Um dos piores artigos que li, sobre esse tema ou qq outro. Uma aula de como não argumentar, um bestiário de non-sequitur. Só que deu no NYTimes, e tem gente citando como se o artigo tivesse algum significado qualquer. Não tem.
Não estou falando do conteúdo, mas da argumentação, que é fraquíssima e inaceitável num debate sério. Vale a pena analisar para expor os erros. Comentários abaixo, cada um seguindo citação de parte de cada parágrafo.
"THE last three decades are littered with the carcasses ... a long line of well-meaning American diplomats "
Hipérbole vazia.
"True believers in the two-state solution see absolutely no hope elsewhere. "
Provavelmente porque não há. A conferir.
"It’s like 1975 all over again, when the Spanish dictator Francisco Franco fell into a coma. "
Irrelevante para a discussão.
"True, some comas miraculously end."
Vazio e irrelevante para o assunto sob discussão.
"Strong Islamist trends make a fundamentalist Palestine more likely than a small state under a secular government. The disappearance of Israel as a Zionist project, "
Afirmações fortes, sem embasamento. Talvez sejam verdades; seria necessário argumentar.
"All sides have reasons to cling to this illusion. "
Dependente da suposição, não fundamentada, de que é uma ilusão.
"seems to reflect the sentiments of the Jewish Israeli majority ... camouflages relentless efforts to expand Israel’s territory into the West Bank."
Afirmação correta, seguida de acusação de que o sentimento é falso, esta sem embasamento.
"American politicians need the two-state slogan "
Dependente de que é apenas um slogan.
"Finally, the “peace process” industry "
Insinuação maldosa.
"the idea of two states between the Jordan River and the Mediterranean Sea all but disappeared from public consciousness between 1948 and 1967."
Será? Mesmo com esse hiato, talvez imaginário, de 19 anos, é uma ideia duradoura.
"But failures of leadership in the face of tremendous pressures "
Correto, mas milita contra o argumento. Falhas de liderança teriam dado resultados ruins com outras alternativas.
"Those who assume that Israel will always exist as a Zionist project should consider how quickly the Soviet, Pahlavi Iranian, apartheid South African, Baathist Iraqi and Yugoslavian states unraveled, "
Comparações irrelevantes, e que confundem nação com regime político.
"In all these cases, presumptions about what was “impossible” "
Qualquer regime muda inesperadamente. Outros permanecem. Lição para o caso de Israel em particular: nenhuma.
"JUST as a balloon filled gradually with air bursts "
Raciocínio por metáfora. Argumento imbecil.
"Britain ruled Ireland for centuries, ... until the establishment of an independent Ireland. "
Por analogia, 2 estados é razoável.
"France ruled Algeria for 130 years ... in 1959, Algeria soon became independent, "
Novamente, o exemplo destrói o argumento do autor.
"Within a few years, both the Soviet Union and the Communist regime were gone."
Irrelevante, e mais uma vez confunde nação com governo.
"as irrational as rearranging deck chairs on the Titanic "
Raciocínio por metáforas mais uma vez. Não dava para usar uma falácia nova?
"The two-state slogan now serves as a comforting blindfold of entirely contradictory fantasies. "
Diplomacia serve para conciliar posições opostas. Desqualificar a diplomacia usando palavras com sentido carregado (fantasia, slogan, blindfold) não é válido.
"We are engaged in negotiations to nowhere. "
Como sabemos disso, exceto por ser uma afirmação do autor? Achismo puro.
"I was a 30-year-old assistant professor, on leave from Dartmouth at the State Department’... It was clear to me that "
O que isso mostra?
"I was summoned to the office of a high-ranking diplomat, who was then one of the State Department’s most powerful advocates for the negotiations."
Apelo à autoridade, falácia elementar.
"“Are you,” he asked me, “personally so sure of your analysis “Yes, sir,” I answered, “I am.”"
Isso é uma análise?
"Had America ... then it might .. It could have ... We could have had "
Coulda woulda oughta mighta hafta. Argumento contrafactual. Irrelevante.
"negotiations are phony; "
Só temos a afirmação do autor para confiar.
"The end of the 1967 Green Line as a demarcation of potential Israeli "
O que a linha do armistício de 1948, que durou 19 anos, tem de tão fundamental? O artigo não explica.
"Israel may no longer exist as the Jewish and democratic vision ... may not ... a real Palestinian state. ... ruthless oppression, mass mobilization, riots, brutality, terror, "
Parece bastante ruim, essa alternativa que ele prefere.
"Israel’s ... nuclear weapons arsenal "
Irrelevante para o tema do artigo.
"the chimera of a negotiated two-state solution ... the two-state-fantasy blindfolds "
Mais uma vez, tentando desqualificar o argumento usando xingamentos.
"...secular Palestinians in Israel and the West Bank could ally with Tel Aviv’s post-Zionists, non-Jewish Russian-speaking immigrants, foreign workers and global-village Israeli entrepreneurs. "
Agora quem está se alongando em fantasias é o autor.
"It remains possible ... But the pretense that negotiations under the slogan ...a single state might ... avoiding truly catastrophic"
O artigo finaliza com a mesma combinação de insinuação, achismo, e contradições. Paro aqui.
25 setembro 2013
20 setembro 2013
Debate dos candidatos a reitor da Usp
Entre aula e reunião, assisti uma parte do debate na Poli. Impressões das falas que ouvi:
Só pude assistir pouco da fala da professora Maria Arminda. A parte que ouvi, via IPTV, foi uma discussão acadêmica sobre a estrutura do poder central na universidade, especialmente sobre escolha de nomes para os altos cargos. O auto-conhecimento é importante para a universidade, mas dentro dela o processo de eleição é um assunto menor, e as implicações da parte que ouvi para as ações da reitoria não ficaram claras. (Adicionalmente, não me parece que o poder na Usp siga a fria razão de estado da burocra weberiana, nem a tirania absurda da burocra kafkiana. O referencial teórico apropriado é a ação mais ou menos lógica do estamento descrito por Faoro, somado à cordialidade brasileira entre membros e grupos de donos do poder.)
O professor Hélio Cruz é o que fala melhor e mais claramente. Só que a preocupação dele é essencialmente administrativa e de continuação das políticas gerenciais atuais. Falou muito pouco sobre ensino e pesquisa. Alíneas de manutenção predial podem ser importantes, mas é difícil sentir entusiasmo quando as atividades fundamentais da universidade não são mencionadas.
Não gostei da apresentação do professor Zago. Foram diversos pontos pouco específicos, generalidades mais ou menos consensuais, e também com excesso de ênfase em temas periféricos. Reforma disso, planos daquilo, estrutura de poder, melhorias, aperfeiçoamentos, qualidade, muitas palavras chave cobrindo quase todos os temas, mas sem priorizar prioridades prioritárias. A forma de discurso dele foi combativa, quase agressiva com dedo em riste como político de novela de televisão, só que situacionista, no conteúdo pouco crítica, a favor do status quo.
Não ficaram muito claras, na parte que consegui assistir, quais as propostas do professor Vahan.
O professor Cardoso enfatizou a importância do ensino de graduação, e especialmente da integração e multidisciplinaridade. É a ênfase correta. Como ele expôs, quem quer fazer pesquisa tem liberdade e recursos, mas o ensino sofre muito com barreiras impostas por institutos e departamentos. Ele não entrou em excesso de detalhes sobre a administração, mas reforçou que é indispensável mudança vigorosa para fazer a universidade funcionar. Só dele e de mais ninguém ouvi qualquer crítica à administração atual, na qual o professor Cardoso vê falta de transparência e excesso de centralização.
O ponto de vista do professor Cardoso foi o mais generoso, e mais relevante para a comunidade universitária.
Só pude assistir pouco da fala da professora Maria Arminda. A parte que ouvi, via IPTV, foi uma discussão acadêmica sobre a estrutura do poder central na universidade, especialmente sobre escolha de nomes para os altos cargos. O auto-conhecimento é importante para a universidade, mas dentro dela o processo de eleição é um assunto menor, e as implicações da parte que ouvi para as ações da reitoria não ficaram claras. (Adicionalmente, não me parece que o poder na Usp siga a fria razão de estado da burocra weberiana, nem a tirania absurda da burocra kafkiana. O referencial teórico apropriado é a ação mais ou menos lógica do estamento descrito por Faoro, somado à cordialidade brasileira entre membros e grupos de donos do poder.)
O professor Hélio Cruz é o que fala melhor e mais claramente. Só que a preocupação dele é essencialmente administrativa e de continuação das políticas gerenciais atuais. Falou muito pouco sobre ensino e pesquisa. Alíneas de manutenção predial podem ser importantes, mas é difícil sentir entusiasmo quando as atividades fundamentais da universidade não são mencionadas.
Não ficaram muito claras, na parte que consegui assistir, quais as propostas do professor Vahan.
O professor Cardoso enfatizou a importância do ensino de graduação, e especialmente da integração e multidisciplinaridade. É a ênfase correta. Como ele expôs, quem quer fazer pesquisa tem liberdade e recursos, mas o ensino sofre muito com barreiras impostas por institutos e departamentos. Ele não entrou em excesso de detalhes sobre a administração, mas reforçou que é indispensável mudança vigorosa para fazer a universidade funcionar. Só dele e de mais ninguém ouvi qualquer crítica à administração atual, na qual o professor Cardoso vê falta de transparência e excesso de centralização.
O ponto de vista do professor Cardoso foi o mais generoso, e mais relevante para a comunidade universitária.
18 setembro 2013
Currículo de engenharia elétrica na Poli, 1
Em todas as provas que dou o uso de calculadoras, computadores, e internet é livre, bem como todas as formas de consulta. É uma decisão minha de alguns anos atrás, mas não exatamente uma política nova: talvez eu tenha dado uma prova sem consulta antes da www chegar ao Brasil, mas não lembro mais.
http://fmpait.blogspot.com.br/2013/08/uso-da-internet-livre-em-provas.html
Quanto às optativas, o problema que criamos é que a elétrica está prevendo 8 disciplinas obrigatórias por semestre nos 3 primeiros anos. Isso foi atingido sem romper o limite de 28 horas de aula semanais através de uma engenharia de grade horária que criou disciplinas com 2 ou 3 créditos. Mas como os alunos sabem cada disciplina é uma disciplina, com suas exigências, provas, e matéria. Vai sobrar muito pouco espaço mental ou tempo de estudo para optativas, para matérias que relacionam diferentes áreas da Poli, ou matérias que estimulam a criatividade - Práticas II por exemplo será eliminada.
A implementação proposta da EC3 na elétrica se choca de frente com a proposta da EC3. Essa em grande parte me parece coincidir com o desejo dos alunos conforme expresso em sua mensagem. Os únicos argumentos que ouvi a favor da implementação da EC3 proposta para a elétrica são os seguintes: 1 - ela atende aos interesses dos departamentos e dos laboratórios de ocuparem espaço na carga horária dos alunos; 2 - a proposta já foi aprovada e portanto não pode ser modificada.
Esses argumentos são muito fracos. Eu acho que a implementação da EC3 proposta para os 3 primeiros anos de engenharia elétrica é um desastre completo e que portanto ela deveria ser abandonada em favor da proposta original da EC3: a cada semestre 7 matérias de 4 créditos cada, sendo uma optativa livre a partir do 2o semestre. É necessário reconhecer que as discussões na elétrica criaram uma monstruosidade e jogar fora o resultado, eliminando a proliferação de matérias e detalhamento de conteúdos que vão inevitavelmente ter resultados contraproducentes. Um problema prático adicional é que as meias disciplinas e as disciplinas com 3/4 de carga horária vão tornar os horários individuais de estudantes que repetirem alguma matérias ou tentarem fazer alguma optativa um completo pesadelo.
http://fmpait.blogspot.com.br/2013/05/horarios-na-poli.html
Estou respondendo a todos por desencargo de consciência: assim como a implementação da EC3 está sendo encaminhada na elétrica o curso vai ser muito problemático e pouco atraente, e não vai satisfazer os anseios e demandas dos estudantes, mesmo com os melhores esforços dos professores responsáveis por cada disciplina. Se as coisas forem realmente feitas da forma como estão sendo encaminhadas, não quero ter na minha consciência a culpa de não ter dado minha opinião, seja por timidez ou por receio de ofender alguém. Posso não ter tido competência para expor meus argumentos de forma convincente aos colegas, mas não assumo a culpa da omissão, indiferença e indolência.
(...)
Verdade, as discussões foram abertas e o processo foi conduzido de forma transparente e adequada. Porém o resultado é ruim. Arrisco dizer que o excesso de atenção aos conteúdos das disciplinas não facilitou resistir à tentação de micro-administrar as atividades didáticas de cada aluno, mas outras interpretações são possíveis.
Não é importante tentar explicar o que deu errado, nem defender a condução do processo. O importante é o que fazer agora.
Há 2 alternativas. Uma é reconhecer que, apesar da boa condução do processo, o currículo não atende aos objetivos. Podemos aproveitar os trabalhos exaustivos sobre os conteúdos específicos de cada disciplina, mas é necessário descartar a grade curricular inchada e inflexível.
A outra é se apegar com orgulho ao resultado do processo e do nosso trabalho, implementar o currículo da forma como foi proposto, e conviver com um curso problemático por muitos anos. (O nome disso em economês é a falácia dos custos irrecuperáveis, sunk cost fallacy, exemplificada pela frase "não podemos deixar de casar apesar de não gostarmos um do outro depois de tudo que já pagamos pela festa do casamento".) Nesse caso vamos esperar os grandes e completamente previsíveis problemas se manifestarem para depois acionar o lento processo de mudanças. Daí a cada ano vamos tentar fazer pequenas mudanças em cada disciplina para resolver um problema que é causado não pela condução de cada disciplina individualmente mas pela estrutura incorreta na qual elas foram encaixadas. Não vai dar certo.
Essa 2a alternativa convém para quem fica melindrado com opiniões divergentes e evita conflitos com os desejos de laboratórios ocuparem espaços, mas é a pior para estudantes e para a universidade. Podemos escolher.
(28 e 29 agosto 2013)
http://fmpait.blogspot.com.br/2013/08/uso-da-internet-livre-em-provas.html
Quanto às optativas, o problema que criamos é que a elétrica está prevendo 8 disciplinas obrigatórias por semestre nos 3 primeiros anos. Isso foi atingido sem romper o limite de 28 horas de aula semanais através de uma engenharia de grade horária que criou disciplinas com 2 ou 3 créditos. Mas como os alunos sabem cada disciplina é uma disciplina, com suas exigências, provas, e matéria. Vai sobrar muito pouco espaço mental ou tempo de estudo para optativas, para matérias que relacionam diferentes áreas da Poli, ou matérias que estimulam a criatividade - Práticas II por exemplo será eliminada.
A implementação proposta da EC3 na elétrica se choca de frente com a proposta da EC3. Essa em grande parte me parece coincidir com o desejo dos alunos conforme expresso em sua mensagem. Os únicos argumentos que ouvi a favor da implementação da EC3 proposta para a elétrica são os seguintes: 1 - ela atende aos interesses dos departamentos e dos laboratórios de ocuparem espaço na carga horária dos alunos; 2 - a proposta já foi aprovada e portanto não pode ser modificada.
Esses argumentos são muito fracos. Eu acho que a implementação da EC3 proposta para os 3 primeiros anos de engenharia elétrica é um desastre completo e que portanto ela deveria ser abandonada em favor da proposta original da EC3: a cada semestre 7 matérias de 4 créditos cada, sendo uma optativa livre a partir do 2o semestre. É necessário reconhecer que as discussões na elétrica criaram uma monstruosidade e jogar fora o resultado, eliminando a proliferação de matérias e detalhamento de conteúdos que vão inevitavelmente ter resultados contraproducentes. Um problema prático adicional é que as meias disciplinas e as disciplinas com 3/4 de carga horária vão tornar os horários individuais de estudantes que repetirem alguma matérias ou tentarem fazer alguma optativa um completo pesadelo.
http://fmpait.blogspot.com.br/2013/05/horarios-na-poli.html
Estou respondendo a todos por desencargo de consciência: assim como a implementação da EC3 está sendo encaminhada na elétrica o curso vai ser muito problemático e pouco atraente, e não vai satisfazer os anseios e demandas dos estudantes, mesmo com os melhores esforços dos professores responsáveis por cada disciplina. Se as coisas forem realmente feitas da forma como estão sendo encaminhadas, não quero ter na minha consciência a culpa de não ter dado minha opinião, seja por timidez ou por receio de ofender alguém. Posso não ter tido competência para expor meus argumentos de forma convincente aos colegas, mas não assumo a culpa da omissão, indiferença e indolência.
(...)
Verdade, as discussões foram abertas e o processo foi conduzido de forma transparente e adequada. Porém o resultado é ruim. Arrisco dizer que o excesso de atenção aos conteúdos das disciplinas não facilitou resistir à tentação de micro-administrar as atividades didáticas de cada aluno, mas outras interpretações são possíveis.
Não é importante tentar explicar o que deu errado, nem defender a condução do processo. O importante é o que fazer agora.
Há 2 alternativas. Uma é reconhecer que, apesar da boa condução do processo, o currículo não atende aos objetivos. Podemos aproveitar os trabalhos exaustivos sobre os conteúdos específicos de cada disciplina, mas é necessário descartar a grade curricular inchada e inflexível.
A outra é se apegar com orgulho ao resultado do processo e do nosso trabalho, implementar o currículo da forma como foi proposto, e conviver com um curso problemático por muitos anos. (O nome disso em economês é a falácia dos custos irrecuperáveis, sunk cost fallacy, exemplificada pela frase "não podemos deixar de casar apesar de não gostarmos um do outro depois de tudo que já pagamos pela festa do casamento".) Nesse caso vamos esperar os grandes e completamente previsíveis problemas se manifestarem para depois acionar o lento processo de mudanças. Daí a cada ano vamos tentar fazer pequenas mudanças em cada disciplina para resolver um problema que é causado não pela condução de cada disciplina individualmente mas pela estrutura incorreta na qual elas foram encaixadas. Não vai dar certo.
Essa 2a alternativa convém para quem fica melindrado com opiniões divergentes e evita conflitos com os desejos de laboratórios ocuparem espaços, mas é a pior para estudantes e para a universidade. Podemos escolher.
(28 e 29 agosto 2013)
Currículo de engenharia elétrica na Poli, 2
A análise do Raphael Chinchilla é brilhante!
Primeiro, ele indica a fonte dos problemas que estão sendo notados agora: o excesso de ênfase nas aulas como processo de transmissão de conteúdo. Essa é apenas uma das funções da aula, e a aula não é a única forma de aprendizado.
Segundo, ele reconhece que, apesar dos grandes esforços dos professores, os currículos que estão sendo propostos não têm muita chance de dar certo, porque a estrutura curricular de engenharia elétrica está prevendo um excesso de disciplinas obrigatórias - 8 na maioria dos semestres. Dessa forma a atenção dos alunos tem que se dividir em 8 matérias, e fazer algumas delas caberem em 2 ou 3 horas de aula por semana só vai piorar as coisas, ou pelo enfraquecimento o conteúdo, ou pela falta de tempo para a compreensão.
Finalmente, ele traz a perspectiva dos estudantes e reforça a centralidade do assunto circuitos, que não é difícil mas é sutil, e exige uma compreensão teórica mais madura do que outras matérias. Talvez justamente por isso o laboratório acabe sendo pior avaliado do que outras matérias, igualmente importantes, mas que não fazem a mesma exigência de maturidade.
Gostaria de acrescentar que na minha opinião o mesmo problema que estamos diagnosticando em Laboratório de Eletricidade vai aparecer, de forma menos óbvia e imediata mas igualmente previsível, em muitas outras disciplinas: a diluição da dedicação dos alunos, causada pelo excesso de disciplinas obrigatórias e de conteúdos em cada semestre. Cada disciplina tem suas provas, suas avaliações, seus trabalhos, seus estilos, suas notações, e o excesso de matéria simultânea vai prejudicar o aprendizado, seja pela diminuição da transmissão de interesse por parte do professor, seja pela diminuição da absorção de conteúdo por parte dos alunos. O desconforto está aparecendo em primeiro lugar com respeito a esses Labs por causa da centralidade do assunto circuitos dentro do curso. Um problema ainda maior é que o excesso de disciplinas diminui as oportunidades para estudos, projetos e investigações fora da camisa-de-força curricular.
Ainda dá para corrigir esse erro, e a correção não vai ser feita nem pelo desmerecimento do cuidadoso trabalho dos docentes responsáveis pelas disciplinas, nem pela desqualificação das críticas bem embasadas de quem aponta o problema. Temos que rever os parâmetros que produziram um currículo engessado: excesso de ênfase em conteúdo transmitido em sala de aula, falta de apreciação da maturidade intelectual dos estudantes politécnicos, e insuficiente consideração da importância da motivação e curiosidade intelectual deles.
A escolha é nossa.
(18 setembro 2013)
Primeiro, ele indica a fonte dos problemas que estão sendo notados agora: o excesso de ênfase nas aulas como processo de transmissão de conteúdo. Essa é apenas uma das funções da aula, e a aula não é a única forma de aprendizado.
Segundo, ele reconhece que, apesar dos grandes esforços dos professores, os currículos que estão sendo propostos não têm muita chance de dar certo, porque a estrutura curricular de engenharia elétrica está prevendo um excesso de disciplinas obrigatórias - 8 na maioria dos semestres. Dessa forma a atenção dos alunos tem que se dividir em 8 matérias, e fazer algumas delas caberem em 2 ou 3 horas de aula por semana só vai piorar as coisas, ou pelo enfraquecimento o conteúdo, ou pela falta de tempo para a compreensão.
Finalmente, ele traz a perspectiva dos estudantes e reforça a centralidade do assunto circuitos, que não é difícil mas é sutil, e exige uma compreensão teórica mais madura do que outras matérias. Talvez justamente por isso o laboratório acabe sendo pior avaliado do que outras matérias, igualmente importantes, mas que não fazem a mesma exigência de maturidade.
Gostaria de acrescentar que na minha opinião o mesmo problema que estamos diagnosticando em Laboratório de Eletricidade vai aparecer, de forma menos óbvia e imediata mas igualmente previsível, em muitas outras disciplinas: a diluição da dedicação dos alunos, causada pelo excesso de disciplinas obrigatórias e de conteúdos em cada semestre. Cada disciplina tem suas provas, suas avaliações, seus trabalhos, seus estilos, suas notações, e o excesso de matéria simultânea vai prejudicar o aprendizado, seja pela diminuição da transmissão de interesse por parte do professor, seja pela diminuição da absorção de conteúdo por parte dos alunos. O desconforto está aparecendo em primeiro lugar com respeito a esses Labs por causa da centralidade do assunto circuitos dentro do curso. Um problema ainda maior é que o excesso de disciplinas diminui as oportunidades para estudos, projetos e investigações fora da camisa-de-força curricular.
Ainda dá para corrigir esse erro, e a correção não vai ser feita nem pelo desmerecimento do cuidadoso trabalho dos docentes responsáveis pelas disciplinas, nem pela desqualificação das críticas bem embasadas de quem aponta o problema. Temos que rever os parâmetros que produziram um currículo engessado: excesso de ênfase em conteúdo transmitido em sala de aula, falta de apreciação da maturidade intelectual dos estudantes politécnicos, e insuficiente consideração da importância da motivação e curiosidade intelectual deles.
A escolha é nossa.
(18 setembro 2013)
17 setembro 2013
Após fracasso, governo desiste do PAC
Uma parte eu entendi, lendo esse artigo no Estadão e esse outro: não houve interessados nos leilões de concessão de rodovias federais. Também entendi que 70% dos investimentos viriam da União, e metade dos 30% restantes de organizações quasi-estatais. O que surpreendeu foi ler que a execução das obras também seria feita pelo governo federal, através do DNIT, um departamento do ministério de transportes que até onde dá para ler na web nunca chegou a fazer obra nenhuma.
Seria uma forma de privatização ao contrário: o governo executa a obra, com dinheiro público, e as empresas privadas fazem as desapropriações e depois arcam com o prejuízo. Engraçado, né?
Fora dessa parte de rodovias, foi feita alguma coisa com os 500 mil contos do PAC? Na rede só tem a previsão de gastos para o futuro, mas o futuro já virou passado e não sei se o dinheiro foi gasto nem se alguma coisa foi feita. Talvez seja minha ignorância, talvez eu não tenha percebido quanta coisa boa foi feita porque a única obra do PAC em S Paulo foi cancelar a construção do Terminal 3 do aeroporto de Cumbica e renomear como permanente a estrutura provisória do Terminal 4, cuja demolição estava planejada - era um precário galpão de carga da falida Vasp que continua com uso muito limitado.
Seria uma forma de privatização ao contrário: o governo executa a obra, com dinheiro público, e as empresas privadas fazem as desapropriações e depois arcam com o prejuízo. Engraçado, né?
Fora dessa parte de rodovias, foi feita alguma coisa com os 500 mil contos do PAC? Na rede só tem a previsão de gastos para o futuro, mas o futuro já virou passado e não sei se o dinheiro foi gasto nem se alguma coisa foi feita. Talvez seja minha ignorância, talvez eu não tenha percebido quanta coisa boa foi feita porque a única obra do PAC em S Paulo foi cancelar a construção do Terminal 3 do aeroporto de Cumbica e renomear como permanente a estrutura provisória do Terminal 4, cuja demolição estava planejada - era um precário galpão de carga da falida Vasp que continua com uso muito limitado.
12 setembro 2013
Orquestra Sinfônica da USP
Faz tempo que ao receber correspondência da Osusp tenho notado a ausência da regente Lígia Amadio. Além de fazer um excelente trabalho musical, gosto de acompanhar a regência dela porque foi da minha turma na Escola Politécnica, sim, uma regente engenheira.
Hoje fui verificar a razão da ausência e o Google me responde: ano passado a maestra foi dispensada sem qualquer explicação pela reitoria e pró-reitoria. Na falta de qualquer comunicação oficial à comunidade da Usp e dos fãs da música de concerto, especula-se que a motivação tenha sido sucesso em excesso. Lamentável.
Fico feliz em saber que a maestra continua sua carreira musical sob aplausos, infelizmente fora do Brasil e da nossa universidade.
Hoje fui verificar a razão da ausência e o Google me responde: ano passado a maestra foi dispensada sem qualquer explicação pela reitoria e pró-reitoria. Na falta de qualquer comunicação oficial à comunidade da Usp e dos fãs da música de concerto, especula-se que a motivação tenha sido sucesso em excesso. Lamentável.
Fico feliz em saber que a maestra continua sua carreira musical sob aplausos, infelizmente fora do Brasil e da nossa universidade.
"This just don't sound like no samba song"
Last night I went to the samba bar,
Hear my good friend play the flute.
Wanted to write some words for the singer,
Ended up with a country rhyme.
Dreamt I drove the green old bug,
Filling up on one-ninety proof.
Up and down the Andes, by the Salty Flats,
Through Texas-size ranches, and the rainforest too.
Sorry, Susanna, don't get me wrong,
This just don't sound like no samba song.
Ferried along Darien, on to the Chihuahua desert,
Passed the island prison and the pipeweed fields.
Crossed the border at the Rio Grande,
Drove straight to the New England Pike.
Got no Ivy League, no six-figure job,
Just came up North with the love I got.
We write back and forth, we speak on the phone,
I ask of the girls, we talk of rent and flights.
I saw you on the iMac with the new iSight.
Just wanted to say I love you.
Now hit the Pan Am Road, Beetle, real quick,
Got a class to teach in about a week.
(Country rhyme, dated 2005. To be read with a twang.)
Hear my good friend play the flute.
Wanted to write some words for the singer,
Ended up with a country rhyme.
Dreamt I drove the green old bug,
Filling up on one-ninety proof.
Up and down the Andes, by the Salty Flats,
Through Texas-size ranches, and the rainforest too.
Sorry, Susanna, don't get me wrong,
This just don't sound like no samba song.
Ferried along Darien, on to the Chihuahua desert,
Passed the island prison and the pipeweed fields.
Crossed the border at the Rio Grande,
Drove straight to the New England Pike.
Got no Ivy League, no six-figure job,
Just came up North with the love I got.
We write back and forth, we speak on the phone,
I ask of the girls, we talk of rent and flights.
I saw you on the iMac with the new iSight.
Just wanted to say I love you.
Now hit the Pan Am Road, Beetle, real quick,
Got a class to teach in about a week.
(Country rhyme, dated 2005. To be read with a twang.)
10 setembro 2013
O conceito burguês de causalidade
O sempre instrutivo Vladimir Safatle escreve na Folha: "...entre 1950 e 1971, o PIB chileno cresceu, em média, 2% ao ano. Já entre 1972 e 1983, ele recuou (sim, recuou) 1,1%". De fato, Allende, que foi presidente de 1970 a 1973, meteu o país numa crise da qual ele só saiu anos depois. De alguma forma, na análise do excelentíssimo uspiano o desastre econômico que solapou o apoio à democracia é um mérito do governo Allende, e o culpado é a ditadura que o sucedeu.
O ditador Pinochet fez muita coisa ruim. A depressão iniciada antes do golpe não foi uma delas. Alguém precisa explicar ao professor de filosofia o conceito burguês de causalidade.
O ditador Pinochet fez muita coisa ruim. A depressão iniciada antes do golpe não foi uma delas. Alguém precisa explicar ao professor de filosofia o conceito burguês de causalidade.
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