Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

19 maio 2013

A história do futebol brasileiro

A história do Brasil nas Copas deve, no meu entender, ser vista como a batalha entre o talento natural do brasileiro e os donos do poder estudados por Faoro. Senão vejamos. Entre 1930 a 1954 houve a época do complexo de viralata. A organização das seleções era realmente uma tristeza de bairrismo, esbulho, incompetência, e falta de patriotismo. De todo modo o Brasil teve pelo menos 3 times competitivos. Poderia ter tido mais, mesmo assim só não ganhou porque em 1o lugar fica um só, e não foi o time de Leônidas da Silva nem o de Domingos da Guia.

Na era Pelé, entre 1958 e 1970, o gênio desmontou a burocra, que não conseguiu bloquear os demais talentos. Os craques impunham a escalação dos outros craques, independente de hierarquias sociais ou militares. É uma época de exceção.

Os títulos da era Pelé devolvem força aos cartolas, que começam a achar que entendem de bola.
Segue um recrudescimento da força estamental. Apesar da falta de vitórias, os times brasileiros entre 1974 e 1986 são todos competitivos. Nenhum ganhou, verdade, mas o motivo foi simplesmente o acaso do futebol. Mas a repressão ao talento era um tema presente: em 74, Ademir da Guia, o craque que Zagalo desprezou; em 78, Falcão, o melhor jogador do Brasil, ignorado pelos bacharéis do esporte; culminando com a exclusão de Romário, o maior e o mais indomável deles, em 90.

O herói da luta contra o estamento nessa época é Telê, o único que deixava os craques jogarem. Dessa vez as não-vitórias de Telê conduzem à assim-chamada Era Dunga, que se convencionou começar em 90, mas cujas raízes já estão presentes desde 74, e que perdura até os nossos dias, com intervalos. A vitória do estamento foi tão completa que o Brasil quase ficou de fora da Copa de 94. Para não matar a galinha dos ovos de ouro, que é o futebol, o estamento se rende ao craque. Muito a contragosto: o talento de Raí e outros foi reprimido em 90 e o maior herói da luta contra a burocra nessa época, Romário, ficou fora do time que não ganhou em 98. De qualquer forma o Brasil voltou a ganhar: 3 finais em sequência.

A vitória teve um preço. A campanha vencedora de 2002 tranquilizou o estamento, que voltou a atuar sem rédea nem bridão. Os bacharéis - dono de títulos em ordenações afonsinas, currículos de administração ultramarina, e diplomas de física - instalaram o futebol burocrático, sem viço nem vigor, sem risco nem criatividade, de 2006 até hoje. O desastre ainda não foi de monta a restringir a auto-suficiência da nobiliarquia, em renovada versão do complexo de viralata: o brasileiro precisa jogar como os europeus, de preferência lá na Europa mesmo. Mais precisamente: o brasileiro precisa jogar como o estamento, incluindo boa parte da crônica esportiva, acha que jogam os europeus.

Quem entende de bola diz, tartakowerianamente, o que o Brasil só perdeu de 2 adversários: da Hungria em 54, e da Holanda em 74. Das outras vezes, perdeu de si mesmo. Por superestimar o adversário, ou fingir subestimá-lo, o que no fundo é a mesma coisa. Conseguirá o talento voltar a prevalecer contra o fogo amigo dos comitês? A conferir.


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