem pela imprensa, nem por nossos doutos juristas.

Então volta aqui esse engenheiro na solitária defesa das liberdades individuais, tão sabiamente garantidas pela Assembleia Constituinte em cláusulas pétreas e imutáveis.

31 agosto 2012

Física moderna

Da engenharia de transportes vem a proposta de eliminar a física moderna do currículo da Poli. No lugar, um curso "de economia" cujo conteúdo não é economia - engenharia econômica aplicada, seja lá o que é isso, talvez ensinar comandos da HP12C. Ou então um curso sobre os impactos ambientais de antenas. Ou talvez outra coisa, contanto que seja ensinada pelo próprio autor da proposta.

Quem conhece física moderna lembra que Einstein ganhou Nobel por mostrar que microondas não conseguem ionizar moléculas - não foi pela relatividade. Quem não conhece os fundamentos da ciência, dá cursos sobre impacto ambiental da telefonia celular. O impacto não existe, mas o curso serve para preencher currículos.

Da mesma forma, quem vê a engenharia como um conjunto de especialidades desconexas resume engenharia de transportes a planilhas de compra de pavimentos. Engenheiro que pensa assim tem culpa pelo trânsito em S Paulo. #prontofalei

14 agosto 2012

O programa de governo do Haddad

O PT planeja redesenhar S Paulo descentralizando o desenvolvimento da cidade. Enquanto políticos e jornalistas discutem irrelevâncias, por exemplo se o projeto tem origem malufista, martista, ou neotucanista, e especialistas se entocaiam em suas especialidades, vamos pensar sobre os conceitos fundamentais do programa.

Para justificar grandes investimentos que rompem com o paradigma de planejamento urbano, em 1o lugar é necessário assumir que o transporte é a mais importante questão que a prefeitura deve abordar. Certamente existem questões mais relevantes para a cidade: educação, saúde, e segurança. Desperdiçando menos tempo no trânsito, produzindo mais e trabalhando menos, o cidadão teria recursos e tempo para investir nessas áreas. A educação, por exemplo, depende menos de gastos centralizados na prefeitura do que da soma dos esforços de estudantes, professores, e famílias. Em comparação, o paulistano perde horas em transporte, um problema que só pode ser resolvido com ação coletiva. Portanto essa justificativa está correta, exatamente porque reconhece que a prefeitura deve se concentrar nos problemas que não podem ser resolvidos individualmente.

Em 2o lugar, é importante verificar se a proposta de descentralização melhora o transporte na cidade. Podemos confiar nos autores do plano, ou pelo menos dar o benefício da dúvida, e considerar que o investimento em obras públicas terá retorno em termos da diminuição de horas de trabalho e lazer atualmente perdidas em transporte. Vamos anotar como ponto a ser corrigido que o plano enfatiza demais o transporte por carros e ônibus andando em ruas, que é ineficiente e insuficiente para o tamanho da cidade.

Finalmente, temos que saber se a oferta de subsídios e isenções ficais terá o efeito descentralizador desejado. Para isso, é necessário entender a causa da centralização da atividade econômica em S Paulo. Depois que a indústria praticamente saiu da cidade, as atividades não se concentram devido à localização de grandes empresas. A concentração vem de efeitos de rede. Um ator precisa residir em cidade com muitos teatros; e um teatro precisa apresentar peças em uma cidade com público grande e muitos atores. Da mesma forma, negócios na área financeira ou de software preferem se estabelecer em S Paulo porque os trabalhadores com experiência em finanças ou software estão por perto; e os trabalhadores moram onde estão os empregos.

A atividade econômica na cidade gira em torno dos setores de serviço mais sofisticados e especializados, e nos serviços para as pessoas que trabalham nessas áreas. A presença de uma rede de serviços é muito mais importantes para a localização dos negócios do que custos de aluguel ou impostos. Subsídios da prefeitura e renúncia fiscal vão ter um impacto mínimo sobre a localização dos negócios, porque as pessoas estão amarradas não a empresas específicas, mas à toda a rede de serviços relacionados. Uma família de advogados não vai se mudar inteira para o Cupecê atrás de um emprego em um banco, porque um emprego é uma coisa temporária, e o que atraiu essa família para S Paulo não é um emprego em uma organização, mas a variedade de empregos e serviços disponíveis na cidade inteira. Da mesma forma, o banco não vai se mudar para locais que não possuem as vantagens da rede de serviços de S Paulo, para longe de seus clientes e funcionários; e se o fizer, o tempo que eles perdem em transporte aumenta.

Subsídios e renúncia fiscal vão apenas desviar recursos que deveriam ser investidos em transporte rápido para milhões de pessoas, que necessita de uma ação coordenada do poder público. O projeto de descentralização está baseado num entendimento incorreto da dinâmica urbana e vai fracassar.