Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

26 novembro 2013

Professora negra da USP sofre ofensa racista no Restaurante Dueto no Butantã

Professora negra da USP sofre ofensa racista em restaurante de São Paulo:

http://t.co/DGFLpBkQRB http://mariafro.com/2013/11/26/professora-negra-da-usp-e-assediada-e-humilhada-no-restaurante-dueto/

O agressor é o próprio dono do Restaurante Dueto, também conhecido como "restaurante do holandês", que fica na Vila Indiana, perto da USP. Estou divulgando por ser ex-frequentador.

Meu receio diz respeito aos prezados colegas que vão lá. Se houver algum que não vê problema em continuar frequentando, eu prefiro não saber, porque mesmo não indo no almoço, não tenho como evitar continuar convivendo com eles.

Bom, não posso resolver todos os problemas, nem comprar todas as brigas do mundo. Então divulgo, esperando que cada um saiba fazer o que é certo.

20 novembro 2013

Escritório de corrupção com divisão de engenharia de grande qualidade técnica

Engenheiro confirma: Siemens é escritório de corrupção com divisão de engenharia de grande qualidade técnica. O governo do estado teve preferência técnica pelas empresas com competência estabelecida, inclusive a Siemens.

Que a Siemens ofereceu suborno para o governo de S Paulo mas mesmo assim perdeu um concorrência, nós já sabíamos de outras reportagens. Falta confirmar porque resolveram "denunciar" tudo agora, já que a tal denúncia só incrimina a eles mesmos. Para descobrir, a pergunta óbvia é: a quem beneficia?

A resposta também óbvia é que o PT tem interesse em denúncias contra o governo do PSDB, mesmo que inconsistentes, mesmo que o conteúdo da denúncia ponha a culpa em outros grupos - o fato é que a maioria do eleitorado e da imprensa não tem a capacidade ética e intelectual de distinguir se uma denúncia indica culpa ou inocência, então sempre vale a pena jogar merda no ventilador próximo ao inimigo. Em troca, a Siemens ganha uns contratos menores, na Bahia por exemplo. Mas essa hipótese ainda precisa ser confirmada. Minha aposta é que em breve aparece a confirmação.

19 novembro 2013

Diálogo no twitter, aprendi muito

“@gugachacra: Algumas universidades européias começam a ser chamadas de fábricas de desempregados”

Comentário relevante sobre situação muito grave.

“@mtmiterhof: @gugachacra é injusto por na conta das universidades a burrice do austericídio. A culpa é da Alemanha... como sempre.”

Política econômica da Europa é muito ruim, mas afirmação é preconceituosa e exagerada.

“@mtmiterhof: @gugachacra ainda dizem que o Brasil não se desenvolve porque a educação é ruim. A geração mais bem preparada da Espanha está desempregada.”

Achei esse comentário estranho e respondi.

“@pait: @mtmiterhof @gugachacra Mas é verdade, o Brasil não cresce porque a educação é ruim. A Espanha é um caso diferente.”

“@pait: @mtmiterhof @gugachacra O tweet que respondi contém uma falácia elementar. @mtmiterhof: pense e identifique.”

Pensando talvez que se tratava de um estudante incauto. Cacoete de professor, querer corrigir.

“@mtmiterhof: @pait o Brasil não é diferente da Espanha.”

Fantástica afirmação.

“@pait: @mtmiterhof Circunstâncias completamente diferentes. Espanha alto desemprego, inflação nula.”

Óbvio, sem mencionar diferenças mais fundamentais.

“@mtmiterhof: @pait Igual é q não é a educação boa ou ruim que explica o crescimento. Mas o contrario: a renda alta/baixa explica a boa educação boa/ruim.”

Educação seria um bem de luxo para abastados? Quem será que pensa assim?

“@pait: @mtmiterhof Talvez. Porém não são afirmações incompatíveis. Baixa educação no Brasil é maior obstáculo ao aumento da produtividade.”

Fato indiscutível para qualquer um que tenha familiaridade, mesmo que indireta, com o quotidiano de uma fábrica, obra, ou negócio qualquer.

“@mtmiterhof: @pait não é bem assim. Um mexicano ao cruzar a fronteira eleva sua produtividade em 4 ou 5 vezes.”

Mais um argumento fantástico. E daí? O que isso importa para a educação e economia do Brasil?

“@pait: @mtmiterhof Esse argumento não contraria a afirmação de que a maior barreira ao crescimento econômico do Brasil é a educação fraca.”

Mas é, como qualquer pessoa com a minima experiência na vida real sabe.

“@mtmiterhof: @pait contraria, sim, pois mostra que educação não é uma grande barreira ao aumento de produtividade e ao crescimento...”

Mais ou menos nesse momento percebi que o gajo trabalha no BNDEs e escreve na Folha. Qual a correlação disso com a falta de interesse em educação?

“@mtmiterhof: @pait ...um mesmo trabalhador mexicano mal educado é mais produtivo numa fábrica americana. isso se chama mudança estrutural...”

Então começo a entender porque o governo não vê muita urgência em investir em infra-estrutura. É mais vantajoso gastar em esquemas mirabolantes de gastos públicos e distribuição de recursos para empresários favoritos.

“@mtmiterhof: @pait ..p/ promovê-la tem q investir, algo induzido pelo crescimento, q por sua vez depende d demanda (gasto público e distribuição d renda)”

Quer dizer, investimento é consequência do crescimento, que por sua vez é consequência do gasto público? Mais um argumento de trás para frente, mesmo que no caso esteja sendo feito em causa própria.

“@pait: @mtmiterhof Quando migra o trabalhador está usando toda a infra do novo país, inclusive as habilidades da sociedade como um todo, que...”

“@pait: @mtmiterhof ...não estavam disponíveis no país original.”

“@pait: @mtmiterhof E a mudança estrutural mais fundamental é a preparação para o trabalho, que se faz pela educação.”

Parece óbvio: o trabalhador mexicano é mais produtivo nos Estados Unidos porque têm mais capital à disposição.

“@pait: @mtmiterhof Crescimento depende de demanda e de produção. Na Espanha falta demanda; no Brasil falta produção.” 

Condições diferentes, explicações diferentes. Para mim é óbvio.

“@mtmiterhof: @pait discordo. quem puxa o fio da meada é a demanda.”

Mas para outros um país numa situação diametralmente oposta serve de argumento para fazer o que dá vontade. Uma lei de Say ao contrário: a demanda cria sua própria produção. Difícil de acreditar que alguém que já trabalhou na vida acredite nisso.

“@mtmiterhof: @pait discordo de novo. educação é mais resultado do que causa. estamos andando em círculos. Abordarei o tema na coluna da semana que vem.”

Me cheira a argumento por autoridade: o Partido me botou para escrever na Folha, e o jornal teve que engolir para não perder acesso a fontes oficiais, portanto todos devem me escutar embevecidamente.

“@pait: @mtmiterhof Sua afirmação não tem apoio na teoria, nem nos fatos, nem no bom senso. Parece puramente ideológica.”

“@pait: @mtmiterhof Para um aluno, diria que é necessário estudar com mais afinco e fazer o dever de casa. Você é maior e vacinado, não vou discutir”

Perdi o respeito. Apelou à hierarquia, vamos ver quem tem maior patente.

“@pait: @mtmiterhof Pensando bem, você me convenceu. Você lê, escreve, deve ter estudado muito, e ao fazer seu trabalho....”

“@pait: @mtmiterhof ...não indica ter a menor noção de como funciona um negócio e muito menos uma economia. Educação é irrelevante mesmo.”

Mas algumas horas depois, pensando com meus botões, me convenci. Educação e estudo são irrelevantes mesmo. Qual a qualidade que o trabalho de quem pensa assim pode ter?

14 novembro 2013

Denmark Day na Poli-USP

Ontem houve um evento de divulgação de oportunidades em empresas e universidades da Dinamarca aqui na Poli. O evento era direcionado para estudantes, dei uma passada rápida por curiosidade. A divulgação interna não foi muito boa, o que é compreensível considerando o número de vezes que cada email sobre falta de luz, falha na telefonia, fechamento de rua, cerimônia de encerramento de prazo, e farol aceso tem que ser reenviado. Depois tive uma reunião com alunos, mencionei o evento, então foi útil.

Nos tempos de antanho quem queria obter informações sobre estudar fora do Brasil era visto com uma certa desconfiança, precisava pedir autorizações com firma reconhecida para acessar bibliotecas e catálogos. Bolsas então, já existiam, nos Estados Unidos embora raramente na Europa, mas quem conhecia negava. Hoje os escandinavos vêm para cá fazer propaganda das oportunidades. O Brasil mudou, e para melhor. A Europa também, ao menos os mais avançados entre os bárbaros. Felizmente ainda não fiquei velho demais para sentir alguma inveja das oportunidades que os jovens têm hoje, e sabem aproveitar.

Sendo o evento sobre a Dinamarca, sempre dá uma sensação agradável. O embaixador falou, brevemente, que os dinamarqueses se sentem encabulados em falar bem deles mesmos então preferiu mostrar um vídeo com brasileiras que estudaram lá dizendo que é o melhor país do mundo. Estão certas.

Só deu pena no final do dia ao ver o carro do embaixador parado num engarrafamento-monstro na saída da Usp - a pé, consegui sair bem mais rápido, quem precisava transportar o automóvel não tinha alternativa. Mas trânsito, corredores de ônibus, ficam para outro post.


10 novembro 2013

Açaí (continuação)

O Açaí Frooty Natural fabricado Spice Com. e Ind. de Alimentos tem uma consistência que lembra neve, ou raspadinha de gelo, menos agradável do que o Açaí DeMarchi, que estou usando como referência. O sabor é menos marcante e fica ofuscado por um forte aroma de guaraná idêntico ao natural, no dizer do rótulo. O conteúdo específico de carboidratos, proteínas, gorduras, e fibras sugere uma diluição significativa, o que explicaria as observações qualitativas, se bem que não tenho confiança nos números apresentados no rótulo da DeMarchi.

O Açaí Qualitá distribuído pelo Pão de Açúcar traz informação nutricional quase idêntica ao Açaí Frooty, e é industrializado na mesma fábrica, aqui soletrada como SP ICE (diria que essa 2a forma melhor descreve o produto). O exemplar que experimentei tinha porém consistência e sabor superiores, embora ainda não comparáveis com o açaí de referência. Isso sugere controle de qualidade irregular.

Recomendação: escolha o Açaí + Guaraná Açaí Sport DeMarchi; ou alternativamente o Açaí com Guaraná Tribal Açaí Orgânico Sambazon, conforme o teste do mês passado.

08 novembro 2013

Imitação é a forma mais sincera do panegírico

O novo programa da chapa Zago-Vahan para a reitoria da Usp diz: "estimularemos a reforma da legislação pertinente para flexibilizar e modernizar currículos e a mobilidade de estudantes". Fazer uma grande modernização do ensino de graduação na USP, como propõem, é uma direção nova, e correta, para os pró-reitores de pesquisa e de pós-graduação, que contam no currículo a experiência anterior nas presidências no CNPq e no IPT. Embora a proposta ainda não especifique ações e prioridades, a atitude encomiástica de seguir a proposta do Prof Cardoso, flexibilização da graduação, é louvável. (Pergunte ao Butija o que é um panegírico.)

A flexibilização dos currículos começou em 1986 com a resolução 3045 do Prof Goldemberg; foi resistida bravamente pelas unidades e departamentos, apesar dos esforços de raros administradores como a pró-reitora de graduação Ada Pellegrini Grinover, durante a gestão do Prof Marcovitch; foi introduzida no curso de Automação & Controle da Engenharia Elétrica em 1995; foi aprovada na nova estrutura curricular da Escola Politécnica, embora sua implementação continue sendo sabotada pelos interesses dos departamentos. Será que agora pega na USP?




06 novembro 2013

Cobertura do debate dos candidatos a reitor da USP

“@pait: Zago lista coisas que devem mudar na Usp: graduação, carreiras, gestão, burocra... Não diz quais mudanças fará. Modernização, o que é?”

“@pait: Vanderlei lista politécnicos que conheceu e homenageia. Passa a homenagear sua vice e a si próprio. Vai pensar em propostas para graduação.”

“@pait: Cardoso feliz que os outros candidatos adotaram suas propostas para graduação e transparência. Conta coisas que fez pela graduação na Poli.”

“@pait: Cardoso defende flexibilização do ensino, novo currículo de graduação aprovados pela Poli, laboratório de inovação, cursos novos, noturno.”

“@pait: Cardoso lista outras iniciativas suas em graduação, inovação, gestão, cultura, e extensão na Poli. Promete expandir para a USP toda.”

“@pait: Hélio elogia Poli e Cardoso, apoia curso noturno de engenharia, mudanças curriculares na Poli.”

“@pait: Hélio lista experiência da candidata a vice e sua própria, sem detalhar ações específicas. Sugere imitar iniciativas da Politécnica.”

“@pait: Hélio menciona em termos genéricos que coisas foram feitas e outras ainda devem ser continuadas. Alerta para situação financeira precária. Hélio defende quotas.”

Funcionário pedem que candidatos sejam mais específicos sobre suas propostas, e fazem solicitações específicas sobre carreira. Professor contesta que talentos sejam bem selecionados por quotas para escolas públicas sem melhorar escola pública.

Perguntei por email para o prof Hélio: "O senhor é economista experiente, reconhecido, que ocupou altos cargos na administração da universidade, e nos conta que a situação financeira da universidade é periclitante. Gostaria de saber em qual ponto das últimas gestões o vice-reitor e os pró-reitores tomaram conhecimento que a universidade estava praticando uma gestão imprudente dos recursos públicos." Aguardo resposta.

Hélio dá respostas gerais para as perguntas específicas. Cardoso promete mais transparência na administração, critica administração atual, não acha fácil atingir metas de quotas e inclusão sem prejudicar qualidade; USP deve apoiar mais os alunos do ensino médio. Vanderlei afirma que fundamento da sua candidatura é a continuidade das últimas duas gestões, pede que confiem na astúcia dele para fazer os pequenos ajustes necessários, sem maiores inovações, conta anedotas folclóricas. Zago diz que universidade precisa inovar, cumprimenta quem já fez mudanças, mas não diz quais; critica vestibular mas elogia Fuvest, diz que é preciso discutir, discutir, discutir, não diz suas propostas; o problema central não é prédios nem pesquisa, é a graduação que deve estar no centro. "Quem tem 100 prioridades não tem nenhuma", diz Zago; concordo.

Aluna conta que veio de escola pública, entrou no vestibular, pergunta sobre violência contra a mulher na USP, estupros na Poli, e sobre acesso de minorias à USP.

Zago começa dizendo que que violência contra mulheres é subcaso da questão de segurança geral no campus. (Suspiros da audiência.) Depois passa a generalidades sobre cultura e barbárie. Volta para a tese que é uma questão de geral de segurança, não apresenta propostas. Não defende quotas mas diz que deve haver ações, não diz quais. Critica a pergunta pouco precisa. Vanderlei diz que já foi prefeito da USP e aprendeu sobre iluminação e segurança. A favor das câmeras e das lâmpadas e da guarda universitária e da polícia militar. Cardoso defende controle de acesso aos prédios, critica falha de segurança inaceitável, assume que universidade falhou em sua responsabilidade. Cumprir decisões do conselho universitário quanto a quotas, embora a universidade não seja capaz de resolver todos os problemas sociais. Hélio defende critérios étnicos no vestibular, elogia a iluminação do estacionamento da FEA, colocação de catracas na reitoria, e sua experiência administrativa.

Comentário: nenhum dos candidatos parece ter a menor noção de que a violência contra as alunas é frequente em festas e outras atividades estudantis. Isso sugere que os candidatos não conversam o suficiente com os estudantes.

As perguntas feitas pela internet não serão respondidas durante o debate. A minha fica aqui no blog. Professor pergunta sobre avaliação de atividades de graduação na carreira acadêmica, e sobre invasões à reitoria.

Hélio afirma que atividades de ensino não são consideradas na carreira docente e que práticas não democráticas ficaram corriqueiras na vida universitária. Cardoso: ensino, pesquisa, e atividades de cultura devem ser pesadas em concursos de contratação e progressão. Ninguém ensina sem saber aprender, então pesquisa é importante, mas outras atividades devem ser formalmente consideradas. Violência chegou a níveis altos, não se faz democracia com marreta, a minoria de violentos não é representativa. Vanderlei diz que crise atual com os estudantes não é fato isolado, é crise sistêmica, se agravou nos últimos anos (nas administrações que ele pretende continuar), cita discussões teóricas na Filosofia sobre black blocks, melhor caminho é trabalho de prevenção, atrair lideranças estudantis que aceitam discutir de forma democrática, afirma que segmentos violentos estão em grande parte na sua unidade, a Filosofia. Avaliar só por produção de paper não dá, mas a discussão é difícil e a profa Sueli faz partes de comissões que ainda não sabem o que fazer.

Zago diz que vai fazer proposta muito diferente: reconhecer que universidade é muito heterogênea, que as pessoas têm perfis diferentes, não misturar indivíduos que dão contribuição excelente como educadores com os que transferem conhecimentos para a sociedade com os pesquisadores. Diz que Harvard considera 3 perfis diferentes de professor (comentário: nunca ouvi falar desses perfis). Agressividade: porque? A maioria é silenciosa porque nós nos afastamos do diálogo com a maioria. Falta diálogo durante o ano todo. Se nunca nos preocupamos com o diálogo, na hora da invasão já é tarde. Falta de entusiasmo pela vida universitária e de participação é a causa da passividade da maioria silenciosa não-violenta. (Excelente resposta. Faltou dizer quem e como vai começar o diálogo.)

Vanderlei reforça que seu website reitera suas propostas de continuar as políticas das 2 últimas gestões. Cardoso diz que na Poli há diálogo permanente com estudantes, conflitos foram mínimos, precisamos ser tolerantes, o diálogo foi perfeito nos últimos 4 anos na Poli (acho que com um certo otimismo), vai fazer o mesmo na USP, garante que minimizará os conflitos. Hélio elogia a USP em generalidades, exceto o equilíbrio financeiro que precisa ser restabelecido e procedimentos arcaicos que contribuem para conflitos.

Perguntas da internet não serão lidas. Fim do debate.


03 novembro 2013

Os donos do poder na USP

Quando comecei a dar aulas na USP nos anos 1990, a Escola Politécnica era dominada pela ideia do engenheiro que dava aulas. Não que os dirigentes da Escola fossem necessariamente engenheiros de destaque, ou mesmo que dessem aulas. Porque a universidade já tinha passado por um processo de profissionalização e de burocratização - a figura dos engenheiros profissionais e dos professores "amadores" era mais presente no imaginário politécnico do que entre os dirigentes.

Menos presentes ainda eram os pesquisadores. Porque a ideia de pesquisa e inovação na engenharia ainda era remota. Vivíamos um complexo de vira-lata, pelo qual cabia ao engenheiro brasileiro seguir ordens, e no máximo copiar o que já existia lá fora com algumas décadas de atraso. Os donos do poder se orgulhavam de subir na carreira sem nunca terem escrito um paper; ou de fazerem pirataria e engenharia reversa. A luta pelo poder exigia dedicação total, incompatível com a pesquisa ou ensino - se bem que os poderosos davam um jeito de se autoconferirem honrarias acadêmica pelas atividades às quais nem sempre tinham se dedicado. Aliás escapar à carga didática sempre foi uma das motivações da busca pelos cargos.

O estamento burocrático usava esse conceito do engenheiro que dava aulas para resistir à modernização da escola de engenharia. Porque pressões havia. O corpo docente estava se renovando, com exposição às universidades internacionais. A inovação se fazia necessária pelo esgotamento do esquema da auto-suficiência tecnológica - o desastre completo que foi a reserva de mercado para informática fica como exemplo perfeito mas não único. E as sucessivas crises econômicas levavam os estudantes a questionarem o modelo de ensino moldado para atender com precisão milimétrica as necessidades do mercado de trabalho, só que da geração anterior.

Hoje a Escola Politécnica, como parte da USP, avançou muito na direção de tornar-se uma universidade de pesquisa. O estamento burocrático da universidade incorporou a publicação de papers como objetivo fundamental da academia. Em proveito próprio, é necessário dizer. A pesquisa interessa enquanto pode ser quantificada, mensurada, e usada como medida para distribuição de pequenos favores e meias-entradas. Estes por sua vezes servem de moeda de troca para subir na carreira universitária e ocupar cargos. O que entra nos relatórios de pesquisa é a engenharia de Lattes do CNPq e Qualis da CAPES. O conteúdo da pesquisa enquanto inovação, seja para a ciência, seja para benefício da sociedade, muitas vezes fica perdido, e é o que menos importa para a contabilidade acadêmica de publicações. A salamização da ciência, as auto-citações, até o auto-plágio e eventuais fraudes, evitar isso importa menos do que a quantificação - pretensamente objetiva - da pesquisa científica. Pena - temos excelentes cientistas, e um sistema que não sabe distinguir eles dos picaretas.

O estamento se renovou. Mudou de ideias, aparentemente. Os donos do poder são outras pessoas. Mas os métodos continuam os mesmos, inclusive na auto-premiação, a maior das caricaturas. E as consequências para o ensino dos futuros engenheiros também. A demanda por mais pesquisa na universidade acabou tomando uma nova dimensão, além da imaginação.
Witness Mr. Henry Bemis, a bookish little man whose passion is the printed page. In just a moment, Mr. Bemis will have a world all to himself... without anyone. The best laid plans of mice and men... and Henry Bemis... the small man in the glasses who wanted nothing but time to do his research... in the Twilight Zone.

01 novembro 2013

Aumento do IPTU

O argumento do prefeito Haddad a favor do aumento do IPTU é transparente e direto: o tributo é a contraparte dos benefícios dados pela cidade aos paulistanos, e deve ser pago com alegria. Os mais de 11 milhões de pessoas que moram na cidade concordam que a vida na metrópole é desejável - tanto que a população da cidade continua a crescer - e não sei de quem discorde de que é necessário melhorar os serviços públicos.

Os argumentos contrários são mais nebulosos. Um é que existe muita corrupção na cidade e portanto não devemos pagar os impostos. Que existe desperdício e corrupção não há dúvida; essa semana mesmo a prefeitura desbaratou uma quadrilha que as administrações anteriores não tinham conseguido reprimir. Financiar inadequadamente a prefeitura, e assim piorar a qualidade dos serviços públicos, seria uma resposta contraproducente, consistindo em punir o cidadão pelos crimes e erros dos bandidos.

Outros dizem que o aumento é abusivo. Respeitando a lógica do mercado e da livre-iniciativa, ao aumentos dos valores dos imóveis indicam que S Paulo está trazendo benefícios econômicos crescentes para seus moradores. Por outro lado, o ponto fraco da cidade são os serviços públicos, que são financiados com dinheiro de impostos. Então o argumento de que o aumento é abusivo fica prejudicado.

Finalmente podem dizer que é melhor deixar o dinheiro no bolso do contribuinte do que dar para a ineficiente prefeitura. Em tese é um argumento que tem mérito - as pessoas gastam melhor o próprio dinheiro do que o dos outros. Só que os investimentos que S Paulo precisa são em transporte coletivo, educação, e segurança pública. Na prática, é difícil imaginar como o paulistano vai melhorar a qualidade de vida na cidade com mais dinheiro para comprar carro, ir ao restaurante, e reformar ou mudar de apartamento. Enquanto indivíduos e empresas não fizerem os gastos necessários para melhorar os serviços públicos na cidade, a alternativa é pagar impostos, mesmo que eficiência da prefeitura deixe a desejar.

Já o argumento dos vereadores da oposição consciente é razoável: eles não confiam na capacidade do partido que comanda a prefeitura gerir os recursos adicionais, e portanto votaram contra. É coerente, e fico satisfeito com o voto do meu vereador, Gilberto Natalini. Naturalmente os vereadores do PT discordam e votaram a favor. Fizeram papel de palhaço os eleitores que botaram na câmara uns representantes de partidecos sem eira nem beira tipo Pros e PP, que não são nem contra nem a favor de nada exceto ganhar uma boquinha. Conviver com esses eleitores é melhor que as alternativas, então continua valendo a recomendação de voto distrital. Daí talvez até os mais imbecis se lembrem de quem elegeram.