Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

25 dezembro 2012

Fraude, ética, e relevância na ciência

Existem eventos isolados de fraude em ciência.
Os artigos científicos fraudulentos são uma pequena minoria das publicações.
Afirmações científicas errôneas não se deixam reproduzir, estender, ou confirmar.
O impacto de artigos fraudulentos tende a sumir com o tempo.

Alguns indivíduos pouco merecedores se beneficiam com a fraude acadêmica.
São casos de injustiça.
Duas são as formas de injustiça que merecem a atenção de uma pessoa com senso de ética: quando um indivíduo obtém benefícios que não merece; e quando os azares da vida impedem que uma pessoa obtenha os merecidos sucessos. Isso é assunto para um post futuro, mas de maneira geral podemos dizer que a 1a preocupação é típica da ética conservadora, ou de direita, enquanto a 2a forma é central para a ética humanista, ou de esquerda.
O caso de um pesquisador cuja carreira progride graças à fraude é uma injustiça do 1o tipo.
É raro que os benefícios individuais da ciência fraudulenta persistam indefinidamente.

A detecção da fraude na ciência ocorre pelo processo de reprodução e extensão dos resultados.
Eliminação e punição da fraude exigem controle adicional da atividade científica.
A introdução de controles externos atrapalha o desenvolvimento científico.
Os danos do controle externo são mais duradouros do que o efeito de possíveis fraudes.

A eliminação e punição de fraudes tendem a virar uma caça às bruxas contraproducente do ponto de vista científico, embora parcialmente justificável como preocupação ética do 1o tipo.

Existe um problema ético sério na ciência, que é o da relevância.
É difícil identificar a priori se uma linha de trabalho tem importância futura.
A ciência não dispõe de critérios claros para detectar trabalhos irrelevantes.
Pesquisas irrelevantes abundam em todo o meio acadêmico.
Trabalhos irrelevantes podem ser executados por má fé.
Mais frequentemente, resultam de pressão pela obtenção de resultados imediatos.
A proliferação de pesquisa irrelevante é uma barreira ao avanço científico e tecnológico.
A irrelevância nega a pessoas de bem o acesso aos frutos da ciência e da tecnologia.

A relevância é uma preocupação científica séria e uma preocupação ética do 2o tipo. Ela exige um esforço redobrado da comunidade acadêmica.

Um comentário:

Felipe Pait disse...

Como dá para constatar no artigo linkado abaixo, e mais ainda nos comentários e no artigo do Viomundo que eles citam, o combate à fraude na ciência tem tudo para virar uma caça as bruxas, promovida por pessoas que querem usar uma dúzia e meia de artigos retratados como pretexto para criar uma polícia intelectual da atividade científica.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/etica-na-ciencia-e-na-comunicacao-de-ciencia?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter