As várias causas imediatas para a deposição extrajudicial do governo da Irmandade Muçulmana no Egito incluem: a incompetência e autoritarismo do governo Morsi; a insatisfação popular com a crise econômica que se prolonga desde o fracasso completo do sistema nasserista; possível sabotagem de opositores; e o pouco respeito que tanto a Irmandade Muçulmana como as Forças Armadas egípcias têm pelas instituições democráticas.
É fundamental enfatizar que essas causas próximas são consequência de um fator mais fundamental: a religião não serve de base para um governo eficaz e com respeito ao cidadão. Não tem como servir, não serve, e nunca serviu.
Os esquerdistas na Europa e nas Américas associam o obscurantismo islâmico com o terrorismo e o anti-semitismo, para eles armas na luta terceiromundista contra o assim-chamado imperialismo, e portanto tendem a apreciar os regimes islâmicos. O desgoverno em países considerados subdesenvolvidos é um pequeno preço que os árabes devem pagar na luta global contra as liberdades burguesas, segundo a esquerda, que em geral aplaude a tomada do poder por fundamentalistas islâmicos.
Já a direita vê a religião como ópio do povo: uma forma de suprimir e controlar os anseios populares por liberdade e justiça. Os conservadores criticam os regimes teocráticos no Oriente Médio apenas por serem islâmicos; é puro racismo. Pelas injustiças e supressão das liberdades eles têm simpatia, e gostariam de duplicar aqui em casa, talvez em menor grau.
A religião pode servir como suporte para a ética privada, individual ou coletiva, mas nem o dogma religioso nem sua contraparte, o dogma anti-religioso, nunca serviram para a boa condução do estado. Isso vale para toda religião. Os partidos apenas nominalmente cristãos da Europa acumulam tanto mais fracassos quanto mais levam a sério a denominação. Todos os sucessos de Israel se devem ao governo republicano liberal, e ao lado dos fracassos andam as tentativas de controlar o país usando facções religiosas. Na América Latina, quando a igreja se associa de perto aos governos, em geral às ditaduras, sempre erra. A Índia é um país não rico, mas bem sucedido; o Paquistão é um desastre. E não há melhor exemplo do que confrontar os Estados Unidos da América, engendrado por cristãos ligeiramente observantes, mas de qualquer forma bastante tolerantes, com as distorções dos que querem introduzir subrepticiamente o cristianismo como religião oficial.
Não custa repetir: a única forma de construir um regime estável, não opressivo, e funcional é a democracia liberal representativa, que reconhece e aceita todas as crenças e descrenças, sem se basear em nenhuma delas. Todas as demais ideologias desembocam em ditadura de partido único, teocracia, ou caudilhismo personalista, e conduzem à catástrofe.
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