Confesso: tenho medo de preencher formulário oficial e mais ainda de comparecer em repartição. Me estraga o dia anterior inteiro. Não é culpa dos funcionários públicos. As moças que atendem nas repartições - a maioria são mulheres mais novas que eu - são educadas, prestativas, e só ajudam a resolver os problemas que possam aparecer. Os procedimentos são burocráticos, talvez desnecessariamente complicados, mas não irracionais. Sei que não há nada a temer porque se por um acaso excepcional eu fosse tratado de maneira kafkiana não haveria grande dificuldade em reparar a injustiça. O Brasil é uma democracia e, se algum erro fizer isso necessário, não consigo imaginar grandes obstáculos para contatar autoridades superiores, dentro do executivo, do legislativo, e do judiciário, na cidade, no estado, ou na união. Racionalmente não há porque ter medo de barnabé.
Nem sempre foi assim, mas desde a Constituição cidadã do Dr Ulysses o tratamento nas repartições só tem melhorado. Consulado, passaportes, polícia federal, imposto de renda, justiça eleitoral, prefeitura, poupatempo, o pior que acontece é perder tempo na fila e ter que voltar outro dia. O atendimento é quase tão razoável quanto nas repartições análogas nos Estados Unidos, muitas vezes mais simpático embora sempre mais burocrático e complexo. Ter que comparecer a uma repartição americana me faz menos mal, com certeza porque a compreensão de que o governo americano é do povo, pelo povo, e para o povo está mais arraigada. Acrescento que o serviço público americano também sempre mostra que está do lado do cidadão, do qual se exige apenas o cumprimento da lei.
O medo é irracional, mas mesmo quando se trata só de preencher um formulário via internet, qualquer glitch de software me dá nó no estômago. É o trauma de ter nascido numa ditadura e ver na televisão aqueles fascistas que mandavam em nós sem ter nenhuma legitimidade. Agora com sua licença vou tomar um maracujá.
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