Recentemente li o excelente Capital da Solidão, uma história da cidade de S Paulo escrita por Roberto Pompeu de Toledo. O que me levou a comprar o livro foi a necessidade de passar tempo, a grata surpresa de ver que a livraria Book Stop onde comprávamos os livros texto dos professores Butija e Dárcio do Colégio Bandeirantes resiste bravamente às décadas na R Bernardino de Campos, e o fato que história é a única coisa que tenho paciência de ler entre os achados em livrarias comerciais.
Mas divago. O fato é que recomendo fortemente o livro, que apesar de ser escrito por um jornalista, com base em fontes historiográficas, eu consideraria uma fonte primária pela abrangência da concepção e clareza da escrita.
Para fazer par comprei recentemente A História do Rio de Janeiro de Armelle Enders. O ponto de vista centrado numa cidade me parece muito apropriado para elucidar as partes da história que permanecem obscuras na historiografia de países ou épocas. Na verdade o motivo para essa compra é que Os Donos do Poder de Raymundo Faoro, sobre o qual esse blog certamente escreverá num futuro próximo, tem massa excessiva para leitura na cama numa época de feriados e viagens. Novamente, digressiono.
Esse livro-companheiro, embora de maneira nenhuma seja um mau livro, não está me entusiasmando tanto. O motivo principal há de se revelar a superioridade de minha ignorância sobre o Rio, e meu maior interesse por S Paulo. O motivo desse post é considerar outros.
Em 1o lugar, a cidade de S Paulo teve uma existência semi-autônoma, até certo ponto independente da coroa portuguesa. A história do Rio de Janeiro se confunde, ao menos como contada pela pesquisadora da Sorbonne nesse livro relativamente curto, com a história do Brasil e de Portugal; e assim traz menos surpresas ou revelações para o paulistano medianamente letrado.
Em 2o lugar, a documentação paulistana é farta - as atas da Câmara Municipal se preservam desde a origem dos Campos de Piratininga. Agradeceria alguma informação sobre a documentação carioca existente até nossos dias, mas especulo que tenda mais para o que já conhecemos sobre o Brasil todo. De qualquer modo, a apresentação do indispensável contexto luso-brasileiro reduz as oportunidades para revelar as características específicas da história urbana do Rio.
Finalmente, o livro do jornalista paulista é superior ao da historiadora francesa. Além de estar estruturado como uma fonte secundária ou didática, este contém ao menos um erro de interpretação imperdoável. Um tema fundamental da história carioca pré-independência são as invasões francesas do Rio e Lisboa. A cada uma delas, a autora da "História do Rio de Janeiro" ressalta a tensão entre o reino de Portugal e seu antigo aliado, a Inglaterra, indicando até que a preocupação primordial da Coroa durante a ocupação napoleônica de Lisboa fosse a autonomia das colônias em relação à pérfida Albion.
Essa visão galocêntrica da história detrai da qualidade do livro e coloca em dúvida a análise apresentada. Se houver alguma revelação importante na parte sobre o Rio de Janeiro imperial, ou sobre meu herói Pedrão, volto a escrever sobre o assunto.
PS: Cheguei até o fim do império. A conclusão é que o livro não é bom. Trata-se na verdade de uma história política do Brasil, de um ponto de vista franco-carioca. Não de uma história da cidade. Como exemplo, os mapas são escassos, insuficientemente informativos, e surpreendentemente, não foram traduzidos. Quando o título de um capítulo leva a esperar que finalmente a história urbana se revele, o texto logo recai na política da capital, tendo a cidade, sua economia, sua sociedade, e sua cultura apenas como temas secundários. O texto não revela o mesmo amor pelo objeto historiografado que lemos em cada página de Pompeu de Toledo.
Se uma grande história urbana do Rio já foi escrita, por favor me esclareçam.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário