Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

27 novembro 2009

Mantega oferece subsídio para carros

Ouvi o ministro Mantega na televisão anunciando redução de impostos para carros multicombustíveis. As taxas marginais sobre todas as atividades econômicas legais no Brasil são altas, especialmente os serviços, por causa dos impostos sobre o trabalho. A diminuição de impostos é um subsídio para compra de carros. Mais de 90% dos carros vendidos no Brasil têm motores flex, e esses carros usam gasolina além de álcool. Portanto trata-se de um subsídio para compra de carros em geral, com impacto negativo para o meio ambiente.

Quem lê jornais no Brasil tem o direito de desconfiar que o ministro Mantega tem um vago entendimento da economia brasileira. Talvez ele fantasie que um subsídio à compra de carros é uma forma de imposto verde. Atribuir essa fantasia exclusivamente à burrice, ou exclusivamente à má fé, exige um grande esforço de imaginação.

8 comentários:

Anônimo disse...

o ministro mantega deve ter muitos defeitos de fabricacao, mas nesse caso talvez ele nao esteja tao errado assim,

automoveis sao bens de consumo duraveis. como tais, a elasticidade preco da demanda no curto prazo é muito elevada, mas no longo prazo é muito baixa. o ministro está apenas antecipando a troca.

do ponto de vista ambiental, pra inicio de conversa é flex, e portanto, alcool, cujo balanco de emissoes é zero. veja só, motores flex substituindo motores gasolina, nao me parece mal.

depois, carros novos poluem muito menos do que carros velhos. um esforco de renovacao de frota no brasil deve diminuir as emissoes. (mesmo que os antigos nao saiam de circulacao, em algum momento eles vao pro ferro velho).

tambem nao suporto carros, mas há outras maneiras de criticar o mantega.

abs
sgold

Felipe Pait disse...

Quando o preço do carro cai, o carro fica mais atraente em relação ao transporte coletivo. Nem todas as compras de carro são para substituir carros velhos, portanto o argumento sobre elasticidade é incompleto.

Adicionalmente, o transporte público usa mais mão de obra direta e portanto paga muitos impostos e encargos trabalhistas.

Deixando de lado a questão sobre o impacto ambiental do álcool, os carros flex vão usar gasolina e álcool em alguma proporção relacionada com os preços, então o uso de petróleo não será muito afetado.

A substituição de carros velhos por novos como foi feita na Europa e nos EUA diminuiria a poluição. O programa do Mantega é um subsídio puro, não exige troca.

Anônimo disse...

voce levanta um ponto interessante, mas provavelmente equivocado.

quem toma onibus nao vai comprar um carro novo. entao o efeito do subsidio sobre essa populacao é indireto, via preço do carro usado.

nao sei dizer se esse efeito é significativo. no entanto, nao deve ser diferente dos efeitos do programa norte-americano.

por outro lado, me parece incontroverso que a troca de automoveis a gasolina por flex diminui o consumo de petroleo.

abs
sgold

Felipe Pait disse...

Continuo discordando. A troca de carros a gasolina por flex não aumenta o consumo de álcool porque se aumentasse o preço do álcool subiria, e os motoristas dos carros flex encheriam o tanque com álcool. Diminuiria o consumo de petróleo se houvesse álcool barato sobrando. O preço anda por volta da paridade, então muda pouco.

O efeito indireto da compra de carro novo no estoque total de carros é instantâneo, a não ser que a jabiroca vá para o ferro velho. Então quando alguém troca o carro novo por um velho o carro usado é absorvido bem rápido, e o preço só pode cair. O efeito do subsídio ao carro novo no trânsito é instantâneo.

Anônimo disse...

e eu continuo achando que a questao é interessante, mas talvez a resposta seja empírica. pode ser que cheguemos à conclusao de que o que impede os buseiros de virarem carreiros seja o custo de manutencao do veiculo, e nao 500 reais a menos no preco de compra. nao estou dizendo que é assim, mas que pode ser.

sobre a questao do alcool, todas as simulacoes que vi ao longo dos ultimos 3 anos consideram que em SP vai todo mundo usar alcool, porque a producao é local e porque o icms é menor. sim, a oferta vai permitir que todo mundo use alcool, a maior parte do tempo, pelo menos em sp. no resto do pais, como vemos agora, a historia pode ser outra. mesmo assim, é inequivoco: flex diminui demanda de petroleo, nem que seja apenas nos meses de safra.

no futuro, se os programas verdes derem certo, vai sobrar petroleo. mas se isso acontecer, o papo é outro.

abs
sgold

Felipe Pait disse...

Talvez você esteja certo. Acho que quem tem dinheiro compra carro, e quem tem carro dirige. Por isso o trânsito piorou tanto. Sobre o uso do combustível, é só perguntar no posto de gasolina o que os motoristas de carro flex põe no tanque. Sou cético quanto ao álcool por cacoete profissional de engenheiro, não por ter feito análise econômica.

Felipe Pait disse...

Resposta empírica: é mais vantajoso abastecer o carro flex com gasolina em 20 Estados brasileiros

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100106/not_imp491174,0.php

Felipe Pait disse...

O argumento sobre os efeitos ambientais do álcool fica prejudicado pela falta de álcool agora em janeiro, não?