On 11 Jun 2009, at 5:26 PM, Humberto S. Shiromoto wrote:
Ola professor,Minha resposta:
Como esta o senhor? Aqui da Italia, acompanhei os protestos que aconteceram, na USP. Qual sao os reais motivos da greve? E qual o motivo para a Adusp querer a saida da reitora?
Abraços,
Humberto S. Shiromoto
Estou em sabático esse semestre, então não posso falar do que vi pessoalmente sobre essa greve. Vou escrever com base no que li, nas greves anteriores que assisti, e em opiniões formadas em mais de um quarto de século de Usp.
O sindicato dos funcionários é chamado de radical, mesmo por membros dos partidos políticos mais radicais. A verdade é pior que isso. A bandeira principal deles nessa greve é a volta de um tal de Claudionor, ex-funcionário da Usp que é partidário do atentado violento ao pudor (acho que formalmente ele foi demitido por causa de outra condenação criminal, das sucessivas acusações de estupro ele escapa através da intimidação das vítimas). Não tenho simpatia por eles porque além de defenderem o estupro eles tem o costume de distribuírem panfletos a favor do extermínio do povo judeu. Então se quiser pode dizer que minha opinião tem viés pessoal. O fato é que os funcionários da Usp não estão nem ligando. Eles não sabem nem querem distinguir se o tal sindicato está pedindo aumento de salário ou fazendo baderna. A maioria ou trabalha e não quer se meter nessas atividades dos sindicatos, ou acha a greve uma boa oportunidade para tirar férias remuneradas.
O sindicato dos professores é apenas ligeiramente menos aloprado. Tem uns caras como o Coggiola que defendem qualquer espécie de tirano ou genocida, tipo o pessoal que saiu da linha Moscou para a linha chinesa quando o partidão comunista denunciou os crimes do Stalin, depois foi para a "linha albanesa" quando terminaram as execuções em massa do Mao, e ficou órfão depois da queda do muro. Você vai dizer que eu vir com essa conversa de stalinismo e trotskismo numa discussão sobre greve na Usp é absurdo e eu concordo, mas é assim que eles pensam. Se você conversar com o pessoal do sindicato eles vão dizer que a conversa sobre salário é apenas para mobilizar as massas apáticas. No mínimo soltam que é para prejudicar eleitoralmente o governador. A questão de salário nem secundária é.
Mas dessa greve até o sindicato dos professores ia ficar de fora, tão malucos os grevistas estavam. Até que a reitora chamou a polícia. Se a Usp tivesse impeachment, ela já teria saído na outra greve, quando teve comportamento ridículo. Primeiro temos que lembrar que essa incompetente foi posta pela "direita" e pela "esquerda" da Usp para evitar que algum cara sério e trabalhador virasse reitor. Explico: os malufistas e quercistas são os que privatizaram a Usp e não querem ninguém dizendo que eles têm que dar aula ou fazer algo produtivo para a sociedade. Exemplos de professores que ganham dinheiro com trabalho dos outros mas nunca fazem coisa que presta há muitos - como eu já estou queimado mesmo, vou escrever os nomes do Massola e do Galvão da elétrica para você saber de que tipo estou falando. A esquerda são os stalinistas e trotkistas a que me referi antes, é o pessoal que vive numa torre de marfim enganando os alunos com esse besteirol ideológico, e não quer nenhum contato com a realidade além do salariozinho de funcionário público e a aposentadoria precoce que o povo paulista tanto se esforça para pagar. Nos conselhos e congregações com frequência as duas alas se juntam para evitar a subida de gente amiga do trabalho.
O fato é que se alguém na reitoria quisesse trabalhar era só entrar na reitoria e trabalhar, parando no caminho para conversar com os alunos, que seria muito mais importante do que aquelas papeladas inúteis que eles ficam despachando de um lado para o outro. O que é que os grevistas iam fazer, bater na reitora? Improvável, mas se levantassem a mão, desmoralizava-se a greve. Falta alguém com um mínimo de coragem física, daquela que a gente aprende no jardim da infância, e com um pouco de boa vontade para dialogar com os alunos. Agora que a reitora fez o jogo dos radicais, chamou a polícia, ajudou a promover cenas de violência, ela tem mesmo que renunciar. No desconhecimento da universidade ela fez o jogo dos facínoras. Na inaptidão para o diálogo chamou a polícia para conversar com os alunos, lembrando os piores capítulos da história da Usp. Renúncia já!
A questão dos alunos é mais complexa. Bem como os professores e os funcionários, a maioria não liga para essa história de greve nem tem paciência para ir nas assembleias, onde as decisões são sempre tomadas por minorias ínfimas. Só que os alunos se revoltam com razão. A universidade atende aos alunos muito mal, com cursos rígidos e sem ligação com o mundo real da ciência e do trabalho, uma burocracia asfixiante, e um número excessivo de funcionários e professores desleixados. Na revolta muitos estudantes dão ouvidos aos megafones, palavras de ordem, e discursos inflamados, sem perceber que essas pessoas e discursos são justamente o problema, não a solução. Os alunos são jovens e se exaltam com facilidade. Os bem intencionados e mal informados são liderados pelos bem informados e mal intencionados. A maioria fica de fora.
Vou terminar com uma coisa positiva. Vi numa foto de Clayton de Souza/AE reproduzida acima que os alunos arrombaram o cadeado da torre do relógio. Na greve anterior subi lá em cima, acho que pus uma foto no blog. Todo aluno deveria ter a oportunidade de subir na torre do relógio para ver como as coisas embaixo ficam pequeninhas lá de cima. Nessa época do ano com tempo seco a vista é espetacular. O exercício também não ia fazer mal à pança. Precisava de uma reformazinha para dar uma segurança aceitável aos alpinistas, mas valeria o gasto. As demonstrações dos alunos têm lado libertário e anárquico muito positivo, que não deve ser confundido com as manobras dos fascistas dos sindicatos.
17 comentários:
Lamentável!
E como é nos EUA? Eu só conheço superficialmente.
Abraço
FB
Como é o quê? Greve? Aqui não tem greve de professor, nem de aluno de graduação. Greve de funcionário é incomum, de aluno de pós muito rara (participei de uma das últimas). A última nvasão de reitoria deve ter sido na época da guerra do Vietnã. Não quero dizer que está tudo um mar de rosas, mas esses problemas eles não têm.
On 13 Jun 2009, at 4:57 PM, Humberto S. Shiromoto wrote:
Ola professor,
Devo dizer que, quando fiquei sabendo que a greve somente devido ao aumento de salario do Sintusp e pela volta do Brandao, achei um absurdo mas... na USP o sintusp deita, r, ola e ainda a gente é chamado de fascistas se quer que eles vao trabalhar. Mas, ainda assim, fiquei meio com um pé atras pois me lembro que, em 2007, houve a greve de alunos contra os decretos dos Serra e a imprensa noticiava que era um greve somente para aumento de salario. E nos, que estamos fora do pais, nao temos muito meios para nos informar sem ser a grande midia.
Como a mobilizacao era pouca (tipicos alunos do DCE/FFLCH extremistas e o sintusp) achei que era mais uma greve do tipo "greve da copa" (ocorrida em 2006). Depois, fiquei sabendo sabendo que houve a invasao da reitoria. Jutando A+B, achei um absurdo uma "greve da copa" ousar a invadir a reitoria pois, o que foi feito em 2006, tinha um motivo muito maior: o fato de governador meter o nariz aonde nao foi chamado.
Bom, depois a PM foi a USP e, até aih, achei justo pois imaginei que o pessoal que la trabalhavam podiam ter medo se os extremistas se exaltassem e resolvessem bater em alguém. Depois, tudo o que vi foi aquele absurdo de briga com a tropa de choque, afinal, a PM nao deveria jamais enviar a tropa de choque contra o protesto de alguns alunos e sindicalistas que podem, no maximo, bater com os proprios punhos.
Concluindo: o que ocorreu, na minha opiniao, é:
1) Os lideres do DCE e Sintusp sao filiados do PSTU
2) No dia do confronto da PM (ou no dia seguinte, nao me lembro bem) foi divulgado uma pesquisa entre Dilma e Serra à presidencia com larga vantagem para o Serra.
3) Sob o ponto de vista do PSTU, é mais facil concorrer com o PT do que o PSDB pois entre PT e PSTU o PT vira um partido de fascistas.
4) De 1), 2) e 3) vem que uma minoria ligada a um partido politico fez de tudo para sujar a imagem eleitoral do governador. Ou seja, sim, os estudantes foram usadas como uma super massa de manobra.
Ressalto que, sob o meu ponto de vista, tanto os estudantes quanto a reitora estavam absurdamente errados e a briga foi simplesmente por nada.
O que aconteceu com o senhor para ser queimado na Poli?
Abraços,
pra mim, que estou de fora, acho que reduzir o problema da usp a uma questao de falta de autoridade é... reducionismo. acho que a usp precisa mesmo ser, com o perdao do chavao, ser refundada, a dos anos 30 já cumpriu seu papel. não dá pra continuar sendo uma universidade ao mesmo tempo gratuita e de elite. no futuro, acho que vai ser gratuita e popular. mas é só um palpite.
abs
sgold
Não discordo de vc que na Usp há um monte de aloprados, mas acho bom evitar cair na armadilha "esse está certo, aquele está errado." A estratégia dos canalhas é justamente provocar o outro lado para que cometa atitudes indefensáveis, como o quebra-quebra e ações policiais.
Porque estou queimado: tem gente na Usp que não gosta de quem diz coisas como essas:
http://fmpait.blogspot.com/2009/05/lei-de-imprensa-acabou-censura-na-usp.html
http://fmpait.blogspot.com/2009/03/formatura-da-poli-2008.html
http://fmpait.blogspot.com/2009/03/um-laptop-por-comissao.html
http://fmpait.blogspot.com/2009/02/hino-da-usp.html
http://fmpait.blogspot.com/2008/11/discurso-de-inaugurao-de-estacionamento.html
http://fmpait.blogspot.com/2008/09/comisso-de-falta-de-tica-da-usp.html
http://fmpait.blogspot.com/2007/11/opes-no-vestibular-na-escola-politcnica.html
http://fmpait.blogspot.com/2007/07/pproposta-de-regimento-de-ps-graduao-da.html
http://fmpait.blogspot.com/2006/08/carta-ao-prof-coggiola-que-anda-me.html
Não que eles leiam o blog, mas é que eu digo essas coisas, e tem gente que se incomoda.
olá. a usp está em greve?
abs
prof. massola.
reformas na usp: proponho substituir as rotatorias por semaforos. acho que isso é capaz de mudar a maneira de pensar de muita gente.
abs
sgold
é curioso que, nas questoes de greve, os funcionários queiram ser tratados como os alunos. mas tambem é curioso que entre os alunos é dificil encontrar filhos de funcionarios.
abs
sgold
Sgold,
Verdade, há um conflito entre gratuita de massa, e voltada para a elite intelectual, que precisa ser administrado. O que faz falta para isso não é autoridade, é liderança. Acho que seu palpite vai provar-se correto.
o que está escrito na faixa pendurada no relogio? fora fmi?
abs
prof. galvao
Prof Massola,
Que prazer vê-lo aqui nesse blog! O Sr. não sabia que a Usp está em greve? Também, não vai lá há tanto tempo........
Sgold,
Nem rotatória, nem semáforo: aerotrem já! O meio de transporte das elites e das massas!
Prof Galvão,
O Sr também por aqui, bem vindo! Picharam "Fora FMI" há muitos anos na parede de fora da sala onde o Sr dá aulas......
Muita politicagem e pouca ação...
O Galvão dá aula!? Isso é fato novo para mim...
"Atualmente, o professor Massola concentra sua dedicação à COESF - Coordenadoria do Espaço Físico da Universidade de São Paulo. O cerne de seu trabalho encontra-se nas atividades a serem materializadas para que toda uma comunidade acadêmica, possa desfrutar e executar suas atividades".
I - N - C - R - I - V - E - L
questoes:
a. existe alguma coisa parecida como conselho universitario ou algum orgao colegiado nas universidades dos EUA?
b. existe alguma representacao discente nesses eventuais orgaos colegiados? se sim, qual é a porcentagem da representacao e como ela é eleita?
c. idem para os funcionarios.
abs
sgold
Posso falar de Yale que conheço. Outras escolas são parecidas, outras não, como uma certa arapuca no oeste da Pennsylvania que minha irmã conhece.
Quem manda em Yale é a "Yale Corporation," um board do qual metade dos membros escolhem seus próprios sucessores, e a outra metade é escolhida por voto dos EX-ALUNOS. Alunos, funcionários, e professores não mandam nada. Nas escolas estaduais há membros escolhidos pelo governo ou legislatura.
Algumas universidades tem "faculty senate" ou coisa assim, sem poder nenhum. Mas quando o faculty senate de Harvard falou que não gostava do presidente, ele acabou tendo que sair, porque ficava difícil continuar administrando sem apoio. Quem tomou a decisão foi o board de Harvard - os professores não mandam nada.
A tal corporation, ou board of trustees, ou regents, escolhe o presidente, que escolhe os diretores (deans) das escolas, que escolhem os chefes de departamento. Os últimos não mandam nada. Assuntos do tipo banca de exame de qualificação, horário de provas, são resolvidos sem muita dor de cabeça ou perda de tempo.
A natureza humana sendo como é, nos departamentos ocorre quebra-pau, mas em geral restrito às decisões sobre quem vai receber tenure e quem vai ser mandando embora. Aí os professores têm voz, e até consultam alunos, student evaluations, coisas assim. Mas no final quem decide mesmo são as instâncias mais altas.
A resposta acima é resumida e aproximada. Uma resposta ainda mais resumida é não, não, e não.
obrigado, muito interessante. sem duvida, muito relevante para o atual imbroglio da usp.
abs
sgold
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