Pergunta para o primeiro debate, sobre ensino.
A maior deficiência do ensino na USP é a insularidade dos cursos: os currículos excessivamente rígidos e especializados. Esse problema é o maior responsável pela evasão dos estudantes cujas expectativas e interesses não se encaixam perfeitamente nas grades curriculares. Qual é sua proposta para trazer flexibilidade aos cursos de graduação e torná-los mais multidisciplinares, apesar da oposição das burocracias acadêmicas e do conservadorismo da maior parte do corpo docente?
Agradeço,
Felipe Pait
On 18 Sep 2009, at 1:14 PM, Adusp S. Sind. wrote:
Colegas,
Nos dias 24/09 e 13/10, haverá debates com os candidatos a reitor da USP, organizados pela Adusp. Os temas a serem tratados foram divididos em dois blocos:
24/09: Concepção de Universidade
Ensino, Pesquisa e Extensão
Permanência Estudantil
Carreira na USP
Terceirização de Serviços
Fundações
Avaliação
Educação a Distância
13/10: Instalação de uma Estatuinte na USP
Estrutura de Poder na Universidade
Financiamento da Universidade
Política Salarial
Relacionamento com as Entidades de estudantes, funcionários técnicos-administrativos e professores.
Aqueles que quiserem formular perguntas aos candidatos, por favor nos enviem as questões sobre os temas do primeiro debate até a próxima terça-feira, 22/09, para que possamos organizar o evento.
As perguntas sobre os temas do segundo debate podem ser enviadas até o dia 08/10. As mensagens devem ser endereçadas para secretaria@adusp.org.br
Atenciosamente,
diretoria da Adusp
8 comentários:
suspeito, apenas suspeito, que o responsavel pela rigidez das grades curriculares e pela insularidade dos cursos é o que vem depois da faculdade, ou seja, nao os burocras academicos, mas o esprit de corp dos conselhos regionais das profissoes regulamentadas.
que o diga o engenheiro mario henrique simonsen, só pra ficar em um exemplo.
abs
sgold
Professor Pait, gostaria de perguntar uma coisa que pode parecer bem ingênua do ponto de vista de um professor, mas como ex-aluno me intriga um pouco:
Posso entender a insularidade à que o senhor se refere como sendo a elevada proporção de disciplinas obrigatórias no currículo do curso?
Pergunto isso porque me lembro de uma vasta gama de optativas no meus tempos no PTC, inclusive extra-Poli. Tinha a impressão, na época, do curso não ser tão rígido assim.
Das demais unidades da USP, só posso dizer da FEA, pois também enveredei pelo curso de economia. O número de optativas é bem amplo. O que percebo, professor, na FEA e na Poli do meu tempo (uns 6 anos atrás) é uma desinformação generalizada sobre as múltiplas opções de matérias que a universidade oferece. Não me lembro de muitos colegas engenheiros interessados por filosofia ou biologia, da mesma forma que não percebo muitos economistas procurando optativas em música ou história da matemática.
De fato, como se envolvem as burocracias acadêmicas, não sei. Por favor, gostaria de sua opinião a respeito.
Prezado Germano:
nao é a velha e boa, mas insuficiente, 3045? fiz o caminho inverso, da eca para a fea. mas acho que o blogueiro se refere a alguma solucao mais drastica, algo como o sistema de major e minor dos eua. ai' vem o problema: sera' que os conselhos regionais vao aceitar profissionais major? minor?
abs
sgold
Caro Sgold,
Confesso que não conheço a 3045. Procurei na internet por "lei", "portaria", "regulamentação" relacionadas à 3045 e fiquei um pouco confuso.
Você pode me explicar, por favor, ou me indicar material para eu verificar?
Abraços
germano:
bem, procure "resolução 3045". por exemplo, aqui:
http://www.geocities.com/takeshta/fea2000/3045.htm
especificamente, artigo 2o.
sei lá se mudou de lá pra cá.
abs
sgold
Pois é, a 3045 permite que alunos façam cursos fora da especialização, mas é pouco usada. Os departamentos e institutos criam entraves burocráticos, e os alunos nem se animam a enfrentar.
O curso de controle, o de economia, e outros até que tem certa abertura, mas isso não é generalizado, e encontra todo o tipo de resistência: de alunos, dos professores conservadores, e das corporações profissionais.
Obrigado, Sgold, dei uma olhada no link que você indicou.
Sobre a resistência a mudanças:
é verdade, lembrando bem, eu já tive matrícula em matérias optativas recusadas por falta de vagas para alunos de outras unidades. Também, só 5 não deve suprir a demanda na maioria das disciplinas.
Sim, deve haver mesmo resistências em vários níveis. Para mim, entretanto, a visão do que "é bom para o mercado" parece determinante. Diferentemente do engessamento proporcionado pelas corporações profissionais, a visão (equivocada?) da maioria dos alunos de que a formação deve ser algo totalmente voltada ao mercado naturalmente diminui o interesse por alternativas. Na economia isso é evidente: é muito mais "útil" e "preferível" cursar uma disciplina de renda fixa ou análise de empresas a refletir sobre história do pensamento econômico. Mesmo na engenharia, me lembro de fazer mil cursos extras desesperadamente no último ano, com medo de "não ter coisa suficiente no currículo".
Não sei...uma flexibilização dos cursos é muito desejável, compondo o lado da oferta de diversidade aos alunos, mas receio haver um componente ideológico-obsessivo que suprimiria boa parte da demanda.
Professor, qual o sentimento do senhor em relação a isso? O senhor sente estarem os alunos utilizando cada vez mais intensamente a universidade como simples corredor para o mercado de trabalho ou percebe coisa diferente?
Minha impressão é que para a maioria dos alunos em primeiro lugar vem o diploma. A sociedade exige o diploma mas não valoriza o conhecimento, e o aluno faz o mesmo. Isso não mudou nos últimos 25 anos.
Numa disputa entre "conhecimentos específicos" e "formação geral" o aluno escolheria o primeiro. Também não é novidade, não é um caso de "cada vez mais." O fato é que o que passa por "formação" no ensino brasileiro é uma série longa de conteúdos específicos com pouca relação entre si e com o mundo real. Não me surprende que o pessoal quer terminar logo e ir trabalhar.
Há uma contradição entre o "Brasil real" que é prático e pragmático até em excesso e o "Brasil oficial" (conceitos do Ariano Suassuna, seguindo Machado) que faz os currículos caricatos, artificiais, comodistas, e subornáveis.
O Brasil dá certo quando compatibiliza os 2 conceitos: quando os sambistas entram em compasso; quando o time passa a bola para o craque imprevisível. Senão fica esse ridículo anseio de ser quem não é, uma contrafação da verdadeira universalidade.
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