Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

27 maio 2018

Ferrovias no Brasil

O locaute dos transportadores e a greve anunciada dos petroleiros tem dado ocasião para muitas repetições do mito da destruição das ferrovias no Brasil. Chegam até a dizer que o Brasil teria sido o 2o maior país do mundo em transporte de passageiros! Não encontro base para essa afirmação, parece fantasiosa.

Minha impressão é que esse #mito da destruição das ferrovias no Brasil tem fundo ideológico anti-Juscelinista, ou anti-imperialista: é #mito mesmo. O tamanho da rede ferroviária no Brasil é próximo ao pico anterior à estatização. O transporte ferroviário de passageiros de longa distância realmente desapareceu. O transporte ferroviário no Brasil era restrito e capenga. Poderia talvez ter recebido mais investimentos, mas não é que foi destruído - nunca chegou a cobrir o país da forma necessária.  Para se convencer das dificuldades que o transporte ferroviário encontrou, pense na Madeira-Mamoré, ou melhor ainda, leia sobre a estrada de ferro para Teófilo Otoni no excelente "Estradas da vida - Terra e trabalho nas fronteiras agrícolas do Jequitinhonha e Mucuri, Minas Gerais", de Eduardo Magalhães Ribeiro.

Na época do Getúlio as ferrovias foram sendo avacalhadas através de desinvestimentos e nacionalizações. Em parte por motivos ideológicos: as ferrovias estavam ligadas ao capital estrangeiro e à economia paulista. Em 1957 quando foi criada a Rede Ferroviária Federal o sistema estava mais do que falido. Nos anos 1960 os trens de passageiros já não eram mais do que uma curiosidade.

Pode-se argumentar que a opção pelo transporte rodoviário foi excessiva, os subsídios desnecessários. O Samuel Pessôa mostra como o subsídio dilmista aos caminhões criou uma bolha - agora sobra caminhão, as fábricas estão ociosas, e os caminhoneiros não conseguem aumentar o frete quando os custos aumentam. O governo petista só fez imitar as políticas perniciosas da ditadura militar.

Meus avós e bisavós andavam de trem pelo Brasil afora fazendo seus negócios. Eram poucas e insuficientes linhas - de S Paulo para o Rio ou para o Oeste paulista. O bisavô Dranger ia e vinha do Sul por navio.  Meus tios usavam trem ocasionalmente, dependendo do destino. O #fato é que o transporte ferroviário era insuficiente e que nos anos 1950 as rodovias eram uma opção mais eficaz para cobrir o País. Quem sair andando pela região de Diamantina vai compreender a razão pela qual JK queria estimular o transporte rodoviário: sem estrada não tinha como chegar em lugar nenhum, não tinha como vender a produção nem comprar mercadorias. Nathaniel Leff tem a explicação de que as dificuldades de transporte atrasaram a industrialização do Brasil a partir do século 19.

O movimento de substituição de ferrovias por rodovias foi mundial. Uma herança visível das ferrovias desativadas são os caminhos que hoje estão sendo transformados em ciclovias. Entre países grandes só na China as ferrovias cresceram em tempos recentes. Já a ideia de que as ferrovias foram destruídas no Brasil, e só no Brasil - essa é uma jabuticaba.




26 maio 2018

Mercado de óleo e gás

Um #fato confunde os analistas na questão dos combustíveis. Os preços no varejo se comportam como se as empresas fossem monopolistas, apesar da Petrobrás não ter monopólio da distribuição e comercialização ("downstream"), decerto por causa da formação de cartéis.

Por outro lado a Petrobrás se comporta de modo concorrencial na extração e refino de petróleo, apesar de não ter concorrência real - a empresa promove uma "concorrência virtual" consigo mesma, decerto para evitar o surgimento de concorrentes de verdade.

Aprendi isso com os alunos Artur Freitas de Mendonça e Nicolas Suzigan de Almeida, que fizeram trabalho de formatura "Análise da Estrutura e Competitividade do Mercado de ´Pleo e Gás" no LAC em 2014.