Na segunda metade do século 19 as elites paulistas formularam um projeto de desenvolvimento fundamentado nos seguintes pontos:
1 - Governo republicano regido por uma constituição liberal.
2 - Fim da escravidão: trabalho livre e a liberdade de empresa.
3 - Desenvolvimento econômico baseado na importação de conhecimento, capitais, e mão de obra.
4 - Preservação da independência, das instituições e da cultura brasileira através da modernização.
Esse projeto foi bem sucedido além das expectativas da época. O exercício para o leitor é identificar 3 ou 4 projetos nacionais de desenvolvimento com sucesso comparável durante o século 20, e verificar que todos são de países muito menores. Toda a confusão que ocorre no Brasil tem uma causa comum: a rapidez excessiva do sucesso, maior que a capacidade de adaptação da cultura e instituições locais.
Os 2 intervalos de retrocesso desse projeto vieram da reação de políticos e militares, principalmente cariocas e gaúchos, contra a modernização liderada por agricultores e comerciantes paulistas e mineiros. Contraditoriamente, durante os regimes ditatoriais a concentração da atividade econômica em S Paulo aumentou; porém os benefícios da modernização deixaram de se espalhar pelo Brasil. As ditaduras são justamente os períodos de declínio do Rio de Janeiro e estagnação no Sul e no Nordeste. Agora que voltamos à normalidade, o país volta a crescer junto, sob a liderança de políticos de S Paulo e Minas Gerais. É fácil notar que as elites paulistas se renovaram - confira sobrenomes e locais de nascimento de prefeitos e governadores - mas elas mantêm o mesmo projeto fundamentado nos pontos 1 a 4.
O motivo desse post é perguntar se devemos considerar como insucesso a baixa reputação que as elites paulistas do século 19 desfrutam em nosso meio intelectual. Pelo contrário. O desprezo pelos autores desse projeto nacional utiliza ideias racistas, marxistas, e fascistas de origem europeia. É um besteirol que veio, infelizmente, junto com a ciência, a arte, e a técnica, e a importação dessas é parte crucial do projeto de modernização da vida intelectual. Cabe a nós refutar esse preconceito injustificado.
Próxima vez que você ouvir algum intelectual semiletrado xingando a Zelite, lembre de seus avós e bisavós que vieram para esse terra abençoada, agradeça a liberdade que temos de dizer qualquer disparate que nos passe pela cabeça, tape os ouvidos, e vá trabalhar.
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Um comentário:
Genial!
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