Estados Unidos, caso Trayvon. Sujeito matou a tiros um jovem preto por usar capuz. Assassino qualificado, nem foi preso porque é branco e membro de bando de matadores. Caso está virando escândalo nacional.
Brasil, caso Bertioga. Sujeito matou criança com jet ski porque estava na praia. Assassino qualificado, mas no Brasil pode porque é empresário e dono de veículo. Ministério público considera pedir que os criminosos por favor prestem serviço comunitário.
Ah, vão dizer que o caso Bertioga é diferente, que o alcoolizado só deu a arma para um menor desabilitado conduzir de maneira irresponsável, que não tinha a intenção de matar aquela criança naquela praia naquele momento. Na Florida com certeza dizem que o caso Traynor é diferente, o cara só atropelou porque se sentiu ameaçado. Mais evidentes são as semelhanças: a lei a favor do mais forte.
30 março 2012
28 março 2012
A vaga impressão de que não estou na morada
Poeminha Última Vontade
Enterrem meu corpo em qualquer lugar.
Que não seja, porém, um cemitério.
De preferência, mata;
Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá.
Na tumba, em letras fundas,
Que o tempo não destrua,
Meu nome gravado claramente.
De modo que, um dia,
Um casal desgarrado
Em busca de sossego
Ou de saciedade solitária,
Me descubra entre folhas,
Detritos vegetais,
Cheiros de bichos mortos
(Como eu).
E, como uma longa árvore desgalhada
Levantou um pouco a laje do meu túmulo
Com a raiz poderosa,
Haja a vaga impressão
De que não estou na morada.
Não sairei, prometo.
Estarei fenecendo normalmente
Em meu canteiro final.
E o casal repetirá meu nome,
Sem saber quem eu fui,
E se irá embora,
Preso à angústia infinita
Do ser e do não ser.
Ficarei entre ratos, lagartos,
Sol e chuva ocasionais,
Estes sim, imortais.
Até que um dia, de mim caia a semente
De onde há de brotar a flor
Que eu peço que se chame
Papáverum Millôr
Peço desculpas pela infração aos direitos autorais. Original em http://www2.uol.com.br/millor/aberto/poemas/059.htm
Enterrem meu corpo em qualquer lugar.
Que não seja, porém, um cemitério.
De preferência, mata;
Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá.
Na tumba, em letras fundas,
Que o tempo não destrua,
Meu nome gravado claramente.
De modo que, um dia,
Um casal desgarrado
Em busca de sossego
Ou de saciedade solitária,
Me descubra entre folhas,
Detritos vegetais,
Cheiros de bichos mortos
(Como eu).
E, como uma longa árvore desgalhada
Levantou um pouco a laje do meu túmulo
Com a raiz poderosa,
Haja a vaga impressão
De que não estou na morada.
Não sairei, prometo.
Estarei fenecendo normalmente
Em meu canteiro final.
E o casal repetirá meu nome,
Sem saber quem eu fui,
E se irá embora,
Preso à angústia infinita
Do ser e do não ser.
Ficarei entre ratos, lagartos,
Sol e chuva ocasionais,
Estes sim, imortais.
Até que um dia, de mim caia a semente
De onde há de brotar a flor
Que eu peço que se chame
Papáverum Millôr
Peço desculpas pela infração aos direitos autorais. Original em http://www2.uol.com.br/millor/aberto/poemas/059.htm
27 março 2012
"Edison Illuminated", by Edmund Morris
To: The editors, the NYTimes
Re: "Edison Illuminated", by Edmund Morris, NYTimes Book Review, Sunday March 25
The Institute of Electrical and Electronics Engineers has more than 400 thousand members who are perfectly able to say exactly what electricity is, contrary to what Mr Edmund Morris writes in "Edison Illuminated." Any of us, as well as millions of colleagues in related professions, are perfectly glad to explain this beautiful subject to anyone who is interested in learning.
I ought to add that in our profession we recognize that Steve Jobs led the most innovative corporation of the last few decades. To appreciate the achievements of Thomas Edison, an ad hominem attack on Jobs is not necessary.
Yours,
Felipe Pait
Senior Member, IEEE
University of Sao Paulo
Re: "Edison Illuminated", by Edmund Morris, NYTimes Book Review, Sunday March 25
The Institute of Electrical and Electronics Engineers has more than 400 thousand members who are perfectly able to say exactly what electricity is, contrary to what Mr Edmund Morris writes in "Edison Illuminated." Any of us, as well as millions of colleagues in related professions, are perfectly glad to explain this beautiful subject to anyone who is interested in learning.
I ought to add that in our profession we recognize that Steve Jobs led the most innovative corporation of the last few decades. To appreciate the achievements of Thomas Edison, an ad hominem attack on Jobs is not necessary.
Yours,
Felipe Pait
Senior Member, IEEE
University of Sao Paulo
26 março 2012
Brasileiro se ofende quando você discorda da opinião dele.
Por outro lado, brasileiro não se ofende com ofensas pessoais. Ou pelo menos perdoa rapidamente. Todos cooperam para enganar a Coroa, assim evitam guerras civis, até convivem com o racismo. Por muito menos do que as pessoas ouvem abertamente no Brasil, um europeu ou asiático monta uma milícia fratricida. As relações pessoais fazem parte do país real: esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco, como nos ensinou Machado de Assis no Diário do Rio de Janeiro em 29 dezembro 1861.
As relações profissionais são o Brasil oficial. Discordância é subversão à hierarquia, à burocracia, ameaça ao status e aos direitos adquiridos.
Isso ajuda a entender alguns obstáculos para a inovação em ciência e tecnologia no Brasil. Quem quer desenvolver tecnologia na universidade precisa começar rendendo homenagens ao Patinho Feio, ao Pal-M, e ao Corcel II, senão toda a infraestrutura fecha as portas. Empresas grandes têm os mesmos cacoetes. De homenagem em homenagem, de discurso em discurso, a inovação some do centro e é empurrada para a borda.
As relações profissionais são o Brasil oficial. Discordância é subversão à hierarquia, à burocracia, ameaça ao status e aos direitos adquiridos.
Isso ajuda a entender alguns obstáculos para a inovação em ciência e tecnologia no Brasil. Quem quer desenvolver tecnologia na universidade precisa começar rendendo homenagens ao Patinho Feio, ao Pal-M, e ao Corcel II, senão toda a infraestrutura fecha as portas. Empresas grandes têm os mesmos cacoetes. De homenagem em homenagem, de discurso em discurso, a inovação some do centro e é empurrada para a borda.
09 março 2012
Mais ônibus circular da Usp
Passado o riso depois de ler sobre o Instituto de Astrologia da Usp, vale a pena olhar para o mapa para observar a incompetência com a qual foi desenhado o trajeto. Os circulares passam pelas mesmas rotas 2 vezes, na ida e na volta, em direções diferentes. Com isso o trajeto dura o dobro. A vantagem de ter 2 rotas, e a vantagem do trajeto circular, desaparecem.
Com um pouco de raciocínio e de competência por parte dos responsáveis pelo projeto, os circulares poderiam fazer trajetos diferentes. Por exemplo, um pela parte norte do campus, outro pela parte sul. Ou um por um trajeto interno, outro por um trajeto externo. O leitor pode se divertir olhando para os mapas e inventando um trajeto melhor.
A duração da viagem seria a metade. Metade do trânsito, metade do desperdício de combustível, metade do tempo de viagem. O trajeto mais curto, com menos passageiros em cada ônibus em qualquer determinado momento, talvez pudesse até ser feito com microônibus. Se 20 mil usuários gastam 15 minutos a mais por dia, são 1 milhão de horas perdidas em transporte a cada ano. O equivalente a 10 vidas em horas de trabalho desperdiçadas todo ano, por conta da incompetência e descaso com a engenharia de transporte na Usp.
Com um pouco de raciocínio e de competência por parte dos responsáveis pelo projeto, os circulares poderiam fazer trajetos diferentes. Por exemplo, um pela parte norte do campus, outro pela parte sul. Ou um por um trajeto interno, outro por um trajeto externo. O leitor pode se divertir olhando para os mapas e inventando um trajeto melhor.
A duração da viagem seria a metade. Metade do trânsito, metade do desperdício de combustível, metade do tempo de viagem. O trajeto mais curto, com menos passageiros em cada ônibus em qualquer determinado momento, talvez pudesse até ser feito com microônibus. Se 20 mil usuários gastam 15 minutos a mais por dia, são 1 milhão de horas perdidas em transporte a cada ano. O equivalente a 10 vidas em horas de trabalho desperdiçadas todo ano, por conta da incompetência e descaso com a engenharia de transporte na Usp.
08 março 2012
06 março 2012
Criar dificuldades para discutir facilidades
O Laboratório de Automação e Controle do Departamento de Engenharia de Telecomunicações e Controle da Escola Politécnica da Universidade de S Paulo.... xi, já perdi meus 3 leitores. Vou começar de novo.
O Lac tem 9 professores ativos, e dá aulas para 35 alunos da opção A&C entre os 135 da engenharia elétrica da Poli. A reitoria autorizou contratação temporária até o final do ano, em tempo parcial, para substituir um colega que infelizmente faleceu prematuramente há quase 2 anos. O concurso será aberto em breve.
Nessas condições - emprego temporário, com pagamento de apenas 12 horas semanais, com prazo curto - é muito difícil atrair candidatos bem qualificados. Em compensação, a burocra da Usp tem a oportunidade de conceder uma vaga agora, outra mais tarde, e de analisar pedidos e aceitar ou não justificativas de mudança do regime de trabalho. Criar dificuldades para discutir facilidades continua sendo o lema da burocra da Usp.
É inútil tentar divulgar a oportunidade de trabalho fora da vizinhança estrita. É extremamente improvável que a vaga interesse a candidatos de fora da cidade de S Paulo, muito menos para quem vem do exterior, porque o salário não paga nem uma fração do custo de vida. Fica garantida a endogenia: quem ocupar uma vaga temporária está em posição natural para conseguir uma vaga permanente, se e quando a concessão desta vier a interessar aos donatários de cargos na reitoria.
De qualquer modo, se algum interessado ler essa página, o aviso está dado. De positivo: o ambiente de trabalho no LAC é excelente. Os professores mais graduados dão todo o apoio para atividades de ensino, pesquisa, e extensão; e a liberdade de investigação é completa.
O Lac tem 9 professores ativos, e dá aulas para 35 alunos da opção A&C entre os 135 da engenharia elétrica da Poli. A reitoria autorizou contratação temporária até o final do ano, em tempo parcial, para substituir um colega que infelizmente faleceu prematuramente há quase 2 anos. O concurso será aberto em breve.
Nessas condições - emprego temporário, com pagamento de apenas 12 horas semanais, com prazo curto - é muito difícil atrair candidatos bem qualificados. Em compensação, a burocra da Usp tem a oportunidade de conceder uma vaga agora, outra mais tarde, e de analisar pedidos e aceitar ou não justificativas de mudança do regime de trabalho. Criar dificuldades para discutir facilidades continua sendo o lema da burocra da Usp.
É inútil tentar divulgar a oportunidade de trabalho fora da vizinhança estrita. É extremamente improvável que a vaga interesse a candidatos de fora da cidade de S Paulo, muito menos para quem vem do exterior, porque o salário não paga nem uma fração do custo de vida. Fica garantida a endogenia: quem ocupar uma vaga temporária está em posição natural para conseguir uma vaga permanente, se e quando a concessão desta vier a interessar aos donatários de cargos na reitoria.
De qualquer modo, se algum interessado ler essa página, o aviso está dado. De positivo: o ambiente de trabalho no LAC é excelente. Os professores mais graduados dão todo o apoio para atividades de ensino, pesquisa, e extensão; e a liberdade de investigação é completa.
Adjetivos pátrios
Talvez vocês conheçam a moda inventada pela esquerda nacionalista: chamar os americanos de estadunidenses. Via @moyzes e @helopait, podemos levar essa brincadeira às últimas consequências, e evitar os nomes próprios em todos os adjetivos pátrios.
O José Serra, eu, e os demais brasileiros nascidos antes do golpe de 64 somos estadunidenses meridionais; vocês jovens são repúblico-federativenses. Quem nasce na Venezuela é repúblico-bolivarense, no Uruguay é oriental-republicano - ou será repúblico-orientalense? Fica a dúvida de como chamar os estadunidenses mexicanos. Tem que usar uma palavra que eles mesmo não usam. Sugestões nos comentários por favor.
Lá no extremo norte da América moram os nunaáticos, a meio caminho dos ilha-gelenses. Continuando para Leste, quem nasce no Reino Unido é reino-unidense; e na Alemanha, bundesrepublicano.
Egito é um termo imperialista grego. Quem nasce na República Árabe do Egito é repúblico-arabense; não confundir com os repúblico-arabenses asiáticos, também conhecidos como sírios. Grego não, desculpe, helênico. Ou melhor, sem usar nome próprio: democrático. Pois entre os helenos se diz democracia, em grego, no lugar de república, um termo romano. Que horror!
O José Serra, eu, e os demais brasileiros nascidos antes do golpe de 64 somos estadunidenses meridionais; vocês jovens são repúblico-federativenses. Quem nasce na Venezuela é repúblico-bolivarense, no Uruguay é oriental-republicano - ou será repúblico-orientalense? Fica a dúvida de como chamar os estadunidenses mexicanos. Tem que usar uma palavra que eles mesmo não usam. Sugestões nos comentários por favor.
Lá no extremo norte da América moram os nunaáticos, a meio caminho dos ilha-gelenses. Continuando para Leste, quem nasce no Reino Unido é reino-unidense; e na Alemanha, bundesrepublicano.
Egito é um termo imperialista grego. Quem nasce na República Árabe do Egito é repúblico-arabense; não confundir com os repúblico-arabenses asiáticos, também conhecidos como sírios. Grego não, desculpe, helênico. Ou melhor, sem usar nome próprio: democrático. Pois entre os helenos se diz democracia, em grego, no lugar de república, um termo romano. Que horror!
04 março 2012
Silly article by Mankiw
Gregory Mankiw has a rather silly article in today's NYTimes. The article itself is not worth reading, but presumably it reflects of the quality of economic advice to and from Mitt Romney. He shows that it is not easy to see the difference between earned income and capital gains. But he is not capable of stating the unavoidable conclusion: that earned and non-earned income should be taxed at the same rate.
I have walked out of lectures for lesser errors.
I have walked out of lectures for lesser errors.
03 março 2012
Conselho do George Washington para o José Serra
Respeito o José Serra. Admiro o José Serra. Gosto do José Serra - até leio os tweets dele com prazer. Mas não vou votar no José Serra para prefeito.
Porque? Em primeiro lugar, porque vou votar no Fernando Haddad. Mas mesmo sem candidato escolhido, haveria outra razão. George Washington saiu dos cargos políticos quando terminou seu 2o mandato. Fernando Henrique também. O 3o mandato é o fim da reputação do político. O desgaste é inevitável, as coisas nunca saem como planejado. Com todos os cargos que já ocupou e eleições que já disputou, o Serra concorrer a prefeito é overplay.
Se o Covas Neto, ou o Matarazzo, perdessem a eleição, ou se um deles ganhasse e fizesse um governo ruim, o prejuízo seria deles, e do eleitor que teria escolhido errado. Na eleição seguinte o partido botava outro candidato. Se o José Serra perder a eleição, ou se ganhar e as administração tiver problemas, os tucanos ficam sem alternativa. É ruim para o Serra, é ruim para o Psdb, é ruim para S Paulo, é ruim para o país.
Por isso o Gilberto Kassab ofereceu apoio ao Haddad. Ele avaliou que, com o apoio do Lula e do prefeito anterior, o Haddad faria uma boa administração. Apoiá-lo seria o melhor para o Kassab, para o partido dele, e para S Paulo. O Haddad não consegui que o PT aceitasse o apoio. Na minha opinião, foi um erro.
02 março 2012
Mais um artigo sobre o "custo" da educação
Dessa vez, no NYTimes. Educação é descrita como custo, ou pior, um fardo ("burden"). Enquanto isso, "vendas de automóveis crescem", "varejo supera expectativas", "melhoras no mercado imobiliário".
"Educação das crianças, saúde das vovós, que triste que isso custa. Desperdiçar dinheiro em ferro, tijolo, e shmates é que seria bom." É a mensagem diária da mídia, de direita e de esquerda, nos Estados Unidos e no Brasil, é só olhar o jornal.
Um dia o povo vai acordar dessa psicose coletiva. Nesse dia vocês vão poder dizer: li aqui primeiro.
"Educação das crianças, saúde das vovós, que triste que isso custa. Desperdiçar dinheiro em ferro, tijolo, e shmates é que seria bom." É a mensagem diária da mídia, de direita e de esquerda, nos Estados Unidos e no Brasil, é só olhar o jornal.
Um dia o povo vai acordar dessa psicose coletiva. Nesse dia vocês vão poder dizer: li aqui primeiro.
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