Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

30 janeiro 2014

Faculdades de curta duração nos EUA

A reportagem da Fapesp com título "Faculdades de curta duração têm papel de destaque nos EUA" contém um certo número de imprecisões que podem confundir o leitor e dar uma impressão enganosa sobre o ensino superior nos EUA. O assunto é importante e vale a pena fazer as correções necessárias, motivo pelo qual enviei a correspondência abaixo ao ilustre pesquisador através de seu blog. À parte esses 3 pontos mais importantes, há também na reportagem da Fapesp outras afirmações polêmicas ou cuja justificativa é duvidosa, mas me parece que os parágrafos abaixo indicam os pontos onde a interpretação do texto pode conduzir aos maiores erros.

Prezado Prof Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes,

Li reportagem da Fapesp a respeito de sua pesquisa e notei alguns pontos que podem conduzir a interpretações imprecisas.

Um deles é a menção ao custo de Harvard como exemplo de elitização. Pelo contrário, são justamente as universidades mais endinheiradas como Harvard que admitem estudantes sem considerar a capacidade financeira - Yale, Harvard, e outras escolas ricas oferecem bolsas a todos os alunos admitidos que não tenham possibilidade de arcar com os custos do estudo.

Outro ponto é a classificação entre escolas privadas, escolas públicas, e escolas com fins lucrativos. Embora essa categorizarão seja comum no sistema de ensino brasileiro, agrupar universidades estaduais e community colleges dá uma impressão incorreta do sistema norte-americano. As grandes universidades estaduais são muito mais semelhantes às universidades privadas do que aos community colleges.

E existem também os liberal arts colleges, que se dedicam mais ao ensino que à pesquisa, mais uma vez destoando da classificação apresentada. Estas instituições oferecem cursos de 4 anos e uma educação muito semelhantes às universidades de pesquisa, e incluem diversas escolas que só podem ser consideradas de elite, por exemplo Swarthmore College ou Amherst College. Tenho a impressão que na estatística citada no artigo, segundo a qual os community colleges, com cursos de 2 anos, recebem mais da metade dos calouros, os 4 year colleges não associados a universidades foram incluídos com os community colleges de 2 anos, o que é um erro.

Recomendo a atenção a esses pontos que podem confundir o leitor, prejudicando o entendimento do estudo e diminuindo seu impacto. Sinceramente, F Pait pait@usp.br

17 janeiro 2014

Manchetes enganosas nos jornais acusam prefeitos

O Estadão e a Folha trazem reportagens com acusações contra o prefeito anterior e políticos ligados ao prefeito atual. Não tenho como avaliar quanto das acusações são verdadeiras, mas as reportagens são um desserviço ao leitor. Ao contrário do que dizem as  reportagens, a testemunha (que parece anônima) não afirmou que o prefeito Kassab recebeu dinheiro de corruptos; ela afirmou que OUVIU DIZER que o prefeito recebeu uma fortuna.

A diferença é enorme. Os países que têm lei não aceitam "hearsay" como evidência de crime. Não tenho noção de como a lei brasileira, até onde pode-se dizer que existe, trata fofocas, mas certamente o jornalismo deveria tratar com extremo cuidado. O Estadão ao menos toma o cuidado no corpo da notícia de escrever "uma testemunha protegida disse ter ouvido que..." A Folha nem essa atenção primária toma. A reportagem da Folha, distorcendo o furo dado pelo Estadão, é um atentado violento contra a integridade jornalística.

Os fatos são os seguintes: que há corrupção na prefeitura, todos sabemos; e quando não é combatida continuamente ela cresce. Que o prefeito Haddad está investigando, é bem claro. Que o ex-prefeito Kassab se descuidou de coibir os corruptos, me parece um conclusão inevitável. Não podemos afirmar que nenhum deles tem envolvimento, mas também é impossível provar que não sabiam nada. O resto é picaretagem de politiqueiro, especulação de fofoqueiro, e afobação de jornalista descuidado.

O prejuízo para o país é grande, porque com a estratégia de espalhar acusações para todos os lados o eleitor perde a capacidade de distinguir entre o certo e o errado. Nesse sentido, são coniventes o corrupto, o jornalista, e o eleitor que se apressa a dizer que é tudo igual. 

14 janeiro 2014

WHAT SCIENTIFIC IDEA IS READY FOR RETIREMENT?

Edge.org, a highfallutin sort of scientific blog - don't check it right now because it's unavailable - that people say you should be reading but you're not, probably for a good reasons, asks the all caps question above.

For sure it is the idea that there exist hard and soft sciences, or nonsciences. One wouldn't call it a scientific idea except that it is held by scientists and non-scientists alike, and forms the core of the classification of areas of study for the purpose of university administration. The separations is founded on the fact that science progressed by the analysis of some particularly simple phenomena - simple in the sense that they can be simplified by approximation to involve a small number of factors and therefore can be described directly by consideration of fundamental physical laws. Originally we can mention planetary and stellar motion, and electric currents and magnetic attraction.

Now if you really believe in "exact sciences" go compute the fuel consumption of an automobile using Newton's laws and see how exact your answer will turn out. Or if you believe in non-falsifiable sciences, check out the 5 year old experiment performed in the rich economies - provoking a recession by purely financial methods, following textbook recipes, just to show how right Keynes was.

The fictional division between hard and soft sciences is convenient for academics on both sides, who derive satisfaction from putting down their counterparts because, respectively, they cannot make precise statements, or can arrive at truth from mere experiments. It also serves to track young minds into academic tribes from whose confines few are able to escape. The distinction has no ground on reality and should be retired.

13 janeiro 2014

Programa de campanha para o congresso

Para quem quiser usar, está aqui um programa pronto para concorrer ao Congresso por S Paulo nas próximas eleições. São apenas 4 propostas, com um viés libertário:

1 - Justificativa de ausência em eleição via internet.
2 - Livre uso do Fundo de Garantia pelo trabalhador.
3 - Hora do Brasil e publicidade gratuita de partidos politicos facultativas no rádio e na TV.
4 - Representação balanceada dos estados na Câmara de Deputados: o voto de cada eleitor tem o mesmo peso.

Argumentação: o voto pode continuar obrigatório como diz a Constituição, mas vamos descomplicar a vida do cidadão que se vê impedido de votar. Os cidadão tem o direito de escolher o melhor forma de gerir os fundos que lhe pertencem, e pode escolher poupar num banco oficial, em outra instituição, ou num investimento que julgue mais rentável para si e para a sociedade. Os demais meios de comunicação não são obrigados a passar propaganda dos políticos de graça, então que seja opcional para todos - os ouvintes decidem se vale a pena assistir. São propostas excelentes, inatacáveis, e de grande apelo popular. Pare de reclamar e defenda sua liberdade!

Apenas o último item exige mudar a Constituição. O constituinte errou ao estabelecer que o eleitor paulista vale 10 vezes menos do que o eleitor de estados menores, em contradição à própria Constituição que estabelece que a Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo. Os deputados paulistas têm a obrigação de lutarem continuamente para corrigir essa injustiça, mas não o fazem. Quem fizer, está eleito.

Quem quiser mudar de emprego, é só fazer essas propostas, receber os votos, e ir para Brasília. Só não vai receber o voto de quem gosta de coisa ruim para poder reclamar. Não tenho nenhuma vocação para a política, e não vou usar meu próprio programa. Estou escrevendo aqui como serviço público, quem adotar ganha fácil.

Proposta extra:
5 - Reforma do ensino: voltam o primário, ginásio, e colégio, com 4 anos cada.

10 janeiro 2014

El País do B

A edição brasileira do jornal espanhol tem qualidade, mas não sei qual é o público que vai ler. Qual exatamente o produto oferecido? Há 4 possibilidades:

Notícias internacionais para brasileiros. Em parte, é o que o El País do B oferece: em vez de ler os jornais em línguas estrangeira ou de depender de traduções da imprensa local, o brasileiro lê o El País em português. Talvez exista um mercado para esse jornal de qualidade, competindo com a imprensa tradicional por uma fatia de seus prejuízos, mas apesar de ser um serviço barato de tradução, e do valor da marca El País, não vejo como pode ser muito lucrativo.

Notícias brasileiras para brasileiros. Nesse setor, o El País concorre com a imprensa estabelecida com menos vantagens do que no anterior. Talvez não ter que carregar o peso das suspeitas de alinhamento político ajude; será?

Notícias brasileiras para o exterior. Esse me parece um grande filão. Não há fonte regular e confiável de notícias sobre o Brasil disponível para quem não conhece o país e o português. As agências fornecem as notícias, os dados crus, mas isso é insuficiente para entender o que acontece. Business opportunity, para quem estiver procurando.

Notícias internacionais para o exterior. Essa alternativa está aqui por completude, e como piada. Pense em alguém considerando o conceito e sorria.



07 janeiro 2014

Ciência na China e no Brasil

As universidades da China podem ser as melhores do mundo?, pergunta a Folha. Respondo eu:

Professor que escreve para cumprir a meta de publicação de papers é como aluno que estuda para passar na prova: pode ter sucesso, mas raramente vai contribuir para o avanço da ciência. Enquanto existir critério quantitativo, vai haver professor que publica qualquer coisa só por publicar; mas sem critério, vai haver quem não faz nada. Da mesma forma que há aluno que só estuda para a prova, mas sem prova vai haver aluno que nem isso estuda. Na China a pressão para publicar é mais forte, mais centralizada, como é de esperar num regime de tendências comunísticas. No Brasil existe a pressão vinda das burocras, mas é mais avacalhada, como se espera no país do jeitinho. Então a probabilidade é a China subir nos rankings, mesmo com a maioria da produção científica sem muito valor. Mas pela quantidade a massa de pesquisadores juntos devem acabar produzindo algo de qualidade. No Brasil em comparação os grandes avanços vão depender do talento individual, do craque. Vamos esperar que aconteçam os Romários da ciência!