Hoje viajei para assitir uma mesa redonda sobre política industrial no Congresso da Indústria organizado pela FIESP. O encontro ocorreu lá a meio caminho do fim do mundo, perto daquelas ruas com nomes conhecidos por todo engenheiro elétrico que se dê ao respeito, naquele trecho da marginal Pinheiros conhecido pelos engarrafamentos 24h com largura quase igual à extensão. Munido de um passe único fui e voltei de trem espanhol, que proporciona ao passageiro o prazer de ouvir Chopin enquanto assiste os bacanas de carros importados ficando para trás, parados no trânsito.
Os debates foram de nível bem mais elevado do que o que nos acostumamos a ouvir de ministros, políticos, ou industriais. Duas décadas de democracia já estão fazendo um efeito salutar sobre as figuras públicas de maneira geral. O ministro da Defesa, por exemplo, é claramente um competentíssimo advogado que está fazendo um esforço honesto para se inteirar da ciência militar. Desenvolvimentistas diversos fazem questão de demonstrar que não são escravos de economistas desenterrados, nem se despediram do bom senso ao assumirem cargos executivos, ao contrário do hábito até há poucos anos. Os empresários de maneira geral continuam clamando por benesses específicas para seus setores - um pede a proibição de importação pela concorrência, o outro a proibição da exportação por seus fornecedores; um terceiro quer crédito oficial subsidiado, o quarto uma diminuição dos impostos dirigida a um setor dito estratégico; um setor quer que as forças armadas tenham isenção das leis de licitação para adquirirem fardas 100% nacionais e proporcionalmente mais caras, enquanto outro quer um acordo que induza países do Mercosul a comprarem armamento de fabricação brasileira; e assim por diante. Mas o tom geral é de respeito à lei, à ordem, e à lógica da economia. Inspira uma patriótica confiança.
Encerrando o evento o presidente da FIESP mencionou um assunto que até então só tinha merecido um par de citações passageiras: a educação. Ele destacou as importantes e úteis ações das organizações da indústria e comércio, especialmente quanto ao ensino técnico. De fato, me parece que a qualidade da formação dos praças e oficiais tem muito mais relevância para a segurança nacional do que a procedência das fardas. Afirmações similares valem para outros setores da sociedade. Aí já era tarde demais para eu fazer a pergunta que tinha preparado, mas desistido de formular porque não parecia ser o fórum adequado. Reproduzo aqui, para quem quiser ler:
"Um assunto que mal foi mencionado essa tarde é a formação de recursos humanos. Grandes e médias empresas em particular têm um papel muito pouco positivo. Falando como professor universitário: as políticas de contratação e de recursos humanos são um desestímulo para o desenvolvimento dos jovens profissionais. As empresas não levam em consideração o aproveitamento nos estudos, nem os conhecimentos inovadores produzidos e absorvidos pelos estudantes nas universidades. Elas avaliam os candidatos por meio de testes psicotécnicos boçais ou pela contabilidade de horas de estágios de duvidosa relevância para o aperfeiçoamento profissional. Com isso passam aos estudantes a mensagem de que o investimento em educação e inovação não será reconhecido. O que está sendo feito para eliminar esse gargalo para o desenvolvimento tecnológico, tão peculiar à indústria brasileira?"
Minha participação ocorreu por autoconvite feito pelo site do evento. Foram oferecidos a todos os participantes almoço e jantar, os quais não pude aproveitar, mas tive a oportunidade de consumir uma bebida alcoólica, ficando agradecido pela generosa oferta da FIESP.
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