Uma das coisas divertidas de viajar no Japão é pegar transporte público com todo o mundo. Parece que em Osaka só 10% das viagens são de carro; o resto é a pé ou numa combinação de bicicleta, trem, metrô, e ônibus. Tem pouco carro andando nas ruas, exceto nas avenidas principais, e não vi nenhum engarrafamento. A escolha é facilitada pelo fato que a cidade é plana e extremamente densa - implacavelmente urbana, diria. As bicicletas andam nas ruas - as menores não tem calçada - sem vias especiais. Nem precisa, porque os raros carros são cuidadosos. Nas avenidas, usam a calçada.
Há uma combinação impressionante de linhas de trem e metrô, subterrâneas, elevadas, e de superfície, da cidade, nacionais, e privadas. A rede é incomparavelmente mais densa que em S Paulo. É usada o tempo todo, e fica cheia nos horários de pico, mas dá para usar sem desconforto. O desembarque é mais eficiente porque não tem japonês tentando entrar no trem antes dos outros japoneses saírem, nem guardando a porta de saída com várias estações de antecedência.
Li que o 1o metrô é dos anos 1930. Algumas linhas de trem devem ser anteriores, mas a maior parte do sistema foi obviamente construída depois da guerra, e claramente tudo foi reconstruído recentemente. Não dá para usar como desculpa que o sistema é mais antigo - não seria como um estudante do primário chegar atrasado com roupa rasgada dizendo que apanhou do bully do ginásio, é mais como dizer que papai não sai de casa porque apanhou do vovô. Não ter botado trem em toda a cidade de S Paulo em quase meio século de obras daria foi uma decisão deliberada da sociedade e dos políticos, da mesma forma como dificultar a movimentação de pedestres e especialmente de ciclistas foi uma decisão deliberada.
Uma coisa meio confusa é que cada sistema exige passagem própria, comprada no valor exato, que depende da distância, em caixas automáticos nas estações. Depois de se habituar é fácil, mas não existem passes convenientes para o turistas que funcionam em todas as linhas. É bem diferente de S Paulo, onde tem bilhete de metrô, bilhete de metrô + ônibus, e bilhete de metrô + ônibus interurbano, vendidos em guichês diferentes, que existem em uma estação mas não na outra, idênticos mas não compatíveis. Pensando bem, é a mesma bagunça. Só que aqui dá a impressão que os sistemas diferentes existem por hábito e conservadorismo, e não só por desaforo.
Hoje saí cedo, peguei a linha circular da Japan Railways na direção oposta ao centro de conferências, fica só um pouquinho mais longe. Pensava em descer no centro, mas quando vi o castelo de Osaka desci num impulso. Atravessei os jardins, subi a montanha, cheguei na porta do castelo - visita só depois das 9 - fui para o outro lado, atravessei o fosso na outra direção, e confiando no milagre dos trens japoneses cheguei na hora para a plenária, que não está grande coisa.
Em resumo, os trens são baratos, extremamente eficientes, e inacreditavelmente silenciosos. Mas também o que se espera de um país onde até elevadores funcionam na hora?
Um problema é que a conferência é num convention center, que é o pior tipo lugar para fazer conferência, provavelmente porque foram planejados para conferências. Não tem lugar para sentar e conversar, nem espaço adequado para os coffee breaks. O melhor tipo de lugar são universidades, especialmente as residenciais americanas, durante as férias - como não foram projetadas para convenções, tudo funciona como devia. Intermediário são hotéis, não projetados para convenções, mas adaptados, o que atrapalha um pouco mas não compromete.
Voltando ao que interessa, a comida aqui, como já disse, é boa e barata. Mais fácil comer sozinho sem os gaijin. O pessoal do restaurante sabe que eu não falo japonês, falam japonês comigo do mesmo jeito, eu gesticulo qualquer coisa, e no final das contas o umbigo sai satisfeito. Os gaijin querem saber o que estão pedindo, como se fizesse diferença, não confiam nas fotografias da comida, não entendem nada e ficam melindrados. No dia livre, lembrar de não viajar com ninguém. Hoje ouvi meu 1o "hai, arimasen" da viagem, o curioso hábito japonês de dizer "sim, inexiste," evitando dizer não.
17 dezembro 2015
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