Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

28 dezembro 2012

São Paulo e Rio de Janeiro

Recentemente li o excelente Capital da Solidão, uma história da cidade de S Paulo escrita por Roberto Pompeu de Toledo. O que me levou a comprar o livro foi a necessidade de passar tempo, a grata surpresa de ver que a livraria Book Stop onde comprávamos os livros texto dos professores Butija e Dárcio do Colégio Bandeirantes resiste bravamente às décadas na R Bernardino de Campos, e o fato que história é a única coisa que tenho paciência de ler entre os achados em livrarias comerciais.

Mas divago. O fato é que recomendo fortemente o livro, que apesar de ser escrito por um jornalista, com base em fontes historiográficas, eu consideraria uma fonte primária pela abrangência da concepção e clareza da escrita.

Para fazer par comprei recentemente A História do Rio de Janeiro de Armelle Enders. O ponto de vista centrado numa cidade me parece muito apropriado para elucidar as partes da história que permanecem obscuras na historiografia de países ou épocas. Na verdade o motivo para essa compra é que Os Donos do Poder de Raymundo Faoro, sobre o qual esse blog certamente escreverá num futuro próximo, tem massa excessiva para leitura na cama numa época de feriados e viagens. Novamente, digressiono.

Esse livro-companheiro, embora de maneira nenhuma seja um mau livro, não está me entusiasmando tanto. O motivo principal há de se revelar a superioridade de minha ignorância sobre o Rio, e meu maior interesse por S Paulo. O motivo desse post é considerar outros.

Em 1o lugar, a cidade de S Paulo teve uma existência semi-autônoma, até certo ponto independente da coroa portuguesa. A história do Rio de Janeiro se confunde, ao menos como contada pela pesquisadora da Sorbonne nesse livro relativamente curto, com a história do Brasil e de Portugal; e assim traz menos surpresas ou revelações para o paulistano medianamente letrado.

Em 2o lugar, a documentação paulistana é farta - as atas da Câmara Municipal se preservam desde a origem dos Campos de Piratininga. Agradeceria alguma informação sobre a documentação carioca existente até nossos dias, mas especulo que tenda mais para o que já conhecemos sobre o Brasil todo. De qualquer modo, a apresentação do indispensável contexto luso-brasileiro reduz as oportunidades para revelar as características específicas da história urbana do Rio.

Finalmente, o livro do jornalista paulista é superior ao da historiadora francesa. Além de estar estruturado como uma fonte secundária ou didática, este contém ao menos um erro de interpretação imperdoável. Um tema fundamental da história carioca pré-independência são as invasões francesas do Rio e Lisboa. A cada uma delas, a autora da "História do Rio de Janeiro" ressalta a tensão entre o reino de Portugal e seu antigo aliado, a Inglaterra, indicando até que a preocupação primordial da Coroa durante a ocupação napoleônica de Lisboa fosse a autonomia das colônias em relação à pérfida Albion.

Essa visão galocêntrica da história detrai da qualidade do livro e coloca em dúvida a análise apresentada. Se houver alguma revelação importante na parte sobre o Rio de Janeiro imperial, ou sobre meu herói Pedrão, volto a escrever sobre o assunto.

PS: Cheguei até o fim do império. A conclusão é que o livro não é bom. Trata-se na verdade de uma história política do Brasil, de um ponto de vista franco-carioca. Não de uma história da cidade. Como exemplo, os mapas são escassos, insuficientemente informativos, e surpreendentemente, não foram traduzidos. Quando o título de um capítulo leva a esperar que finalmente a história urbana se revele, o texto logo recai na política da capital, tendo a cidade, sua economia, sua sociedade, e sua cultura apenas como temas secundários. O texto não revela o mesmo amor pelo objeto historiografado que lemos em cada página de Pompeu de Toledo.

Se uma grande história urbana do Rio já foi escrita, por favor me esclareçam.

25 dezembro 2012

Fraude, ética, e relevância na ciência

Existem eventos isolados de fraude em ciência.
Os artigos científicos fraudulentos são uma pequena minoria das publicações.
Afirmações científicas errôneas não se deixam reproduzir, estender, ou confirmar.
O impacto de artigos fraudulentos tende a sumir com o tempo.

Alguns indivíduos pouco merecedores se beneficiam com a fraude acadêmica.
São casos de injustiça.
Duas são as formas de injustiça que merecem a atenção de uma pessoa com senso de ética: quando um indivíduo obtém benefícios que não merece; e quando os azares da vida impedem que uma pessoa obtenha os merecidos sucessos. Isso é assunto para um post futuro, mas de maneira geral podemos dizer que a 1a preocupação é típica da ética conservadora, ou de direita, enquanto a 2a forma é central para a ética humanista, ou de esquerda.
O caso de um pesquisador cuja carreira progride graças à fraude é uma injustiça do 1o tipo.
É raro que os benefícios individuais da ciência fraudulenta persistam indefinidamente.

A detecção da fraude na ciência ocorre pelo processo de reprodução e extensão dos resultados.
Eliminação e punição da fraude exigem controle adicional da atividade científica.
A introdução de controles externos atrapalha o desenvolvimento científico.
Os danos do controle externo são mais duradouros do que o efeito de possíveis fraudes.

A eliminação e punição de fraudes tendem a virar uma caça às bruxas contraproducente do ponto de vista científico, embora parcialmente justificável como preocupação ética do 1o tipo.

Existe um problema ético sério na ciência, que é o da relevância.
É difícil identificar a priori se uma linha de trabalho tem importância futura.
A ciência não dispõe de critérios claros para detectar trabalhos irrelevantes.
Pesquisas irrelevantes abundam em todo o meio acadêmico.
Trabalhos irrelevantes podem ser executados por má fé.
Mais frequentemente, resultam de pressão pela obtenção de resultados imediatos.
A proliferação de pesquisa irrelevante é uma barreira ao avanço científico e tecnológico.
A irrelevância nega a pessoas de bem o acesso aos frutos da ciência e da tecnologia.

A relevância é uma preocupação científica séria e uma preocupação ética do 2o tipo. Ela exige um esforço redobrado da comunidade acadêmica.

24 dezembro 2012

Christmas in Massachusetts

Two of the remaining newspapers in the United States (I forgot which is the other) give us an opportunity to compare the quality of their writing. The New York Times has a simple, informative piece by a young scholar reminding that religious intolerance among Puritans extended to banning Christmas celebrations. A week later the Wall Street Journal responds with a diatribe by a religious activist bringing the words "ethnic cleansing" to push his side of the debate about religious freedom.

The gift of free speech renews itself. Merry Christmas y'all!

22 dezembro 2012

English so-called soccer, TV so-called news

Yesterday on a flight to Colorado I watched MSNBC, Fox TV, and English soccer for the 1st, and hopefully last, time.

Microsoft TV was gloating about the double conservative shanda, Congress Republicans trying to bring the country down rather than tax people who make more than a million dollars a year, and the gun lobby trying to bring more guns into schools. Well it's a liberal's right to gloat, but I don't need to watch. Fox News was trying to avoid mentioning any news - they spent time trying to remember whether they used to have 5 or 6 talking heads in the show, and then moved on to a story about an American detained in Mexico over gun possession charges - apparently the US should invade Mexico over this or something like that.

If that is news, then so-called premier league can be called soccer. Although it looked to me that the keepers kick the ball to each other and the remaining 10 players try to pass the ball back to the keeper. So I fell asleep. The world may not have ended, but TV is over for me.

17 dezembro 2012

Corinthians, o campeão dos campeões!


Um colega escreve que o Tite é um grande técnico, e que gosta da ideia de um time de futebol virar um empresa de capital aberto.

Se é o caso de abrir o capital, não sei. É possível gerenciar bem um clube que continua sendo sem fins lucrativos. A diferença é entre gestão profissional e amadora. Quem quer ser amador, tem que se divertir, e aceitar derrotas. Para ser profissional, tem que ser sério, e aceitar os limites da competência de cada um. O problema são os camaleões do mundo moderno. Perante os futebolistas, são gerentes financeiros. Perante os banqueiros, são dirigentes esportivos. Mudam de cor, para não serem devorados.

Foram esses os caras que reafundaram o Palmeiras, o Belluzzo acima de todos. Não tiveram a humildade nem competência para aceitar as lições do rebaixamento, e vão ter que começar de baixo mais uma vez.

Há outros bons técnicos no Brasil além do Tite. O problema é que eles não têm apoio dos dirigentes, que ganham dinheiro e começam a achar que sabem de futebol. A direção do Corinthians sabe que quem entende de futebol são os bons técnicos e os jogadores. Outro time teria demitido o Tite quando perdeu algum jogo. A direção do Corinthians manteve o técnico competente e investiu no time, em vez de embolsar o faturamento.

A vantagem que o Timão tem é a Fiel, que bota mais torcedor em Yokohama (68.275) do que o São Paulo bota na Bambinera de Paraisópolis (67.042). E falando no São Paulo, tenho dúvidas se o velho mito da boa gestão sãopaulina não é exatamente isso - um mito. O time há muito é sustentado pela renda do estádio, que ficou obsoleto. Agora que a competição apertou, os dirigentes demitem o técnico a cada vez que querem evitar olhar para os próprios erros.

12 dezembro 2012

I didn't really scoop Paul Krugman

Last year after going to a bat mitzvah in N Jersey I wrote about Rabbits in New England. Now Paul Krugman writes that we should be paying more attention to how profit from capital is increasing at the expense of wages.

He is right and there is something wrong in the USA.

08 dezembro 2012

O fractalista

Recentemente li o memorial de Mandelbrot. Devo começar dizendo que nunca acompanhei muito o trabalho do matemático, em parte porque uma vez ouvi uma conferência dele em Yale e não aproveitei muita coisa. Mas recentemente esperando a condução li 2 artigos nas Notices of the AMS sobre a vida e matemática do Mandelbrot. E me dei conta que um conjunto de importância no estudo do antigo problema de Lur'e tem dimensão fractal. Então o presente do livro do próprio Mandelbrot foi bem recebido.

Uma coisa que falta no tal memorial (sim, estou usando o termo com ironia) é matemática. Além disso, trechos do texto são repetitivos. E ele gosta de name dropping. Diverte, mas não é de bom gosto. Como disse Nimzovich, autopromoção é aceitável só quando o reconhecimento merecido é injustamente negado. Mas podemos dizer que o reconhecimento a Mandelbrot foi tardio, embora abundante, então a autopromoção não chega a desmoralizar.  O maior interesse foi ler o autor contando sua vida. Me chamaram a atenção alguns pontos.

Mandelbrot nunca se adaptou à rotina acadêmica, recebeu tenure aos 75 anos (sempre há esperança). Passou a maior parte da carreira na IBM Research Labs. Os laboratórios de pesquisa pura de grandes empresas, Bell Labs, Xerox PARC, Phillips, são hoje uma vaga saudade. Existiram numa época de grandes monopólios aceitos pela sociedade. Os bons, especialmente nos Estados Unidos, eram muito bons. Os ruins, por exemplo no Brasil, eram muito ruins. Mas isso é outra conversa. Na universidade de hoje, Mandelbrot ficaria ainda menos confortável. Os laboratórios fazem falta.

Ele tinha uma péssima impressão dos bourbakistas, o que criou atritos até com seu próprio tio, Szolem Mandelbrojt, um matemático de qualidade. Não estava de todo errado. O formalismo matemático faz sentido filosófico, é até útil, mas se sai de controle atrapalha a ciência e a educação. Não há motivo para deixar de estudar algo só porque não conseguimos provar teoremas completos. Nem para estudar algo só porque os teoremas se deixam provar e se transformar em publicações. Figuras ajudam o entendimento. Por outro lado, a informalidade atrapalha na aplicação das ideias da geometria fractal. Como dizia Amadeu Matsumura, desenhos não provam nada.

Acadêmicos que se saem mal das memórias são os economistas de Chicago. O solitário leitor saberá por que isso produz um sorriso nesse blogueiro. Eugene Fama, em particular, aparece como um pseudo-bourbakista da economia, sem o conhecimento matemático dos Bourbaki originais, nem a honestidade deles. Para ele o formalismo é apenas um instrumento de autopromoção. Diz Mandelbrot que a hipótese dos mercados eficientes é conveniente e às vezes útil, mas não se verifica; e Fama não merece nem o crédito nem a culpa de tê-la inventado, apenas de ter trocado seu nome. Como dizia o Prof Waneck....


Como dizia o Prof. Waneck...

Os economistas são aqueles que não sabem álgebra. Entraram na universidade pela porta dos fundos. Perante os humanistas, são técnicos; perante os engenheiros, filósofos. São os camaleões do mundo moderno: mudam de cor, para não serem devorados.