Preparei uma lista de problemas com a concepção do edifício novo da engenharia elétrica da Poli. Há uma nova versão, onde algum dos problemas talvez tenha sido minorado, mas continua parecendo que o esforço de engenharia e arquitetura investido na concepção é mínimo. É importante toda a comunidade politécnica se mobilizar para jogar fora essa proposta, reiniciar a discussão com tabula rasa, para impedir que seja tomadas decisões irrevogáveis com uma pressa injustificada. Alguns dos problema que identifiquei são os seguintes:
1 - Localização inconveniente, atrás do edifício atual, dificultando o acesso.
2 - Necessidade de desfigurar a atual biblioteca, um dos melhores espaços de que dispomos atualmente. Essa descaracterização da biblioteca permanece, embora talvez de forma menos desastrosa, na nova versão apresentada.
3 - Disposição das salas de professores em cubículos pouco atraentes, separados por divisórias.
4 - Um prédio de mais de 2 andares muda a relação de professores e alunos com o espaço que temos atualmente. Se essa mudança é desejável e aceitável, então será que 5 andares é um bom compromisso? Parece ter o preço de quebrar o paradigma atual, sem se beneficiar da verticalização.
5 - A concepção do prédio com circulação de ar totalmente fechada e climatizada tem a vantagem permitir maior densidade de ocupação e controle central do consumo de energia elétrica. As desvantagens são o maior custo de operação, a perda da oportunidade de aproveitar nosso clima ameno, o fechamento para o exterior, e emprego de tecnologias antiquadas, pouco inspiradoras, e sem diálogo com as tendências modernas de sustentabilidade, construção verde, e minimização do impacto ambiental. As desvantagens não foram consideradas.
6 - A concepção do edifício é pobre, essencialmente um paralelepípedo, um desenho que pode ser feito rapidamente usando o demo de um sistema computacional de desenho arquitetônico. Poderia servir para uma central de telemarketing numa localização suburbana adensada, mas não revela nenhuma interação com o entorno da Cidade Universitária nem consideração a respeito da finalidade acadêmica da obra.
7 - A concepção do edifício não está em diálogo nem com as tradições arquitetônicas da Escola Politécnica e da USP, nem com os desafios tecnológicos do século 21. Não se trata de maquiar o projeto com fachadas e decorações, mas de começar o trabalho com uma concepção atraente feita por profissionais criativos e dedicados.
8 - O projeto nos afasta dos padrões das melhores universidades do mundo. Quando o MIT decidiu construir um novo prédio para a engenharia elétrica, obteve um projeto de um dos melhores arquitetos norte-americanos. Há opiniões diversas a respeito do projeto de Frank Gehry, mas é uma obra viva, à qual ninguém fica indiferente, e que cria um espaço inovador para a vida acadêmica. Yale tem um prédio de engenharia novo, bastante funcional e com certificação LEED Gold, projetado pelo escritório de Cesar Pelli. Os exemplos são inúmeros. Na Europa e na Ásia constroem-se edifícios acadêmicos que atraem alunos e professores para suas instalações ou arrojadas, ou aconchegantes, ou tradicionais. Aqui mesmo na Usp temos o exemplo inspirador da Biblioteca Brasiliana, recentemente inaugurada, entre outros.
9 - Ao construir um novo edifício para a engenharia elétrica temos a obrigação, por respeito à tradição da Escola Politécnica, às futuras gerações de alunos e professores, e às conquistas dos profissionais da arquitetura brasileira, de obter um projeto de qualidade junto aos melhores arquitetos brasileiros.
10 - O projeto foi encaminhado com uma pressa extrema e não justificada, o que explica ao menos parcialmente a concepção pobre que foi apresentada. Não houve a indispensável interação com pessoas compromissadas com a missão acadêmica da universidade.
11 - O escritório de arquitetura encarregado de fazer a proposta não demonstra ter qualquer experiência relevante no projeto de obras de importância. A presença deles na internet é nula. Quem conhece o meio profissional da arquitetura sabe que a primeira providência dos arquitetos praticantes é exibir seu portfólio aos potenciais clientes e interessados. Um escritório que não anuncia suas obras nem é referenciado por outros praticantes da profissão não inspira confiança. Podemos talvez especular que seja um escritório especializado em vencer concorrências públicas para benefício próprio e dos indivíduos contratantes, sem ter a obrigação de demonstrar a boa qualidade de seu trabalho para o uso ao qual se destina.
12 - A grande restrição do projeto parece ser a intenção da prefeitura do campus do Butantã de facilitar a circulação de automóveis pelo campus, em detrimento da mobilidade dos pedestres e da comunicação fácil entre os diversos edifícios e departamentos do campus. Esse objetivo parece condicionar e restringir todas as oportunidades de construção, em prejuízo do acesso a cada unidade acadêmica e da integração entre as unidades. A circulação de veículos no interior do prédio deve se restringir a pessoas com necessidades especiais de mobilidade e a entregas pesadas. Não é admissível que todo o planejamento de cada prédio acadêmico fique subordinado ao desejo de facilitar a circulação de automóveis pelo campus.
13 - Aparentemente o projeto rápido e descuidado está sendo empurrado como base para a discussão, com motivos sobre os quais só seria possível especular. É importante descartar esse lixo e recomeçar a discussão a partir do zero, senão vamos ficar brigando a respeito de pequenos detalhes e acabar aceitando o conceito geral muito ruim.
Acho que esses 13 itens resumem todos os maiores problemas, mas posso ter deixado algo de fora, especialmente no detalhamento do projeto, que parece ter sido feito sem grande atenção ou empenho profissional.
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