Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

08 maio 2013

Sobre a assim-chamada escola austríaca

Um ex-aluno, hoje colega engenheiro, pediu para apontar erros num texto de um professor da George Mason University. Escrevi alguma coisa para ele no Facebook e copio aqui.

Uma refutação é a poluição. O proprietário de um poço de petróleo vende o óleo, pode deixar derramar, quanto mais vender com menos desperdício (do seu ponto de vista) em proteção ambiental, mais lucra. O comprador também aufere vantagens, por exemplo movimentar seu automóvel. Porém se a complexa operação não for executada com extremo cuidado, ela torna a sociedade inteira mais pobre e sofredora, e a economia futura menos produtiva, por causa da devastação ambiental e dos danos a saúde. A proteção que o estado oferece à propriedade privada em nada ajuda. É necessária uma regulamentação estrita e limitação dos direitos privados, além de impostos pesados, se não quisermos ir para o caminho dos habitantes da Ilha de Páscoa. Essa situação é bem entendida pela ciência econômica convencional, baseada na realidade. Na verdade é menos demorado perguntar o que está certo do que o que está errado na assim-chamada economia austríaca. Essa é um amontoado de lugares comuns elevados à categoria de postulados inatacáveis, apesar de que raramente terem significado mais geral e frequentemente levarem a contradições. Um tipo de astrologia, homeopatia, com paralelo no marxismo.

Outro absurdo que o artigo comete, de ignorância tão profunda que dificulta a presunção de boa fé, é quando ele fala do colonialismo na África. Com um mínimo de cultura literária e histórica o autor lembraria do genocídio no Congo Belga. Talvez o maior crime da história da humanidade. Um gajo que escreve "As potências coloniais jamais perpetraram os indescritíveis abusos de direitos humanos" é quase um cúmplice. O sujeito escrever uma barbaridade como a que ele escreveu num artigo com pretensão acadêmica ou didática demonstra profunda ignorância e má fé.

Meu argumento não é 100% válido, mas o dele é 100% errôneo. Nenhuma regulamentação ou legislação é perfeita, nada no mundo real é perfeito. O não ser perfeito não é argumento contra nada. Quanto às exigências das seguradoras [serem mais eficazes para garantir a segurança de ambientes de trabalho do que a ação direta do governo], o sistema todo só existe porque há leis específicas que exigem seguro contra terceiros. A ação regulatória não precisa ser efetuada totalmente através de atos diretos do governo. Por exemplo, a empresa de seguro pode muito bem ser privada, e em geral funciona melhor, pelos argumentos que você conhece. Esse tipo de argumentação - atacar um straw man, um espantalho a quem o autor atribui linhas de pensamento que ele identifica com seu opositor, apesar de que o opositor nunca as defendeu - é uma falácia de argumentação típica dos assim-chamados economistas austríacos. No caso, dizer que quem defende algum tipo de regulação ou imposto é um comunista absolutamente contrário à propriedade privada.

Tudo isso dito, é verdade que a liberdade individual - inclusive de iniciativa econômica - não apenas facilita a prosperidade mas é um valor humano fundamental que deve ser um objetivo da sociedade independentemente dos benefícios econômicos. Essa é uma das tautologias às quais me referia acima, que entre os picaretas da George Mason é distorcido para defender os maiores absurdos, e para acusar qualquer pessoa que defenda alguma política social ou de impostos de comunista ou algo pior. Recomendação: não perca seu tempo [lendo adeptos da assim-chamada escola austríaca].

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