Circula por aí que a avaliação da presidente, do governador, e do prefeito pioraram. Nenhuma surpresa: a situação está piorando. O eleitor vai dizer o que: "a culpa é toda minha"?
A diferença é que a Dilma leva a culpa pelos erros; o Alckmin, pelo que não faz; e o Haddad é criticado pelos acertos.
09 fevereiro 2015
05 fevereiro 2015
Falta d'água
Não sou conhecedor da questão da água. O objetivo desse post é corrigir umas bobagens que gente que sabe tanto quanto eu mas não tem o hábito de pensar anda repetindo como se fosse perito.
1 - O "agronegócio" usa mais da metade da água consumida por S Paulo. O número é falso. Não dá nem para dizer que é incorreto porque é meramente inventado.
Não sei de onde vem o número de 70% que é citado por aí. Talvez a agricultura irrigada consuma uma fração grande da água retirada de seu curso natural em lugares como as planícies dos Estados Unidos, o Iraque mesopotâmico, ou os terraços de arroz da Cochinchina. No Brasil a agricultura usa muito a água da chuva, então o número é bem menor. Na cidade de S Paulo, onde realmente a falta de água mais preocupa, não existe muita agricultura, e menos ainda "agronegócio".
O uso da palavra "agronegócio" nessas peças sobre a questão da água é bem revelador da má fé. Imagino que a intenção é utilizar a preocupação com a água para insuflar as pessoas contra os "negócios". Em geral esse número falsificado é usado em artigos de políticos da extrema esquerda e blogs chapa-branca "independentes". Ação sugerida: anotar quem escreveu, e depois usar a mentira como padrão de confiabilidade.
2 - O que vamos fazer quando acabar a água? Isso denota uma curiosa visão patrimonialista do abastecimento: "a água vem da Coroa, que mandou armazenar na represa. Quando acabar, não tem mais."
Falso. A água vem da chuva. Todo dia entra água no sistema, e sai água para distribuição e consumo. Sem reservatórios, a distribuição é menor que as retiradas de rios e aquíferos. Uns dias tem mais água entrando, outros menos. Não quer dizer que sem água acumulada não tem mais nada.
Ação sugerida: gastar menos água.
Ação sugerida: gastar menos água.
3 - Êxodo urbano.
Todo mundo vai ter que sair de S Paulo para gastar menos água.
Tecnicamente pensando, o objetivo é economizar água até que a retirada fique igual à entrada, já que as reservas estão mínimas.
O jeito mais barato é diminuindo a pressão, o desperdício no sistema, essas coisas que a Sabesp fez meio atrasada.
O seguinte é diminuir os gastos inúteis, tipo lavar carro, imagino que agora estão diminuindo.
Um pouco mais dispendioso é diminuir os gastos de utilidade média, tipo indústria de alimentos, que ainda existe em S Paulo, gasta bastante água, e emprega uma fração pequena dos trabalhadores.
Depois ainda tem muitas economias com um custo significativo, mas não excessivo. O motivo para não adotar cada uma dessas alternativas é que a água continua barata e abundante na torneira, e a maioria das pessoas não quer gastar menos e deixar para o vizinho.
No final da linha está sair da cidade, que tem um custo de 100% do orçamento familiar, mais ou menos - mais para quem tem que arrumar outra residência, menos para quem tem emprego e moradia no outro lugar. De qq forma o custo social de diminuir o gasto em x% tirando x% das pessoas da cidade é incomensuravelmente maior que todas as outras alternativas.
Resumo executivo: há muita margem para diminuir o gasto de água até ficar igual às entradas no sistema. O mais racional envolve aumentar os preços. Individualmente cada um pode diminuir muito seu gasto, mas considerando que o preço da água continua uma fração minúscula das despesas totais, e que cada um acha que fica mais fácil para o vizinho economizar, não fazem. Em vez de gastar menos, abandonar escola, emprego, e moradia?
Êxodo urbano é uma alternativa tão irracional que minha cabeça de engenheiro não consegue se pronunciar. Ação sugerida: nenhuma.
4 - Porque está faltando chuva? Disso entendo menos ainda. Mas vou palpitar.
Com certeza existem fatores locais, regionais, e globais. Localmente, o ambiente em S Paulo mudou. A mancha urbana cresceu e se asfaltou. As temperaturas são um pouco maiores em média, oscilam mais, e a água escorre mais rápido. No estado, mudou mais ainda: o 2o ciclo da cana de açúcar transformou o estado inteiro. Para a água, uma plantação de cana deve ser mais parecida com um estacionamento do que com uma floresta.
Mais longe, o desmatamento no centro do país, mais ainda do que na Amazônia, afeta o regime de chuvas. E o aquecimento global com certeza também traz consequências desagradáveis variadas, não simplesmente alguns graus a mais no termômetro.
Ação sugerida: prestar mais atenção ao desmatamento regional como causa da falta de água do que nas outras explicações.
Tecnicamente pensando, o objetivo é economizar água até que a retirada fique igual à entrada, já que as reservas estão mínimas.
O jeito mais barato é diminuindo a pressão, o desperdício no sistema, essas coisas que a Sabesp fez meio atrasada.
O seguinte é diminuir os gastos inúteis, tipo lavar carro, imagino que agora estão diminuindo.
Um pouco mais dispendioso é diminuir os gastos de utilidade média, tipo indústria de alimentos, que ainda existe em S Paulo, gasta bastante água, e emprega uma fração pequena dos trabalhadores.
Depois ainda tem muitas economias com um custo significativo, mas não excessivo. O motivo para não adotar cada uma dessas alternativas é que a água continua barata e abundante na torneira, e a maioria das pessoas não quer gastar menos e deixar para o vizinho.
No final da linha está sair da cidade, que tem um custo de 100% do orçamento familiar, mais ou menos - mais para quem tem que arrumar outra residência, menos para quem tem emprego e moradia no outro lugar. De qq forma o custo social de diminuir o gasto em x% tirando x% das pessoas da cidade é incomensuravelmente maior que todas as outras alternativas.
Resumo executivo: há muita margem para diminuir o gasto de água até ficar igual às entradas no sistema. O mais racional envolve aumentar os preços. Individualmente cada um pode diminuir muito seu gasto, mas considerando que o preço da água continua uma fração minúscula das despesas totais, e que cada um acha que fica mais fácil para o vizinho economizar, não fazem. Em vez de gastar menos, abandonar escola, emprego, e moradia?
Êxodo urbano é uma alternativa tão irracional que minha cabeça de engenheiro não consegue se pronunciar. Ação sugerida: nenhuma.
4 - Porque está faltando chuva? Disso entendo menos ainda. Mas vou palpitar.
Com certeza existem fatores locais, regionais, e globais. Localmente, o ambiente em S Paulo mudou. A mancha urbana cresceu e se asfaltou. As temperaturas são um pouco maiores em média, oscilam mais, e a água escorre mais rápido. No estado, mudou mais ainda: o 2o ciclo da cana de açúcar transformou o estado inteiro. Para a água, uma plantação de cana deve ser mais parecida com um estacionamento do que com uma floresta.
Mais longe, o desmatamento no centro do país, mais ainda do que na Amazônia, afeta o regime de chuvas. E o aquecimento global com certeza também traz consequências desagradáveis variadas, não simplesmente alguns graus a mais no termômetro.
Ação sugerida: prestar mais atenção ao desmatamento regional como causa da falta de água do que nas outras explicações.
02 fevereiro 2015
Crise moral: ninguém mais quer trabalhar
Para José Renato Nalini, desembargador, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, o País vive “uma crise global, declínio dos valores”. Pois é, ninguém mais quer trabalhar. De fato:
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) vai reduzir pela metade o número de sessões. Em vez de trabalhar uma vez por semana, as sessões serão agora a cada 15 dias. A desculpa, segundo o presidente José Renato Nalini, é diminuir o consumo de água e energia na sede do Judiciário.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) vai reduzir pela metade o número de sessões. Em vez de trabalhar uma vez por semana, as sessões serão agora a cada 15 dias. A desculpa, segundo o presidente José Renato Nalini, é diminuir o consumo de água e energia na sede do Judiciário.
01 fevereiro 2015
Pode dar mais um doutorado para o professor da Sorbonne
Comentário sobre o artigo do professor Fernando Henrique no Estadão:
O professor está certo que toda a confusão da economia foi gerada pela tentativa de planejamento econômico dos últimos governos. O executivo quis agir como gerente de uma enorme empresa, mas o Brasil não é uma empresa, é um sistema cheio de interdependências onde cada ação cria realimentações, e agora está tudo desequilibrado.
Certo também a corrupção, parte integral do planejamento central, bagunçou a política partidária. Os partidos vão se reorganizar, e a justiça vai ter que punir.
Senão, pode dar confusão - "reforma partidária" é o eufemismo que os atuais donos do poder usam para dizer "autogolpe branco".
Como não vai haver golpe militar como no passado, se a reorganização não vier de dentro do Congresso e do Judiciário, poderia ser através de artimanhas do Executivo para manter o poder - eleição indireta, senadores biônicos, controle central da imprensa, e outras mumunhas. Acho que não vai ocorrer, então 4 questões respondidas corretamente pelo professor da Sorbonne. Pode dar mais um doutorado honorário para ele.
Fora voto distrital, que continua desejável a longo prazo em qq circunstância, todas as outras reformas constitucionais são ou uma tentativa de golpe anticonstitucional, ou um salto no escuro com consequências imprevisíveis.
O professor está certo que toda a confusão da economia foi gerada pela tentativa de planejamento econômico dos últimos governos. O executivo quis agir como gerente de uma enorme empresa, mas o Brasil não é uma empresa, é um sistema cheio de interdependências onde cada ação cria realimentações, e agora está tudo desequilibrado.
Certo também a corrupção, parte integral do planejamento central, bagunçou a política partidária. Os partidos vão se reorganizar, e a justiça vai ter que punir.
Senão, pode dar confusão - "reforma partidária" é o eufemismo que os atuais donos do poder usam para dizer "autogolpe branco".
Como não vai haver golpe militar como no passado, se a reorganização não vier de dentro do Congresso e do Judiciário, poderia ser através de artimanhas do Executivo para manter o poder - eleição indireta, senadores biônicos, controle central da imprensa, e outras mumunhas. Acho que não vai ocorrer, então 4 questões respondidas corretamente pelo professor da Sorbonne. Pode dar mais um doutorado honorário para ele.
Fora voto distrital, que continua desejável a longo prazo em qq circunstância, todas as outras reformas constitucionais são ou uma tentativa de golpe anticonstitucional, ou um salto no escuro com consequências imprevisíveis.
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