Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

24 dezembro 2013

The Economist's new Latin American column

The Economist is searching for a title for a new column on Latin America. My letter to them:

I suggest Alcântara.

Emperor Pedro II of Brazil, who when not in official capacity used the name Pedro de Alcântara almost as if a commoner, embodies the contradictions and paradoxes of Latin America. An European-blooded King of Brazil, a republican monarch, an abolitionist in a country of slavery, a rare man of culture in his country, the sole Portuguese-speaking nation of a mostly Spanish-speaking continent (at least among the elite). A liberal to some extent, especially with regard to freedom of press, yet the head of state and to some extent of government in a conservative regime.

Other liberal figures in Brazil would be of local appeal: Juscelino Kubitschek, Joaquim Nabuco, or Maurício de Nassau (the fact that he was Dutch would highlight the paradoxes). Juscelino, Nabuco, Nassau, or Tiradentes might be good names for a column about Brazil. I won't suggest names from other countries, because I am sure you will receive better reasoned suggestions from others; but if you do end up choosing a Brazilian name, Alcântara it should be.

19 dezembro 2013

Problemas com a concepção do edifício novo da Poli elétrica

Preparei uma lista de problemas com a concepção do edifício novo da engenharia elétrica da Poli. Há uma nova versão, onde algum dos problemas talvez tenha sido minorado, mas continua parecendo que o esforço de engenharia e arquitetura investido na concepção é mínimo. É importante toda a comunidade politécnica se mobilizar para jogar fora essa proposta, reiniciar a discussão com tabula rasa, para impedir que seja tomadas decisões irrevogáveis com uma pressa injustificada. Alguns dos problema que identifiquei são os seguintes:

1 - Localização inconveniente, atrás do edifício atual, dificultando o acesso.

2 - Necessidade de desfigurar a atual biblioteca, um dos melhores espaços de que dispomos atualmente. Essa descaracterização da biblioteca permanece, embora talvez de forma menos desastrosa, na nova versão apresentada.

3 - Disposição das salas de professores em cubículos pouco atraentes, separados por divisórias.

4 - Um prédio de mais de 2 andares muda a relação de professores e alunos com o espaço que temos atualmente. Se essa mudança é desejável e aceitável, então será que 5 andares é um bom compromisso? Parece ter o preço de quebrar o paradigma atual, sem se beneficiar da verticalização.

5 - A concepção do prédio com circulação de ar totalmente fechada e climatizada tem a vantagem permitir maior densidade de ocupação e controle central do consumo de energia elétrica. As desvantagens são o maior custo de operação, a perda da oportunidade de aproveitar nosso clima ameno, o fechamento para o exterior, e emprego de tecnologias antiquadas, pouco inspiradoras, e sem diálogo com as tendências modernas de sustentabilidade, construção verde, e minimização do impacto ambiental. As desvantagens não foram consideradas.

6 - A concepção do edifício é pobre, essencialmente um paralelepípedo, um desenho que pode ser feito rapidamente usando o demo de um sistema computacional de desenho arquitetônico. Poderia servir para uma central de telemarketing numa localização suburbana adensada, mas não revela nenhuma interação com o entorno da Cidade Universitária nem consideração a respeito da finalidade acadêmica da obra. 

7 - A concepção do edifício não está em diálogo nem com as tradições arquitetônicas da Escola Politécnica e da USP, nem com os desafios tecnológicos do século 21. Não se trata de maquiar o projeto com fachadas e decorações, mas de começar o trabalho com uma concepção atraente feita por profissionais criativos e dedicados.

8 - O projeto nos afasta dos padrões das melhores universidades do mundo. Quando o MIT decidiu construir um novo prédio para a engenharia elétrica, obteve um projeto de um dos melhores arquitetos norte-americanos. Há opiniões diversas a respeito do projeto de Frank Gehry, mas é uma obra viva, à qual ninguém fica indiferente, e que cria um espaço inovador para a vida acadêmica. Yale tem um prédio de engenharia novo, bastante funcional e com certificação LEED Gold, projetado pelo escritório de Cesar Pelli. Os exemplos são inúmeros. Na Europa e na Ásia constroem-se edifícios acadêmicos que atraem alunos e professores para suas instalações ou arrojadas, ou aconchegantes, ou tradicionais. Aqui mesmo na Usp temos o exemplo inspirador da Biblioteca Brasiliana, recentemente inaugurada, entre outros.

9 - Ao construir um novo edifício para a engenharia elétrica temos a obrigação, por respeito à tradição da Escola Politécnica, às futuras gerações de alunos e professores, e às conquistas dos profissionais da arquitetura brasileira, de obter um projeto de qualidade junto aos melhores arquitetos brasileiros.

10 - O projeto foi encaminhado com uma pressa extrema e não justificada, o que explica ao menos parcialmente a concepção pobre que foi apresentada. Não houve a indispensável interação com pessoas compromissadas com a missão acadêmica da universidade.

11 - O escritório de arquitetura encarregado de fazer a proposta não demonstra ter qualquer experiência relevante no projeto de obras de importância. A presença deles na internet é nula. Quem conhece o meio profissional da arquitetura sabe que a primeira providência dos arquitetos praticantes é exibir seu portfólio aos potenciais clientes e interessados. Um escritório que não anuncia suas obras nem é referenciado por outros praticantes da profissão não inspira confiança. Podemos talvez especular que seja um escritório especializado em vencer concorrências públicas para benefício próprio e dos indivíduos contratantes, sem ter a obrigação de demonstrar a boa qualidade de seu trabalho para o uso ao qual se destina.

12 - A grande restrição do projeto parece ser a intenção da prefeitura do campus do Butantã de facilitar a circulação de automóveis pelo campus, em detrimento da mobilidade dos pedestres e da comunicação fácil entre os diversos edifícios e departamentos do campus. Esse objetivo parece condicionar e restringir todas as oportunidades de construção, em prejuízo do acesso a cada unidade acadêmica e da integração entre as unidades. A circulação de veículos no interior do prédio deve se restringir a pessoas com necessidades especiais de mobilidade e a entregas pesadas. Não é admissível que todo o planejamento de cada prédio acadêmico fique subordinado ao desejo de facilitar a circulação de automóveis pelo campus.

13 - Aparentemente o projeto rápido e descuidado está sendo empurrado como base para a discussão, com motivos sobre os quais só seria possível especular. É importante descartar esse lixo e recomeçar a discussão a partir do zero, senão vamos ficar brigando a respeito de pequenos detalhes e acabar aceitando o conceito geral muito ruim.

Acho que esses 13 itens resumem todos os maiores problemas, mas posso ter deixado algo de fora, especialmente no detalhamento do projeto, que parece ter sido feito sem grande atenção ou empenho profissional.

18 dezembro 2013

Genuíno discurso de encarceramento

"Tudo que fiz, fiz por amor à pátria. Pelo Brasil faria novamente o que achasse correto. Onde errei, peço ao povo que me perdoe. Aceito o julgamento da democracia pela qual lutei com a mesma serenidade com a qual resisti à prisão da ditadura. Se vivemos num país onde a justiça vale para o poderoso como para o humilde, minha luta foi vitoriosa".

Só que não. Onde foi que não ouvimos esse discurso?

09 dezembro 2013

Dragagem

Não deixa de ser instrutivo contemplar a dragagem do Rio Pinheiros. Um espetáculo pós-industrial apocalíptico de merda, a engenharia de nossos impostos em ação não deixa de ter estética.

07 dezembro 2013

Eleição do reitor da USP nas próximas semanas

A mais forte candidata ao 4o lugar é a chapa Wanderley Messias da Costa - Suely Vilela. Para a chapa   "Mantendo o Rumo", a promessa de manter na reitoria pessoas ligadas às administrações anteriores dispensa reflexão sobre a universidade e discussão de propostas para seu futuro. A presença dessa chapa entre os 3 primeiros votados seria uma vergonhosa indicação de falta de comprometimento dos eleitores com a universidade.

O candidato mais preparado para administrar a USP em 2013 já era o candidato mais preparado em 2009, 2005, e 2001. Só que como diz o locutor de futebol, o tempo passa. E o tempo passou. A chapa Hélio Nogueira da Cruz - Telma Maria Tenório Zorn não decide se critica a situação financeira supostamente catastrófica deixada pela atual gestão, ou se minimiza os problemas pelos quais os integrantes teriam parte da responsabilidade. O situacionismo encabulado da campanha que foca principalmente aspectos administrativos não convence. Por outro lado é uma chapa que não levanta o risco de surpresas desagradáveis. Diria que é forte candidata ao 3o lugar na lista tríplice.

As propostas mais relevantes são as da chapa José Roberto Cardoso - José Antonio Franchini Ramires. O maior problema da USP é que a qualidade e eficácia do ensino estão muito abaixo do que poderia ser obtido com os mesmos professores e mesmos recursos materiais. A causa dessa deficiência são as burocras irracionais, vinculadas aos grupos de poder da universidade, e apoiadas em entendimentos errôneos ou fantasiosos sobre a ciência e o ensino. A solução, defendida pelo Prof Cardoso, é a flexibilização dos currículos e das carreiras universitárias, aumentando o poder dos alunos e portanto da própria sociedade sobre o estamento acadêmico. As demais propostas da chapa, que também foram copiadas pelos concorrentes, igualmente estão de acordo com as necessidades da universidade. São os únicos candidatos que não têm paúra de criticar ações erradas do atual reitor. A dúvida é até que ponto a chapa conseguirá realizar suas propostas. Infelizmente os donos do poder da USP são reacionários, a viscosidade da burocra tende a impedir o progresso, e propostas de melhoria muitas vezes acabam sendo usadas para reforçar o poder do estamento, com consequências imprevistas.

A chapa mais forte é Marco Antonio Zago - Vahan Agopyan. Ela terá votos nas unidades da USP do interior, que nas últimas eleições têm votado em bloco para bloquear candidatos do campus mais importante da USP. O trabalho do prof Zago na pró-reitoria tornou o nome dele conhecido e bem visto pelos pesquisadores ligados à pesquisa e à confecção de papers, e a presidência do CNPq deve render votos entre eleitores do PT. É uma incógnita, ao menos para mim, até que ponto ele pode ser associado às práticas petistas de aparelhamento partidário de universidades e agências de pesquisa. O prof Vahan também fez extenso trabalho de preparação para a campanha durante sua pró-reitoria, em todos os sentidos exceto a elaboração de um programa de gestão baseado numa reflexão explícita sobre a universidade. Pela lógica devem ter o maior número de votos nas consultas.

A única parte democrática do processo é a escolha do reitor pelo governador do estado, que foi eleito e tem a responsabilidade de cuidar da coisa pública. As fases anteriores versam predominantemente sobre a defesa de interesses corporativos. A opção do governador, caso a diferença entre o apoio recebido pelas 3 chapas da lista tríplice não seja decisiva, pode depender das incógnitas à qual me referi acima: o risco de aparelhamento da USP, e o risco de fracasso de propostas de melhoria, medidos em comparação com o risco de ir tocando as coisas sem correr riscos, como se o resto do mundo também estivesse parado.

03 dezembro 2013

Hierarquia da ocupação do espaço viário público em S Paulo

1 - No topo da hierarquia estão os carros estacionados. Porque o automóvel traz em si a noção de propriedade, quiçá riqueza, e mesmo entrando ou saindo de uma garagem carrega em si uma dignidade superior aos outros elementos que disputam espaço nas ruas e calçadas.

2 - Em seguida vêm os carros em movimento. Porque transporta motorista, talvez um passageiro, possivelmente de classe C ou D, e a própria movimentação sugere a noção do trabalho manual ou contas a pagar, então o automóvel ao se deslocar não partilha da mesma dignidade social que teria se permanecesse parado. A prioridade pública deve sempre se orientar no sentido de enobrecer os estacionamentos, mas a fluidez automotiva segue-se em importância.

3 - O caminhão, veículo imponente que transporta cargas e riquezas, ocupa um lugar especial nas ruas e calçadas, por seu torque, peso, e macheza. Seu poder de destruição nas mãos dos motoristas mais aloprados é indiscutível. É certo que muitos são antigos e de baixo valor, mas são justamente esses que quando funcionam emitem grossa fumaça preta; quando quebram, impávidos colossos, atrapalham o trânsito, demonstrando sempre a superioridade da máquina sobre o homem. Saiam do caminho.

4 - Um pouco abaixo encontra-se o dogue, especialmente se conduzido por funcionário uniformizado. Porque a posse do cachorro, enquanto animal, configura uma forma de riqueza, à qual abrem-se alas em sinal de respeito à propriedade.

5 - O elemento neutro da ruas é o pedestre, que pode ser tolerado, exceto quando atrapalha a fluidez veicular, caso no qual pode e deve ser atropelado, tanto o que atravessa as ruas com o sinal aberto como o que o faz no sinal fechado, por questão de princípio. Mas enquanto se mantém em seu devido lugar o transeunte, se for vítima de assédio motorizado, o é pela condição de negro, pobre, velho, mulher, estudante, deficiente, cego, homossexual, baiano, ou pela profissão materna, não pelo pedestrianismo em si.

6 - Abaixo do pedestre encontra-se o coletivo. É importante tomar todas as medidas necessárias para obstaculizar o movimento dessa aberração onde um único bem material é compartilhado por dezenas de elementos de posição social por suposto inferior. Sempre que possível através de medidas administrativas, mas se necessário por obstrução, com o devido cuidado de evitar dano à pintura do automóvel.

7 - A motocicleta, embora não deixe de ser uma forma de propriedade taxável e censitária, ocupa uma posição mais baixa do que o coletivo, já que apresenta menos risco à integridade da funilaria. Pode parecer contraditório dado que muitas exigem alto poder aquisitivo, mas no dia a dia do trânsito pode ser difícil distinguir entre uma BMW importada e um veículo de entrega, então a ocasional destruição de uma motocicleta é aceitável contanto que sirva de lição para os motoqueiros porventura sobreviventes.

8 - O mais reles ocupante de uma via é sem dúvida a bicicleta: barata e rápida. O ciclismo, mesmo que não remunerado, não deixa de ser uma forma de trabalho físico, que subverte a ordem social na medida em que a bicicleta se desloca com maior velocidade do que veículos de valor muito superior. O ciclista deve ser coibido a ferro e a fogo.

É controverso o status atual da cada vez mais rara carroça.

02 dezembro 2013

Fechantes da USP

Hoje a entrada da USP estava novamente fechada por manifestantes. Fechar os portões é a represália dos estudantes que não estudam, dos trabalhadores que não trabalham, e dos professores que não professam contra aqueles que querem fazer seus deveres - o alvo principal dos fechantes são os menos endinheirados, que usam transporte coletivo e precisam terminar a faculdade para trabalharem.

O que permite e alimenta esses fechamentos é a falta de 2 coisas: falta de diálogo entre a universidade e os estudantes, e falta de camburão. O fato é que a administração trata do mesmo modo os alunos que querem estudar e os arruaceiros: com soberba indiferença, sem diálogo nem lei. A apatia da maioria silenciosa é compreensível.

Felizmente vim a pé, não me atrapalhou muito, só não dava para esperar o circular. Até aproveitei o passeio: atravessei as obras de embaralhamento e substituição dos passeios da praça do relógio, sem dúvida a menos prioritária das obras concebíveis para o campus do Butantã, e acho que entendi a estratégia política da atual reitoria. Como não há reeleição, tudo se resume a garantir sua reputação para a posteridade.

A gestão atual vai levar tanto mais vantagem em comparação com a gestão seguinte quanto mais desastrosa for a situação financeira que ela deixar. Daí a ânsia de fazer obras de pouca relevância, que  complicam a situação futura sem deixar benefícios que a universidade possa aproveitar. É uma estratégia familiar para quem acompanha a atuação do Partido Republicano nos Estados Unidos. Pode chamar de contraparte situacionista ao "quanto pior melhor" leninista-oposicionista.

No Brasil, em geral os políticos buscam o lucro financeiro imediato, ou, no caso dos mais ideológicos, querem se eternizar no poder, então esse tipo de gastança em forma de bomba-relógio é menos comum do que a corrupção pura e simples ou do que o aparelhamento do estado com funcionários pouco produtivos para a sociedade.

De qualquer modo, o candidato de oposição que seja escolhido reitor vai ter muito trabalho; se for de situação, contra toda a lógica e bom senso, ao menos vamos poder rir da tragédia alheia.