Prezado professor Mauro Borges,
Em setembro de 2014 tive a oportunidade de assistir sua conferência realizada na Universidade de Minas Gerais durante o Congresso Brasileiro de Automática. Ouvi com interesse sua exposição sobre a política industrial então praticada pelo governo federal, tendo ficado particularmente impressionado com sua defesa da retomada da política industrial, que nas suas palavras não era mais feita no Brasil desde os anos 1970. Por temperamento e por experiência de engenheiro eu não tenho grande simpatia pela política industrial nesses moldes: os benefícios concedidos a setores mais dinâmicos na obtenção de benefícios oficiais tendem a se transformar em obstáculos para setores mais dinâmicos tecnologicamente, mesmo quando os agentes não cedem às tentações da corrupção. Adicionalmente compartilho da opinião generalizada e amplamente apoiada pelos fatos de que o resultado da política industrial do governo Geisel foi absolutamente desastroso para a economia e a engenharia nacionais.
Mas entendo que existem argumentos intelectuais a favor dessas políticas e fiquei impressionado com a sinceridade com a qual você os apresentou.
Devo então agora dizer que estou abismado com as notícias de que durante sua administração, logo antes de sua palestra no CBA, o Ministério do Desenvolvimento concedeu benefícios fiscais à operadora de esquemas de propinas CAOA. Trata-se exatamente do tipo de negócio que dá mau nome à concessão de vantagens pelo governo: beneficia uma empresa que não faz qualquer contribuição à indústria ou tecnologias nacionais, e cujo produto principal é a capacidade de obter favores dos donos do poder por meios imorais e ilícitos.
Além de servirem para falsificar mais uma vez toda a argumentação a favor de políticas de desenvolvimento industriais baseadas em barreiras alfandegárias e subsídios, infelizmente essas notícias colocam em questão a sinceridade das posições tão eloquentemente expressas na palestra, e a reputação construída ao longo de toda sua carreira. Honestamente, estou chocado.
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