The Economist is searching for a title for a new column on Latin America. My letter to them:
I suggest Alcântara.
Emperor Pedro II of Brazil, who when not in official capacity used the name Pedro de Alcântara almost as if a commoner, embodies the contradictions and paradoxes of Latin America. An European-blooded King of Brazil, a republican monarch, an abolitionist in a country of slavery, a rare man of culture in his country, the sole Portuguese-speaking nation of a mostly Spanish-speaking continent (at least among the elite). A liberal to some extent, especially with regard to freedom of press, yet the head of state and to some extent of government in a conservative regime.
Other liberal figures in Brazil would be of local appeal: Juscelino Kubitschek, Joaquim Nabuco, or Maurício de Nassau (the fact that he was Dutch would highlight the paradoxes). Juscelino, Nabuco, Nassau, or Tiradentes might be good names for a column about Brazil. I won't suggest names from other countries, because I am sure you will receive better reasoned suggestions from others; but if you do end up choosing a Brazilian name, Alcântara it should be.
24 dezembro 2013
19 dezembro 2013
Problemas com a concepção do edifício novo da Poli elétrica
Preparei uma lista de problemas com a concepção do edifício novo da engenharia elétrica da Poli. Há uma nova versão, onde algum dos problemas talvez tenha sido minorado, mas continua parecendo que o esforço de engenharia e arquitetura investido na concepção é mínimo. É importante toda a comunidade politécnica se mobilizar para jogar fora essa proposta, reiniciar a discussão com tabula rasa, para impedir que seja tomadas decisões irrevogáveis com uma pressa injustificada. Alguns dos problema que identifiquei são os seguintes:
1 - Localização inconveniente, atrás do edifício atual, dificultando o acesso.
2 - Necessidade de desfigurar a atual biblioteca, um dos melhores espaços de que dispomos atualmente. Essa descaracterização da biblioteca permanece, embora talvez de forma menos desastrosa, na nova versão apresentada.
3 - Disposição das salas de professores em cubículos pouco atraentes, separados por divisórias.
4 - Um prédio de mais de 2 andares muda a relação de professores e alunos com o espaço que temos atualmente. Se essa mudança é desejável e aceitável, então será que 5 andares é um bom compromisso? Parece ter o preço de quebrar o paradigma atual, sem se beneficiar da verticalização.
5 - A concepção do prédio com circulação de ar totalmente fechada e climatizada tem a vantagem permitir maior densidade de ocupação e controle central do consumo de energia elétrica. As desvantagens são o maior custo de operação, a perda da oportunidade de aproveitar nosso clima ameno, o fechamento para o exterior, e emprego de tecnologias antiquadas, pouco inspiradoras, e sem diálogo com as tendências modernas de sustentabilidade, construção verde, e minimização do impacto ambiental. As desvantagens não foram consideradas.
6 - A concepção do edifício é pobre, essencialmente um paralelepípedo, um desenho que pode ser feito rapidamente usando o demo de um sistema computacional de desenho arquitetônico. Poderia servir para uma central de telemarketing numa localização suburbana adensada, mas não revela nenhuma interação com o entorno da Cidade Universitária nem consideração a respeito da finalidade acadêmica da obra.
7 - A concepção do edifício não está em diálogo nem com as tradições arquitetônicas da Escola Politécnica e da USP, nem com os desafios tecnológicos do século 21. Não se trata de maquiar o projeto com fachadas e decorações, mas de começar o trabalho com uma concepção atraente feita por profissionais criativos e dedicados.
8 - O projeto nos afasta dos padrões das melhores universidades do mundo. Quando o MIT decidiu construir um novo prédio para a engenharia elétrica, obteve um projeto de um dos melhores arquitetos norte-americanos. Há opiniões diversas a respeito do projeto de Frank Gehry, mas é uma obra viva, à qual ninguém fica indiferente, e que cria um espaço inovador para a vida acadêmica. Yale tem um prédio de engenharia novo, bastante funcional e com certificação LEED Gold, projetado pelo escritório de Cesar Pelli. Os exemplos são inúmeros. Na Europa e na Ásia constroem-se edifícios acadêmicos que atraem alunos e professores para suas instalações ou arrojadas, ou aconchegantes, ou tradicionais. Aqui mesmo na Usp temos o exemplo inspirador da Biblioteca Brasiliana, recentemente inaugurada, entre outros.
9 - Ao construir um novo edifício para a engenharia elétrica temos a obrigação, por respeito à tradição da Escola Politécnica, às futuras gerações de alunos e professores, e às conquistas dos profissionais da arquitetura brasileira, de obter um projeto de qualidade junto aos melhores arquitetos brasileiros.
10 - O projeto foi encaminhado com uma pressa extrema e não justificada, o que explica ao menos parcialmente a concepção pobre que foi apresentada. Não houve a indispensável interação com pessoas compromissadas com a missão acadêmica da universidade.
11 - O escritório de arquitetura encarregado de fazer a proposta não demonstra ter qualquer experiência relevante no projeto de obras de importância. A presença deles na internet é nula. Quem conhece o meio profissional da arquitetura sabe que a primeira providência dos arquitetos praticantes é exibir seu portfólio aos potenciais clientes e interessados. Um escritório que não anuncia suas obras nem é referenciado por outros praticantes da profissão não inspira confiança. Podemos talvez especular que seja um escritório especializado em vencer concorrências públicas para benefício próprio e dos indivíduos contratantes, sem ter a obrigação de demonstrar a boa qualidade de seu trabalho para o uso ao qual se destina.
12 - A grande restrição do projeto parece ser a intenção da prefeitura do campus do Butantã de facilitar a circulação de automóveis pelo campus, em detrimento da mobilidade dos pedestres e da comunicação fácil entre os diversos edifícios e departamentos do campus. Esse objetivo parece condicionar e restringir todas as oportunidades de construção, em prejuízo do acesso a cada unidade acadêmica e da integração entre as unidades. A circulação de veículos no interior do prédio deve se restringir a pessoas com necessidades especiais de mobilidade e a entregas pesadas. Não é admissível que todo o planejamento de cada prédio acadêmico fique subordinado ao desejo de facilitar a circulação de automóveis pelo campus.
13 - Aparentemente o projeto rápido e descuidado está sendo empurrado como base para a discussão, com motivos sobre os quais só seria possível especular. É importante descartar esse lixo e recomeçar a discussão a partir do zero, senão vamos ficar brigando a respeito de pequenos detalhes e acabar aceitando o conceito geral muito ruim.
Acho que esses 13 itens resumem todos os maiores problemas, mas posso ter deixado algo de fora, especialmente no detalhamento do projeto, que parece ter sido feito sem grande atenção ou empenho profissional.
1 - Localização inconveniente, atrás do edifício atual, dificultando o acesso.
2 - Necessidade de desfigurar a atual biblioteca, um dos melhores espaços de que dispomos atualmente. Essa descaracterização da biblioteca permanece, embora talvez de forma menos desastrosa, na nova versão apresentada.
3 - Disposição das salas de professores em cubículos pouco atraentes, separados por divisórias.
4 - Um prédio de mais de 2 andares muda a relação de professores e alunos com o espaço que temos atualmente. Se essa mudança é desejável e aceitável, então será que 5 andares é um bom compromisso? Parece ter o preço de quebrar o paradigma atual, sem se beneficiar da verticalização.
5 - A concepção do prédio com circulação de ar totalmente fechada e climatizada tem a vantagem permitir maior densidade de ocupação e controle central do consumo de energia elétrica. As desvantagens são o maior custo de operação, a perda da oportunidade de aproveitar nosso clima ameno, o fechamento para o exterior, e emprego de tecnologias antiquadas, pouco inspiradoras, e sem diálogo com as tendências modernas de sustentabilidade, construção verde, e minimização do impacto ambiental. As desvantagens não foram consideradas.
6 - A concepção do edifício é pobre, essencialmente um paralelepípedo, um desenho que pode ser feito rapidamente usando o demo de um sistema computacional de desenho arquitetônico. Poderia servir para uma central de telemarketing numa localização suburbana adensada, mas não revela nenhuma interação com o entorno da Cidade Universitária nem consideração a respeito da finalidade acadêmica da obra.
7 - A concepção do edifício não está em diálogo nem com as tradições arquitetônicas da Escola Politécnica e da USP, nem com os desafios tecnológicos do século 21. Não se trata de maquiar o projeto com fachadas e decorações, mas de começar o trabalho com uma concepção atraente feita por profissionais criativos e dedicados.
8 - O projeto nos afasta dos padrões das melhores universidades do mundo. Quando o MIT decidiu construir um novo prédio para a engenharia elétrica, obteve um projeto de um dos melhores arquitetos norte-americanos. Há opiniões diversas a respeito do projeto de Frank Gehry, mas é uma obra viva, à qual ninguém fica indiferente, e que cria um espaço inovador para a vida acadêmica. Yale tem um prédio de engenharia novo, bastante funcional e com certificação LEED Gold, projetado pelo escritório de Cesar Pelli. Os exemplos são inúmeros. Na Europa e na Ásia constroem-se edifícios acadêmicos que atraem alunos e professores para suas instalações ou arrojadas, ou aconchegantes, ou tradicionais. Aqui mesmo na Usp temos o exemplo inspirador da Biblioteca Brasiliana, recentemente inaugurada, entre outros.
9 - Ao construir um novo edifício para a engenharia elétrica temos a obrigação, por respeito à tradição da Escola Politécnica, às futuras gerações de alunos e professores, e às conquistas dos profissionais da arquitetura brasileira, de obter um projeto de qualidade junto aos melhores arquitetos brasileiros.
10 - O projeto foi encaminhado com uma pressa extrema e não justificada, o que explica ao menos parcialmente a concepção pobre que foi apresentada. Não houve a indispensável interação com pessoas compromissadas com a missão acadêmica da universidade.
11 - O escritório de arquitetura encarregado de fazer a proposta não demonstra ter qualquer experiência relevante no projeto de obras de importância. A presença deles na internet é nula. Quem conhece o meio profissional da arquitetura sabe que a primeira providência dos arquitetos praticantes é exibir seu portfólio aos potenciais clientes e interessados. Um escritório que não anuncia suas obras nem é referenciado por outros praticantes da profissão não inspira confiança. Podemos talvez especular que seja um escritório especializado em vencer concorrências públicas para benefício próprio e dos indivíduos contratantes, sem ter a obrigação de demonstrar a boa qualidade de seu trabalho para o uso ao qual se destina.
12 - A grande restrição do projeto parece ser a intenção da prefeitura do campus do Butantã de facilitar a circulação de automóveis pelo campus, em detrimento da mobilidade dos pedestres e da comunicação fácil entre os diversos edifícios e departamentos do campus. Esse objetivo parece condicionar e restringir todas as oportunidades de construção, em prejuízo do acesso a cada unidade acadêmica e da integração entre as unidades. A circulação de veículos no interior do prédio deve se restringir a pessoas com necessidades especiais de mobilidade e a entregas pesadas. Não é admissível que todo o planejamento de cada prédio acadêmico fique subordinado ao desejo de facilitar a circulação de automóveis pelo campus.
13 - Aparentemente o projeto rápido e descuidado está sendo empurrado como base para a discussão, com motivos sobre os quais só seria possível especular. É importante descartar esse lixo e recomeçar a discussão a partir do zero, senão vamos ficar brigando a respeito de pequenos detalhes e acabar aceitando o conceito geral muito ruim.
Acho que esses 13 itens resumem todos os maiores problemas, mas posso ter deixado algo de fora, especialmente no detalhamento do projeto, que parece ter sido feito sem grande atenção ou empenho profissional.
18 dezembro 2013
Genuíno discurso de encarceramento
"Tudo que fiz, fiz por amor à pátria. Pelo Brasil faria novamente o que achasse correto. Onde errei, peço ao povo que me perdoe. Aceito o julgamento da democracia pela qual lutei com a mesma serenidade com a qual resisti à prisão da ditadura. Se vivemos num país onde a justiça vale para o poderoso como para o humilde, minha luta foi vitoriosa".
Só que não. Onde foi que não ouvimos esse discurso?
Só que não. Onde foi que não ouvimos esse discurso?
09 dezembro 2013
Dragagem
07 dezembro 2013
Eleição do reitor da USP nas próximas semanas
A mais forte candidata ao 4o lugar é a chapa Wanderley Messias da Costa - Suely Vilela. Para a chapa "Mantendo o Rumo", a promessa de manter na reitoria pessoas ligadas às administrações anteriores dispensa reflexão sobre a universidade e discussão de propostas para seu futuro. A presença dessa chapa entre os 3 primeiros votados seria uma vergonhosa indicação de falta de comprometimento dos eleitores com a universidade.
O candidato mais preparado para administrar a USP em 2013 já era o candidato mais preparado em 2009, 2005, e 2001. Só que como diz o locutor de futebol, o tempo passa. E o tempo passou. A chapa Hélio Nogueira da Cruz - Telma Maria Tenório Zorn não decide se critica a situação financeira supostamente catastrófica deixada pela atual gestão, ou se minimiza os problemas pelos quais os integrantes teriam parte da responsabilidade. O situacionismo encabulado da campanha que foca principalmente aspectos administrativos não convence. Por outro lado é uma chapa que não levanta o risco de surpresas desagradáveis. Diria que é forte candidata ao 3o lugar na lista tríplice.
As propostas mais relevantes são as da chapa José Roberto Cardoso - José Antonio Franchini Ramires. O maior problema da USP é que a qualidade e eficácia do ensino estão muito abaixo do que poderia ser obtido com os mesmos professores e mesmos recursos materiais. A causa dessa deficiência são as burocras irracionais, vinculadas aos grupos de poder da universidade, e apoiadas em entendimentos errôneos ou fantasiosos sobre a ciência e o ensino. A solução, defendida pelo Prof Cardoso, é a flexibilização dos currículos e das carreiras universitárias, aumentando o poder dos alunos e portanto da própria sociedade sobre o estamento acadêmico. As demais propostas da chapa, que também foram copiadas pelos concorrentes, igualmente estão de acordo com as necessidades da universidade. São os únicos candidatos que não têm paúra de criticar ações erradas do atual reitor. A dúvida é até que ponto a chapa conseguirá realizar suas propostas. Infelizmente os donos do poder da USP são reacionários, a viscosidade da burocra tende a impedir o progresso, e propostas de melhoria muitas vezes acabam sendo usadas para reforçar o poder do estamento, com consequências imprevistas.
A chapa mais forte é Marco Antonio Zago - Vahan Agopyan. Ela terá votos nas unidades da USP do interior, que nas últimas eleições têm votado em bloco para bloquear candidatos do campus mais importante da USP. O trabalho do prof Zago na pró-reitoria tornou o nome dele conhecido e bem visto pelos pesquisadores ligados à pesquisa e à confecção de papers, e a presidência do CNPq deve render votos entre eleitores do PT. É uma incógnita, ao menos para mim, até que ponto ele pode ser associado às práticas petistas de aparelhamento partidário de universidades e agências de pesquisa. O prof Vahan também fez extenso trabalho de preparação para a campanha durante sua pró-reitoria, em todos os sentidos exceto a elaboração de um programa de gestão baseado numa reflexão explícita sobre a universidade. Pela lógica devem ter o maior número de votos nas consultas.
A única parte democrática do processo é a escolha do reitor pelo governador do estado, que foi eleito e tem a responsabilidade de cuidar da coisa pública. As fases anteriores versam predominantemente sobre a defesa de interesses corporativos. A opção do governador, caso a diferença entre o apoio recebido pelas 3 chapas da lista tríplice não seja decisiva, pode depender das incógnitas à qual me referi acima: o risco de aparelhamento da USP, e o risco de fracasso de propostas de melhoria, medidos em comparação com o risco de ir tocando as coisas sem correr riscos, como se o resto do mundo também estivesse parado.
O candidato mais preparado para administrar a USP em 2013 já era o candidato mais preparado em 2009, 2005, e 2001. Só que como diz o locutor de futebol, o tempo passa. E o tempo passou. A chapa Hélio Nogueira da Cruz - Telma Maria Tenório Zorn não decide se critica a situação financeira supostamente catastrófica deixada pela atual gestão, ou se minimiza os problemas pelos quais os integrantes teriam parte da responsabilidade. O situacionismo encabulado da campanha que foca principalmente aspectos administrativos não convence. Por outro lado é uma chapa que não levanta o risco de surpresas desagradáveis. Diria que é forte candidata ao 3o lugar na lista tríplice.
As propostas mais relevantes são as da chapa José Roberto Cardoso - José Antonio Franchini Ramires. O maior problema da USP é que a qualidade e eficácia do ensino estão muito abaixo do que poderia ser obtido com os mesmos professores e mesmos recursos materiais. A causa dessa deficiência são as burocras irracionais, vinculadas aos grupos de poder da universidade, e apoiadas em entendimentos errôneos ou fantasiosos sobre a ciência e o ensino. A solução, defendida pelo Prof Cardoso, é a flexibilização dos currículos e das carreiras universitárias, aumentando o poder dos alunos e portanto da própria sociedade sobre o estamento acadêmico. As demais propostas da chapa, que também foram copiadas pelos concorrentes, igualmente estão de acordo com as necessidades da universidade. São os únicos candidatos que não têm paúra de criticar ações erradas do atual reitor. A dúvida é até que ponto a chapa conseguirá realizar suas propostas. Infelizmente os donos do poder da USP são reacionários, a viscosidade da burocra tende a impedir o progresso, e propostas de melhoria muitas vezes acabam sendo usadas para reforçar o poder do estamento, com consequências imprevistas.
A chapa mais forte é Marco Antonio Zago - Vahan Agopyan. Ela terá votos nas unidades da USP do interior, que nas últimas eleições têm votado em bloco para bloquear candidatos do campus mais importante da USP. O trabalho do prof Zago na pró-reitoria tornou o nome dele conhecido e bem visto pelos pesquisadores ligados à pesquisa e à confecção de papers, e a presidência do CNPq deve render votos entre eleitores do PT. É uma incógnita, ao menos para mim, até que ponto ele pode ser associado às práticas petistas de aparelhamento partidário de universidades e agências de pesquisa. O prof Vahan também fez extenso trabalho de preparação para a campanha durante sua pró-reitoria, em todos os sentidos exceto a elaboração de um programa de gestão baseado numa reflexão explícita sobre a universidade. Pela lógica devem ter o maior número de votos nas consultas.
A única parte democrática do processo é a escolha do reitor pelo governador do estado, que foi eleito e tem a responsabilidade de cuidar da coisa pública. As fases anteriores versam predominantemente sobre a defesa de interesses corporativos. A opção do governador, caso a diferença entre o apoio recebido pelas 3 chapas da lista tríplice não seja decisiva, pode depender das incógnitas à qual me referi acima: o risco de aparelhamento da USP, e o risco de fracasso de propostas de melhoria, medidos em comparação com o risco de ir tocando as coisas sem correr riscos, como se o resto do mundo também estivesse parado.
03 dezembro 2013
Hierarquia da ocupação do espaço viário público em S Paulo
1 - No topo da hierarquia estão os carros estacionados. Porque o automóvel traz em si a noção de propriedade, quiçá riqueza, e mesmo entrando ou saindo de uma garagem carrega em si uma dignidade superior aos outros elementos que disputam espaço nas ruas e calçadas.
2 - Em seguida vêm os carros em movimento. Porque transporta motorista, talvez um passageiro, possivelmente de classe C ou D, e a própria movimentação sugere a noção do trabalho manual ou contas a pagar, então o automóvel ao se deslocar não partilha da mesma dignidade social que teria se permanecesse parado. A prioridade pública deve sempre se orientar no sentido de enobrecer os estacionamentos, mas a fluidez automotiva segue-se em importância.
3 - O caminhão, veículo imponente que transporta cargas e riquezas, ocupa um lugar especial nas ruas e calçadas, por seu torque, peso, e macheza. Seu poder de destruição nas mãos dos motoristas mais aloprados é indiscutível. É certo que muitos são antigos e de baixo valor, mas são justamente esses que quando funcionam emitem grossa fumaça preta; quando quebram, impávidos colossos, atrapalham o trânsito, demonstrando sempre a superioridade da máquina sobre o homem. Saiam do caminho.
4 - Um pouco abaixo encontra-se o dogue, especialmente se conduzido por funcionário uniformizado. Porque a posse do cachorro, enquanto animal, configura uma forma de riqueza, à qual abrem-se alas em sinal de respeito à propriedade.
5 - O elemento neutro da ruas é o pedestre, que pode ser tolerado, exceto quando atrapalha a fluidez veicular, caso no qual pode e deve ser atropelado, tanto o que atravessa as ruas com o sinal aberto como o que o faz no sinal fechado, por questão de princípio. Mas enquanto se mantém em seu devido lugar o transeunte, se for vítima de assédio motorizado, o é pela condição de negro, pobre, velho, mulher, estudante, deficiente, cego, homossexual, baiano, ou pela profissão materna, não pelo pedestrianismo em si.
6 - Abaixo do pedestre encontra-se o coletivo. É importante tomar todas as medidas necessárias para obstaculizar o movimento dessa aberração onde um único bem material é compartilhado por dezenas de elementos de posição social por suposto inferior. Sempre que possível através de medidas administrativas, mas se necessário por obstrução, com o devido cuidado de evitar dano à pintura do automóvel.
7 - A motocicleta, embora não deixe de ser uma forma de propriedade taxável e censitária, ocupa uma posição mais baixa do que o coletivo, já que apresenta menos risco à integridade da funilaria. Pode parecer contraditório dado que muitas exigem alto poder aquisitivo, mas no dia a dia do trânsito pode ser difícil distinguir entre uma BMW importada e um veículo de entrega, então a ocasional destruição de uma motocicleta é aceitável contanto que sirva de lição para os motoqueiros porventura sobreviventes.
8 - O mais reles ocupante de uma via é sem dúvida a bicicleta: barata e rápida. O ciclismo, mesmo que não remunerado, não deixa de ser uma forma de trabalho físico, que subverte a ordem social na medida em que a bicicleta se desloca com maior velocidade do que veículos de valor muito superior. O ciclista deve ser coibido a ferro e a fogo.
É controverso o status atual da cada vez mais rara carroça.
2 - Em seguida vêm os carros em movimento. Porque transporta motorista, talvez um passageiro, possivelmente de classe C ou D, e a própria movimentação sugere a noção do trabalho manual ou contas a pagar, então o automóvel ao se deslocar não partilha da mesma dignidade social que teria se permanecesse parado. A prioridade pública deve sempre se orientar no sentido de enobrecer os estacionamentos, mas a fluidez automotiva segue-se em importância.
3 - O caminhão, veículo imponente que transporta cargas e riquezas, ocupa um lugar especial nas ruas e calçadas, por seu torque, peso, e macheza. Seu poder de destruição nas mãos dos motoristas mais aloprados é indiscutível. É certo que muitos são antigos e de baixo valor, mas são justamente esses que quando funcionam emitem grossa fumaça preta; quando quebram, impávidos colossos, atrapalham o trânsito, demonstrando sempre a superioridade da máquina sobre o homem. Saiam do caminho.
4 - Um pouco abaixo encontra-se o dogue, especialmente se conduzido por funcionário uniformizado. Porque a posse do cachorro, enquanto animal, configura uma forma de riqueza, à qual abrem-se alas em sinal de respeito à propriedade.
5 - O elemento neutro da ruas é o pedestre, que pode ser tolerado, exceto quando atrapalha a fluidez veicular, caso no qual pode e deve ser atropelado, tanto o que atravessa as ruas com o sinal aberto como o que o faz no sinal fechado, por questão de princípio. Mas enquanto se mantém em seu devido lugar o transeunte, se for vítima de assédio motorizado, o é pela condição de negro, pobre, velho, mulher, estudante, deficiente, cego, homossexual, baiano, ou pela profissão materna, não pelo pedestrianismo em si.
6 - Abaixo do pedestre encontra-se o coletivo. É importante tomar todas as medidas necessárias para obstaculizar o movimento dessa aberração onde um único bem material é compartilhado por dezenas de elementos de posição social por suposto inferior. Sempre que possível através de medidas administrativas, mas se necessário por obstrução, com o devido cuidado de evitar dano à pintura do automóvel.
7 - A motocicleta, embora não deixe de ser uma forma de propriedade taxável e censitária, ocupa uma posição mais baixa do que o coletivo, já que apresenta menos risco à integridade da funilaria. Pode parecer contraditório dado que muitas exigem alto poder aquisitivo, mas no dia a dia do trânsito pode ser difícil distinguir entre uma BMW importada e um veículo de entrega, então a ocasional destruição de uma motocicleta é aceitável contanto que sirva de lição para os motoqueiros porventura sobreviventes.
8 - O mais reles ocupante de uma via é sem dúvida a bicicleta: barata e rápida. O ciclismo, mesmo que não remunerado, não deixa de ser uma forma de trabalho físico, que subverte a ordem social na medida em que a bicicleta se desloca com maior velocidade do que veículos de valor muito superior. O ciclista deve ser coibido a ferro e a fogo.
É controverso o status atual da cada vez mais rara carroça.
02 dezembro 2013
Fechantes da USP
Hoje a entrada da USP estava novamente fechada por manifestantes. Fechar os portões é a represália dos estudantes que não estudam, dos trabalhadores que não trabalham, e dos professores que não professam contra aqueles que querem fazer seus deveres - o alvo principal dos fechantes são os menos endinheirados, que usam transporte coletivo e precisam terminar a faculdade para trabalharem.
O que permite e alimenta esses fechamentos é a falta de 2 coisas: falta de diálogo entre a universidade e os estudantes, e falta de camburão. O fato é que a administração trata do mesmo modo os alunos que querem estudar e os arruaceiros: com soberba indiferença, sem diálogo nem lei. A apatia da maioria silenciosa é compreensível.
Felizmente vim a pé, não me atrapalhou muito, só não dava para esperar o circular. Até aproveitei o passeio: atravessei as obras de embaralhamento e substituição dos passeios da praça do relógio, sem dúvida a menos prioritária das obras concebíveis para o campus do Butantã, e acho que entendi a estratégia política da atual reitoria. Como não há reeleição, tudo se resume a garantir sua reputação para a posteridade.
A gestão atual vai levar tanto mais vantagem em comparação com a gestão seguinte quanto mais desastrosa for a situação financeira que ela deixar. Daí a ânsia de fazer obras de pouca relevância, que complicam a situação futura sem deixar benefícios que a universidade possa aproveitar. É uma estratégia familiar para quem acompanha a atuação do Partido Republicano nos Estados Unidos. Pode chamar de contraparte situacionista ao "quanto pior melhor" leninista-oposicionista.
No Brasil, em geral os políticos buscam o lucro financeiro imediato, ou, no caso dos mais ideológicos, querem se eternizar no poder, então esse tipo de gastança em forma de bomba-relógio é menos comum do que a corrupção pura e simples ou do que o aparelhamento do estado com funcionários pouco produtivos para a sociedade.
De qualquer modo, o candidato de oposição que seja escolhido reitor vai ter muito trabalho; se for de situação, contra toda a lógica e bom senso, ao menos vamos poder rir da tragédia alheia.
O que permite e alimenta esses fechamentos é a falta de 2 coisas: falta de diálogo entre a universidade e os estudantes, e falta de camburão. O fato é que a administração trata do mesmo modo os alunos que querem estudar e os arruaceiros: com soberba indiferença, sem diálogo nem lei. A apatia da maioria silenciosa é compreensível.
Felizmente vim a pé, não me atrapalhou muito, só não dava para esperar o circular. Até aproveitei o passeio: atravessei as obras de embaralhamento e substituição dos passeios da praça do relógio, sem dúvida a menos prioritária das obras concebíveis para o campus do Butantã, e acho que entendi a estratégia política da atual reitoria. Como não há reeleição, tudo se resume a garantir sua reputação para a posteridade.
A gestão atual vai levar tanto mais vantagem em comparação com a gestão seguinte quanto mais desastrosa for a situação financeira que ela deixar. Daí a ânsia de fazer obras de pouca relevância, que complicam a situação futura sem deixar benefícios que a universidade possa aproveitar. É uma estratégia familiar para quem acompanha a atuação do Partido Republicano nos Estados Unidos. Pode chamar de contraparte situacionista ao "quanto pior melhor" leninista-oposicionista.
No Brasil, em geral os políticos buscam o lucro financeiro imediato, ou, no caso dos mais ideológicos, querem se eternizar no poder, então esse tipo de gastança em forma de bomba-relógio é menos comum do que a corrupção pura e simples ou do que o aparelhamento do estado com funcionários pouco produtivos para a sociedade.
De qualquer modo, o candidato de oposição que seja escolhido reitor vai ter muito trabalho; se for de situação, contra toda a lógica e bom senso, ao menos vamos poder rir da tragédia alheia.
26 novembro 2013
Professora negra da USP sofre ofensa racista no Restaurante Dueto no Butantã
Professora negra da USP sofre ofensa racista em restaurante de São Paulo:
http://t.co/DGFLpBkQRB http://mariafro.com/2013/11/26/professora-negra-da-usp-e-assediada-e-humilhada-no-restaurante-dueto/
O agressor é o próprio dono do Restaurante Dueto, também conhecido como "restaurante do holandês", que fica na Vila Indiana, perto da USP. Estou divulgando por ser ex-frequentador.
Meu receio diz respeito aos prezados colegas que vão lá. Se houver algum que não vê problema em continuar frequentando, eu prefiro não saber, porque mesmo não indo no almoço, não tenho como evitar continuar convivendo com eles.
Bom, não posso resolver todos os problemas, nem comprar todas as brigas do mundo. Então divulgo, esperando que cada um saiba fazer o que é certo.
http://t.co/DGFLpBkQRB http://mariafro.com/2013/11/26/professora-negra-da-usp-e-assediada-e-humilhada-no-restaurante-dueto/
O agressor é o próprio dono do Restaurante Dueto, também conhecido como "restaurante do holandês", que fica na Vila Indiana, perto da USP. Estou divulgando por ser ex-frequentador.
Meu receio diz respeito aos prezados colegas que vão lá. Se houver algum que não vê problema em continuar frequentando, eu prefiro não saber, porque mesmo não indo no almoço, não tenho como evitar continuar convivendo com eles.
Bom, não posso resolver todos os problemas, nem comprar todas as brigas do mundo. Então divulgo, esperando que cada um saiba fazer o que é certo.
20 novembro 2013
Escritório de corrupção com divisão de engenharia de grande qualidade técnica
Engenheiro confirma: Siemens é escritório de corrupção com divisão de engenharia de grande qualidade técnica. O governo do estado teve preferência técnica pelas empresas com competência estabelecida, inclusive a Siemens.
Que a Siemens ofereceu suborno para o governo de S Paulo mas mesmo assim perdeu um concorrência, nós já sabíamos de outras reportagens. Falta confirmar porque resolveram "denunciar" tudo agora, já que a tal denúncia só incrimina a eles mesmos. Para descobrir, a pergunta óbvia é: a quem beneficia?
A resposta também óbvia é que o PT tem interesse em denúncias contra o governo do PSDB, mesmo que inconsistentes, mesmo que o conteúdo da denúncia ponha a culpa em outros grupos - o fato é que a maioria do eleitorado e da imprensa não tem a capacidade ética e intelectual de distinguir se uma denúncia indica culpa ou inocência, então sempre vale a pena jogar merda no ventilador próximo ao inimigo. Em troca, a Siemens ganha uns contratos menores, na Bahia por exemplo. Mas essa hipótese ainda precisa ser confirmada. Minha aposta é que em breve aparece a confirmação.
Que a Siemens ofereceu suborno para o governo de S Paulo mas mesmo assim perdeu um concorrência, nós já sabíamos de outras reportagens. Falta confirmar porque resolveram "denunciar" tudo agora, já que a tal denúncia só incrimina a eles mesmos. Para descobrir, a pergunta óbvia é: a quem beneficia?
A resposta também óbvia é que o PT tem interesse em denúncias contra o governo do PSDB, mesmo que inconsistentes, mesmo que o conteúdo da denúncia ponha a culpa em outros grupos - o fato é que a maioria do eleitorado e da imprensa não tem a capacidade ética e intelectual de distinguir se uma denúncia indica culpa ou inocência, então sempre vale a pena jogar merda no ventilador próximo ao inimigo. Em troca, a Siemens ganha uns contratos menores, na Bahia por exemplo. Mas essa hipótese ainda precisa ser confirmada. Minha aposta é que em breve aparece a confirmação.
19 novembro 2013
Diálogo no twitter, aprendi muito
“@gugachacra: Algumas universidades européias começam a ser chamadas de fábricas de desempregados”
Comentário relevante sobre situação muito grave.
“@mtmiterhof: @gugachacra é injusto por na conta das universidades a burrice do austericídio. A culpa é da Alemanha... como sempre.”
Política econômica da Europa é muito ruim, mas afirmação é preconceituosa e exagerada.
“@mtmiterhof: @gugachacra ainda dizem que o Brasil não se desenvolve porque a educação é ruim. A geração mais bem preparada da Espanha está desempregada.”
Achei esse comentário estranho e respondi.
“@pait: @mtmiterhof @gugachacra Mas é verdade, o Brasil não cresce porque a educação é ruim. A Espanha é um caso diferente.”
“@pait: @mtmiterhof @gugachacra O tweet que respondi contém uma falácia elementar. @mtmiterhof: pense e identifique.”
Pensando talvez que se tratava de um estudante incauto. Cacoete de professor, querer corrigir.
“@mtmiterhof: @pait o Brasil não é diferente da Espanha.”
Fantástica afirmação.
“@pait: @mtmiterhof Circunstâncias completamente diferentes. Espanha alto desemprego, inflação nula.”
Óbvio, sem mencionar diferenças mais fundamentais.
“@mtmiterhof: @pait Igual é q não é a educação boa ou ruim que explica o crescimento. Mas o contrario: a renda alta/baixa explica a boa educação boa/ruim.”
Educação seria um bem de luxo para abastados? Quem será que pensa assim?
“@pait: @mtmiterhof Talvez. Porém não são afirmações incompatíveis. Baixa educação no Brasil é maior obstáculo ao aumento da produtividade.”
Fato indiscutível para qualquer um que tenha familiaridade, mesmo que indireta, com o quotidiano de uma fábrica, obra, ou negócio qualquer.
“@mtmiterhof: @pait não é bem assim. Um mexicano ao cruzar a fronteira eleva sua produtividade em 4 ou 5 vezes.”
Mais um argumento fantástico. E daí? O que isso importa para a educação e economia do Brasil?
“@pait: @mtmiterhof Esse argumento não contraria a afirmação de que a maior barreira ao crescimento econômico do Brasil é a educação fraca.”
Mas é, como qualquer pessoa com a minima experiência na vida real sabe.
“@mtmiterhof: @pait contraria, sim, pois mostra que educação não é uma grande barreira ao aumento de produtividade e ao crescimento...”
Mais ou menos nesse momento percebi que o gajo trabalha no BNDEs e escreve na Folha. Qual a correlação disso com a falta de interesse em educação?
“@mtmiterhof: @pait ...um mesmo trabalhador mexicano mal educado é mais produtivo numa fábrica americana. isso se chama mudança estrutural...”
Então começo a entender porque o governo não vê muita urgência em investir em infra-estrutura. É mais vantajoso gastar em esquemas mirabolantes de gastos públicos e distribuição de recursos para empresários favoritos.
“@mtmiterhof: @pait ..p/ promovê-la tem q investir, algo induzido pelo crescimento, q por sua vez depende d demanda (gasto público e distribuição d renda)”
Quer dizer, investimento é consequência do crescimento, que por sua vez é consequência do gasto público? Mais um argumento de trás para frente, mesmo que no caso esteja sendo feito em causa própria.
“@pait: @mtmiterhof Quando migra o trabalhador está usando toda a infra do novo país, inclusive as habilidades da sociedade como um todo, que...”
“@pait: @mtmiterhof ...não estavam disponíveis no país original.”
“@pait: @mtmiterhof E a mudança estrutural mais fundamental é a preparação para o trabalho, que se faz pela educação.”
Parece óbvio: o trabalhador mexicano é mais produtivo nos Estados Unidos porque têm mais capital à disposição.
“@pait: @mtmiterhof Crescimento depende de demanda e de produção. Na Espanha falta demanda; no Brasil falta produção.”
Condições diferentes, explicações diferentes. Para mim é óbvio.
“@mtmiterhof: @pait discordo. quem puxa o fio da meada é a demanda.”
Mas para outros um país numa situação diametralmente oposta serve de argumento para fazer o que dá vontade. Uma lei de Say ao contrário: a demanda cria sua própria produção. Difícil de acreditar que alguém que já trabalhou na vida acredite nisso.
“@mtmiterhof: @pait discordo de novo. educação é mais resultado do que causa. estamos andando em círculos. Abordarei o tema na coluna da semana que vem.”
Me cheira a argumento por autoridade: o Partido me botou para escrever na Folha, e o jornal teve que engolir para não perder acesso a fontes oficiais, portanto todos devem me escutar embevecidamente.
“@pait: @mtmiterhof Sua afirmação não tem apoio na teoria, nem nos fatos, nem no bom senso. Parece puramente ideológica.”
“@pait: @mtmiterhof Para um aluno, diria que é necessário estudar com mais afinco e fazer o dever de casa. Você é maior e vacinado, não vou discutir”
Perdi o respeito. Apelou à hierarquia, vamos ver quem tem maior patente.
“@pait: @mtmiterhof Pensando bem, você me convenceu. Você lê, escreve, deve ter estudado muito, e ao fazer seu trabalho....”
“@pait: @mtmiterhof ...não indica ter a menor noção de como funciona um negócio e muito menos uma economia. Educação é irrelevante mesmo.”
Mas algumas horas depois, pensando com meus botões, me convenci. Educação e estudo são irrelevantes mesmo. Qual a qualidade que o trabalho de quem pensa assim pode ter?
Comentário relevante sobre situação muito grave.
“@mtmiterhof: @gugachacra é injusto por na conta das universidades a burrice do austericídio. A culpa é da Alemanha... como sempre.”
Política econômica da Europa é muito ruim, mas afirmação é preconceituosa e exagerada.
“@mtmiterhof: @gugachacra ainda dizem que o Brasil não se desenvolve porque a educação é ruim. A geração mais bem preparada da Espanha está desempregada.”
Achei esse comentário estranho e respondi.
“@pait: @mtmiterhof @gugachacra Mas é verdade, o Brasil não cresce porque a educação é ruim. A Espanha é um caso diferente.”
“@pait: @mtmiterhof @gugachacra O tweet que respondi contém uma falácia elementar. @mtmiterhof: pense e identifique.”
Pensando talvez que se tratava de um estudante incauto. Cacoete de professor, querer corrigir.
“@mtmiterhof: @pait o Brasil não é diferente da Espanha.”
Fantástica afirmação.
“@pait: @mtmiterhof Circunstâncias completamente diferentes. Espanha alto desemprego, inflação nula.”
Óbvio, sem mencionar diferenças mais fundamentais.
“@mtmiterhof: @pait Igual é q não é a educação boa ou ruim que explica o crescimento. Mas o contrario: a renda alta/baixa explica a boa educação boa/ruim.”
Educação seria um bem de luxo para abastados? Quem será que pensa assim?
“@pait: @mtmiterhof Talvez. Porém não são afirmações incompatíveis. Baixa educação no Brasil é maior obstáculo ao aumento da produtividade.”
Fato indiscutível para qualquer um que tenha familiaridade, mesmo que indireta, com o quotidiano de uma fábrica, obra, ou negócio qualquer.
“@mtmiterhof: @pait não é bem assim. Um mexicano ao cruzar a fronteira eleva sua produtividade em 4 ou 5 vezes.”
Mais um argumento fantástico. E daí? O que isso importa para a educação e economia do Brasil?
“@pait: @mtmiterhof Esse argumento não contraria a afirmação de que a maior barreira ao crescimento econômico do Brasil é a educação fraca.”
Mas é, como qualquer pessoa com a minima experiência na vida real sabe.
“@mtmiterhof: @pait contraria, sim, pois mostra que educação não é uma grande barreira ao aumento de produtividade e ao crescimento...”
Mais ou menos nesse momento percebi que o gajo trabalha no BNDEs e escreve na Folha. Qual a correlação disso com a falta de interesse em educação?
“@mtmiterhof: @pait ...um mesmo trabalhador mexicano mal educado é mais produtivo numa fábrica americana. isso se chama mudança estrutural...”
Então começo a entender porque o governo não vê muita urgência em investir em infra-estrutura. É mais vantajoso gastar em esquemas mirabolantes de gastos públicos e distribuição de recursos para empresários favoritos.
“@mtmiterhof: @pait ..p/ promovê-la tem q investir, algo induzido pelo crescimento, q por sua vez depende d demanda (gasto público e distribuição d renda)”
Quer dizer, investimento é consequência do crescimento, que por sua vez é consequência do gasto público? Mais um argumento de trás para frente, mesmo que no caso esteja sendo feito em causa própria.
“@pait: @mtmiterhof Quando migra o trabalhador está usando toda a infra do novo país, inclusive as habilidades da sociedade como um todo, que...”
“@pait: @mtmiterhof ...não estavam disponíveis no país original.”
“@pait: @mtmiterhof E a mudança estrutural mais fundamental é a preparação para o trabalho, que se faz pela educação.”
Parece óbvio: o trabalhador mexicano é mais produtivo nos Estados Unidos porque têm mais capital à disposição.
“@pait: @mtmiterhof Crescimento depende de demanda e de produção. Na Espanha falta demanda; no Brasil falta produção.”
Condições diferentes, explicações diferentes. Para mim é óbvio.
“@mtmiterhof: @pait discordo. quem puxa o fio da meada é a demanda.”
Mas para outros um país numa situação diametralmente oposta serve de argumento para fazer o que dá vontade. Uma lei de Say ao contrário: a demanda cria sua própria produção. Difícil de acreditar que alguém que já trabalhou na vida acredite nisso.
“@mtmiterhof: @pait discordo de novo. educação é mais resultado do que causa. estamos andando em círculos. Abordarei o tema na coluna da semana que vem.”
Me cheira a argumento por autoridade: o Partido me botou para escrever na Folha, e o jornal teve que engolir para não perder acesso a fontes oficiais, portanto todos devem me escutar embevecidamente.
“@pait: @mtmiterhof Sua afirmação não tem apoio na teoria, nem nos fatos, nem no bom senso. Parece puramente ideológica.”
“@pait: @mtmiterhof Para um aluno, diria que é necessário estudar com mais afinco e fazer o dever de casa. Você é maior e vacinado, não vou discutir”
Perdi o respeito. Apelou à hierarquia, vamos ver quem tem maior patente.
“@pait: @mtmiterhof Pensando bem, você me convenceu. Você lê, escreve, deve ter estudado muito, e ao fazer seu trabalho....”
“@pait: @mtmiterhof ...não indica ter a menor noção de como funciona um negócio e muito menos uma economia. Educação é irrelevante mesmo.”
Mas algumas horas depois, pensando com meus botões, me convenci. Educação e estudo são irrelevantes mesmo. Qual a qualidade que o trabalho de quem pensa assim pode ter?
14 novembro 2013
Denmark Day na Poli-USP
Ontem houve um evento de divulgação de oportunidades em empresas e universidades da Dinamarca aqui na Poli. O evento era direcionado para estudantes, dei uma passada rápida por curiosidade. A divulgação interna não foi muito boa, o que é compreensível considerando o número de vezes que cada email sobre falta de luz, falha na telefonia, fechamento de rua, cerimônia de encerramento de prazo, e farol aceso tem que ser reenviado. Depois tive uma reunião com alunos, mencionei o evento, então foi útil.
Nos tempos de antanho quem queria obter informações sobre estudar fora do Brasil era visto com uma certa desconfiança, precisava pedir autorizações com firma reconhecida para acessar bibliotecas e catálogos. Bolsas então, já existiam, nos Estados Unidos embora raramente na Europa, mas quem conhecia negava. Hoje os escandinavos vêm para cá fazer propaganda das oportunidades. O Brasil mudou, e para melhor. A Europa também, ao menos os mais avançados entre os bárbaros. Felizmente ainda não fiquei velho demais para sentir alguma inveja das oportunidades que os jovens têm hoje, e sabem aproveitar.
Sendo o evento sobre a Dinamarca, sempre dá uma sensação agradável. O embaixador falou, brevemente, que os dinamarqueses se sentem encabulados em falar bem deles mesmos então preferiu mostrar um vídeo com brasileiras que estudaram lá dizendo que é o melhor país do mundo. Estão certas.
Só deu pena no final do dia ao ver o carro do embaixador parado num engarrafamento-monstro na saída da Usp - a pé, consegui sair bem mais rápido, quem precisava transportar o automóvel não tinha alternativa. Mas trânsito, corredores de ônibus, ficam para outro post.
Nos tempos de antanho quem queria obter informações sobre estudar fora do Brasil era visto com uma certa desconfiança, precisava pedir autorizações com firma reconhecida para acessar bibliotecas e catálogos. Bolsas então, já existiam, nos Estados Unidos embora raramente na Europa, mas quem conhecia negava. Hoje os escandinavos vêm para cá fazer propaganda das oportunidades. O Brasil mudou, e para melhor. A Europa também, ao menos os mais avançados entre os bárbaros. Felizmente ainda não fiquei velho demais para sentir alguma inveja das oportunidades que os jovens têm hoje, e sabem aproveitar.
Sendo o evento sobre a Dinamarca, sempre dá uma sensação agradável. O embaixador falou, brevemente, que os dinamarqueses se sentem encabulados em falar bem deles mesmos então preferiu mostrar um vídeo com brasileiras que estudaram lá dizendo que é o melhor país do mundo. Estão certas.
Só deu pena no final do dia ao ver o carro do embaixador parado num engarrafamento-monstro na saída da Usp - a pé, consegui sair bem mais rápido, quem precisava transportar o automóvel não tinha alternativa. Mas trânsito, corredores de ônibus, ficam para outro post.
10 novembro 2013
Açaí (continuação)
O Açaí Frooty Natural fabricado Spice Com. e Ind. de Alimentos tem uma consistência que lembra neve, ou raspadinha de gelo, menos agradável do que o Açaí DeMarchi, que estou usando como referência. O sabor é menos marcante e fica ofuscado por um forte aroma de guaraná idêntico ao natural, no dizer do rótulo. O conteúdo específico de carboidratos, proteínas, gorduras, e fibras sugere uma diluição significativa, o que explicaria as observações qualitativas, se bem que não tenho confiança nos números apresentados no rótulo da DeMarchi.
O Açaí Qualitá distribuído pelo Pão de Açúcar traz informação nutricional quase idêntica ao Açaí Frooty, e é industrializado na mesma fábrica, aqui soletrada como SP ICE (diria que essa 2a forma melhor descreve o produto). O exemplar que experimentei tinha porém consistência e sabor superiores, embora ainda não comparáveis com o açaí de referência. Isso sugere controle de qualidade irregular.
Recomendação: escolha o Açaí + Guaraná Açaí Sport DeMarchi; ou alternativamente o Açaí com Guaraná Tribal Açaí Orgânico Sambazon, conforme o teste do mês passado.
O Açaí Qualitá distribuído pelo Pão de Açúcar traz informação nutricional quase idêntica ao Açaí Frooty, e é industrializado na mesma fábrica, aqui soletrada como SP ICE (diria que essa 2a forma melhor descreve o produto). O exemplar que experimentei tinha porém consistência e sabor superiores, embora ainda não comparáveis com o açaí de referência. Isso sugere controle de qualidade irregular.
Recomendação: escolha o Açaí + Guaraná Açaí Sport DeMarchi; ou alternativamente o Açaí com Guaraná Tribal Açaí Orgânico Sambazon, conforme o teste do mês passado.
08 novembro 2013
Imitação é a forma mais sincera do panegírico
O novo programa da chapa Zago-Vahan para a reitoria da Usp diz: "estimularemos a reforma da legislação pertinente para flexibilizar e modernizar currículos e a mobilidade de estudantes". Fazer uma grande modernização do ensino de graduação na USP, como propõem, é uma direção nova, e correta, para os pró-reitores de pesquisa e de pós-graduação, que contam no currículo a experiência anterior nas presidências no CNPq e no IPT. Embora a proposta ainda não especifique ações e prioridades, a atitude encomiástica de seguir a proposta do Prof Cardoso, flexibilização da graduação, é louvável. (Pergunte ao Butija o que é um panegírico.)
A flexibilização dos currículos começou em 1986 com a resolução 3045 do Prof Goldemberg; foi resistida bravamente pelas unidades e departamentos, apesar dos esforços de raros administradores como a pró-reitora de graduação Ada Pellegrini Grinover, durante a gestão do Prof Marcovitch; foi introduzida no curso de Automação & Controle da Engenharia Elétrica em 1995; foi aprovada na nova estrutura curricular da Escola Politécnica, embora sua implementação continue sendo sabotada pelos interesses dos departamentos. Será que agora pega na USP?
A flexibilização dos currículos começou em 1986 com a resolução 3045 do Prof Goldemberg; foi resistida bravamente pelas unidades e departamentos, apesar dos esforços de raros administradores como a pró-reitora de graduação Ada Pellegrini Grinover, durante a gestão do Prof Marcovitch; foi introduzida no curso de Automação & Controle da Engenharia Elétrica em 1995; foi aprovada na nova estrutura curricular da Escola Politécnica, embora sua implementação continue sendo sabotada pelos interesses dos departamentos. Será que agora pega na USP?
06 novembro 2013
Cobertura do debate dos candidatos a reitor da USP
“@pait: Zago lista coisas que devem mudar na Usp: graduação, carreiras, gestão, burocra... Não diz quais mudanças fará. Modernização, o que é?”
“@pait: Vanderlei lista politécnicos que conheceu e homenageia. Passa a homenagear sua vice e a si próprio. Vai pensar em propostas para graduação.”
“@pait: Cardoso feliz que os outros candidatos adotaram suas propostas para graduação e transparência. Conta coisas que fez pela graduação na Poli.”
“@pait: Cardoso defende flexibilização do ensino, novo currículo de graduação aprovados pela Poli, laboratório de inovação, cursos novos, noturno.”
“@pait: Cardoso lista outras iniciativas suas em graduação, inovação, gestão, cultura, e extensão na Poli. Promete expandir para a USP toda.”
“@pait: Hélio elogia Poli e Cardoso, apoia curso noturno de engenharia, mudanças curriculares na Poli.”
“@pait: Hélio lista experiência da candidata a vice e sua própria, sem detalhar ações específicas. Sugere imitar iniciativas da Politécnica.”
“@pait: Hélio menciona em termos genéricos que coisas foram feitas e outras ainda devem ser continuadas. Alerta para situação financeira precária. Hélio defende quotas.”
Funcionário pedem que candidatos sejam mais específicos sobre suas propostas, e fazem solicitações específicas sobre carreira. Professor contesta que talentos sejam bem selecionados por quotas para escolas públicas sem melhorar escola pública.
Perguntei por email para o prof Hélio: "O senhor é economista experiente, reconhecido, que ocupou altos cargos na administração da universidade, e nos conta que a situação financeira da universidade é periclitante. Gostaria de saber em qual ponto das últimas gestões o vice-reitor e os pró-reitores tomaram conhecimento que a universidade estava praticando uma gestão imprudente dos recursos públicos." Aguardo resposta.
Hélio dá respostas gerais para as perguntas específicas. Cardoso promete mais transparência na administração, critica administração atual, não acha fácil atingir metas de quotas e inclusão sem prejudicar qualidade; USP deve apoiar mais os alunos do ensino médio. Vanderlei afirma que fundamento da sua candidatura é a continuidade das últimas duas gestões, pede que confiem na astúcia dele para fazer os pequenos ajustes necessários, sem maiores inovações, conta anedotas folclóricas. Zago diz que universidade precisa inovar, cumprimenta quem já fez mudanças, mas não diz quais; critica vestibular mas elogia Fuvest, diz que é preciso discutir, discutir, discutir, não diz suas propostas; o problema central não é prédios nem pesquisa, é a graduação que deve estar no centro. "Quem tem 100 prioridades não tem nenhuma", diz Zago; concordo.
Aluna conta que veio de escola pública, entrou no vestibular, pergunta sobre violência contra a mulher na USP, estupros na Poli, e sobre acesso de minorias à USP.
Zago começa dizendo que que violência contra mulheres é subcaso da questão de segurança geral no campus. (Suspiros da audiência.) Depois passa a generalidades sobre cultura e barbárie. Volta para a tese que é uma questão de geral de segurança, não apresenta propostas. Não defende quotas mas diz que deve haver ações, não diz quais. Critica a pergunta pouco precisa. Vanderlei diz que já foi prefeito da USP e aprendeu sobre iluminação e segurança. A favor das câmeras e das lâmpadas e da guarda universitária e da polícia militar. Cardoso defende controle de acesso aos prédios, critica falha de segurança inaceitável, assume que universidade falhou em sua responsabilidade. Cumprir decisões do conselho universitário quanto a quotas, embora a universidade não seja capaz de resolver todos os problemas sociais. Hélio defende critérios étnicos no vestibular, elogia a iluminação do estacionamento da FEA, colocação de catracas na reitoria, e sua experiência administrativa.
Comentário: nenhum dos candidatos parece ter a menor noção de que a violência contra as alunas é frequente em festas e outras atividades estudantis. Isso sugere que os candidatos não conversam o suficiente com os estudantes.
As perguntas feitas pela internet não serão respondidas durante o debate. A minha fica aqui no blog. Professor pergunta sobre avaliação de atividades de graduação na carreira acadêmica, e sobre invasões à reitoria.
Hélio afirma que atividades de ensino não são consideradas na carreira docente e que práticas não democráticas ficaram corriqueiras na vida universitária. Cardoso: ensino, pesquisa, e atividades de cultura devem ser pesadas em concursos de contratação e progressão. Ninguém ensina sem saber aprender, então pesquisa é importante, mas outras atividades devem ser formalmente consideradas. Violência chegou a níveis altos, não se faz democracia com marreta, a minoria de violentos não é representativa. Vanderlei diz que crise atual com os estudantes não é fato isolado, é crise sistêmica, se agravou nos últimos anos (nas administrações que ele pretende continuar), cita discussões teóricas na Filosofia sobre black blocks, melhor caminho é trabalho de prevenção, atrair lideranças estudantis que aceitam discutir de forma democrática, afirma que segmentos violentos estão em grande parte na sua unidade, a Filosofia. Avaliar só por produção de paper não dá, mas a discussão é difícil e a profa Sueli faz partes de comissões que ainda não sabem o que fazer.
Zago diz que vai fazer proposta muito diferente: reconhecer que universidade é muito heterogênea, que as pessoas têm perfis diferentes, não misturar indivíduos que dão contribuição excelente como educadores com os que transferem conhecimentos para a sociedade com os pesquisadores. Diz que Harvard considera 3 perfis diferentes de professor (comentário: nunca ouvi falar desses perfis). Agressividade: porque? A maioria é silenciosa porque nós nos afastamos do diálogo com a maioria. Falta diálogo durante o ano todo. Se nunca nos preocupamos com o diálogo, na hora da invasão já é tarde. Falta de entusiasmo pela vida universitária e de participação é a causa da passividade da maioria silenciosa não-violenta. (Excelente resposta. Faltou dizer quem e como vai começar o diálogo.)
Vanderlei reforça que seu website reitera suas propostas de continuar as políticas das 2 últimas gestões. Cardoso diz que na Poli há diálogo permanente com estudantes, conflitos foram mínimos, precisamos ser tolerantes, o diálogo foi perfeito nos últimos 4 anos na Poli (acho que com um certo otimismo), vai fazer o mesmo na USP, garante que minimizará os conflitos. Hélio elogia a USP em generalidades, exceto o equilíbrio financeiro que precisa ser restabelecido e procedimentos arcaicos que contribuem para conflitos.
Perguntas da internet não serão lidas. Fim do debate.
“@pait: Vanderlei lista politécnicos que conheceu e homenageia. Passa a homenagear sua vice e a si próprio. Vai pensar em propostas para graduação.”
“@pait: Cardoso feliz que os outros candidatos adotaram suas propostas para graduação e transparência. Conta coisas que fez pela graduação na Poli.”
“@pait: Cardoso defende flexibilização do ensino, novo currículo de graduação aprovados pela Poli, laboratório de inovação, cursos novos, noturno.”
“@pait: Cardoso lista outras iniciativas suas em graduação, inovação, gestão, cultura, e extensão na Poli. Promete expandir para a USP toda.”
“@pait: Hélio elogia Poli e Cardoso, apoia curso noturno de engenharia, mudanças curriculares na Poli.”
“@pait: Hélio lista experiência da candidata a vice e sua própria, sem detalhar ações específicas. Sugere imitar iniciativas da Politécnica.”
“@pait: Hélio menciona em termos genéricos que coisas foram feitas e outras ainda devem ser continuadas. Alerta para situação financeira precária. Hélio defende quotas.”
Funcionário pedem que candidatos sejam mais específicos sobre suas propostas, e fazem solicitações específicas sobre carreira. Professor contesta que talentos sejam bem selecionados por quotas para escolas públicas sem melhorar escola pública.
Perguntei por email para o prof Hélio: "O senhor é economista experiente, reconhecido, que ocupou altos cargos na administração da universidade, e nos conta que a situação financeira da universidade é periclitante. Gostaria de saber em qual ponto das últimas gestões o vice-reitor e os pró-reitores tomaram conhecimento que a universidade estava praticando uma gestão imprudente dos recursos públicos." Aguardo resposta.
Hélio dá respostas gerais para as perguntas específicas. Cardoso promete mais transparência na administração, critica administração atual, não acha fácil atingir metas de quotas e inclusão sem prejudicar qualidade; USP deve apoiar mais os alunos do ensino médio. Vanderlei afirma que fundamento da sua candidatura é a continuidade das últimas duas gestões, pede que confiem na astúcia dele para fazer os pequenos ajustes necessários, sem maiores inovações, conta anedotas folclóricas. Zago diz que universidade precisa inovar, cumprimenta quem já fez mudanças, mas não diz quais; critica vestibular mas elogia Fuvest, diz que é preciso discutir, discutir, discutir, não diz suas propostas; o problema central não é prédios nem pesquisa, é a graduação que deve estar no centro. "Quem tem 100 prioridades não tem nenhuma", diz Zago; concordo.
Aluna conta que veio de escola pública, entrou no vestibular, pergunta sobre violência contra a mulher na USP, estupros na Poli, e sobre acesso de minorias à USP.
Zago começa dizendo que que violência contra mulheres é subcaso da questão de segurança geral no campus. (Suspiros da audiência.) Depois passa a generalidades sobre cultura e barbárie. Volta para a tese que é uma questão de geral de segurança, não apresenta propostas. Não defende quotas mas diz que deve haver ações, não diz quais. Critica a pergunta pouco precisa. Vanderlei diz que já foi prefeito da USP e aprendeu sobre iluminação e segurança. A favor das câmeras e das lâmpadas e da guarda universitária e da polícia militar. Cardoso defende controle de acesso aos prédios, critica falha de segurança inaceitável, assume que universidade falhou em sua responsabilidade. Cumprir decisões do conselho universitário quanto a quotas, embora a universidade não seja capaz de resolver todos os problemas sociais. Hélio defende critérios étnicos no vestibular, elogia a iluminação do estacionamento da FEA, colocação de catracas na reitoria, e sua experiência administrativa.
Comentário: nenhum dos candidatos parece ter a menor noção de que a violência contra as alunas é frequente em festas e outras atividades estudantis. Isso sugere que os candidatos não conversam o suficiente com os estudantes.
As perguntas feitas pela internet não serão respondidas durante o debate. A minha fica aqui no blog. Professor pergunta sobre avaliação de atividades de graduação na carreira acadêmica, e sobre invasões à reitoria.
Hélio afirma que atividades de ensino não são consideradas na carreira docente e que práticas não democráticas ficaram corriqueiras na vida universitária. Cardoso: ensino, pesquisa, e atividades de cultura devem ser pesadas em concursos de contratação e progressão. Ninguém ensina sem saber aprender, então pesquisa é importante, mas outras atividades devem ser formalmente consideradas. Violência chegou a níveis altos, não se faz democracia com marreta, a minoria de violentos não é representativa. Vanderlei diz que crise atual com os estudantes não é fato isolado, é crise sistêmica, se agravou nos últimos anos (nas administrações que ele pretende continuar), cita discussões teóricas na Filosofia sobre black blocks, melhor caminho é trabalho de prevenção, atrair lideranças estudantis que aceitam discutir de forma democrática, afirma que segmentos violentos estão em grande parte na sua unidade, a Filosofia. Avaliar só por produção de paper não dá, mas a discussão é difícil e a profa Sueli faz partes de comissões que ainda não sabem o que fazer.
Zago diz que vai fazer proposta muito diferente: reconhecer que universidade é muito heterogênea, que as pessoas têm perfis diferentes, não misturar indivíduos que dão contribuição excelente como educadores com os que transferem conhecimentos para a sociedade com os pesquisadores. Diz que Harvard considera 3 perfis diferentes de professor (comentário: nunca ouvi falar desses perfis). Agressividade: porque? A maioria é silenciosa porque nós nos afastamos do diálogo com a maioria. Falta diálogo durante o ano todo. Se nunca nos preocupamos com o diálogo, na hora da invasão já é tarde. Falta de entusiasmo pela vida universitária e de participação é a causa da passividade da maioria silenciosa não-violenta. (Excelente resposta. Faltou dizer quem e como vai começar o diálogo.)
Vanderlei reforça que seu website reitera suas propostas de continuar as políticas das 2 últimas gestões. Cardoso diz que na Poli há diálogo permanente com estudantes, conflitos foram mínimos, precisamos ser tolerantes, o diálogo foi perfeito nos últimos 4 anos na Poli (acho que com um certo otimismo), vai fazer o mesmo na USP, garante que minimizará os conflitos. Hélio elogia a USP em generalidades, exceto o equilíbrio financeiro que precisa ser restabelecido e procedimentos arcaicos que contribuem para conflitos.
Perguntas da internet não serão lidas. Fim do debate.
03 novembro 2013
Os donos do poder na USP
Quando comecei a dar aulas na USP nos anos 1990, a Escola Politécnica era dominada pela ideia do engenheiro que dava aulas. Não que os dirigentes da Escola fossem necessariamente engenheiros de destaque, ou mesmo que dessem aulas. Porque a universidade já tinha passado por um processo de profissionalização e de burocratização - a figura dos engenheiros profissionais e dos professores "amadores" era mais presente no imaginário politécnico do que entre os dirigentes.
Menos presentes ainda eram os pesquisadores. Porque a ideia de pesquisa e inovação na engenharia ainda era remota. Vivíamos um complexo de vira-lata, pelo qual cabia ao engenheiro brasileiro seguir ordens, e no máximo copiar o que já existia lá fora com algumas décadas de atraso. Os donos do poder se orgulhavam de subir na carreira sem nunca terem escrito um paper; ou de fazerem pirataria e engenharia reversa. A luta pelo poder exigia dedicação total, incompatível com a pesquisa ou ensino - se bem que os poderosos davam um jeito de se autoconferirem honrarias acadêmica pelas atividades às quais nem sempre tinham se dedicado. Aliás escapar à carga didática sempre foi uma das motivações da busca pelos cargos.
O estamento burocrático usava esse conceito do engenheiro que dava aulas para resistir à modernização da escola de engenharia. Porque pressões havia. O corpo docente estava se renovando, com exposição às universidades internacionais. A inovação se fazia necessária pelo esgotamento do esquema da auto-suficiência tecnológica - o desastre completo que foi a reserva de mercado para informática fica como exemplo perfeito mas não único. E as sucessivas crises econômicas levavam os estudantes a questionarem o modelo de ensino moldado para atender com precisão milimétrica as necessidades do mercado de trabalho, só que da geração anterior.
Hoje a Escola Politécnica, como parte da USP, avançou muito na direção de tornar-se uma universidade de pesquisa. O estamento burocrático da universidade incorporou a publicação de papers como objetivo fundamental da academia. Em proveito próprio, é necessário dizer. A pesquisa interessa enquanto pode ser quantificada, mensurada, e usada como medida para distribuição de pequenos favores e meias-entradas. Estes por sua vezes servem de moeda de troca para subir na carreira universitária e ocupar cargos. O que entra nos relatórios de pesquisa é a engenharia de Lattes do CNPq e Qualis da CAPES. O conteúdo da pesquisa enquanto inovação, seja para a ciência, seja para benefício da sociedade, muitas vezes fica perdido, e é o que menos importa para a contabilidade acadêmica de publicações. A salamização da ciência, as auto-citações, até o auto-plágio e eventuais fraudes, evitar isso importa menos do que a quantificação - pretensamente objetiva - da pesquisa científica. Pena - temos excelentes cientistas, e um sistema que não sabe distinguir eles dos picaretas.
O estamento se renovou. Mudou de ideias, aparentemente. Os donos do poder são outras pessoas. Mas os métodos continuam os mesmos, inclusive na auto-premiação, a maior das caricaturas. E as consequências para o ensino dos futuros engenheiros também. A demanda por mais pesquisa na universidade acabou tomando uma nova dimensão, além da imaginação.
Menos presentes ainda eram os pesquisadores. Porque a ideia de pesquisa e inovação na engenharia ainda era remota. Vivíamos um complexo de vira-lata, pelo qual cabia ao engenheiro brasileiro seguir ordens, e no máximo copiar o que já existia lá fora com algumas décadas de atraso. Os donos do poder se orgulhavam de subir na carreira sem nunca terem escrito um paper; ou de fazerem pirataria e engenharia reversa. A luta pelo poder exigia dedicação total, incompatível com a pesquisa ou ensino - se bem que os poderosos davam um jeito de se autoconferirem honrarias acadêmica pelas atividades às quais nem sempre tinham se dedicado. Aliás escapar à carga didática sempre foi uma das motivações da busca pelos cargos.
O estamento burocrático usava esse conceito do engenheiro que dava aulas para resistir à modernização da escola de engenharia. Porque pressões havia. O corpo docente estava se renovando, com exposição às universidades internacionais. A inovação se fazia necessária pelo esgotamento do esquema da auto-suficiência tecnológica - o desastre completo que foi a reserva de mercado para informática fica como exemplo perfeito mas não único. E as sucessivas crises econômicas levavam os estudantes a questionarem o modelo de ensino moldado para atender com precisão milimétrica as necessidades do mercado de trabalho, só que da geração anterior.
Hoje a Escola Politécnica, como parte da USP, avançou muito na direção de tornar-se uma universidade de pesquisa. O estamento burocrático da universidade incorporou a publicação de papers como objetivo fundamental da academia. Em proveito próprio, é necessário dizer. A pesquisa interessa enquanto pode ser quantificada, mensurada, e usada como medida para distribuição de pequenos favores e meias-entradas. Estes por sua vezes servem de moeda de troca para subir na carreira universitária e ocupar cargos. O que entra nos relatórios de pesquisa é a engenharia de Lattes do CNPq e Qualis da CAPES. O conteúdo da pesquisa enquanto inovação, seja para a ciência, seja para benefício da sociedade, muitas vezes fica perdido, e é o que menos importa para a contabilidade acadêmica de publicações. A salamização da ciência, as auto-citações, até o auto-plágio e eventuais fraudes, evitar isso importa menos do que a quantificação - pretensamente objetiva - da pesquisa científica. Pena - temos excelentes cientistas, e um sistema que não sabe distinguir eles dos picaretas.
O estamento se renovou. Mudou de ideias, aparentemente. Os donos do poder são outras pessoas. Mas os métodos continuam os mesmos, inclusive na auto-premiação, a maior das caricaturas. E as consequências para o ensino dos futuros engenheiros também. A demanda por mais pesquisa na universidade acabou tomando uma nova dimensão, além da imaginação.
Witness Mr. Henry Bemis, a bookish little man whose passion is the printed page. In just a moment, Mr. Bemis will have a world all to himself... without anyone. The best laid plans of mice and men... and Henry Bemis... the small man in the glasses who wanted nothing but time to do his research... in the Twilight Zone.
01 novembro 2013
Aumento do IPTU
O argumento do prefeito Haddad a favor do aumento do IPTU é transparente e direto: o tributo é a contraparte dos benefícios dados pela cidade aos paulistanos, e deve ser pago com alegria. Os mais de 11 milhões de pessoas que moram na cidade concordam que a vida na metrópole é desejável - tanto que a população da cidade continua a crescer - e não sei de quem discorde de que é necessário melhorar os serviços públicos.
Os argumentos contrários são mais nebulosos. Um é que existe muita corrupção na cidade e portanto não devemos pagar os impostos. Que existe desperdício e corrupção não há dúvida; essa semana mesmo a prefeitura desbaratou uma quadrilha que as administrações anteriores não tinham conseguido reprimir. Financiar inadequadamente a prefeitura, e assim piorar a qualidade dos serviços públicos, seria uma resposta contraproducente, consistindo em punir o cidadão pelos crimes e erros dos bandidos.
Outros dizem que o aumento é abusivo. Respeitando a lógica do mercado e da livre-iniciativa, ao aumentos dos valores dos imóveis indicam que S Paulo está trazendo benefícios econômicos crescentes para seus moradores. Por outro lado, o ponto fraco da cidade são os serviços públicos, que são financiados com dinheiro de impostos. Então o argumento de que o aumento é abusivo fica prejudicado.
Finalmente podem dizer que é melhor deixar o dinheiro no bolso do contribuinte do que dar para a ineficiente prefeitura. Em tese é um argumento que tem mérito - as pessoas gastam melhor o próprio dinheiro do que o dos outros. Só que os investimentos que S Paulo precisa são em transporte coletivo, educação, e segurança pública. Na prática, é difícil imaginar como o paulistano vai melhorar a qualidade de vida na cidade com mais dinheiro para comprar carro, ir ao restaurante, e reformar ou mudar de apartamento. Enquanto indivíduos e empresas não fizerem os gastos necessários para melhorar os serviços públicos na cidade, a alternativa é pagar impostos, mesmo que eficiência da prefeitura deixe a desejar.
Já o argumento dos vereadores da oposição consciente é razoável: eles não confiam na capacidade do partido que comanda a prefeitura gerir os recursos adicionais, e portanto votaram contra. É coerente, e fico satisfeito com o voto do meu vereador, Gilberto Natalini. Naturalmente os vereadores do PT discordam e votaram a favor. Fizeram papel de palhaço os eleitores que botaram na câmara uns representantes de partidecos sem eira nem beira tipo Pros e PP, que não são nem contra nem a favor de nada exceto ganhar uma boquinha. Conviver com esses eleitores é melhor que as alternativas, então continua valendo a recomendação de voto distrital. Daí talvez até os mais imbecis se lembrem de quem elegeram.
Os argumentos contrários são mais nebulosos. Um é que existe muita corrupção na cidade e portanto não devemos pagar os impostos. Que existe desperdício e corrupção não há dúvida; essa semana mesmo a prefeitura desbaratou uma quadrilha que as administrações anteriores não tinham conseguido reprimir. Financiar inadequadamente a prefeitura, e assim piorar a qualidade dos serviços públicos, seria uma resposta contraproducente, consistindo em punir o cidadão pelos crimes e erros dos bandidos.
Outros dizem que o aumento é abusivo. Respeitando a lógica do mercado e da livre-iniciativa, ao aumentos dos valores dos imóveis indicam que S Paulo está trazendo benefícios econômicos crescentes para seus moradores. Por outro lado, o ponto fraco da cidade são os serviços públicos, que são financiados com dinheiro de impostos. Então o argumento de que o aumento é abusivo fica prejudicado.
Finalmente podem dizer que é melhor deixar o dinheiro no bolso do contribuinte do que dar para a ineficiente prefeitura. Em tese é um argumento que tem mérito - as pessoas gastam melhor o próprio dinheiro do que o dos outros. Só que os investimentos que S Paulo precisa são em transporte coletivo, educação, e segurança pública. Na prática, é difícil imaginar como o paulistano vai melhorar a qualidade de vida na cidade com mais dinheiro para comprar carro, ir ao restaurante, e reformar ou mudar de apartamento. Enquanto indivíduos e empresas não fizerem os gastos necessários para melhorar os serviços públicos na cidade, a alternativa é pagar impostos, mesmo que eficiência da prefeitura deixe a desejar.
Já o argumento dos vereadores da oposição consciente é razoável: eles não confiam na capacidade do partido que comanda a prefeitura gerir os recursos adicionais, e portanto votaram contra. É coerente, e fico satisfeito com o voto do meu vereador, Gilberto Natalini. Naturalmente os vereadores do PT discordam e votaram a favor. Fizeram papel de palhaço os eleitores que botaram na câmara uns representantes de partidecos sem eira nem beira tipo Pros e PP, que não são nem contra nem a favor de nada exceto ganhar uma boquinha. Conviver com esses eleitores é melhor que as alternativas, então continua valendo a recomendação de voto distrital. Daí talvez até os mais imbecis se lembrem de quem elegeram.
28 outubro 2013
Não está homologado
O Banco do Brasil informa que o OS X Mavericks "não está homologado" para uso do BB via internet. Informa, mas não pela internet - o pessoal que atende o telefone do suporte técnico é prestativo e bem educado, mas não têm nada a dizer.
O software já está disponível para desenvolvedores desde junho. Tempo mais que suficiente para fazer o que era necessário - praticamente nada, porque o sistema do banco roda em Java e não precisa ser recompilado. A única insegurança é que o usuário tem que permitir ao banco executar programas em sua máquina de maneira insegura. Ou seja, o sistema funciona igual, o risco não mudou, e a ameaça continua sendo do banco contra o cliente. Mesmo assim, eles não deixam usar. Mais do que mera falta de respeito pelo cliente, são os donos do poder atrapalhando a vida do cidadão.
É uma falta de respeito do Brasil para consigo próprio.
O software já está disponível para desenvolvedores desde junho. Tempo mais que suficiente para fazer o que era necessário - praticamente nada, porque o sistema do banco roda em Java e não precisa ser recompilado. A única insegurança é que o usuário tem que permitir ao banco executar programas em sua máquina de maneira insegura. Ou seja, o sistema funciona igual, o risco não mudou, e a ameaça continua sendo do banco contra o cliente. Mesmo assim, eles não deixam usar. Mais do que mera falta de respeito pelo cliente, são os donos do poder atrapalhando a vida do cidadão.
É uma falta de respeito do Brasil para consigo próprio.
26 outubro 2013
Se há alguém a quem ainda não ofendi, peço desculpas.
Para quem perguntou de onde vem: dizem que Brahms despediu-se de uma festa ou cerimônia com essa frase. Improvável que tenha sido ele o originador da frase, mas é coerente com a imagem carrancuda que ele se divertia em projetar - apesar de ser uma personalidade com outros lados bem diversos.
Como disse Stravinsky, artistas menores imitam, grandes artistas roubam (na verdade nem ele, nem Picasso, mas ambos poderiam ter dito). Então a frase é do Brahms. Não me acusem de tentar roubar.
25 outubro 2013
Acho que já citei o professor Waneck aqui
Mas como não sei se alguém chegou a ler, vou dar uma de velho caseiro e repetir:
São aqueles que não sabem álgebra. Entraram na universidade pela porta dos fundos, sem passar no vestibular. Perante os físicos, são técnicos; perante os engenheiros, são cientistas. São os camaleões do mundo moderno: mudam de cor, para não serem devorados.
22 outubro 2013
Proposta de currículo de engenharia elétrica para a Poli baseado na EC3 e inspirado na Caltech
Prezados colegas,
Atendendo a vários pedidos, escrevi abaixo uma proposta de currículo para os 3 primeiros anos de engenharia elétrica. As bases da proposta são as seguintes:
1 - A estrutura curricular da EC3 já aprovada pela Escola Politécnica;
2 - O currículo da Caltech;
3 - Os conteúdos tradicionalmente enfatizados em engenharia elétrica na Poli.
Porque o currículo da Caltech? Recentemente está em moda prestar atenção aos rankings de universidades globais. A Caltech é a número um. Naturalmente os rankings relativos não indicam uma diferença de absoluta e precisa de qualidade, e devem ser tomados apenas como um indicativo impreciso. Mas de qualquer forma o curso da Caltech é excelente, e o currículo é representativo das melhores universidades americanas, que costumam dominar as posições de destaque em todas as avaliações. Assim sendo, se vamos nos inspirar em alguma outra instituição, que seja numa das melhores do mundo.
A estrutura curricular da EC3 já aprovada pela Congregação da Poli e um currículo semelhante ao da Caltech são perfeitamente compatíveis. É necessário tomar alguns cuidados:
1 - o curso da Caltech é quadrimestral, e não semestral;
2 - nossos currículos incluem mais horas em sala de aula (ao menos para os alunos com assiduidade próxima a 100%, como costuma ser o hábito nas universidades americanas, até porque a carga horária não é excessiva);
3 - nossos laboratórios geralmente são organizados como disciplinas separadas dos cursos dados em salas de aula; e
4 - algumas disciplinas são estudadas mais a fundo aqui na Poli (por exemplo, conversão eletromecânica de energia e guias de ondas).
O currículo proposto abaixo contempla essas diferenças de ênfase e de procedimentos, sem se afastar das diretrizes da EC3 adotadas pela Escola Politécnica.
Por outro lado, o currículo atualmente em discussão para a engenharia elétrica não é compatível nem com a EC3, nem com as diretrizes da Caltech. O motivo é o excesso de disciplinas obrigatórias, chegando a 8 na maioria dos semestres. Isso dificulta, e na maioria dos semestres impede, que o aluno busque disciplinas optativas fora da grade horária, o que é um dos pontos fundamentais da EC3. Mais do que obter inspiração numa prática bem sucedida e mundialmente reconhecida, o maior cuidado na elaboração da proposta abaixo foi eliminar os vícios da proposta atualmente sob discussão na elétrica, a saber:
1 - excesso de carga horária, restringindo a dedicação dos estudantes a cada assunto;
2 - excesso de detalhamento de conteúdos, que inevitavelmente vão se tornar repetitivos;
3 - falta de disciplinas de projetos;
4 - falta de espaço para eletivas dentro da engenharia elétrica ou em outras áreas;
5 - inflexibilidade da grade, que dificulta o desenvolvimento da diversidade de interesses e habilidades entre o corpo discente;
6 - atenção excessiva ao ensino em sala de aula como forma exclusiva de transmissão de conhecimentos, com prejuízo de outras formas de aprendizado igualmente válidas e quiçá mais eficazes; e
7 - inevitáveis problemas operacionais que irão surgir quando tentarmos montar grades horárias com excesso de disciplinas.
Na esperança de contribuir positivamente para o futuro do ensino na Escola Politécnica, cordialmente submeto o esboço de currículo abaixo para a apreciação dos colegas.
Grato pela atenção, Felipe Pait
Atendendo a vários pedidos, escrevi abaixo uma proposta de currículo para os 3 primeiros anos de engenharia elétrica. As bases da proposta são as seguintes:
1 - A estrutura curricular da EC3 já aprovada pela Escola Politécnica;
2 - O currículo da Caltech;
3 - Os conteúdos tradicionalmente enfatizados em engenharia elétrica na Poli.
Porque o currículo da Caltech? Recentemente está em moda prestar atenção aos rankings de universidades globais. A Caltech é a número um. Naturalmente os rankings relativos não indicam uma diferença de absoluta e precisa de qualidade, e devem ser tomados apenas como um indicativo impreciso. Mas de qualquer forma o curso da Caltech é excelente, e o currículo é representativo das melhores universidades americanas, que costumam dominar as posições de destaque em todas as avaliações. Assim sendo, se vamos nos inspirar em alguma outra instituição, que seja numa das melhores do mundo.
A estrutura curricular da EC3 já aprovada pela Congregação da Poli e um currículo semelhante ao da Caltech são perfeitamente compatíveis. É necessário tomar alguns cuidados:
1 - o curso da Caltech é quadrimestral, e não semestral;
2 - nossos currículos incluem mais horas em sala de aula (ao menos para os alunos com assiduidade próxima a 100%, como costuma ser o hábito nas universidades americanas, até porque a carga horária não é excessiva);
3 - nossos laboratórios geralmente são organizados como disciplinas separadas dos cursos dados em salas de aula; e
4 - algumas disciplinas são estudadas mais a fundo aqui na Poli (por exemplo, conversão eletromecânica de energia e guias de ondas).
O currículo proposto abaixo contempla essas diferenças de ênfase e de procedimentos, sem se afastar das diretrizes da EC3 adotadas pela Escola Politécnica.
Por outro lado, o currículo atualmente em discussão para a engenharia elétrica não é compatível nem com a EC3, nem com as diretrizes da Caltech. O motivo é o excesso de disciplinas obrigatórias, chegando a 8 na maioria dos semestres. Isso dificulta, e na maioria dos semestres impede, que o aluno busque disciplinas optativas fora da grade horária, o que é um dos pontos fundamentais da EC3. Mais do que obter inspiração numa prática bem sucedida e mundialmente reconhecida, o maior cuidado na elaboração da proposta abaixo foi eliminar os vícios da proposta atualmente sob discussão na elétrica, a saber:
1 - excesso de carga horária, restringindo a dedicação dos estudantes a cada assunto;
2 - excesso de detalhamento de conteúdos, que inevitavelmente vão se tornar repetitivos;
3 - falta de disciplinas de projetos;
4 - falta de espaço para eletivas dentro da engenharia elétrica ou em outras áreas;
5 - inflexibilidade da grade, que dificulta o desenvolvimento da diversidade de interesses e habilidades entre o corpo discente;
6 - atenção excessiva ao ensino em sala de aula como forma exclusiva de transmissão de conhecimentos, com prejuízo de outras formas de aprendizado igualmente válidas e quiçá mais eficazes; e
7 - inevitáveis problemas operacionais que irão surgir quando tentarmos montar grades horárias com excesso de disciplinas.
Na esperança de contribuir positivamente para o futuro do ensino na Escola Politécnica, cordialmente submeto o esboço de currículo abaixo para a apreciação dos colegas.
Grato pela atenção, Felipe Pait
19 outubro 2013
O armarinho fechou
A avó me levava para comprar agulha e linha.
Um dia desses, voltei ao armarinho.
Caía, lembro, uma garoa de antanho.
Agora também vendia brinquedos.
Comprei um baralho de mico preto,
Pedi um bloco de batalha naval.
Comprar o quê, um dedal?
Já tenho os tchotchkes da vó.
O neto da dona ficou com o armarinho.
Ninguém mais compra botões.
Por isso, encerrar o negócio?
Ficou de procurar a batalha naval.
Acho que não encontrou.
Um dia desses, voltei ao armarinho.
Caía, lembro, uma garoa de antanho.
Agora também vendia brinquedos.
Comprei um baralho de mico preto,
Pedi um bloco de batalha naval.
Comprar o quê, um dedal?
Já tenho os tchotchkes da vó.
O neto da dona ficou com o armarinho.
Ninguém mais compra botões.
Por isso, encerrar o negócio?
Ficou de procurar a batalha naval.
Acho que não encontrou.
18 outubro 2013
Rastreamento de ônibus
A Sptrans oferece um sistema de rastreamento de ônibus pela internet, Olhovivo. Sistemas desse tipo podem melhorar muito o transporte coletivo, e são usados com sucesso em lugares com transporte ainda mais problemático do que S Paulo. Saber onde o ônibus está economiza tempo e facilita muito o uso da condução. Esse sistema merece ser mais divulgado!
Mas ainda há problemas. O acesso ao sistema, através de uma página da rede pesada, tem bugs e é lento e irregular. A forma mais útil de acesso seria através de app para celular, mas as que testei não facilitam significativamente o uso.
Um problema mais sério é que o sistema nem sempre funciona. A atualização é esporádica; enquanto estava tentando usar o sistema ficou mais de meia hora sem atualizar. As informações sobre localização e horários de ônibus estavam erradas. Pior, o Olhovivo exibiu informações fictícias sobre veículos inexistentes.
(Ou isso, ou então a internet do celular TIM pifou ao mesmo tempo em que vários carros da linha quebraram no meio do trajeto. Na dúvida, escrevi o texto dia 27 de setembro mas não postei antes de confirmar. Parte dos problemas foram causados pelo cancelamento da linha Metrô V Madalena - Rio Pequeno, de propriedade da falida viação Oak Tree. Me parece que o dia 27 de setembro foi o último da operação da linha, que aparentemente foi cancelada devido ao excesso de passageiros. Hoje testei novamente e constatei os mesmo problemas - acesso lento e irregular, interface problemática e bugada, informações errôneas. Por sorte um colega passou de carro pelo ponto, me viu, e ofereceu carona. Agradeço, X!)
Mas ainda há problemas. O acesso ao sistema, através de uma página da rede pesada, tem bugs e é lento e irregular. A forma mais útil de acesso seria através de app para celular, mas as que testei não facilitam significativamente o uso.
Um problema mais sério é que o sistema nem sempre funciona. A atualização é esporádica; enquanto estava tentando usar o sistema ficou mais de meia hora sem atualizar. As informações sobre localização e horários de ônibus estavam erradas. Pior, o Olhovivo exibiu informações fictícias sobre veículos inexistentes.
(Ou isso, ou então a internet do celular TIM pifou ao mesmo tempo em que vários carros da linha quebraram no meio do trajeto. Na dúvida, escrevi o texto dia 27 de setembro mas não postei antes de confirmar. Parte dos problemas foram causados pelo cancelamento da linha Metrô V Madalena - Rio Pequeno, de propriedade da falida viação Oak Tree. Me parece que o dia 27 de setembro foi o último da operação da linha, que aparentemente foi cancelada devido ao excesso de passageiros. Hoje testei novamente e constatei os mesmo problemas - acesso lento e irregular, interface problemática e bugada, informações errôneas. Por sorte um colega passou de carro pelo ponto, me viu, e ofereceu carona. Agradeço, X!)
15 outubro 2013
Complete and definitive appreciation of Fama's work by Mandelbrot
The complete and definitive appreciation of Fama's now Nobel Prize-winning contribution was given by Mandelbrot in his memoir "The Fractalist", page 226. It reads:
This was the same Fama who, in 1964, submitted a thesis subtitled "A Test of Mandelbrot's Stable Paretian Hypothesis." He believed that successive price changes were statistically independent. I had to convince him that I had never claimed independence and that he was in fact testing a much weaker hypothesis-the one that was first expounded in Bachelier's 1900 Ph.D. thesis and had become known as the martingale hypothesis. Fama conceded, corrected his earlier assumptions, replaced the mysterious label "martingale" with "efficient market," and built his career on becoming its champion. This hypothesis is convenient indeed, and it is, on occasion, useful as a first approximation or illustration. But on more careful examination, it failed to be verified-and for being its herald, Fama should receive neither blame nor credit.
14 outubro 2013
Not even wrong
The work of Lars Hansen, who just won a Noble prize, is absolutely ridiculous. What he does it take the well-known theory of linear control systems, strip it of the understanding that control engineers have, and use it in economics, where it does not apply. This method gives nonsensical predictions, because the crucial economic phenomena are nonlinear in essence.
For comparison with the other winners, Shiller's work is useful and good. Fama's at least achieves wrongness. I understand that he does that fluently.
For comparison with the other winners, Shiller's work is useful and good. Fama's at least achieves wrongness. I understand that he does that fluently.
13 outubro 2013
Blog gulaguista
Alguém indicou um artigo num blog gulaguista chamado DCM. Botei um comentário dizendo que achava bom saber que os leitores do blog eram a favor de polícia política para crimes de opinião. Daí o dono do blog caiu em cima de mim, e me proibiu de responder as críticas dele. Meus comentários não são publicados e não tenho permissão de postar.
Por exemplo, escrevi que o blog insulta os muçulmanos xiitas comparando eles com políticos de Brasília, mas o blogueiro cortou. Isso é bom para identificarmos mais um site de tendência fascista. Ainda bem que eles ainda não estão no poder!
Por exemplo, escrevi que o blog insulta os muçulmanos xiitas comparando eles com políticos de Brasília, mas o blogueiro cortou. Isso é bom para identificarmos mais um site de tendência fascista. Ainda bem que eles ainda não estão no poder!
Açaí
Degustação comparativa: Açaí + Guaraná Açaí Sport DeMarchi; e Açaí com Guaraná Tribal Açaí Orgânico Sambazon.
Parecem ser marcas de qualidade, facilmente encontráveis no Pão de Açúcar. Os ingredientes são semelhantes, o Tribal Açaí leva vantagem por conter menos ingredientes que só a indústria de alimentos sabe o que são e ninguém sabe que efeito têm. Se você por cautela ou ideologia evita produtos químicos com nome impronunciável, prefira a Sambazon, uma empresa nova californiana-brasileira.
O Açaí Sport tem um sabor mais forte de açaí, e uma consistência um pouquinho mais macia. É melhor para comer direto, por exemplo em cima de cereal granola. Ambos podem ser apreciados sem bater no liquidificador.
A informação nutricional deles é incompatível: as proporções de carboidratos, gordura, e proteínas são inconsistentes. Descontando a possibilidade remota de que algum dos aditivos tenha muita proteína ou gordura, ao menos um dos rótulos está errado. Já o conteúdo energético sugere que o Açaí Tribal contém mais água, o que é compatível com a análise feita usando os sofisticadíssimos sensores físicos e químicos da minha língua. (A contagem de calorias é uma superstição imbecil sem qualquer relação com o processo biológico de alimentação, mas serve para indicar, ou confirmar, o que entra numa comida industrial.)
Minha preferência é pelo produto da DeMarchi, tradicional indústria de alimentos paulista. Numa próxima oportunidade testo outras marcas.
12 outubro 2013
Greve recursiva
Como ocorre a cada primavera, os bancários passaram 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve...
Segundo o sindicato, para vencer a intransigência dos bancos foi fundamental a mobilização da categoria, que esse ano estava lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve...
Os objetivos da greve foram plenamente atingidos, com o pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve...
Segundo o sindicato, para vencer a intransigência dos bancos foi fundamental a mobilização da categoria, que esse ano estava lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve...
Os objetivos da greve foram plenamente atingidos, com o pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve lutando pelo pagamento dos 23 dias em greve...
O prefeito errou
Haddad errou ao suspender a inspeção ambiental veicular. A inspeção é uma questão de saúde pública, indispensável numa cidade como S Paulo, com tantos carros produzindo poluição e se envolvendo em acidentes. É uma atitude esperada no PT, partido que consistentemente privilegia os interesses da grande indústria, dos sindicatos, dos poluidores, e dos proprietários de automóveis em detrimento da população em geral. Com os resultados que estão aí parados no trânsito para qualquer um ver.
O fim da inspeção não vai ganhar eleitores entre a assim-chamada direita lacerdista, a mais lacrimosa quanto à infração de sua liberdade absoluta de empestear o ar e infernizar as ruas da nossa cidade. Mas vai atrair a simpatia do conservadorismo profundo, das classes pouco generosas que só têm pedestres, ciclistas, e sem-viatura - jovens, mulheres, e idosos - aos quais oprimir. Quem vai notar a desproporção entre homens e mulheres nos carros e nos ônibus? Certamente não a esquerda, porque o transporte individual é direito sagrado para os bacharéis independentemente de gênero, e a segregação de gênero no transporte é coisa de gente pequena.
A inspeção vai voltar - como mostra o exemplo de todos os países ricos que se respeitam - mas com atraso, qualidade inferior e custo muito maior. Pode anotar. A oposição do PT a tudo que não foi inventado por eles vai repetir o trabalho do Cristóvão Buarque, que destruiu tudo o que foi feito pelo ministro Paulo Renato na educação, e depois teve que ser refeito pelo próprio Fernando Haddad. A sorte do PT é que o Lula não se importava com educação mas teve o bom senso de não deixar o PT acabar com a bolsa escola criada no mesmo governo Fernando Henrique. Porque o Provão é tão indispensável para a educação como a inspeção é para a saúde - numa sociedade grande e complexa a liberdade individual tem que ser regulamentada quando causa danos excessivos ao bem estar coletivo - a liberdade de poluir o ar tanto como a liberdade de poluir as mentes dos universitários com diplomas cocô.
Vitória dos interesses estreitos do complexo militar-automobilístico, como a administração Cristóvão foi uma vitória do complexo cartorial-cursinhístico. De curta duração, mas com grandes prejuízos para a sociedade. Haddad errou ao prometer e errou novamente ao cumprir a promessa de campanha.
O fim da inspeção não vai ganhar eleitores entre a assim-chamada direita lacerdista, a mais lacrimosa quanto à infração de sua liberdade absoluta de empestear o ar e infernizar as ruas da nossa cidade. Mas vai atrair a simpatia do conservadorismo profundo, das classes pouco generosas que só têm pedestres, ciclistas, e sem-viatura - jovens, mulheres, e idosos - aos quais oprimir. Quem vai notar a desproporção entre homens e mulheres nos carros e nos ônibus? Certamente não a esquerda, porque o transporte individual é direito sagrado para os bacharéis independentemente de gênero, e a segregação de gênero no transporte é coisa de gente pequena.
A inspeção vai voltar - como mostra o exemplo de todos os países ricos que se respeitam - mas com atraso, qualidade inferior e custo muito maior. Pode anotar. A oposição do PT a tudo que não foi inventado por eles vai repetir o trabalho do Cristóvão Buarque, que destruiu tudo o que foi feito pelo ministro Paulo Renato na educação, e depois teve que ser refeito pelo próprio Fernando Haddad. A sorte do PT é que o Lula não se importava com educação mas teve o bom senso de não deixar o PT acabar com a bolsa escola criada no mesmo governo Fernando Henrique. Porque o Provão é tão indispensável para a educação como a inspeção é para a saúde - numa sociedade grande e complexa a liberdade individual tem que ser regulamentada quando causa danos excessivos ao bem estar coletivo - a liberdade de poluir o ar tanto como a liberdade de poluir as mentes dos universitários com diplomas cocô.
Vitória dos interesses estreitos do complexo militar-automobilístico, como a administração Cristóvão foi uma vitória do complexo cartorial-cursinhístico. De curta duração, mas com grandes prejuízos para a sociedade. Haddad errou ao prometer e errou novamente ao cumprir a promessa de campanha.
10 outubro 2013
Relatório de viagem a Ribeirão Preto
Estive na Usp em Ribeirão Preto dia 9 de outubro para apresentar poster no Simpósio Aprender com Cultura e Extensão. Não pedi afastamento publicado no diário oficial, como muitos dizem que seria necessário embora absurdo, afinal passei o dia no campus da própria universidade. Então não preciso fazer um relatório oficial que ninguém vai ler. No lugar escrevo esse relatório informal que você está lendo.
Os bolsistas não podiam ir por motivo de provas, e tive a escolha entre apresentar o trabalho e enviar um ofício justificando a ausência. Ofício, carimbo, reclamação, correção, tudo isso desperdiça esforços que poderiam ser melhor empregados. A Poli generosamente providenciou uma perua para levar os estudantes, e escolhi a alternativa que gastava menos tempo.
A viagem de ida e volta é longa. Não é muito eficiente realizar o evento num lugar distante de 90% da comunidade. Mas aproveitei para visitar a professora Elenice Mouro Varanda, que me mostrou o remanescente da floresta da Usp de Ribeirão. Um belo projeto de reflorestamento, que infelizmente foi vítima de um incêndio que destruiu uma boa parte das árvores. Não sei precisar quanto do dano pode ser atribuído ao azares da natureza, às mudanças climáticas regionais ligadas ao desmatamento e à monocultura no norte paulista, e ao aquecimento global que tem trazido invernos quentes e secos à região. Infelizmente os danos foram potencializados pela negligência dos prefeitos da Usp de Ribeirão, que apesar de repetidos avisos foram relapsos em tomar mesmo as medidas mais elementares para proteger o patrimônio público e ambiental contra os riscos do fogo. De alguma forma ou outra parte da floresta continua viva, embora a perda ambiental e científica tenha sido irreparável.
A apresentação dos posters correu bem. Estando lá, ajudei um pouco nas avaliações de trabalhos de outras unidades. Os que vi estavam muito bons, com alguns para além de excelentes. Parabéns a estudantes e orientadores em geral!
Sempre é uma boa oportunidade ouvir estudantes em uma situação informal, dentro de uma perua atravessando o interior de nosso estado. O que concluo?
Ainda faltam oportunidades para maior integração entre estudantes de diversas áreas. Existem as festas, que fazem parte da vida social mas não são eventos - como eu diria? - de conteúdo intelectual muito denso. Ações recomendadas: A universidade deveria se envolver mais em vez de deixar toda a integração entre estudantes a cargo das agremiações estudantis. Idealmente, essa integração deveria se fazer através do ensino e da pesquisa - temos que nos transformar numa universidade de fato, e deixar de pensar na graduação na Usp como um conjunto de cursos e departamentos não comunicantes. Uma maior presença de professores em eventos estudantis também me parece recomendável.
O apoio econômico aos estudantes ainda deixa a desejar. Alguns estudantes não recebem recursos suficientes da família - seja por absoluta falta de condições, seja por expectativas culturais de que ao chegarem na universidade deveriam se sustentar. Eles têm que procurar empregos, usando muito tempo que não fica disponível para os estudos. Para os politécnicos, a carga horária se torna excessiva. Ações recomendadas: A universidade deve apoiar mais os estudantes com bolsas e moradias dentro do campus, e a Poli deve pensar mais firmemente se o número de disciplinas em cada semestre é compatível com o bom aproveitamento dos estudos.
Em muitas disciplinas os estudantes percebem um descompasso entre as informações apresentadas em sala de aula, os conteúdos exigidos em provas, e a realidade da ciência e tecnologia. Eles usam as palavras "teoria", "exercícios", e "prática" para designar esses aspectos, mas ao meu ver não são termos adequados. O excesso de aulas "teóricas", por natureza pouco interativas, e de avaliações através de provas - muitas vezes provas sem consulta, na era do Google!!!!, tendem a afastar os estudantes das aulas e empurrá-los para as coleções de provas do anos anteriores e para estágios mesmo que de qualidade pedagógica duvidosa. Ações recomendadas: sermos mais criativos e flexíveis quanto a formas de trabalho em sala de aula e métodos de avaliação.
Os bolsistas não podiam ir por motivo de provas, e tive a escolha entre apresentar o trabalho e enviar um ofício justificando a ausência. Ofício, carimbo, reclamação, correção, tudo isso desperdiça esforços que poderiam ser melhor empregados. A Poli generosamente providenciou uma perua para levar os estudantes, e escolhi a alternativa que gastava menos tempo.
A viagem de ida e volta é longa. Não é muito eficiente realizar o evento num lugar distante de 90% da comunidade. Mas aproveitei para visitar a professora Elenice Mouro Varanda, que me mostrou o remanescente da floresta da Usp de Ribeirão. Um belo projeto de reflorestamento, que infelizmente foi vítima de um incêndio que destruiu uma boa parte das árvores. Não sei precisar quanto do dano pode ser atribuído ao azares da natureza, às mudanças climáticas regionais ligadas ao desmatamento e à monocultura no norte paulista, e ao aquecimento global que tem trazido invernos quentes e secos à região. Infelizmente os danos foram potencializados pela negligência dos prefeitos da Usp de Ribeirão, que apesar de repetidos avisos foram relapsos em tomar mesmo as medidas mais elementares para proteger o patrimônio público e ambiental contra os riscos do fogo. De alguma forma ou outra parte da floresta continua viva, embora a perda ambiental e científica tenha sido irreparável.
A apresentação dos posters correu bem. Estando lá, ajudei um pouco nas avaliações de trabalhos de outras unidades. Os que vi estavam muito bons, com alguns para além de excelentes. Parabéns a estudantes e orientadores em geral!
Sempre é uma boa oportunidade ouvir estudantes em uma situação informal, dentro de uma perua atravessando o interior de nosso estado. O que concluo?
Ainda faltam oportunidades para maior integração entre estudantes de diversas áreas. Existem as festas, que fazem parte da vida social mas não são eventos - como eu diria? - de conteúdo intelectual muito denso. Ações recomendadas: A universidade deveria se envolver mais em vez de deixar toda a integração entre estudantes a cargo das agremiações estudantis. Idealmente, essa integração deveria se fazer através do ensino e da pesquisa - temos que nos transformar numa universidade de fato, e deixar de pensar na graduação na Usp como um conjunto de cursos e departamentos não comunicantes. Uma maior presença de professores em eventos estudantis também me parece recomendável.
O apoio econômico aos estudantes ainda deixa a desejar. Alguns estudantes não recebem recursos suficientes da família - seja por absoluta falta de condições, seja por expectativas culturais de que ao chegarem na universidade deveriam se sustentar. Eles têm que procurar empregos, usando muito tempo que não fica disponível para os estudos. Para os politécnicos, a carga horária se torna excessiva. Ações recomendadas: A universidade deve apoiar mais os estudantes com bolsas e moradias dentro do campus, e a Poli deve pensar mais firmemente se o número de disciplinas em cada semestre é compatível com o bom aproveitamento dos estudos.
Em muitas disciplinas os estudantes percebem um descompasso entre as informações apresentadas em sala de aula, os conteúdos exigidos em provas, e a realidade da ciência e tecnologia. Eles usam as palavras "teoria", "exercícios", e "prática" para designar esses aspectos, mas ao meu ver não são termos adequados. O excesso de aulas "teóricas", por natureza pouco interativas, e de avaliações através de provas - muitas vezes provas sem consulta, na era do Google!!!!, tendem a afastar os estudantes das aulas e empurrá-los para as coleções de provas do anos anteriores e para estágios mesmo que de qualidade pedagógica duvidosa. Ações recomendadas: sermos mais criativos e flexíveis quanto a formas de trabalho em sala de aula e métodos de avaliação.
06 outubro 2013
O ovo
O ovo é o injustiçado da culinária. Para os vegetarianos, um produto de origem animal. Para os carnívoros, não chegou a estar vivo para ser morto, quase um derivado da soja. Barato, considerado comida de pobre. Fácil de preparar, fica para quem não tem serviçais. Sofreu um ataque rancoroso do ramo mais obscurantista da pseudo-ciência acadêmica, o nutricionismo. Daquela superstição cujo conceito fundamental, a "caloria", não traz a menor relação com a alimentação - que inventou a gordura vegetal hidrogenada para substituir a manteiga, a sacarina para acabar com o açúcar. Ovo é neutro, pareve, não é nem carne, nem leite, nem vegetal.
O ovo é saboroso, barato, e kosher.
O ovo é saboroso, barato, e kosher.
04 outubro 2013
Poleiro de orquestra
Não sei o que é mais inacreditável: a genialidade do Beethoven; o talento do Nelson Freire e da regente e músicos da orquestra do estado; ou pagar 14 réis pelo ingresso no melhor lugar do teatro meia hora antes do concerto.
É que a Sala S Paulo, na estação Sorocabana, tem um poleiro atrás da orquestra, no setor que eles chamam "coro". Você fica colado aos músicos, olhando para a regente, dá para acompanhar a partitura dos trombones. É o melhor lugar, quem como eu mal sabe tocar vitrola quase se convence que entende de música.
Os ingressos no poleiro custam 1/5 do preço, e mesmo assim não esgotam. Porque será? A explicação mais pedestre é falta de hábito dos frequentadores. Não é convincente: a sala já não é nova, e a diferença de preço seria suficiente para mudar os hábitos.
Uma explicação pseudocientífica seria a acústica. Verdade que o piano abre para o lado da frente, e os metais ficam amplificados para quem senta atrás. Mas Beethoven não carrega nos metais, no Prokofiev os trombones até ajudam, e a arte do Nelson Freire é maior que a tampa do piano. Improvável que muita gente note a diferença entre sentar num lado ou outro. Quem tem esse discernimento certamente vai preferir ver a orquestra do ponto de vista dos músicos.
Uma melhor explicação é social. O frequentador dos concertos quer ser visto; não quer entrar pela porta dos fundos, de serviço, sentar junto com os músicos, quasi-funcionários. E teme que a localização pouco usual seja menos prestigiosa, denuncie falta de sofisticação, talvez até por não confiar no próprio discernimento acústico.
A imagem da orquestra cercada pela audiência lembra a arquitetura de uma sinagoga sefaradi. Não considero provável que seja um receio atávico da inquisição que afasta o apreciador da boa música de uma barganha, mas nunca se sabe.
Fica a dica para quem não receia perder casta nem a acusação de cripto-judaísmo: vá ao concerto, sai mais barato que o cinema, e tem metrô.
03 outubro 2013
Roubaram as rodas do ônibus
Ou será que o fantasma do Quércia acabou com a linha Metrô V Madalena-Rio Pequeno, que me trazia para a Usp e estava sempre cheio? Fui olhar hoje de manhã, e o ponto sumiu. O site da Sptrans dá informações contraditórias e incorretas sobre a linha. A impressão é que foi cancelada sem aviso. Melhor, vim a pé. São só uns 30 minutos até entrar no campus.
Só que o transporte coletivo interno na Usp piorou muito em alguns aspectos, apesar do grande gasto em novos ônibus e linhas, ou até por causa dele. Devido ao trajeto longo, redundante, e irracional, os ônibus estão sempre cheios em alguns trechos e tem poucos usuários em outros. Vindo da ponte sobre o Rio Pinheiros, onde sobem muitos passageiros por causa da estação de trem do outro lado do rio, agora só há a opção da linha circular 1 - a linha circular 2 da Sptrans quando passa no ponto da estação tem sentido para fora Usp, e a linha circular 2 interna está com frequência e número de carros muito reduzida.
A lotação dos ônibus é desnecessária, porque é causada pelo mau traçado dos trajetos e não pelo excesso de passageiros. Para agravar o problema, o embarque e desembarque nos novos ônibus é muito lento, porque os passageiros precisam passar pelo chiqueirinho janista e pela catraca, mesmo que seja só para passar o cartão Usp que dá direito a passagem gratuita. Nos circulares internos antigos, inclusive nos poucos que ainda circulam, a entrada e saída é livre, tornando o embarque muito mais rápido. Os novos, devido aos atrasos no embarque, tendem a passar todos juntos, deixando longos intervalos sem serviço.
Quer dizer, para cobrar a passagem da meia dúzia de usuários que não é da Usp, torna-se necessário aumentar muito o número de ônibus para compensar o tempo perdido com o embarque.
Não adianta só gastar dinheiro público. É preciso melhor engenharia e mais competência do que estão sendo demonstrados na administração da universidade.
Só que o transporte coletivo interno na Usp piorou muito em alguns aspectos, apesar do grande gasto em novos ônibus e linhas, ou até por causa dele. Devido ao trajeto longo, redundante, e irracional, os ônibus estão sempre cheios em alguns trechos e tem poucos usuários em outros. Vindo da ponte sobre o Rio Pinheiros, onde sobem muitos passageiros por causa da estação de trem do outro lado do rio, agora só há a opção da linha circular 1 - a linha circular 2 da Sptrans quando passa no ponto da estação tem sentido para fora Usp, e a linha circular 2 interna está com frequência e número de carros muito reduzida.
A lotação dos ônibus é desnecessária, porque é causada pelo mau traçado dos trajetos e não pelo excesso de passageiros. Para agravar o problema, o embarque e desembarque nos novos ônibus é muito lento, porque os passageiros precisam passar pelo chiqueirinho janista e pela catraca, mesmo que seja só para passar o cartão Usp que dá direito a passagem gratuita. Nos circulares internos antigos, inclusive nos poucos que ainda circulam, a entrada e saída é livre, tornando o embarque muito mais rápido. Os novos, devido aos atrasos no embarque, tendem a passar todos juntos, deixando longos intervalos sem serviço.
Quer dizer, para cobrar a passagem da meia dúzia de usuários que não é da Usp, torna-se necessário aumentar muito o número de ônibus para compensar o tempo perdido com o embarque.
Não adianta só gastar dinheiro público. É preciso melhor engenharia e mais competência do que estão sendo demonstrados na administração da universidade.
01 outubro 2013
Imagine o PT com maioria no congresso e um presidente tucano
Para entender a paralisação do governo dos Estados Unidos: imagine o PT com maioria no congresso e um presidente tucano.
O que o PT faria? Possivelmente, diria "NÃO", até paralisar tudo. Porque isso não acontece no Brasil? Porque uma boa fração do congresso são partidos e políticos não-ideológicos, sem interesse em que as coisas deixem de funcionar. A turma leninista, do quanto pior melhor, é reduzida - setores do PT, os partidos mais à esquerda, e talvez algum grupo de direita.
Nos Estados Unidos, os leninistas controlam o Partido Republicano. A liderança do partido impede as votações - porque se o congresso votasse, as propostas do presidente passariam, com apoio do Partido Democrata e da parte patriota da oposição.
Pense nisso na próxima vez que alguém reclamar que os partidos no Brasil não são ideológicos.
O que o PT faria? Possivelmente, diria "NÃO", até paralisar tudo. Porque isso não acontece no Brasil? Porque uma boa fração do congresso são partidos e políticos não-ideológicos, sem interesse em que as coisas deixem de funcionar. A turma leninista, do quanto pior melhor, é reduzida - setores do PT, os partidos mais à esquerda, e talvez algum grupo de direita.
Nos Estados Unidos, os leninistas controlam o Partido Republicano. A liderança do partido impede as votações - porque se o congresso votasse, as propostas do presidente passariam, com apoio do Partido Democrata e da parte patriota da oposição.
Pense nisso na próxima vez que alguém reclamar que os partidos no Brasil não são ideológicos.
25 setembro 2013
Festival de falácias
Um dos piores artigos que li, sobre esse tema ou qq outro. Uma aula de como não argumentar, um bestiário de non-sequitur. Só que deu no NYTimes, e tem gente citando como se o artigo tivesse algum significado qualquer. Não tem.
Não estou falando do conteúdo, mas da argumentação, que é fraquíssima e inaceitável num debate sério. Vale a pena analisar para expor os erros. Comentários abaixo, cada um seguindo citação de parte de cada parágrafo.
"THE last three decades are littered with the carcasses ... a long line of well-meaning American diplomats "
Hipérbole vazia.
"True believers in the two-state solution see absolutely no hope elsewhere. "
Provavelmente porque não há. A conferir.
"It’s like 1975 all over again, when the Spanish dictator Francisco Franco fell into a coma. "
Irrelevante para a discussão.
"True, some comas miraculously end."
Vazio e irrelevante para o assunto sob discussão.
"Strong Islamist trends make a fundamentalist Palestine more likely than a small state under a secular government. The disappearance of Israel as a Zionist project, "
Afirmações fortes, sem embasamento. Talvez sejam verdades; seria necessário argumentar.
"All sides have reasons to cling to this illusion. "
Dependente da suposição, não fundamentada, de que é uma ilusão.
"seems to reflect the sentiments of the Jewish Israeli majority ... camouflages relentless efforts to expand Israel’s territory into the West Bank."
Afirmação correta, seguida de acusação de que o sentimento é falso, esta sem embasamento.
"American politicians need the two-state slogan "
Dependente de que é apenas um slogan.
"Finally, the “peace process” industry "
Insinuação maldosa.
"the idea of two states between the Jordan River and the Mediterranean Sea all but disappeared from public consciousness between 1948 and 1967."
Será? Mesmo com esse hiato, talvez imaginário, de 19 anos, é uma ideia duradoura.
"But failures of leadership in the face of tremendous pressures "
Correto, mas milita contra o argumento. Falhas de liderança teriam dado resultados ruins com outras alternativas.
"Those who assume that Israel will always exist as a Zionist project should consider how quickly the Soviet, Pahlavi Iranian, apartheid South African, Baathist Iraqi and Yugoslavian states unraveled, "
Comparações irrelevantes, e que confundem nação com regime político.
"In all these cases, presumptions about what was “impossible” "
Qualquer regime muda inesperadamente. Outros permanecem. Lição para o caso de Israel em particular: nenhuma.
"JUST as a balloon filled gradually with air bursts "
Raciocínio por metáfora. Argumento imbecil.
"Britain ruled Ireland for centuries, ... until the establishment of an independent Ireland. "
Por analogia, 2 estados é razoável.
"France ruled Algeria for 130 years ... in 1959, Algeria soon became independent, "
Novamente, o exemplo destrói o argumento do autor.
"Within a few years, both the Soviet Union and the Communist regime were gone."
Irrelevante, e mais uma vez confunde nação com governo.
"as irrational as rearranging deck chairs on the Titanic "
Raciocínio por metáforas mais uma vez. Não dava para usar uma falácia nova?
"The two-state slogan now serves as a comforting blindfold of entirely contradictory fantasies. "
Diplomacia serve para conciliar posições opostas. Desqualificar a diplomacia usando palavras com sentido carregado (fantasia, slogan, blindfold) não é válido.
"We are engaged in negotiations to nowhere. "
Como sabemos disso, exceto por ser uma afirmação do autor? Achismo puro.
"I was a 30-year-old assistant professor, on leave from Dartmouth at the State Department’... It was clear to me that "
O que isso mostra?
"I was summoned to the office of a high-ranking diplomat, who was then one of the State Department’s most powerful advocates for the negotiations."
Apelo à autoridade, falácia elementar.
"“Are you,” he asked me, “personally so sure of your analysis “Yes, sir,” I answered, “I am.”"
Isso é uma análise?
"Had America ... then it might .. It could have ... We could have had "
Coulda woulda oughta mighta hafta. Argumento contrafactual. Irrelevante.
"negotiations are phony; "
Só temos a afirmação do autor para confiar.
"The end of the 1967 Green Line as a demarcation of potential Israeli "
O que a linha do armistício de 1948, que durou 19 anos, tem de tão fundamental? O artigo não explica.
"Israel may no longer exist as the Jewish and democratic vision ... may not ... a real Palestinian state. ... ruthless oppression, mass mobilization, riots, brutality, terror, "
Parece bastante ruim, essa alternativa que ele prefere.
"Israel’s ... nuclear weapons arsenal "
Irrelevante para o tema do artigo.
"the chimera of a negotiated two-state solution ... the two-state-fantasy blindfolds "
Mais uma vez, tentando desqualificar o argumento usando xingamentos.
"...secular Palestinians in Israel and the West Bank could ally with Tel Aviv’s post-Zionists, non-Jewish Russian-speaking immigrants, foreign workers and global-village Israeli entrepreneurs. "
Agora quem está se alongando em fantasias é o autor.
"It remains possible ... But the pretense that negotiations under the slogan ...a single state might ... avoiding truly catastrophic"
O artigo finaliza com a mesma combinação de insinuação, achismo, e contradições. Paro aqui.
Não estou falando do conteúdo, mas da argumentação, que é fraquíssima e inaceitável num debate sério. Vale a pena analisar para expor os erros. Comentários abaixo, cada um seguindo citação de parte de cada parágrafo.
"THE last three decades are littered with the carcasses ... a long line of well-meaning American diplomats "
Hipérbole vazia.
"True believers in the two-state solution see absolutely no hope elsewhere. "
Provavelmente porque não há. A conferir.
"It’s like 1975 all over again, when the Spanish dictator Francisco Franco fell into a coma. "
Irrelevante para a discussão.
"True, some comas miraculously end."
Vazio e irrelevante para o assunto sob discussão.
"Strong Islamist trends make a fundamentalist Palestine more likely than a small state under a secular government. The disappearance of Israel as a Zionist project, "
Afirmações fortes, sem embasamento. Talvez sejam verdades; seria necessário argumentar.
"All sides have reasons to cling to this illusion. "
Dependente da suposição, não fundamentada, de que é uma ilusão.
"seems to reflect the sentiments of the Jewish Israeli majority ... camouflages relentless efforts to expand Israel’s territory into the West Bank."
Afirmação correta, seguida de acusação de que o sentimento é falso, esta sem embasamento.
"American politicians need the two-state slogan "
Dependente de que é apenas um slogan.
"Finally, the “peace process” industry "
Insinuação maldosa.
"the idea of two states between the Jordan River and the Mediterranean Sea all but disappeared from public consciousness between 1948 and 1967."
Será? Mesmo com esse hiato, talvez imaginário, de 19 anos, é uma ideia duradoura.
"But failures of leadership in the face of tremendous pressures "
Correto, mas milita contra o argumento. Falhas de liderança teriam dado resultados ruins com outras alternativas.
"Those who assume that Israel will always exist as a Zionist project should consider how quickly the Soviet, Pahlavi Iranian, apartheid South African, Baathist Iraqi and Yugoslavian states unraveled, "
Comparações irrelevantes, e que confundem nação com regime político.
"In all these cases, presumptions about what was “impossible” "
Qualquer regime muda inesperadamente. Outros permanecem. Lição para o caso de Israel em particular: nenhuma.
"JUST as a balloon filled gradually with air bursts "
Raciocínio por metáfora. Argumento imbecil.
"Britain ruled Ireland for centuries, ... until the establishment of an independent Ireland. "
Por analogia, 2 estados é razoável.
"France ruled Algeria for 130 years ... in 1959, Algeria soon became independent, "
Novamente, o exemplo destrói o argumento do autor.
"Within a few years, both the Soviet Union and the Communist regime were gone."
Irrelevante, e mais uma vez confunde nação com governo.
"as irrational as rearranging deck chairs on the Titanic "
Raciocínio por metáforas mais uma vez. Não dava para usar uma falácia nova?
"The two-state slogan now serves as a comforting blindfold of entirely contradictory fantasies. "
Diplomacia serve para conciliar posições opostas. Desqualificar a diplomacia usando palavras com sentido carregado (fantasia, slogan, blindfold) não é válido.
"We are engaged in negotiations to nowhere. "
Como sabemos disso, exceto por ser uma afirmação do autor? Achismo puro.
"I was a 30-year-old assistant professor, on leave from Dartmouth at the State Department’... It was clear to me that "
O que isso mostra?
"I was summoned to the office of a high-ranking diplomat, who was then one of the State Department’s most powerful advocates for the negotiations."
Apelo à autoridade, falácia elementar.
"“Are you,” he asked me, “personally so sure of your analysis “Yes, sir,” I answered, “I am.”"
Isso é uma análise?
"Had America ... then it might .. It could have ... We could have had "
Coulda woulda oughta mighta hafta. Argumento contrafactual. Irrelevante.
"negotiations are phony; "
Só temos a afirmação do autor para confiar.
"The end of the 1967 Green Line as a demarcation of potential Israeli "
O que a linha do armistício de 1948, que durou 19 anos, tem de tão fundamental? O artigo não explica.
"Israel may no longer exist as the Jewish and democratic vision ... may not ... a real Palestinian state. ... ruthless oppression, mass mobilization, riots, brutality, terror, "
Parece bastante ruim, essa alternativa que ele prefere.
"Israel’s ... nuclear weapons arsenal "
Irrelevante para o tema do artigo.
"the chimera of a negotiated two-state solution ... the two-state-fantasy blindfolds "
Mais uma vez, tentando desqualificar o argumento usando xingamentos.
"...secular Palestinians in Israel and the West Bank could ally with Tel Aviv’s post-Zionists, non-Jewish Russian-speaking immigrants, foreign workers and global-village Israeli entrepreneurs. "
Agora quem está se alongando em fantasias é o autor.
"It remains possible ... But the pretense that negotiations under the slogan ...a single state might ... avoiding truly catastrophic"
O artigo finaliza com a mesma combinação de insinuação, achismo, e contradições. Paro aqui.
20 setembro 2013
Debate dos candidatos a reitor da Usp
Entre aula e reunião, assisti uma parte do debate na Poli. Impressões das falas que ouvi:
Só pude assistir pouco da fala da professora Maria Arminda. A parte que ouvi, via IPTV, foi uma discussão acadêmica sobre a estrutura do poder central na universidade, especialmente sobre escolha de nomes para os altos cargos. O auto-conhecimento é importante para a universidade, mas dentro dela o processo de eleição é um assunto menor, e as implicações da parte que ouvi para as ações da reitoria não ficaram claras. (Adicionalmente, não me parece que o poder na Usp siga a fria razão de estado da burocra weberiana, nem a tirania absurda da burocra kafkiana. O referencial teórico apropriado é a ação mais ou menos lógica do estamento descrito por Faoro, somado à cordialidade brasileira entre membros e grupos de donos do poder.)
O professor Hélio Cruz é o que fala melhor e mais claramente. Só que a preocupação dele é essencialmente administrativa e de continuação das políticas gerenciais atuais. Falou muito pouco sobre ensino e pesquisa. Alíneas de manutenção predial podem ser importantes, mas é difícil sentir entusiasmo quando as atividades fundamentais da universidade não são mencionadas.
Não gostei da apresentação do professor Zago. Foram diversos pontos pouco específicos, generalidades mais ou menos consensuais, e também com excesso de ênfase em temas periféricos. Reforma disso, planos daquilo, estrutura de poder, melhorias, aperfeiçoamentos, qualidade, muitas palavras chave cobrindo quase todos os temas, mas sem priorizar prioridades prioritárias. A forma de discurso dele foi combativa, quase agressiva com dedo em riste como político de novela de televisão, só que situacionista, no conteúdo pouco crítica, a favor do status quo.
Não ficaram muito claras, na parte que consegui assistir, quais as propostas do professor Vahan.
O professor Cardoso enfatizou a importância do ensino de graduação, e especialmente da integração e multidisciplinaridade. É a ênfase correta. Como ele expôs, quem quer fazer pesquisa tem liberdade e recursos, mas o ensino sofre muito com barreiras impostas por institutos e departamentos. Ele não entrou em excesso de detalhes sobre a administração, mas reforçou que é indispensável mudança vigorosa para fazer a universidade funcionar. Só dele e de mais ninguém ouvi qualquer crítica à administração atual, na qual o professor Cardoso vê falta de transparência e excesso de centralização.
O ponto de vista do professor Cardoso foi o mais generoso, e mais relevante para a comunidade universitária.
Só pude assistir pouco da fala da professora Maria Arminda. A parte que ouvi, via IPTV, foi uma discussão acadêmica sobre a estrutura do poder central na universidade, especialmente sobre escolha de nomes para os altos cargos. O auto-conhecimento é importante para a universidade, mas dentro dela o processo de eleição é um assunto menor, e as implicações da parte que ouvi para as ações da reitoria não ficaram claras. (Adicionalmente, não me parece que o poder na Usp siga a fria razão de estado da burocra weberiana, nem a tirania absurda da burocra kafkiana. O referencial teórico apropriado é a ação mais ou menos lógica do estamento descrito por Faoro, somado à cordialidade brasileira entre membros e grupos de donos do poder.)
O professor Hélio Cruz é o que fala melhor e mais claramente. Só que a preocupação dele é essencialmente administrativa e de continuação das políticas gerenciais atuais. Falou muito pouco sobre ensino e pesquisa. Alíneas de manutenção predial podem ser importantes, mas é difícil sentir entusiasmo quando as atividades fundamentais da universidade não são mencionadas.
Não ficaram muito claras, na parte que consegui assistir, quais as propostas do professor Vahan.
O professor Cardoso enfatizou a importância do ensino de graduação, e especialmente da integração e multidisciplinaridade. É a ênfase correta. Como ele expôs, quem quer fazer pesquisa tem liberdade e recursos, mas o ensino sofre muito com barreiras impostas por institutos e departamentos. Ele não entrou em excesso de detalhes sobre a administração, mas reforçou que é indispensável mudança vigorosa para fazer a universidade funcionar. Só dele e de mais ninguém ouvi qualquer crítica à administração atual, na qual o professor Cardoso vê falta de transparência e excesso de centralização.
O ponto de vista do professor Cardoso foi o mais generoso, e mais relevante para a comunidade universitária.
18 setembro 2013
Currículo de engenharia elétrica na Poli, 1
Em todas as provas que dou o uso de calculadoras, computadores, e internet é livre, bem como todas as formas de consulta. É uma decisão minha de alguns anos atrás, mas não exatamente uma política nova: talvez eu tenha dado uma prova sem consulta antes da www chegar ao Brasil, mas não lembro mais.
http://fmpait.blogspot.com.br/2013/08/uso-da-internet-livre-em-provas.html
Quanto às optativas, o problema que criamos é que a elétrica está prevendo 8 disciplinas obrigatórias por semestre nos 3 primeiros anos. Isso foi atingido sem romper o limite de 28 horas de aula semanais através de uma engenharia de grade horária que criou disciplinas com 2 ou 3 créditos. Mas como os alunos sabem cada disciplina é uma disciplina, com suas exigências, provas, e matéria. Vai sobrar muito pouco espaço mental ou tempo de estudo para optativas, para matérias que relacionam diferentes áreas da Poli, ou matérias que estimulam a criatividade - Práticas II por exemplo será eliminada.
A implementação proposta da EC3 na elétrica se choca de frente com a proposta da EC3. Essa em grande parte me parece coincidir com o desejo dos alunos conforme expresso em sua mensagem. Os únicos argumentos que ouvi a favor da implementação da EC3 proposta para a elétrica são os seguintes: 1 - ela atende aos interesses dos departamentos e dos laboratórios de ocuparem espaço na carga horária dos alunos; 2 - a proposta já foi aprovada e portanto não pode ser modificada.
Esses argumentos são muito fracos. Eu acho que a implementação da EC3 proposta para os 3 primeiros anos de engenharia elétrica é um desastre completo e que portanto ela deveria ser abandonada em favor da proposta original da EC3: a cada semestre 7 matérias de 4 créditos cada, sendo uma optativa livre a partir do 2o semestre. É necessário reconhecer que as discussões na elétrica criaram uma monstruosidade e jogar fora o resultado, eliminando a proliferação de matérias e detalhamento de conteúdos que vão inevitavelmente ter resultados contraproducentes. Um problema prático adicional é que as meias disciplinas e as disciplinas com 3/4 de carga horária vão tornar os horários individuais de estudantes que repetirem alguma matérias ou tentarem fazer alguma optativa um completo pesadelo.
http://fmpait.blogspot.com.br/2013/05/horarios-na-poli.html
Estou respondendo a todos por desencargo de consciência: assim como a implementação da EC3 está sendo encaminhada na elétrica o curso vai ser muito problemático e pouco atraente, e não vai satisfazer os anseios e demandas dos estudantes, mesmo com os melhores esforços dos professores responsáveis por cada disciplina. Se as coisas forem realmente feitas da forma como estão sendo encaminhadas, não quero ter na minha consciência a culpa de não ter dado minha opinião, seja por timidez ou por receio de ofender alguém. Posso não ter tido competência para expor meus argumentos de forma convincente aos colegas, mas não assumo a culpa da omissão, indiferença e indolência.
(...)
Verdade, as discussões foram abertas e o processo foi conduzido de forma transparente e adequada. Porém o resultado é ruim. Arrisco dizer que o excesso de atenção aos conteúdos das disciplinas não facilitou resistir à tentação de micro-administrar as atividades didáticas de cada aluno, mas outras interpretações são possíveis.
Não é importante tentar explicar o que deu errado, nem defender a condução do processo. O importante é o que fazer agora.
Há 2 alternativas. Uma é reconhecer que, apesar da boa condução do processo, o currículo não atende aos objetivos. Podemos aproveitar os trabalhos exaustivos sobre os conteúdos específicos de cada disciplina, mas é necessário descartar a grade curricular inchada e inflexível.
A outra é se apegar com orgulho ao resultado do processo e do nosso trabalho, implementar o currículo da forma como foi proposto, e conviver com um curso problemático por muitos anos. (O nome disso em economês é a falácia dos custos irrecuperáveis, sunk cost fallacy, exemplificada pela frase "não podemos deixar de casar apesar de não gostarmos um do outro depois de tudo que já pagamos pela festa do casamento".) Nesse caso vamos esperar os grandes e completamente previsíveis problemas se manifestarem para depois acionar o lento processo de mudanças. Daí a cada ano vamos tentar fazer pequenas mudanças em cada disciplina para resolver um problema que é causado não pela condução de cada disciplina individualmente mas pela estrutura incorreta na qual elas foram encaixadas. Não vai dar certo.
Essa 2a alternativa convém para quem fica melindrado com opiniões divergentes e evita conflitos com os desejos de laboratórios ocuparem espaços, mas é a pior para estudantes e para a universidade. Podemos escolher.
(28 e 29 agosto 2013)
http://fmpait.blogspot.com.br/2013/08/uso-da-internet-livre-em-provas.html
Quanto às optativas, o problema que criamos é que a elétrica está prevendo 8 disciplinas obrigatórias por semestre nos 3 primeiros anos. Isso foi atingido sem romper o limite de 28 horas de aula semanais através de uma engenharia de grade horária que criou disciplinas com 2 ou 3 créditos. Mas como os alunos sabem cada disciplina é uma disciplina, com suas exigências, provas, e matéria. Vai sobrar muito pouco espaço mental ou tempo de estudo para optativas, para matérias que relacionam diferentes áreas da Poli, ou matérias que estimulam a criatividade - Práticas II por exemplo será eliminada.
A implementação proposta da EC3 na elétrica se choca de frente com a proposta da EC3. Essa em grande parte me parece coincidir com o desejo dos alunos conforme expresso em sua mensagem. Os únicos argumentos que ouvi a favor da implementação da EC3 proposta para a elétrica são os seguintes: 1 - ela atende aos interesses dos departamentos e dos laboratórios de ocuparem espaço na carga horária dos alunos; 2 - a proposta já foi aprovada e portanto não pode ser modificada.
Esses argumentos são muito fracos. Eu acho que a implementação da EC3 proposta para os 3 primeiros anos de engenharia elétrica é um desastre completo e que portanto ela deveria ser abandonada em favor da proposta original da EC3: a cada semestre 7 matérias de 4 créditos cada, sendo uma optativa livre a partir do 2o semestre. É necessário reconhecer que as discussões na elétrica criaram uma monstruosidade e jogar fora o resultado, eliminando a proliferação de matérias e detalhamento de conteúdos que vão inevitavelmente ter resultados contraproducentes. Um problema prático adicional é que as meias disciplinas e as disciplinas com 3/4 de carga horária vão tornar os horários individuais de estudantes que repetirem alguma matérias ou tentarem fazer alguma optativa um completo pesadelo.
http://fmpait.blogspot.com.br/2013/05/horarios-na-poli.html
Estou respondendo a todos por desencargo de consciência: assim como a implementação da EC3 está sendo encaminhada na elétrica o curso vai ser muito problemático e pouco atraente, e não vai satisfazer os anseios e demandas dos estudantes, mesmo com os melhores esforços dos professores responsáveis por cada disciplina. Se as coisas forem realmente feitas da forma como estão sendo encaminhadas, não quero ter na minha consciência a culpa de não ter dado minha opinião, seja por timidez ou por receio de ofender alguém. Posso não ter tido competência para expor meus argumentos de forma convincente aos colegas, mas não assumo a culpa da omissão, indiferença e indolência.
(...)
Verdade, as discussões foram abertas e o processo foi conduzido de forma transparente e adequada. Porém o resultado é ruim. Arrisco dizer que o excesso de atenção aos conteúdos das disciplinas não facilitou resistir à tentação de micro-administrar as atividades didáticas de cada aluno, mas outras interpretações são possíveis.
Não é importante tentar explicar o que deu errado, nem defender a condução do processo. O importante é o que fazer agora.
Há 2 alternativas. Uma é reconhecer que, apesar da boa condução do processo, o currículo não atende aos objetivos. Podemos aproveitar os trabalhos exaustivos sobre os conteúdos específicos de cada disciplina, mas é necessário descartar a grade curricular inchada e inflexível.
A outra é se apegar com orgulho ao resultado do processo e do nosso trabalho, implementar o currículo da forma como foi proposto, e conviver com um curso problemático por muitos anos. (O nome disso em economês é a falácia dos custos irrecuperáveis, sunk cost fallacy, exemplificada pela frase "não podemos deixar de casar apesar de não gostarmos um do outro depois de tudo que já pagamos pela festa do casamento".) Nesse caso vamos esperar os grandes e completamente previsíveis problemas se manifestarem para depois acionar o lento processo de mudanças. Daí a cada ano vamos tentar fazer pequenas mudanças em cada disciplina para resolver um problema que é causado não pela condução de cada disciplina individualmente mas pela estrutura incorreta na qual elas foram encaixadas. Não vai dar certo.
Essa 2a alternativa convém para quem fica melindrado com opiniões divergentes e evita conflitos com os desejos de laboratórios ocuparem espaços, mas é a pior para estudantes e para a universidade. Podemos escolher.
(28 e 29 agosto 2013)
Currículo de engenharia elétrica na Poli, 2
A análise do Raphael Chinchilla é brilhante!
Primeiro, ele indica a fonte dos problemas que estão sendo notados agora: o excesso de ênfase nas aulas como processo de transmissão de conteúdo. Essa é apenas uma das funções da aula, e a aula não é a única forma de aprendizado.
Segundo, ele reconhece que, apesar dos grandes esforços dos professores, os currículos que estão sendo propostos não têm muita chance de dar certo, porque a estrutura curricular de engenharia elétrica está prevendo um excesso de disciplinas obrigatórias - 8 na maioria dos semestres. Dessa forma a atenção dos alunos tem que se dividir em 8 matérias, e fazer algumas delas caberem em 2 ou 3 horas de aula por semana só vai piorar as coisas, ou pelo enfraquecimento o conteúdo, ou pela falta de tempo para a compreensão.
Finalmente, ele traz a perspectiva dos estudantes e reforça a centralidade do assunto circuitos, que não é difícil mas é sutil, e exige uma compreensão teórica mais madura do que outras matérias. Talvez justamente por isso o laboratório acabe sendo pior avaliado do que outras matérias, igualmente importantes, mas que não fazem a mesma exigência de maturidade.
Gostaria de acrescentar que na minha opinião o mesmo problema que estamos diagnosticando em Laboratório de Eletricidade vai aparecer, de forma menos óbvia e imediata mas igualmente previsível, em muitas outras disciplinas: a diluição da dedicação dos alunos, causada pelo excesso de disciplinas obrigatórias e de conteúdos em cada semestre. Cada disciplina tem suas provas, suas avaliações, seus trabalhos, seus estilos, suas notações, e o excesso de matéria simultânea vai prejudicar o aprendizado, seja pela diminuição da transmissão de interesse por parte do professor, seja pela diminuição da absorção de conteúdo por parte dos alunos. O desconforto está aparecendo em primeiro lugar com respeito a esses Labs por causa da centralidade do assunto circuitos dentro do curso. Um problema ainda maior é que o excesso de disciplinas diminui as oportunidades para estudos, projetos e investigações fora da camisa-de-força curricular.
Ainda dá para corrigir esse erro, e a correção não vai ser feita nem pelo desmerecimento do cuidadoso trabalho dos docentes responsáveis pelas disciplinas, nem pela desqualificação das críticas bem embasadas de quem aponta o problema. Temos que rever os parâmetros que produziram um currículo engessado: excesso de ênfase em conteúdo transmitido em sala de aula, falta de apreciação da maturidade intelectual dos estudantes politécnicos, e insuficiente consideração da importância da motivação e curiosidade intelectual deles.
A escolha é nossa.
(18 setembro 2013)
Primeiro, ele indica a fonte dos problemas que estão sendo notados agora: o excesso de ênfase nas aulas como processo de transmissão de conteúdo. Essa é apenas uma das funções da aula, e a aula não é a única forma de aprendizado.
Segundo, ele reconhece que, apesar dos grandes esforços dos professores, os currículos que estão sendo propostos não têm muita chance de dar certo, porque a estrutura curricular de engenharia elétrica está prevendo um excesso de disciplinas obrigatórias - 8 na maioria dos semestres. Dessa forma a atenção dos alunos tem que se dividir em 8 matérias, e fazer algumas delas caberem em 2 ou 3 horas de aula por semana só vai piorar as coisas, ou pelo enfraquecimento o conteúdo, ou pela falta de tempo para a compreensão.
Finalmente, ele traz a perspectiva dos estudantes e reforça a centralidade do assunto circuitos, que não é difícil mas é sutil, e exige uma compreensão teórica mais madura do que outras matérias. Talvez justamente por isso o laboratório acabe sendo pior avaliado do que outras matérias, igualmente importantes, mas que não fazem a mesma exigência de maturidade.
Gostaria de acrescentar que na minha opinião o mesmo problema que estamos diagnosticando em Laboratório de Eletricidade vai aparecer, de forma menos óbvia e imediata mas igualmente previsível, em muitas outras disciplinas: a diluição da dedicação dos alunos, causada pelo excesso de disciplinas obrigatórias e de conteúdos em cada semestre. Cada disciplina tem suas provas, suas avaliações, seus trabalhos, seus estilos, suas notações, e o excesso de matéria simultânea vai prejudicar o aprendizado, seja pela diminuição da transmissão de interesse por parte do professor, seja pela diminuição da absorção de conteúdo por parte dos alunos. O desconforto está aparecendo em primeiro lugar com respeito a esses Labs por causa da centralidade do assunto circuitos dentro do curso. Um problema ainda maior é que o excesso de disciplinas diminui as oportunidades para estudos, projetos e investigações fora da camisa-de-força curricular.
Ainda dá para corrigir esse erro, e a correção não vai ser feita nem pelo desmerecimento do cuidadoso trabalho dos docentes responsáveis pelas disciplinas, nem pela desqualificação das críticas bem embasadas de quem aponta o problema. Temos que rever os parâmetros que produziram um currículo engessado: excesso de ênfase em conteúdo transmitido em sala de aula, falta de apreciação da maturidade intelectual dos estudantes politécnicos, e insuficiente consideração da importância da motivação e curiosidade intelectual deles.
A escolha é nossa.
(18 setembro 2013)
17 setembro 2013
Após fracasso, governo desiste do PAC
Uma parte eu entendi, lendo esse artigo no Estadão e esse outro: não houve interessados nos leilões de concessão de rodovias federais. Também entendi que 70% dos investimentos viriam da União, e metade dos 30% restantes de organizações quasi-estatais. O que surpreendeu foi ler que a execução das obras também seria feita pelo governo federal, através do DNIT, um departamento do ministério de transportes que até onde dá para ler na web nunca chegou a fazer obra nenhuma.
Seria uma forma de privatização ao contrário: o governo executa a obra, com dinheiro público, e as empresas privadas fazem as desapropriações e depois arcam com o prejuízo. Engraçado, né?
Fora dessa parte de rodovias, foi feita alguma coisa com os 500 mil contos do PAC? Na rede só tem a previsão de gastos para o futuro, mas o futuro já virou passado e não sei se o dinheiro foi gasto nem se alguma coisa foi feita. Talvez seja minha ignorância, talvez eu não tenha percebido quanta coisa boa foi feita porque a única obra do PAC em S Paulo foi cancelar a construção do Terminal 3 do aeroporto de Cumbica e renomear como permanente a estrutura provisória do Terminal 4, cuja demolição estava planejada - era um precário galpão de carga da falida Vasp que continua com uso muito limitado.
Seria uma forma de privatização ao contrário: o governo executa a obra, com dinheiro público, e as empresas privadas fazem as desapropriações e depois arcam com o prejuízo. Engraçado, né?
Fora dessa parte de rodovias, foi feita alguma coisa com os 500 mil contos do PAC? Na rede só tem a previsão de gastos para o futuro, mas o futuro já virou passado e não sei se o dinheiro foi gasto nem se alguma coisa foi feita. Talvez seja minha ignorância, talvez eu não tenha percebido quanta coisa boa foi feita porque a única obra do PAC em S Paulo foi cancelar a construção do Terminal 3 do aeroporto de Cumbica e renomear como permanente a estrutura provisória do Terminal 4, cuja demolição estava planejada - era um precário galpão de carga da falida Vasp que continua com uso muito limitado.
12 setembro 2013
Orquestra Sinfônica da USP
Faz tempo que ao receber correspondência da Osusp tenho notado a ausência da regente Lígia Amadio. Além de fazer um excelente trabalho musical, gosto de acompanhar a regência dela porque foi da minha turma na Escola Politécnica, sim, uma regente engenheira.
Hoje fui verificar a razão da ausência e o Google me responde: ano passado a maestra foi dispensada sem qualquer explicação pela reitoria e pró-reitoria. Na falta de qualquer comunicação oficial à comunidade da Usp e dos fãs da música de concerto, especula-se que a motivação tenha sido sucesso em excesso. Lamentável.
Fico feliz em saber que a maestra continua sua carreira musical sob aplausos, infelizmente fora do Brasil e da nossa universidade.
Hoje fui verificar a razão da ausência e o Google me responde: ano passado a maestra foi dispensada sem qualquer explicação pela reitoria e pró-reitoria. Na falta de qualquer comunicação oficial à comunidade da Usp e dos fãs da música de concerto, especula-se que a motivação tenha sido sucesso em excesso. Lamentável.
Fico feliz em saber que a maestra continua sua carreira musical sob aplausos, infelizmente fora do Brasil e da nossa universidade.
"This just don't sound like no samba song"
Last night I went to the samba bar,
Hear my good friend play the flute.
Wanted to write some words for the singer,
Ended up with a country rhyme.
Dreamt I drove the green old bug,
Filling up on one-ninety proof.
Up and down the Andes, by the Salty Flats,
Through Texas-size ranches, and the rainforest too.
Sorry, Susanna, don't get me wrong,
This just don't sound like no samba song.
Ferried along Darien, on to the Chihuahua desert,
Passed the island prison and the pipeweed fields.
Crossed the border at the Rio Grande,
Drove straight to the New England Pike.
Got no Ivy League, no six-figure job,
Just came up North with the love I got.
We write back and forth, we speak on the phone,
I ask of the girls, we talk of rent and flights.
I saw you on the iMac with the new iSight.
Just wanted to say I love you.
Now hit the Pan Am Road, Beetle, real quick,
Got a class to teach in about a week.
(Country rhyme, dated 2005. To be read with a twang.)
Hear my good friend play the flute.
Wanted to write some words for the singer,
Ended up with a country rhyme.
Dreamt I drove the green old bug,
Filling up on one-ninety proof.
Up and down the Andes, by the Salty Flats,
Through Texas-size ranches, and the rainforest too.
Sorry, Susanna, don't get me wrong,
This just don't sound like no samba song.
Ferried along Darien, on to the Chihuahua desert,
Passed the island prison and the pipeweed fields.
Crossed the border at the Rio Grande,
Drove straight to the New England Pike.
Got no Ivy League, no six-figure job,
Just came up North with the love I got.
We write back and forth, we speak on the phone,
I ask of the girls, we talk of rent and flights.
I saw you on the iMac with the new iSight.
Just wanted to say I love you.
Now hit the Pan Am Road, Beetle, real quick,
Got a class to teach in about a week.
(Country rhyme, dated 2005. To be read with a twang.)
10 setembro 2013
O conceito burguês de causalidade
O sempre instrutivo Vladimir Safatle escreve na Folha: "...entre 1950 e 1971, o PIB chileno cresceu, em média, 2% ao ano. Já entre 1972 e 1983, ele recuou (sim, recuou) 1,1%". De fato, Allende, que foi presidente de 1970 a 1973, meteu o país numa crise da qual ele só saiu anos depois. De alguma forma, na análise do excelentíssimo uspiano o desastre econômico que solapou o apoio à democracia é um mérito do governo Allende, e o culpado é a ditadura que o sucedeu.
O ditador Pinochet fez muita coisa ruim. A depressão iniciada antes do golpe não foi uma delas. Alguém precisa explicar ao professor de filosofia o conceito burguês de causalidade.
O ditador Pinochet fez muita coisa ruim. A depressão iniciada antes do golpe não foi uma delas. Alguém precisa explicar ao professor de filosofia o conceito burguês de causalidade.
28 agosto 2013
Uso da internet livre em provas
Minha política, declarada desde 2009: o uso da internet é livre em todas as provas que aplico. Se nos colégios da Dinamarca é assim, porque não no Brasil?
Foi um dos dois inimigos declarados de Israel
Um dos beligerantes da guerra civil na Síria atacou o próprio povo com armas químicas. Qual lado foi? O governo, secular, aliado soviético durante a guerra fria, ou a fração extremista religiosa da oposição? Cada um acusa o outro, e só temos certeza do seguinte: foi um deles, um dos dois inimigos declarados de Israel e dos Estados Unidos.
Para quem afirma que a causa do grande problema do Oriente Médio são as políticas de Israel e o apoio americano a Israel, vale repetir: "Quem usou armas químicas contra a população civil foi um dos anti-imperialistas que você defende. O poder desses grupos e regimes é resultado do apoio internacional que eles recebem. A responsabilidade é sua, assuma."
Para quem afirma que a causa do grande problema do Oriente Médio são as políticas de Israel e o apoio americano a Israel, vale repetir: "Quem usou armas químicas contra a população civil foi um dos anti-imperialistas que você defende. O poder desses grupos e regimes é resultado do apoio internacional que eles recebem. A responsabilidade é sua, assuma."
15 agosto 2013
Cada povo tem o governo que merece #prontofalei
Cada povo tem o governo que merece. Isso tem 2 corolários meio dialéticos:
1 - Por isso cada povo deve governar a si próprio. Eu não quero ter o governo que os egípcios ou os polacos merecem.
2 - Há exceções, para pior e para melhor. Nenhum povo merece ser governado pelo ditador do Sudão, da Síria, ou do Zimbabwe. É inconcebível, mas eles estão lá, autóctones, é difícil derrubar uma ditadura. Os europeus, os continentais, têm governos melhores do que merecem. É porque desde 1945 a Europa central está ocupada pelo exército americano. Se deixar, a tentação do europeu é botar de volta no poder os governos que eles merecem.
Em síntese, cada povo tem o governo que merece #prontofalei
1 - Por isso cada povo deve governar a si próprio. Eu não quero ter o governo que os egípcios ou os polacos merecem.
2 - Há exceções, para pior e para melhor. Nenhum povo merece ser governado pelo ditador do Sudão, da Síria, ou do Zimbabwe. É inconcebível, mas eles estão lá, autóctones, é difícil derrubar uma ditadura. Os europeus, os continentais, têm governos melhores do que merecem. É porque desde 1945 a Europa central está ocupada pelo exército americano. Se deixar, a tentação do europeu é botar de volta no poder os governos que eles merecem.
Em síntese, cada povo tem o governo que merece #prontofalei
06 agosto 2013
Aritmética eleitoral e de transportes
Um ônibus cheio leva 60 eleitores, e cada carro leva 1 eleitor apenas. O intervalo entre sucessivos veículos passando por uma rua é maior que 2 segundos. Portanto se passar um coletivo a cada 2 minutos por um corredor de ônibus, vai haver mais eleitores andando de coletivo satisfeitos com o corredor do que eleitores nos carros reclamando que os ônibus andam mais depressa do que eles.
Não é necessário PhD em engenharia, economia, ou ciência política para fazer a conta acima. Um bom colégio, como o Colégio Bandeirantes, já seria mais que suficiente.
Pode acontecer que os eleitores favoráveis ao uso do transporte individual tenham, por motivos econômicos, sociais, ou culturais, influência maior do que a refletida pelos números. Ou pode acontecer que o eleitor desprovido de automóvel não age estritamente conforme a racionalidade do homo economicus. Nesses 2 casos, que numa democracia representativa são de certa forma coincidentes, é de se esperar que alguns usuários do transporte coletivo optem por andar de carro próprio.
Consideremos que, com as hipóteses de trânsito congestionado e motoristas habilidosos, cada carro usa aproximadamente um terço do espaço de um ônibus. Se os motoristas forem menos atentos, ou se o trânsito estiver mais fluido, o tamanho dos veículos se torna menos relevante, e o intervalo entre eles tende a ser o mesmo, quer se trate de carro, quer de ônibus. Se 10% dos 60 ocupantes do coletivo passam a usar transporte individual, o número de carros na rua triplica. Daí o trânsito pára.
Foi isso que aconteceu em S Paulo nos últimos 10 anos.
Não é necessário PhD em engenharia, economia, ou ciência política para fazer a conta acima. Um bom colégio, como o Colégio Bandeirantes, já seria mais que suficiente.
Pode acontecer que os eleitores favoráveis ao uso do transporte individual tenham, por motivos econômicos, sociais, ou culturais, influência maior do que a refletida pelos números. Ou pode acontecer que o eleitor desprovido de automóvel não age estritamente conforme a racionalidade do homo economicus. Nesses 2 casos, que numa democracia representativa são de certa forma coincidentes, é de se esperar que alguns usuários do transporte coletivo optem por andar de carro próprio.
Consideremos que, com as hipóteses de trânsito congestionado e motoristas habilidosos, cada carro usa aproximadamente um terço do espaço de um ônibus. Se os motoristas forem menos atentos, ou se o trânsito estiver mais fluido, o tamanho dos veículos se torna menos relevante, e o intervalo entre eles tende a ser o mesmo, quer se trate de carro, quer de ônibus. Se 10% dos 60 ocupantes do coletivo passam a usar transporte individual, o número de carros na rua triplica. Daí o trânsito pára.
Foi isso que aconteceu em S Paulo nos últimos 10 anos.
Doando Transactions, outros periódicos
Estou doando IEEE Transactions on Automatic Control, SIAM Journal on Control and Optimization, Control Systems Technology, Controle e Automação, outros periódicos científicos em controle automático e assuntos afins, dezenas de números e volumes, maior parte da década de 1990. Motivo: faz anos que não abro os volumes guardados.
Se interessar a alguém, por favor me comuniquem. Em caso de silêncio, será tudo reciclado.
Se interessar a alguém, por favor me comuniquem. Em caso de silêncio, será tudo reciclado.
04 agosto 2013
Call center Vivo Ajato: vá para aquela parte
Tento ser educado com pessoas que trabalham em call center, mas às vezes é necessário abrir uma exceção. Liguei para a Vivo Ajato High Speed internet para fazer uma pergunta sobre configuração. Na 1a vez que liguei esperei, esperei, depois cortaram a ligação sem atender. Na 2a vez, a pessoa que atendeu no suporte técnico disse que não poderia fornecer informações sobre configuração. Solicitei calmamente que transferisse a ligação para alguém que tivesse a capacidade de responder. Ouvi que "aqui é sou eu mesmo, não tem ninguém no suporte técnico que pode responder perguntas sobre configuração".
Mandei a pessoa para aquela parte e bati o telefone. Que se danem. O serviço da Vivo é mesmo muito ruim. A empresa não parece ter a competência para operar o serviço de comunicações. Isso pode não justificar minha resposta mau educada, mas a Vivo merece.
Adicionalmente, nao é possível contatar a Vivo para fazer uma reclamação pelo website da empresa. Você preenche toda a página, e daí o sistema informa que não foi possível registrar o comentário. O projeto da página da rede dá a impressão de ter sido feito com má fé, para dificultar o trabalho do assinante.
Mandei a pessoa para aquela parte e bati o telefone. Que se danem. O serviço da Vivo é mesmo muito ruim. A empresa não parece ter a competência para operar o serviço de comunicações. Isso pode não justificar minha resposta mau educada, mas a Vivo merece.
Adicionalmente, nao é possível contatar a Vivo para fazer uma reclamação pelo website da empresa. Você preenche toda a página, e daí o sistema informa que não foi possível registrar o comentário. O projeto da página da rede dá a impressão de ter sido feito com má fé, para dificultar o trabalho do assinante.
18 julho 2013
Trauma de repartição
Confesso: tenho medo de preencher formulário oficial e mais ainda de comparecer em repartição. Me estraga o dia anterior inteiro. Não é culpa dos funcionários públicos. As moças que atendem nas repartições - a maioria são mulheres mais novas que eu - são educadas, prestativas, e só ajudam a resolver os problemas que possam aparecer. Os procedimentos são burocráticos, talvez desnecessariamente complicados, mas não irracionais. Sei que não há nada a temer porque se por um acaso excepcional eu fosse tratado de maneira kafkiana não haveria grande dificuldade em reparar a injustiça. O Brasil é uma democracia e, se algum erro fizer isso necessário, não consigo imaginar grandes obstáculos para contatar autoridades superiores, dentro do executivo, do legislativo, e do judiciário, na cidade, no estado, ou na união. Racionalmente não há porque ter medo de barnabé.
Nem sempre foi assim, mas desde a Constituição cidadã do Dr Ulysses o tratamento nas repartições só tem melhorado. Consulado, passaportes, polícia federal, imposto de renda, justiça eleitoral, prefeitura, poupatempo, o pior que acontece é perder tempo na fila e ter que voltar outro dia. O atendimento é quase tão razoável quanto nas repartições análogas nos Estados Unidos, muitas vezes mais simpático embora sempre mais burocrático e complexo. Ter que comparecer a uma repartição americana me faz menos mal, com certeza porque a compreensão de que o governo americano é do povo, pelo povo, e para o povo está mais arraigada. Acrescento que o serviço público americano também sempre mostra que está do lado do cidadão, do qual se exige apenas o cumprimento da lei.
O medo é irracional, mas mesmo quando se trata só de preencher um formulário via internet, qualquer glitch de software me dá nó no estômago. É o trauma de ter nascido numa ditadura e ver na televisão aqueles fascistas que mandavam em nós sem ter nenhuma legitimidade. Agora com sua licença vou tomar um maracujá.
Nem sempre foi assim, mas desde a Constituição cidadã do Dr Ulysses o tratamento nas repartições só tem melhorado. Consulado, passaportes, polícia federal, imposto de renda, justiça eleitoral, prefeitura, poupatempo, o pior que acontece é perder tempo na fila e ter que voltar outro dia. O atendimento é quase tão razoável quanto nas repartições análogas nos Estados Unidos, muitas vezes mais simpático embora sempre mais burocrático e complexo. Ter que comparecer a uma repartição americana me faz menos mal, com certeza porque a compreensão de que o governo americano é do povo, pelo povo, e para o povo está mais arraigada. Acrescento que o serviço público americano também sempre mostra que está do lado do cidadão, do qual se exige apenas o cumprimento da lei.
O medo é irracional, mas mesmo quando se trata só de preencher um formulário via internet, qualquer glitch de software me dá nó no estômago. É o trauma de ter nascido numa ditadura e ver na televisão aqueles fascistas que mandavam em nós sem ter nenhuma legitimidade. Agora com sua licença vou tomar um maracujá.
11 julho 2013
Cheguei na frente do grande @Romário11 ;-)
Numa sequência de tweets, o grande @Romario11, a quem muito admiro, escreveu:
Na terça, um grupo de deputados se reuniu com o Sr. Marin em Brasília. A reunião aconteceu na calada da noite e poucos foram informados. Até aí, tudo bem. O problema é eles tratarem no foro privado, um assunto que é de interesse público! Afinal, a anistia das dívidas dos clubes brasileiros com o Governo é ou não de interesse público? Mas alguns ainda preferem discutir este assunto longe dos olhos da população. E Marin parece estar cobrando fatura: http://on.fb.me/134H7K2Sei como meu ídolo se sente. Já me fizeram isso na Poli uma vez, quando fui nomeado para uma comissão sobre ensino de engenharia. Um professor da engenharia de computação e outro da eletrotécnica fizeram as reuniões sem me avisar, imaginando que poderiam depois impor o resultado da discussão em portas fechadas a um professor mais novo e supostamente sem autonomia. O resultado é que fizeram uma proposta sem eira nem beira que não levou a nada. Não vou escrever nomes, cada um que suba à épura mongiana e se projete a si próprio em verdadeira grandeza.
Agora fazer isso com um recém doutor novinho é uma coisa. Com quem já fez mais de mil gols e teve 150 mil votos, é outra. Ambas vergonhosas, de maneira diferente.
A queda do governo islâmico no Egito
As várias causas imediatas para a deposição extrajudicial do governo da Irmandade Muçulmana no Egito incluem: a incompetência e autoritarismo do governo Morsi; a insatisfação popular com a crise econômica que se prolonga desde o fracasso completo do sistema nasserista; possível sabotagem de opositores; e o pouco respeito que tanto a Irmandade Muçulmana como as Forças Armadas egípcias têm pelas instituições democráticas.
É fundamental enfatizar que essas causas próximas são consequência de um fator mais fundamental: a religião não serve de base para um governo eficaz e com respeito ao cidadão. Não tem como servir, não serve, e nunca serviu.
Os esquerdistas na Europa e nas Américas associam o obscurantismo islâmico com o terrorismo e o anti-semitismo, para eles armas na luta terceiromundista contra o assim-chamado imperialismo, e portanto tendem a apreciar os regimes islâmicos. O desgoverno em países considerados subdesenvolvidos é um pequeno preço que os árabes devem pagar na luta global contra as liberdades burguesas, segundo a esquerda, que em geral aplaude a tomada do poder por fundamentalistas islâmicos.
Já a direita vê a religião como ópio do povo: uma forma de suprimir e controlar os anseios populares por liberdade e justiça. Os conservadores criticam os regimes teocráticos no Oriente Médio apenas por serem islâmicos; é puro racismo. Pelas injustiças e supressão das liberdades eles têm simpatia, e gostariam de duplicar aqui em casa, talvez em menor grau.
A religião pode servir como suporte para a ética privada, individual ou coletiva, mas nem o dogma religioso nem sua contraparte, o dogma anti-religioso, nunca serviram para a boa condução do estado. Isso vale para toda religião. Os partidos apenas nominalmente cristãos da Europa acumulam tanto mais fracassos quanto mais levam a sério a denominação. Todos os sucessos de Israel se devem ao governo republicano liberal, e ao lado dos fracassos andam as tentativas de controlar o país usando facções religiosas. Na América Latina, quando a igreja se associa de perto aos governos, em geral às ditaduras, sempre erra. A Índia é um país não rico, mas bem sucedido; o Paquistão é um desastre. E não há melhor exemplo do que confrontar os Estados Unidos da América, engendrado por cristãos ligeiramente observantes, mas de qualquer forma bastante tolerantes, com as distorções dos que querem introduzir subrepticiamente o cristianismo como religião oficial.
Não custa repetir: a única forma de construir um regime estável, não opressivo, e funcional é a democracia liberal representativa, que reconhece e aceita todas as crenças e descrenças, sem se basear em nenhuma delas. Todas as demais ideologias desembocam em ditadura de partido único, teocracia, ou caudilhismo personalista, e conduzem à catástrofe.
É fundamental enfatizar que essas causas próximas são consequência de um fator mais fundamental: a religião não serve de base para um governo eficaz e com respeito ao cidadão. Não tem como servir, não serve, e nunca serviu.
Os esquerdistas na Europa e nas Américas associam o obscurantismo islâmico com o terrorismo e o anti-semitismo, para eles armas na luta terceiromundista contra o assim-chamado imperialismo, e portanto tendem a apreciar os regimes islâmicos. O desgoverno em países considerados subdesenvolvidos é um pequeno preço que os árabes devem pagar na luta global contra as liberdades burguesas, segundo a esquerda, que em geral aplaude a tomada do poder por fundamentalistas islâmicos.
Já a direita vê a religião como ópio do povo: uma forma de suprimir e controlar os anseios populares por liberdade e justiça. Os conservadores criticam os regimes teocráticos no Oriente Médio apenas por serem islâmicos; é puro racismo. Pelas injustiças e supressão das liberdades eles têm simpatia, e gostariam de duplicar aqui em casa, talvez em menor grau.
A religião pode servir como suporte para a ética privada, individual ou coletiva, mas nem o dogma religioso nem sua contraparte, o dogma anti-religioso, nunca serviram para a boa condução do estado. Isso vale para toda religião. Os partidos apenas nominalmente cristãos da Europa acumulam tanto mais fracassos quanto mais levam a sério a denominação. Todos os sucessos de Israel se devem ao governo republicano liberal, e ao lado dos fracassos andam as tentativas de controlar o país usando facções religiosas. Na América Latina, quando a igreja se associa de perto aos governos, em geral às ditaduras, sempre erra. A Índia é um país não rico, mas bem sucedido; o Paquistão é um desastre. E não há melhor exemplo do que confrontar os Estados Unidos da América, engendrado por cristãos ligeiramente observantes, mas de qualquer forma bastante tolerantes, com as distorções dos que querem introduzir subrepticiamente o cristianismo como religião oficial.
Não custa repetir: a única forma de construir um regime estável, não opressivo, e funcional é a democracia liberal representativa, que reconhece e aceita todas as crenças e descrenças, sem se basear em nenhuma delas. Todas as demais ideologias desembocam em ditadura de partido único, teocracia, ou caudilhismo personalista, e conduzem à catástrofe.
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