Hoje a entrada da USP estava novamente fechada por manifestantes. Fechar os portões é a represália dos estudantes que não estudam, dos trabalhadores que não trabalham, e dos professores que não professam contra aqueles que querem fazer seus deveres - o alvo principal dos fechantes são os menos endinheirados, que usam transporte coletivo e precisam terminar a faculdade para trabalharem.
O que permite e alimenta esses fechamentos é a falta de 2 coisas: falta de diálogo entre a universidade e os estudantes, e falta de camburão. O fato é que a administração trata do mesmo modo os alunos que querem estudar e os arruaceiros: com soberba indiferença, sem diálogo nem lei. A apatia da maioria silenciosa é compreensível.
Felizmente vim a pé, não me atrapalhou muito, só não dava para esperar o circular. Até aproveitei o passeio: atravessei as obras de embaralhamento e substituição dos passeios da praça do relógio, sem dúvida a menos prioritária das obras concebíveis para o campus do Butantã, e acho que entendi a estratégia política da atual reitoria. Como não há reeleição, tudo se resume a garantir sua reputação para a posteridade.
A gestão atual vai levar tanto mais vantagem em comparação com a gestão seguinte quanto mais desastrosa for a situação financeira que ela deixar. Daí a ânsia de fazer obras de pouca relevância, que complicam a situação futura sem deixar benefícios que a universidade possa aproveitar. É uma estratégia familiar para quem acompanha a atuação do Partido Republicano nos Estados Unidos. Pode chamar de contraparte situacionista ao "quanto pior melhor" leninista-oposicionista.
No Brasil, em geral os políticos buscam o lucro financeiro imediato, ou, no caso dos mais ideológicos, querem se eternizar no poder, então esse tipo de gastança em forma de bomba-relógio é menos comum do que a corrupção pura e simples ou do que o aparelhamento do estado com funcionários pouco produtivos para a sociedade.
De qualquer modo, o candidato de oposição que seja escolhido reitor vai ter muito trabalho; se for de situação, contra toda a lógica e bom senso, ao menos vamos poder rir da tragédia alheia.
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