Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

09 abril 2013

1982

Em 1982 a ditadura no Brasil estava no fim. Não havia mais censura, os partidos políticos e movimentos estudantis eram livres, os exilados estavam de volta, as leis de exceção tinham sido revogadas. Dava para ouvir claramente as opiniões de cada um. Na Argentina, uma ditadura muito mais sanguinária do que a brasileira em seus piores momentos continuava no poder. Era o exemplo a não ser seguido.

Até que os caudilhos hermanos invadiram as ilhas Falkland, que ninguém fora uns geeks leitores de atlas sabia onde ficavam. De repente as esquerdas no Brasil (e no resto da América Latina, até onde lembro) se enamoraram da ditadura e descobriram as tais ilhas Malvinas. Nenhum crime era imperdoável se o criminoso estava contra a Inglaterra, contra o capitalismo. A esquerda sabia de que lado estava: com o Kampuchea Democrático, com a Albânia, com Cuba, com a República Democrática da Korea. Contra os Estados Unidos, contra a Inglaterra, e a favor da Ditadura Argentina.

A tática funcionou. Com a invasão, o povo argentino, direita e esquerda, passaram a apoiar o governo. Que até onde sei ainda estaria lá, se não fosse Margaret Thatcher. Entre um peronista e outro, o fascismo continua presente na Argentina. Se dependesse do politizado povo argentino, ou da tibieza de Ronald Reagan, ou do bom senso dos generais, a ditadura não teria caído nunca. Os generais brasileiros tiveram noção de sua incompetência observando a permanente crise em que a má gestão meteu o país. Para os argentinos, foi necessária uma derrota militar.

Margaret Thatcher projetou a direita e a esquerda latino americana em verdadeira grandeza: o mesmo bando de facínoras e de incompetentes. Ganhou o ódio dos articulistas da Folha e minha gratidão.


4 comentários:

fbirman disse...

Acho que a Argentina nunca mais se achou. Virou republiqueta!

A propósito, em 1982, estávamos no segundo ano. Me lembro de acompanhar a tal campanha nos intervalos. A essa altura, já não fazíamos nenhuma matéria juntos.

Felipe Pait disse...

Os grandes aprendem com as derrotas. Mas nem todos.

O 2o ano da Poli eu avacalhei. Não vou dizer que não me arrependo, mas também com isso aprendi.

sgold disse...

acho que é uma dessas historias mal contadas. suspeito que a argentina nao teria feito isso aí sem o previo consentimento dos eua. penso o mesmo sobre a invasao do kuwait pelo sadam. uma hipotese é que surtaram. outra é que houve alguma confusao diplomatica que os induziu a erros tao grosseiros. no caso das malvinas, se tivessem esperado um pouco, as ilhas provavelmente teriam entrado no mesmo esquema de hong kong e macau.

ou talvez hong kong e macau é que estao mal explicados.

abs
sgold

Felipe Pait disse...

A ditadura Argentina ameaçou iniciar diversas guerras. Uma delas, aconteceu. O quadro geral é claro, os detalhes deixo para os diplomatas. Saddam é caso semelhante.

Hong Kong, eu entenderia como um caso britânico: assinaram um tratado, e cumprem. Para o bem ou para o mao. Tipo entrar na 1a guerra para defender a Bélgica.

Para os ingleses, não foi vantagem perder Hong Kong. Mas para a China foi bom. A China hoje é mais hongkongista do que maoísta. Então para o mundo foi bom. Porque a China ficou menos chinesa e mais inglesa. E como disse Thatcher ela mesma,

''We are quite the best country in Europe. In my lifetime all the problems have come from mainland Europe, and all the solutions have come from the English-speaking nations across the world.''