Isso me lembra, de todas as coisas, o ministro das Minas e Energia do tempo do Geisel, Shigueaki Ueki. Houve a crise do petróleo. O Brasil tinha dificuldade de pagar os aumentos impostos pelos países do Golfo Pérsico, porque as contas nacionais estavam uma bagunça depois de anos de ditadura.
O governo bolou uns esquemas meio bestas para fechar as contas, incluindo desde confiscos e racionamentos, até rifar voto nas Nações Unidas. Seja lá como for, em algum momento, perguntaram ao ministro o que aconteceria se a falta de petróleo chegasse ao Brasil. Ele respondeu que se não conseguíssemos importar petróleo todo mundo ia ter que andar de bicicleta como faziam os europeus.
Os "bem pensantes" fizeram uma crítica esportiva, na verdade escarnecedora definiria melhor. Em geral em tom racista, por o ministro ser nissei. Eu era moleque mas senti uma dissonância cognitiva. Os adultos não gostavam da ditadura e falavam mal do ministro por ser japonês? Criticavam as ditaduras árabes mas não aceitavam qq esforço para usar menos gasolina? Escarneciam mas não conseguiam imaginar solução? Não queriam racionamento nem aumento de preço?
O mais inesquecível eram os comentaristas dizendo "tem que andar de bichicreta" como se imitar um pretenso sotaque estrangeiro - que o culto ministro não tinha - desqualificasse sua opinião.
Para mim foi formativo. Ficou na cabeça como exemplo da estupidez humana. Muito mais tarde encontrei o ministro numa festa de criança. Passou a impressão de um cidadão educado, culto, patriota. Talvez tenha errado bastante. Quem não? Um episódio instrutivo.
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