É que a Sala S Paulo, na estação Sorocabana, tem um poleiro atrás da orquestra, no setor que eles chamam "coro". Você fica colado aos músicos, olhando para a regente, dá para acompanhar a partitura dos trombones. É o melhor lugar, quem como eu mal sabe tocar vitrola quase se convence que entende de música.
Os ingressos no poleiro custam 1/5 do preço, e mesmo assim não esgotam. Porque será? A explicação mais pedestre é falta de hábito dos frequentadores. Não é convincente: a sala já não é nova, e a diferença de preço seria suficiente para mudar os hábitos.
Uma explicação pseudocientífica seria a acústica. Verdade que o piano abre para o lado da frente, e os metais ficam amplificados para quem senta atrás. Mas Beethoven não carrega nos metais, no Prokofiev os trombones até ajudam, e a arte do Nelson Freire é maior que a tampa do piano. Improvável que muita gente note a diferença entre sentar num lado ou outro. Quem tem esse discernimento certamente vai preferir ver a orquestra do ponto de vista dos músicos.
Uma melhor explicação é social. O frequentador dos concertos quer ser visto; não quer entrar pela porta dos fundos, de serviço, sentar junto com os músicos, quasi-funcionários. E teme que a localização pouco usual seja menos prestigiosa, denuncie falta de sofisticação, talvez até por não confiar no próprio discernimento acústico.
A imagem da orquestra cercada pela audiência lembra a arquitetura de uma sinagoga sefaradi. Não considero provável que seja um receio atávico da inquisição que afasta o apreciador da boa música de uma barganha, mas nunca se sabe.
Fica a dica para quem não receia perder casta nem a acusação de cripto-judaísmo: vá ao concerto, sai mais barato que o cinema, e tem metrô.
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