Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

25 abril 2013

Sobram bolsas para brasileiros em Harvard e MIT

Acho que o diagnóstico desse artigo do Estadão está errado. As dificuldades para um brasileiro estudar numa dessas universidades são as seguintes:

1 - O programa Ciência sem Fronteiras é uma bagunça mal ajambrada, improvisada pelo governo federal sem consulta nem entendimento das necessidades e possibilidades do mundo acadêmico. Talvez com a melhor das boas intenções, mas é uma bagunça.

2 - O meio acadêmico brasileiro é corporativista e nem sempre prepara e estimula o estudante a ir ao exterior por iniciativa própria. Muitos professores até criam obstáculos culturais que prendem os pós-graduandos à tutela dos orientadores e programas. Esses obstáculos incluem a burocratização das publicações e a hipertrofia de linhas de pesquisa descoladas da realidade ou presas a ideologias irracionais.

3 - Essas universidades dos EUA têm professores e estudantes de muito gabarito. É um meio muito competitivo, de forma saudável que seja, mas é só uma pequena fração dos estudantes brasileiros que, reunindo a preparação, motivação, curiosidade, e flexibilidade intelectual necessárias, vão se virar bem nelas.

Não é como viajar para Miami, que está ao alcance de qualquer um. Também não é questão de criar mais uma burocra para forçar todo mundo a fazer cursinho de inglês da Capes. Para um aluno fazer uma boa pós-graduação não basta o generoso voluntarismo nem as diretrizes administrativas das autoridades. É bom que existam bolsas disponíveis, porque o fator mais importante - o talento - está disponível no Brasil em abundância.

16 abril 2013

Bitcoin, o drachma do povo?

O Euro é um desastre. Mas parece que nem a Grécia nem a Alemanha querem sair do Euro; nem Portugal nem a Holanda.

Talvez alguma forma de Bitcoin pudesse ser a salvação. Indivíduos na Grécia imprimem uns drachmas virtuais, privados. O governo cala a boca, não ajuda nem atrapalha. Pelos menos esse dinheiro de fantasia serve para pagarem uns aos outros. Estão todos desempregados mesmo, melhor receber em dinheiro de banco imobiliário do que nada. Os gregos ainda vão precisar de Euros para pagar impostos, dívidas, e importações. Os drachmas virtuais vão valer menos - seria uma forma da reinflação e desvalorização cambial que a Grécia necessita mas não pode fazer, por não ter moeda própria.

Isso poderia funcionar? Talvez. Seria uma curiosa ironia. Nos Estados Unidos, Bitcoin é interessante para geeks mas essencialmente irrelevante para a economia. Os entusiastas do bitcoin nos Estados Unidos são fetichistas de ouro e lunáticos anti-governo. Gente que perde dinheiro mas não abandona a ideologia. Onde o dinheiro privado poderia ajudar é justamente para implementar as políticas defendidas pelos economistas que eles mais odeiam, os keynesianos mainstream.

National Dynamite Association issues statement

"Tragedies like the one in Boston would not happen if every athlete carried a pack of explosives. To defend our freedom, we need good men carrying concealed dynamite in every sporting event. Bombs don't kill people; people do."

Maratona de Boston

A extrema direita dos Estados Unidos e a esquerda brasileira concordam: as explosões da maratona de Boston foram ação do governo americano.

That's why I like Barack Obama, poor man's friend.

15 abril 2013

Boston marathon

The Boston marathon starts in the middle of the night with the bicycle crowd. The people on wheelchairs reach Brookline late morning. Then come the leading women, and the Kenyan men around noon. After them, thousands of amateur but not any less impressive athletes. For me the best part used to be the stragglers, the people who overestimated their endurance, the optimists who keep running or at least walking till dark, even after the cleaning crew comes and finishes their work.

Not this time. The race was disbanded and Beacon Street is mostly empty. Tram service suspended. And tonight's concert at the Symphony had to be canceled.Terrorists from one group, terrorists from another group, or the people who think the city should not spend on maintenance because it benefits everybody and not just themselves, whoever arranged the explosions did not want to endear their cause to me.

I understand this post is very selfishly about me, and I was the least affected by the whole thing. But I would have liked to go back to the routine.

10 abril 2013

Fazendo as contas

E. O. Wilson escreve que para ser um grande cientista não é necessário saber muita matemática. É um raro caso no qual Paul Krugman concorda com algo que saiu no Wall Street Journal. Vou dar minha opinião também, discordando. Wilson está certo ao afirmar: "para cada cientista, existe uma disciplina para a qual o seu nível de competência matemática é suficiente para alcançar excelência." O melhor exemplo para os engenheiros elétricos é Faraday.

O princípio de Wilson é correto como tautologia: sem a competência matemática necessária em sua disciplina, o indivíduo em questão não é um cientista. Como disse Tartakower, alguma parte de um erro sempre está certa.

Vale aqui contar a história apócrifa do professor de matemática explicando para um estudante que a álgebra salva milhares de vidas todos os anos. "Como?" pergunta o estudante, incapaz de entender a relevância das abstrações matemáticas para suas ambições de se tornar um profissional bem sucedido.

"A álgebra impede que imbecis como você, incapazes de raciocinar abstratamente, se formem engenheiros ou médicos."

09 abril 2013

1982

Em 1982 a ditadura no Brasil estava no fim. Não havia mais censura, os partidos políticos e movimentos estudantis eram livres, os exilados estavam de volta, as leis de exceção tinham sido revogadas. Dava para ouvir claramente as opiniões de cada um. Na Argentina, uma ditadura muito mais sanguinária do que a brasileira em seus piores momentos continuava no poder. Era o exemplo a não ser seguido.

Até que os caudilhos hermanos invadiram as ilhas Falkland, que ninguém fora uns geeks leitores de atlas sabia onde ficavam. De repente as esquerdas no Brasil (e no resto da América Latina, até onde lembro) se enamoraram da ditadura e descobriram as tais ilhas Malvinas. Nenhum crime era imperdoável se o criminoso estava contra a Inglaterra, contra o capitalismo. A esquerda sabia de que lado estava: com o Kampuchea Democrático, com a Albânia, com Cuba, com a República Democrática da Korea. Contra os Estados Unidos, contra a Inglaterra, e a favor da Ditadura Argentina.

A tática funcionou. Com a invasão, o povo argentino, direita e esquerda, passaram a apoiar o governo. Que até onde sei ainda estaria lá, se não fosse Margaret Thatcher. Entre um peronista e outro, o fascismo continua presente na Argentina. Se dependesse do politizado povo argentino, ou da tibieza de Ronald Reagan, ou do bom senso dos generais, a ditadura não teria caído nunca. Os generais brasileiros tiveram noção de sua incompetência observando a permanente crise em que a má gestão meteu o país. Para os argentinos, foi necessária uma derrota militar.

Margaret Thatcher projetou a direita e a esquerda latino americana em verdadeira grandeza: o mesmo bando de facínoras e de incompetentes. Ganhou o ódio dos articulistas da Folha e minha gratidão.


02 abril 2013

NYTimes magazine article "Death of a Caveman / Who Lives Longest?"

To the editors,

The article "Death of a Caveman / Who Lives Longest?" claims that "life expectancy at birth in the United States is roughly 79 years, and it’s the same at age 25". This may mean either that people who reach the age of 25 live in average only to the same age as newborns do, a mathematical impossibility; or that 25-year-old Americans will reach an average age of 104, which is false. Unfortunately this error makes the whole argument of the article collapse, except for the quote “ ‘Life expectancy’ is this term that entered public lingo without public understanding of what it really means.”

Yours sincerely, Felipe Pait