Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

07 maio 2012

Jogo dos erros: "Bearish on Brazil"

A Foreign Affairs publicou um artigo "Bearish on Brazil" (paywall). Um artigo robótico escrito automaticamente, cheio de chavões e erros. Vamos contar alguns? Minha contribuição segue, reproduzindo o que escrevi para um amigo.

No meu entendimento a análise é completamente errada. O autor acredita que o real está valorizado ou por causa dos juros altos, ou por causa do preço das commodities. Nenhuma dessas explicações se sustenta. São fatores relevantes, mas não explicam o câmbio atual. Nos últimos anos a taxa de juros baixou, e as commodities flutuaram, mas o real subiu.

O principal motivo da valorização do real é a falta de bons investimentos nos países ricos, e a percepção dos investidores que o Brasil é comparativamente um bom país para investir. O motivo para acreditar que investimentos no Brasil vão ter retorno é que o mercado consumidor está crescendo e que a produção pode crescer se os gargalos da infra-estrutura forem resolvidos.

Por outro lado, caso uma queda nos preços das commodities leve à desvalorização do real, a manufatura brasileira ficará mais competitiva. De qualquer forma, o preço das commodities só vai despencar se a economia chinesa sofrer uma pane. E se a economia chinesa sofrer uma pane, o argumento de que o Brasil erra em não copiar a China fica prejudicado, não é?

O fenômeno da desindustrialização que artigo menciona é uma invenção, ao que tudo indica. A manufatura não está crescendo à mesma taxa que os setores que mais crescem, o que não significa que esteja desaparecendo. O argumento do artigo é contraditório: a indústria não cresce porque a indústria cresce tanto que faltam engenheiros. Outro disparate do tipo "it's so crowded that no one goes there anymore" é a frase "As a result, although unemployment is now at a decade-low six percent, businesses complain that they have no choice but to hire unqualified applicants." É justamente isso: a economia está crescendo tanto que os gargalos ficam evidentes.

No meio dessa análise disparatada há alguns pontos válidos e conhecidos: o Brasil precisa investir mais em educação, a burocracia brasileira atrapalha, os impostos são complexos demais, o protecionismo dificulta a inovação, etc. São pontos que não têm relação com o argumento principal, um besteirol que amontoa slogans da direita e da esquerda sem qualquer referência à realidade ou à ciência econômica.

Vale a pena ler o artigo com cuidado para procurar mais erros e verificar como existe gente escrevendo bobagem por aí.

9 comentários:

fbirman disse...

Tá explicado, o artigo é de indiano, nossos verdadeiros concorrentes ;-)

Anônimo disse...

mas os preços das commodities tambem estão altos porque há falta de bons investimentos nos países ricos, entao sua critica é um pouco circular, nao?
abs
sergio

Anônimo disse...

alem disso, nao tenho certeza de que a desvalorização do real fará com que a manufatura brasileira fique mais competitiva. insumos ficarão mais caros. é provavel que sim, mas se nao acontecer, vai ser "divertido".

abs
sergio

Felipe Pait disse...

Acho que não, baixa demanda nos países ricos empurra o preço das mercadorias para baixo. A demanda da China puxa para cima.

Se a componente mão de obra diminuir, só pode baixar o preço relativo ao manufaturado no exterior, né?

De qq modo um artigo ridículo que só merece comentário porque meia blogosfera tuitou.

Anônimo disse...

ops, peralá.

a. é um pouco arroz de festa atribuir o aumento do preço das commodities à falta de opcoes de investimentos nos paises ricos, isto é, à crise nos paises desenvolvidos. pra dizer o minimo, ouro. petroleo tb. nao é só china, e tem gente que acha que *nao* é china. a correlacao entre preço das commodities e importacoes da china não é alta.

b. se o componente mao de obra diminuir, baixa o preco relativo dos bens cuja producao é intensiva em mao de obra, o que nao é o caso dos manufaturados bacanas, só dos porcarias (vestuario).

o artigo não é tao ridiculo. como sempre nessas revistas, é um resumo razoavel de alguma coisa mais ou menos pertinente.

abs
sergio.

Felipe Pait disse...

a. Não fui eu que disse; pelo contrário, meu comentário é que se dependesse dos países ricos o preço do petróleo &c cairia.

b. Os insumos importados custam o mesmo em toda parte; a diferença é só mesmo o custo de manufatura, o custo local; se o real perde valor, essa componente diminui de preço, e os manufaturados ficam mais competitivos. Se é bom, depende para quem.

Como disse o grande Tartakower, "alguma parte de um erro sempre está certa." Isso se aprende jogando xadrez. Jogando Go se aprende a "não ir para a pesca quando a casa está pegando fogo." Ensinamentos úteis.

Anônimo disse...

"a economia está crescendo tanto que os gargalos ficam evidentes."

Crescendo tanto??? 7%;3%;2%. Crescimento pra mim tem que ser sustentável, crescer 7% em apenas um ano não é nada para um pais da dimensão e potencial do Brasil...

Poupança = Investimento, Básico assim. Crescimento sustentado por consumo é curto prazo, imediatismo que vivemos desde os tempos de Lula, é política. Basta crescer o mínimo para sentir os gargalos.

Falta sim poupança interna, produtividade(Leia-se: formação intelectual do trabalho) e outras
coisas mais!

Anônimo disse...

falhas por falhas, suas análises as têm 10x mais do que o do indiano.

Felipe Pait disse...

Caro anônimo, pode ser. Mas eu acho que não. As afirmações estão aí para quem quiser conferir.