Caros colegas,
Ouvi com estupefação que a congregação da Escola Politécnica voltou a discutir a proposta de baixar o nível de exigência no vestibular para cursos de menor procura, com o objetivo de trazer mais alunos justamente para essas áreas. São as especializações que despertam menos interesse entre os vestibulandos, e que oferecem possibilidades de emprego mais limitadas por não terem acompanhado a evolução tecnológica e econômica do Brasil ao longo das décadas.
Esse problema do descompasso entre as exigências da engenharia e a oferta de especializações na Escola Politécnica já data de pelo menos um quarto de século, que foi quando eu ingressei na Poli como calouro. Ele é causado pelo fato de que as estruturas curriculares são decididas pela congregação e conselhos levando em conta as conveniências do corpo docente em primeiro lugar. Com isso os currículos ficam defasados em relação ao interesse dos estudantes, às demandas das empresas, e à evolução tecnológica da engenharia. O mais incrível é que nesse intervalo já houve uma mudança de quase toda uma geração de professores, no entanto as antigas estruturas curriculares se mantém.
E não adianta tentarmos argumentar que os cursos e conteúdos se modernizaram, que houve reformas curriculares, diversas ECs, que as opções foram para o vestibular e voltaram, que foram criadas grandes áreas, ou outras mumunhas. Nem mandar baixar o espírito do Ramos de Azevedo. Não é a nós mesmo que os argumentos têm que convencer, menos de todos a esse missivista. Temos que convencer aos alunos e à sociedade brasileira que nossos cursos valem a pena. E claramente os cursos que não formam nem metade do número de vagas para ingressantes não convencem.
Mais preocupante é que aparentemente continuamos agindo como se a nossa concorrência fosse a faculdade de engenharia de São Carlos, a ciência da computação da matemática, ou uns aos outros dentro da Politécnica. Nossos concorrentes são a China e a Índia. E estamos perdendo a concorrência, 8% de crescimento do PIB contra 2% pelos últimos dados aproximados que lembro. Os alunos são os melhores que há, mesmo que de vez em quando surjam essas propostas absurdas. Se fosse um campeonatos de futebol, estaria na hora de trocar de técnico. E os técnicos somos nós os engenheiros. Para continuar perdendo de 8 a 2, pode deixar tudo como está. Para crescer 2% ao ano, pode congelar o número de vagas em cada área, e deixar para quem saber consertar alguma coisa daqui a mais uns 25 anos. Não vai fazer diferença mesmo, vão todos trabalhar em banco.
Agora, se quisermos fazer uma contribuição para a engenharia e economia nacional... Está na hora de andar para frente, e não para trás.
Ainda estupefato,
πt
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário