Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

04 maio 2009

Será que o futuro dos jornais é esse?

Dia 4 Maio 2009, às 3:26 da tarde, Heloisa Pait perguntou:

Você acha que o caminho é esse? Eu acho que não, talvez o futuro dos jornais seja um pouco como o da ópera, vivendo de subscriptions, donations, patrocínio e também compras. Ou talvez os Googles e Apples da vida acabem comprando ou financiando os jornais...

E eu respondi:

Os jornais têm vários problemas ao mesmo tempo, que não devem ser confundidos.

1 - A estratégia de "bundling" - todos os cadernos de notícias, artes, negócios, esportes, horóscopos, juntos apoiados pela marca do jornal - está parando de funcionar.

2 - Os anúncios estão perdendo o poder, tanto classificados como anúncio normal. Só as formas mais sofisticadas de anúncio (Hello I am a Mac) e as mais boçais (mulher pelada bebendo cerveja) ainda funcionam.

3 - Os administradores dos jornais tem feito decisões erradas consistentemente.

A tecnologia possibilita as mudanças 1 e 2, porque dá ao público alternativas que não existiam, de ler notícias em várias fontes e ler sobre produtos sem depender de anúncios. Mas focar na tecnologia como sendo a fonte dos problemas é a besteira que que os jornalistas fizeram (3).

Acho que muitos jornais vão virar fundações. Na verdade o WSJ já é isso num certo sentido: os homens de negócios compram o Journal para apoiar as posições políticas dos editoriais. A suposição de que o noticiário do WSJ é útil para tomada de decisões foi refutada pelo estouro das 2 bolhas.

Isso do ponto de vista administrativo. Quanto à distribuição, papel é caro e pouco eficiente. A web ajuda, um epaper dobrável tamanho tablóide ajudaria mais.

Conteúdo..... o jornal geral que oferece tudo para uma cidade não vai sobreviver. Talvez alguns das cidades maiores.

Melhor exemplo é o Boston Globe. O jornal é muito local e não me interessa. Por isso assino o NYTimes no fim de semana. Mas a cobertura local e de artes do NYTimes é...... a palavra certa é provinciana. Não me interessa saber como foram os concertos da semana em NY. A única coisa que eles fazem local de Boston é a previsão do tempo. Há anos que eu notei isso, e me perguntava porque o eles não faziam do Globe um caderno local do Times. Eu leria com prazer o roteiro cultural e as notícias de Massachusetts, mesmo que não tenha interesse em comprar um jornal inteiro a mais. Não vou gastar meu tempo com cobertura nacional e internacional duplicada, do mesmo jeito que não me interessa o noticiário dos bairros de NY.

Eles estavam errados, e eu estava certo. Há 7 anos talvez tivesse dado para mudar, ocupar espaços, e ganhar tempo. Agora já é tarde. Os classificados foram para o Craig's list, o noticiário local para os jornais de bairro gratuitos, as artes para o Boston.com que é do próprio Globe mas não dá lucro. Se não fico sabendo o que acontece no estado, azar do governador.

Como os problemas são vários, as respostas vão ser várias. Tecnologia é uma parte, reestruturação é outra, e fechar os pedaços que se deixaram ultrapassar é outra componente. "O futuro" dos jornais não é um conceito bem formulado.

6 comentários:

fbirman disse...

Na França, o que aconteceu foi mais ou menos o que a Heloísa disse. Dassault ficou com o Figaro, Lagardère com o Monde e os Rothschild com o Libération.

A mão visível e pesada do governo fez um arranjo para salvá-los mantendo a independência editorial. Adote um jornal você também!

Mesmo assim, a operação continua difícil. Então, SuperSarkô foi chamado mais uma vez. O Estado vai bancar assinaturas para a juventude.

Não existe cultura de classificados nos jornais pagos, não tem a massa de anúncios dos EUA, etc. Não sei o que o Sarkô vai fazer para salvar a imprensa francesa. Pelo menos o direitista Figaro ele salva, isso eu tenho certeza!

Anônimo disse...

l'avenir dure longtemps, como diria um sujeito dado a acessos de furia. me importa saber qual é o presente do jornal.
acho que vao continuar existindo, porque publicar ideias e posicoes é proprio da atividade politica.
eu mesmo já tive meu jornalzinho no ginasio, que nao tinha propaganda e nao dava lucro, mas era divertido.
meu vô, com 95, tem um até hoje: a folha israelita brasileira, do bom retiro, onde é mais lido do que o boston globe.
teve uma edicao com propaganda de lavanderia em coreano. pelo menos soubemos que os ternos tinham sido lavados.
abs
sgold

Anônimo disse...

mais um comentario:
no brasil, enquanto as empresas forem obrigadas a publicar o balanco anual em jornal de grande circulacao, o valor e o estadao estarao garantidos.
supersarkô deveria aprender conosco!
par curiosité: a SEC tambe obriga as empresas americanas listadas na bolsa a publicarem seus balancos?
abs
sgold

Anônimo disse...

e digo mais:
durango kid concorda comigo.
http://letras.kboing.com.br/milton-nascimento/durango-kid/
(a cancao mesmo tá no meio nao consegui encontrar versao cantada, mas é que tem de melhor).
abs
sgold

Felipe Pait disse...

"a SEC tambe obriga as empresas americanas listadas na bolsa a publicarem seus balancos?"

Empresas públicas tem que publicar balanços. Publicar, mas não precisam mandar imprimir nos jornais. Acho que os balanços vão para os acionistas e para a internet.

Anônimo disse...

se ainda interessa, o gay talese virá a paraty no flip deste ano para discutir o assunto.
se vier ao flip, minha sugestao e' ficar na pousada chambalá, em cunha (as de paraty ficam lotadas), aproveitar para comprar ceramicas da mieko e escalar a pedra da macela.
ah! tem comprar o ingresso para a flip com antecedencia, pela internet.
abs
sgold