Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

21 julho 2010

Ignorativas

No início do ano escrevi a carta abaixo, tendo recebido resposta ignorativa. Trata-se de um instrutivo exemplo de escrita acadêmica.

From: Felipe M Pait
Date: 4 February 2010 11:53:10 AM EST
To: anafanic@usp.br
Subject: Seu artigo "Dinâmicas urbanas na metrópole de S Paulo"

Prezada Profa. Ana Fani Alessandri Carlos,

Como parte de meus trabalhos de investigação a respeito de concepções dinâmicas do conceito de espaço-tempo em diversas áreas do conhecimento, me deparei com seu artigo intitulado "Dinâmicas urbanas na metrópole de S Paulo," que obtive através do sítio abaixo, e gostaria de fazer algumas perguntas.

No seu conceito, em que consiste a abstração total do "espaço-tempo," e de que forma as avenidas e túneis reforçam a tendência de redução a essa abstração? O germe desse produtivismo que leva à abstração já estaria presente nos mecanismos de circulação viária pré-capitalista, tais como as vias romanas, as estradas dos reis aquemênidas que conectavam as satrapias da Pérsia, e talvez mesmo as trilhas e picadas do Brasil pré-cabralino?

Essas questões se referem ao primeiro dos 2 parágrafos que cito abaixo. Acredito que poderia encontrar uma resposta a elas no parágrafo subsequente, porém infelizmente não o compreendi. Se for possível fornecer uma resposta, ainda que parcial, a algumas de minhas indagações, e uma explicação do segundo parágrafo que cito abaixo, eu seria muito grato.

"As políticas urbanas privilegiando a abertura de avenidas e a construção de túneis visando à ampliação da circulação viária se assentam na integração submissa à lógica capitalista que impõe o produtivismo, o qual reforça a tendência a reduzir “espaço-tempo” à sua abstração total; neste caso o tempo se reduz a uma expressão quantitativa, enquanto o espaço se torna simples elemento da circulação do capital reduzido ao tempo de percurso, isto é de desvalorização do capital. Nessa perspectiva, anula-se o espaço transformando em tempo, mas mais do que isso, na prática esse processo revela a usurpação do uso da cidade para a realização da vida humana. A imposição dessa nova relação espaço-temporal (construída enquanto abstração) não se fará sem problemas, ou melhor, sem aprofundar as contradições.

A cidade articulada à rede mundial caminha para a homogeneização que pode ser lida na morfologia, na arquitetura onde os lugares cada vez mais articulados ao mundo da produção econômica entrando em choque com suas particularidades históricas (fundadas na acumulação dos tempos na estrutura urbana); por outro lado, revela também a extensão do mundo da mercadoria –e nesta condição todos os espaços se tornam passíveis de serem transformados em valor de troca (essa intercambialidade guarda o fundamento da homogeneização). Mas também e contraditoriamente, como conseqüência da relação do estado e do impacto de suas alianças com o capital a homogeneização, entra em confronto com a produção de uma hierarquia entre os lugares na rede mundial –uma valorização diferenciada dos lugares em função de sua capacidade de criar condições e os meios necessários à reprodução continuada em nova fase."

http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/edicion/lemos/04alessand.pdf

Uma outra indagação é mais distante do conteúdo do referido trabalho, e se refere ao minha própria pesquisa a respeito de quais são as geometrias no espaço-tempo mais adaptadas aos problemas de engenharia de controle, comunicação, e otimização. Os buracos de minhoca (wormholes em inglês) conjecturados pelo físico teórico estadunidense John Wheeler, também conhecidos como pontes de Einstein-Rosen, se constituem em soluções compactas e topologicamente triviais, porém não simplesmente conexas, das soluções de Schwarzschild para as equações do campo da relatividade. Será que essas estruturas poderiam ser vistas como uma sublimação das tendências centralizadoras e mundializantes colocadas no seu artigo, contrastando com a interpretação de que a universalização do tempo tende a abolir o espaço?

Saudações acadêmicas,

Felipe Pait
pait@usp.br
Escola Politécnica da USP

4 comentários:

Anônimo disse...

a resposta ignorativa tambem é um tipo muito comum de escrita academica. em geral, é utilizada quando um pesquisador é flagrado privadamente, e é muito eficaz.

basicamente, o significado dela é: "ora, vá catar coquinhos. nao vou perder meu tempo com voce. meu emprego, aposentadoria e plano de saude nao dependem de voce".

muito raramente, esse pessoal é flagrado publicamente.nao perdem o emprego, mas nao podem mais usar a resposta ignorativa.

abs
sgold

Felipe Pait disse...

Como você sabe muito bem, a maioria dos papers vai para Write Only Memory. Já que ninguém lê, responder à crítica é chamar a atenção para o erro. Melhor ignorar mesmo.

Anônimo disse...

Há muito que não ria tanto, Fritz!

Zappi

Felipe Pait disse...

Ajudei alguém a rir! Ganhei meu dia!