Por outro lado, brasileiro não se ofende com ofensas pessoais. Ou pelo menos perdoa rapidamente. Todos cooperam para enganar a Coroa, assim evitam guerras civis, até convivem com o racismo. Por muito menos do que as pessoas ouvem abertamente no Brasil, um europeu ou asiático monta uma milícia fratricida. As relações pessoais fazem parte do país real: esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco, como nos ensinou Machado de Assis no Diário do Rio de Janeiro em 29 dezembro 1861.
As relações profissionais são o Brasil oficial. Discordância é subversão à hierarquia, à burocracia, ameaça ao status e aos direitos adquiridos.
Isso ajuda a entender alguns obstáculos para a inovação em ciência e tecnologia no Brasil. Quem quer desenvolver tecnologia na universidade precisa começar rendendo homenagens ao Patinho Feio, ao Pal-M, e ao Corcel II, senão toda a infraestrutura fecha as portas. Empresas grandes têm os mesmos cacoetes. De homenagem em homenagem, de discurso em discurso, a inovação some do centro e é empurrada para a borda.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Você não acha que a gente vive de renda? E tanto Policarpo quanto Macunaíma ainda são atuais?
De renda? Num certo sentido, sim. O campo sustenta a cidade. No império, a corte vivia da alfândega sobre produtos industriais e de luxo, e da renda dos latifúndios. Na república, a cidade vivia do imposto sobre a indústria, que só aguenta esses custos porque é protegida pela mesma alfândega.
Hoje temos um sistema misto entre os 2, e mais a renda das finanças. A literatura é portanto sempre atual, mesmo quando as filosofias quasi-científicas saem de moda.
Postar um comentário