Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

26 março 2012

Brasileiro se ofende quando você discorda da opinião dele.

Por outro lado, brasileiro não se ofende com ofensas pessoais. Ou pelo menos perdoa rapidamente. Todos cooperam para enganar a Coroa, assim evitam guerras civis, até convivem com o racismo. Por muito menos do que as pessoas ouvem abertamente no Brasil, um europeu ou asiático monta uma milícia fratricida. As relações pessoais fazem parte do país real: esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco, como nos ensinou Machado de Assis no Diário do Rio de Janeiro em 29 dezembro 1861.

As relações profissionais são o Brasil oficial. Discordância é subversão à hierarquia, à burocracia, ameaça ao status e aos direitos adquiridos.

Isso ajuda a entender alguns obstáculos para a inovação em ciência e tecnologia no Brasil. Quem quer desenvolver tecnologia na universidade precisa começar rendendo homenagens ao Patinho Feio, ao Pal-M, e ao Corcel II, senão toda a infraestrutura fecha as portas. Empresas grandes têm os mesmos cacoetes. De homenagem em homenagem, de discurso em discurso, a inovação some do centro e é empurrada para a borda.

2 comentários:

Vanderlei disse...

Você não acha que a gente vive de renda? E tanto Policarpo quanto Macunaíma ainda são atuais?

Felipe Pait disse...

De renda? Num certo sentido, sim. O campo sustenta a cidade. No império, a corte vivia da alfândega sobre produtos industriais e de luxo, e da renda dos latifúndios. Na república, a cidade vivia do imposto sobre a indústria, que só aguenta esses custos porque é protegida pela mesma alfândega.

Hoje temos um sistema misto entre os 2, e mais a renda das finanças. A literatura é portanto sempre atual, mesmo quando as filosofias quasi-científicas saem de moda.