Estive na Usp em Ribeirão Preto dia 9 de outubro para apresentar poster no Simpósio Aprender com Cultura e Extensão. Não pedi afastamento publicado no diário oficial, como muitos dizem que seria necessário embora absurdo, afinal passei o dia no campus da própria universidade. Então não preciso fazer um relatório oficial que ninguém vai ler. No lugar escrevo esse relatório informal que você está lendo.
Os bolsistas não podiam ir por motivo de provas, e tive a escolha entre apresentar o trabalho e enviar um ofício justificando a ausência. Ofício, carimbo, reclamação, correção, tudo isso desperdiça esforços que poderiam ser melhor empregados. A Poli generosamente providenciou uma perua para levar os estudantes, e escolhi a alternativa que gastava menos tempo.
A viagem de ida e volta é longa. Não é muito eficiente realizar o evento num lugar distante de 90% da comunidade. Mas aproveitei para visitar a professora Elenice Mouro Varanda, que me mostrou o remanescente da floresta da Usp de Ribeirão. Um belo projeto de reflorestamento, que infelizmente foi vítima de um incêndio que destruiu uma boa parte das árvores. Não sei precisar quanto do dano pode ser atribuído ao azares da natureza, às mudanças climáticas regionais ligadas ao desmatamento e à monocultura no norte paulista, e ao aquecimento global que tem trazido invernos quentes e secos à região. Infelizmente os danos foram potencializados pela negligência dos prefeitos da Usp de Ribeirão, que apesar de repetidos avisos foram relapsos em tomar mesmo as medidas mais elementares para proteger o patrimônio público e ambiental contra os riscos do fogo. De alguma forma ou outra parte da floresta continua viva, embora a perda ambiental e científica tenha sido irreparável.
A apresentação dos posters correu bem. Estando lá, ajudei um pouco nas avaliações de trabalhos de outras unidades. Os que vi estavam muito bons, com alguns para além de excelentes. Parabéns a estudantes e orientadores em geral!
Sempre é uma boa oportunidade ouvir estudantes em uma situação informal, dentro de uma perua atravessando o interior de nosso estado. O que concluo?
Ainda faltam oportunidades para maior integração entre estudantes de diversas áreas. Existem as festas, que fazem parte da vida social mas não são eventos - como eu diria? - de conteúdo intelectual muito denso. Ações recomendadas: A universidade deveria se envolver mais em vez de deixar toda a integração entre estudantes a cargo das agremiações estudantis. Idealmente, essa integração deveria se fazer através do ensino e da pesquisa - temos que nos transformar numa universidade de fato, e deixar de pensar na graduação na Usp como um conjunto de cursos e departamentos não comunicantes. Uma maior presença de professores em eventos estudantis também me parece recomendável.
O apoio econômico aos estudantes ainda deixa a desejar. Alguns estudantes não recebem recursos suficientes da família - seja por absoluta falta de condições, seja por expectativas culturais de que ao chegarem na universidade deveriam se sustentar. Eles têm que procurar empregos, usando muito tempo que não fica disponível para os estudos. Para os politécnicos, a carga horária se torna excessiva. Ações recomendadas: A universidade deve apoiar mais os estudantes com bolsas e moradias dentro do campus, e a Poli deve pensar mais firmemente se o número de disciplinas em cada semestre é compatível com o bom aproveitamento dos estudos.
Em muitas disciplinas os estudantes percebem um descompasso entre as informações apresentadas em sala de aula, os conteúdos exigidos em provas, e a realidade da ciência e tecnologia. Eles usam as palavras "teoria", "exercícios", e "prática" para designar esses aspectos, mas ao meu ver não são termos adequados. O excesso de aulas "teóricas", por natureza pouco interativas, e de avaliações através de provas - muitas vezes provas sem consulta, na era do Google!!!!, tendem a afastar os estudantes das aulas e empurrá-los para as coleções de provas do anos anteriores e para estágios mesmo que de qualidade pedagógica duvidosa. Ações recomendadas: sermos mais criativos e flexíveis quanto a formas de trabalho em sala de aula e métodos de avaliação.
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