Begin forwarded message:
From: Felipe M Pait
Date: 5 August 2006 8:31:47 PM GMT-02:00
To: Ivan Gilberto Sandoval Falleiros
Subject: Re: Pergunta para orientar ações
Prezado Prof. Falleiros, prezados colegas,
Estou escrevendo em resposta à pergunta sobre valorização da graduação, assunto que me é muito caro.
A valorização do ensino de graduação tem que ser uma atividade conjunta dos estudantes, dos professores, e das empresas que contratam os engenheiros formados pela Poli. Não estou propondo uma série de reuniões e comissões tripartites. O que quero dizer é que cada um deve cumprir seu papel.
As empresas devem contratar nossos alunos. Até agora pelo que sei nenhuma empresa mostra qualquer interesse pela formação que o aluno teve na escola. Elas gostam de ver o "canudo", o diploma de uma escola com prestígio, mas critérios de avaliação que eles usam para contratar recém formados não tem qualquer relação com a universidade: são exames psicotécnicos, entrevistas em grupo, contagem de tempo de estágio, tudo menos exame do currículo do candidato. Muitas vezes ouvimos a pergunta "O que pode ser feito para estreitar a relação entre universidade e empresas?" Correndo o risco de simplificar, podemos resumir as respostas: as universidades tendem a responder "queremos dinheiro", e as empresas "queremos soluções prontas de baixo custo". Nossa resposta deveria ser sempre: queremos que a indústria contrate nossos alunos, levando em conta nossos critérios. Afinal, um politécnico foi examinado durante 5 anos por dezenas de professores, de maneira cuidadosa, criteriosa, e podemos dizer imparcial e justa. Para valorizar o nosso ensino de graduação, precisamos que a indústria esteja lendo o livro na mesma página que nós. Posso dar como argumento adicional o fato de que o desempenho dos estudantes é levado em consideração pelo mercado de trabalho em qualquer país com sistema de educação universitária bem sucedido. O currículo de graduação é fundamental na busca do primeiro emprego, e até mais tarde. Quanto a isso estou bastante familiarizado com o sistema norte-americano, e entendo que as coisas na Europa não são diferentes. Nós não temos como ser a exceção. As empresas não levam o conteúdo acadêmico a sério, e conseqüentemente os estudantes, que não são bobos, também não o fazem. Essa é talvez a maior deficiência de nosso sistema de ensino: a falta de reforço pelo meio industrial da importância da universidade.
Externamente, então, minha proposta para valorizar o ensino de graduação é "fechar a malha de controle". Estamos atuando sem realimentação, o que é problemático. Internamente, o que precisamos fazer também é fechar a malha de controle. Precisamos flexibilizar a estrutura curricular de modo a dar aos estudante a possibilidade de buscarem os cursos e disciplinas onde acreditam que seu tempo será melhor aproveitado. Precisamos oferecer a eles a liberdade de usarem seu tempo de estudo nos assuntos dos quais esperam obter maior retorno intelectual ou profissional, seja por preferência e inclinação individual, seja pela situação do mercado de trabalho, ou seja pela qualidade do ensino oferecido pelos docentes dos diversos departamentos. A forma como operamos agora é desastrosa: os currículos são rígidos e inflexíveis, portanto a alocação do tempo dos estudantes entre os diversos assuntos é decidida pela congregação e pelos conselhos de departamentos. Lamento dizer que muitas vezes os critérios são mais políticos e da conveniência do corpo docente do que de maximização da utilidade para os alunos e a sociedade. O exemplo melhor dessa situação é o sistema de opções: o número de vagas oferecidas em cada "grande área", em cada ênfase dentro das grandes áreas, guarda relação muito mais estreita com o tamanho do corpo docente, aproximadamente fixo há décadas apesar da evolução da engenharia e da economia brasileiras, do que com a real procura dos alunos pelas diversas disciplinas. E sabemos também que cada departamento ou subdepartamento quase sempre buscar alocar seus professores com menor vocação didática para as disciplinas obrigatórias oferecidas para os "alunos de outras áreas", guardando os professores que melhor se dão em salas de aula para os "nossos (seus) alunos", isto é, buscando tornar a opção que oferecem mais atraente às custas da qualidade de ensino na Escola Politécnica e na universidade como um todo. Só quando dermos aos estudantes a possibilidade de "votar com os pés", de fazer a avaliação dos disciplinas cursando as melhores, é que os professores que se dedicam mais à atividade de ensino terão a medida clara de quanto seus esforços têm impacto na formação dos alunos.
Quanto à terceira parte envolvida, os alunos reagem à situação que se lhes apresenta. Eles precisam se formar, e após isso trabalhar. Quando eles tiverem a consciência de que a dedicação às atividades acadêmicas traz uma recompensa clara, o desempenho deles em sala de aula melhorará. E quando eles tiverem liberdade de escolherem os cursos mais adequados aos interesses e habilidades individuais, a atividade dos professores em sala de aula será muito mais compensadora. Isso será nossa própria recompensa. Dar aulas para alunos motivados e satisfeitos supera qualquer motivação que a administração da Poli pode nos conceder. Mesmo o prazer de fazer um bom trabalho de pesquisa, ou a remuneração por uma atividade de consultoria, dificilmente se compara à alegria de uma boa aula.
Acho que é isso que queria dizer. Peço desculpas se não me expressei de maneira suficientemente clara, estou escrevendo a bordo do avião ao final de uma longa viagem de volta de uma conferência, chegando em terra envio. Será um prazer continuar este diálogo por email ou pessoalmente com quem possa se interessar. Fique à vontade para divulgar, agradeço a atenção,
πt
On 24 Jul 2006, at 10:42 AM, Ivan Gilberto Sandoval Falleiros wrote:
Prezadas e Prezados
A Diretoria da Escola quer reforçar as atividades de ensino de graduação. O assunto tem aparecido de várias formas em discussões, passando por temas como "valorização da graduação", "competição entre pesquisa e ensino", "avaliação da graduação" e outros semelhantes.
Esta tem a finalidade de pedir ajuda a cada pessoa, na forma de sugestões para valorizar o ensino de graduação na Escola. O objetivo é levantar idéias para ações concretas. Numa primeira rodada, valem todas as idéias, sem preocupação com barreiras reais ou potenciais.
Muito obrigado pela atenção a mais este pedido.
Prof. Dr. Ivan G. S. Falleiros
Diretor
7 comentários:
caro ignorado:
sorry to say, mas é realmente fato que seu texto é um pouco confuso. tirando a flexibilização da grade curricular, há outra proposta?
sugestao simples mas sempre esquecida: como estao as salas de aula da graduacao poli? e os predios? precisando de reforma? que tal fazer com que as empresas ajudem a reformar?
se a graduacao é realmente importante para a poli, predios e salas precisam expressar isso.
nao é apenas uma questao cosmetica. o projeto de reforma remexe as ideias que estao misturadas no lodo do tempo.
ajudei?
abs
sgold
a propos, como economista, eu diria que as empresas nao querem solucoes a baixo custo.
o que elas querem é um sinal.
é dever da poli preservar a qualidade deste sinal.
abs
sgold
ps. veja signalling spence no google.
Para post de blog até que está aceitável, né? Para carta recebida pelo diretor, está muito acima da média.
Agora como proposta concreta você está 100% certo que deixa a desejar.
Tem gente pensando nesse negócio de trazer $ de empresas para arrumar o espaço físico, anda bem devagar apesar de serem uns trocados.
Pelo que entendo dos alunos os processos de contratação de empresas continuam uma bostas sem metro nem rima. Se as empresas têm noção do que querem, falta comunicar aos candidatos e aos departamento de pessoal.
é curiosa a resistencia da usp ao $ vindo das empresas.
a experiencia aqui na fundacao é que os alunos, professores, etc... sentem-se valorizados (subjetivamente e objetivamente) com essa participação.
abs
sgold
A resistência vem da burocra estatal, e secundariamente da inveja dos não contemplados, ocasionalmente travestida com discurso esquerdista. Mas o fato é que comparados com os bilhões que vêm do contribuinte o $ das empresas para reformas é trocado mixuruca.
O importante seria mesmo as empresas valorizarem o conhecimento, coisa que diversas não têm nem a competência nem a integridade para fazerem.
as empresas nao tem porque valorizar o conhecimento, a nao ser que isso lhes traga algum beneficio.
nao sei se é uma questao de integridade ou de competencia. se for, o mercado deveria dar um jeito nisso. se funcionasse, claro.
no final das contas, se nao fossem os concursos publicos, o pessoal do conhecimento provavelmente ia ficar subempregado.
espero nao estar exagerando.
abs
sgold
Em parte você está certo, mas um pouco economista demais. É fato que pessoas em organizações se defendem contra pessoas que poderiam vir de fora e atrapalhar a hierarquia. Por isso em organizações onde falta integridade e competência o corporativismo é usado para barrar o conhecimento.
E como é que o mercado não dá um jeito nisso, criando competidores que usam o conhecimento para trabalhar de forma mais eficaz? É que às vezes o mercado não opera, em setores protegidos por licenças e barreiras. Por exemplo em certas indústrias onde o que vale é conseguir favores especiais do governo.
Ou nas próprias universidades, que por uma série de motivos são pouco sujeitas à competição.
Postar um comentário