Atendendo a algumas respostas apreciativas e inúmeras ignorativas, aqui está......

24 janeiro 2011

Ignorativa

Abaixo está uma mensagem que enviei faz tempo ao então diretor da Poli, tendo recebido resposta ignorativa. Para que escrever para a diretoria não tenha sido perda total de tempo, ponho cópia aqui no blog, sem alteração.

Begin forwarded message:

From: Felipe M Pait
Date: 5 August 2006 8:31:47 PM GMT-02:00
To: Ivan Gilberto Sandoval Falleiros
Subject: Re: Pergunta para orientar ações

Prezado Prof. Falleiros, prezados colegas,

Estou escrevendo em resposta à pergunta sobre valorização da graduação, assunto que me é muito caro.

A valorização do ensino de graduação tem que ser uma atividade conjunta dos estudantes, dos professores, e das empresas que contratam os engenheiros formados pela Poli. Não estou propondo uma série de reuniões e comissões tripartites. O que quero dizer é que cada um deve cumprir seu papel.

As empresas devem contratar nossos alunos. Até agora pelo que sei nenhuma empresa mostra qualquer interesse pela formação que o aluno teve na escola. Elas gostam de ver o "canudo", o diploma de uma escola com prestígio, mas critérios de avaliação que eles usam para contratar recém formados não tem qualquer relação com a universidade: são exames psicotécnicos, entrevistas em grupo, contagem de tempo de estágio, tudo menos exame do currículo do candidato. Muitas vezes ouvimos a pergunta "O que pode ser feito para estreitar a relação entre universidade e empresas?" Correndo o risco de simplificar, podemos resumir as respostas: as universidades tendem a responder "queremos dinheiro", e as empresas "queremos soluções prontas de baixo custo". Nossa resposta deveria ser sempre: queremos que a indústria contrate nossos alunos, levando em conta nossos critérios. Afinal, um politécnico foi examinado durante 5 anos por dezenas de professores, de maneira cuidadosa, criteriosa, e podemos dizer imparcial e justa. Para valorizar o nosso ensino de graduação, precisamos que a indústria esteja lendo o livro na mesma página que nós. Posso dar como argumento adicional o fato de que o desempenho dos estudantes é levado em consideração pelo mercado de trabalho em qualquer país com sistema de educação universitária bem sucedido. O currículo de graduação é fundamental na busca do primeiro emprego, e até mais tarde. Quanto a isso estou bastante familiarizado com o sistema norte-americano, e entendo que as coisas na Europa não são diferentes. Nós não temos como ser a exceção. As empresas não levam o conteúdo acadêmico a sério, e conseqüentemente os estudantes, que não são bobos, também não o fazem. Essa é talvez a maior deficiência de nosso sistema de ensino: a falta de reforço pelo meio industrial da importância da universidade.

Externamente, então, minha proposta para valorizar o ensino de graduação é "fechar a malha de controle". Estamos atuando sem realimentação, o que é problemático. Internamente, o que precisamos fazer também é fechar a malha de controle. Precisamos flexibilizar a estrutura curricular de modo a dar aos estudante a possibilidade de buscarem os cursos e disciplinas onde acreditam que seu tempo será melhor aproveitado. Precisamos oferecer a eles a liberdade de usarem seu tempo de estudo nos assuntos dos quais esperam obter maior retorno intelectual ou profissional, seja por preferência e inclinação individual, seja pela situação do mercado de trabalho, ou seja pela qualidade do ensino oferecido pelos docentes dos diversos departamentos. A forma como operamos agora é desastrosa: os currículos são rígidos e inflexíveis, portanto a alocação do tempo dos estudantes entre os diversos assuntos é decidida pela congregação e pelos conselhos de departamentos. Lamento dizer que muitas vezes os critérios são mais políticos e da conveniência do corpo docente do que de maximização da utilidade para os alunos e a sociedade. O exemplo melhor dessa situação é o sistema de opções: o número de vagas oferecidas em cada "grande área", em cada ênfase dentro das grandes áreas, guarda relação muito mais estreita com o tamanho do corpo docente, aproximadamente fixo há décadas apesar da evolução da engenharia e da economia brasileiras, do que com a real procura dos alunos pelas diversas disciplinas. E sabemos também que cada departamento ou subdepartamento quase sempre buscar alocar seus professores com menor vocação didática para as disciplinas obrigatórias oferecidas para os "alunos de outras áreas", guardando os professores que melhor se dão em salas de aula para os "nossos (seus) alunos", isto é, buscando tornar a opção que oferecem mais atraente às custas da qualidade de ensino na Escola Politécnica e na universidade como um todo. Só quando dermos aos estudantes a possibilidade de "votar com os pés", de fazer a avaliação dos disciplinas cursando as melhores, é que os professores que se dedicam mais à atividade de ensino terão a medida clara de quanto seus esforços têm impacto na formação dos alunos.

Quanto à terceira parte envolvida, os alunos reagem à situação que se lhes apresenta. Eles precisam se formar, e após isso trabalhar. Quando eles tiverem a consciência de que a dedicação às atividades acadêmicas traz uma recompensa clara, o desempenho deles em sala de aula melhorará. E quando eles tiverem liberdade de escolherem os cursos mais adequados aos interesses e habilidades individuais, a atividade dos professores em sala de aula será muito mais compensadora. Isso será nossa própria recompensa. Dar aulas para alunos motivados e satisfeitos supera qualquer motivação que a administração da Poli pode nos conceder. Mesmo o prazer de fazer um bom trabalho de pesquisa, ou a remuneração por uma atividade de consultoria, dificilmente se compara à alegria de uma boa aula.

Acho que é isso que queria dizer. Peço desculpas se não me expressei de maneira suficientemente clara, estou escrevendo a bordo do avião ao final de uma longa viagem de volta de uma conferência, chegando em terra envio. Será um prazer continuar este diálogo por email ou pessoalmente com quem possa se interessar. Fique à vontade para divulgar, agradeço a atenção,

πt


On 24 Jul 2006, at 10:42 AM, Ivan Gilberto Sandoval Falleiros wrote:

Prezadas e Prezados

A Diretoria da Escola quer reforçar as atividades de ensino de graduação. O assunto tem aparecido de várias formas em discussões, passando por temas como "valorização da graduação", "competição entre pesquisa e ensino", "avaliação da graduação" e outros semelhantes.

Esta tem a finalidade de pedir ajuda a cada pessoa, na forma de sugestões para valorizar o ensino de graduação na Escola. O objetivo é levantar idéias para ações concretas. Numa primeira rodada, valem todas as idéias, sem preocupação com barreiras reais ou potenciais.

Muito obrigado pela atenção a mais este pedido.

Prof. Dr. Ivan G. S. Falleiros
Diretor

20 janeiro 2011

Como vocês 3 sabem, meu maior medo como corintiano é o Palmeiras desaparecer. Isso porque em anos de vacas magras, é só a esperança de um dia ver o fim do Palestra que nos mantém vivos. Vem daí a apreensão com a administração Belluzzo. Agora após ser rejeitado pelos palmeirenses ele se superou, como mostram notícias na Folha ontem e hoje (requer assinatura), das quais reproduzo trechos abaixo:

"Eleito como pessoa que mudaria a concepção de administração no futebol, Luiz Gonzaga Belluzzo deixa o Palmeiras sem ganhar títulos e com as finanças do clube em situação mais complicada da que encontrou. A demissão de treinadores e a contratação de jogadores com salários fora do padrão foram alguns fatores que minaram a saúde financeira do clube na gestão Belluzzo. Ao mesmo tempo que fazia essas manobras, chamadas por opositores de "Belluzzionismo", o presidente pedia grandes empréstimos para sanar dívidas do clube. No primeiro ano de sua gestão, Belluzzo fechou as contas do Palmeiras com deficit de aproximadamente R$ 40 milhões. Em 2010, o clube teve R$ 25 milhões de prejuízo. Atualmente, a dívida total do Palmeiras está perto de R$ 150 milhões. Belluzzo também foi protagonista de declarações que mancharam sua imagem, ofendendo rivais e árbitros. Enquanto suas contas eram rejeitadas pelo conselho, Belluzzo ainda desabafou sobre a "dívida" que o Palmeiras tem com ele."

Além de tudo ainda é arrogante. Felizmente não voltará a ocupar cargos no governo, onde poderia impactar as finanças públicas, a seleção, e talvez até o Timão.

19 janeiro 2011

Brasil real e Brasil oficial

Ariano Suassuna gosta de citar Machado de Assis: "Não é desprezo pelo que é nosso, não é desdém pelo meu País. O 'país real', esse é bom, revela os melhores instintos. Mas o 'país oficial', esse é caricato e burlesco." Há uma contradição fundamental entre o "Brasil real", que é prático, pragmático, e libertário até em excesso, e o "Brasil oficial", organizado, porém às vezes de forma burocrática, pedante, e pouco criativa.

O Brasil dá certo quando compatibiliza os 2 conceitos: quando os sambistas entram em compasso; quando o time passa a bola para o craque imprevisível. Senão fica um ridículo anseio de ser quem não é, uma contrafação da verdadeira universalidade. Um lugar complicado é a universidade, porque a ciência vem em grande parte justamente das culturas europeias que o Brasil oficial tenta imitar de forma caricata e burocrática. O Brasil oficial fracassa e o Brasil real se desinteressa. Justamente onde a criatividade mais precisa da disciplina, e a disciplina mais precisa da criatividade, as 2 se desencontram. É por isso que as salas de aula ficam vazias e as publicações não viram patente.

Outra entrevista do Suassuna citando a frase está aqui. Não que seja o autor certo para entender cientificamente o conceito. Quem deve ter explicado isso direito foi o Sérgio Buarque de Hollanda, mas não tenho Raízes do Brasil agora comigo e vou ter que estudar outra hora.

15 janeiro 2011

Teorema da tolerância relativa à violência

Considere uma ditadura, isto é, um regime impopular que se mantém no poder pela força. Vamos admitir como fato experimental o seguinte
Postulado: Nenhuma ditadura se mantém indefinidamente no poder com manifestações populares constantes contra o regime.
Teorema da tolerância relativa à violência: Uma ditadura se mantém no poder se e somente se a tolerância do governo à violência for maior do que a tolerância da população à violência.
Prova: Um regime impopular toma medidas impopulares, que geram manifestações contrárias, apesar da existência de um aparato repressivo. Uma vez iniciadas as manifestações, as opções do governo são as seguintes:
1 - Revogar as medidas impopulares. Isso é uma contradição com a hipótese de que o governo é impopular.
2 - Permitir as manifestações, se o governo não estiver disposto à aumentar a violência da repressão. Nesse caso o regime muda, pelo postulado.
3 - Reprimir as manifestações através do uso de mais força. Nesse caso a população tem 2 opções:
a) Desistir das manifestações. Nesse caso o regime continua no poder, conforme o enunciado do teorema.
b) Continuar as manifestações anti-governo apesar do aumento da violência. Caímos no dilema original, no qual o governo precisa optar entre o recrudescimento da repressão ou permitir as manifestações.
O caso nulo da recursão é quando não há manifestações contra as medidas impopulares. Este é o caso em que a tolerância da população à violência é menor que a do regime, analogamente à alternativa a).
O teorema está demonstrado por recursão (indução matemática). QED

Exemplos onde a tolerância do governo à violência foi menor que a tolerância popular: a queda do Xá da Pérsia em 1979, derrubada do muro de Berlim, e do ditador a Tunísia essa semana.
Exemplos da situação oposta: Hungria 1956, Tchecoslováquia 1968, Pérsia 2009.
Previsão para o futuro: O Fidel amoleceu depois da doença. Se os cubanos resolverem se manifestar contra o regime, o regime não está disposto a aplicar muita violência contra a população. Não sei se é o acontecimento mais provável, mas seria o mais interessante.

13 janeiro 2011

Quem avisa amigo é

Se as autoridades não fizerem algo para infernizar a vida de pedestres e usuários do transporte coletivo, do jeito que está o trânsito logo não vai haver mais vantagem em ser dono de automóvel nesse país. Seria o fim do capitalismo, do modo de vida que conhecemos.

11 janeiro 2011

Dilma's good start

How are the first few days of the Dilma administration?
1 - She has made her support for freedom of speech very clear. The proposal to establish a national censorship board, made by former minister Franklin Martins, will be sent to committees from where they are not expected to emerge.
2 - She started her first week of work without anticonstitutional religious symbols in her office.
3 - The minister of Science & Technology, though himself a failed politician and a failed academic, has chosen able and respected people to run the government research agencies.
4 - Dilma's cabinet gives a limited amount of space for professional politicians and other people without ethical commitment or professional background to run the government.

The latter is the only way to keep the government accounts under control - they are under stress from excessive spending during the last year of Lula's government. Members of PMDB, the party most affected by the loss of lucrative positions, received just enough that they can grumble ineffectively, but not revolt openly. We may expect some retreats from the positions above, under pressure from all sorts of antidemocratic forces, but it is a good start.

05 janeiro 2011

O axioma fundamental do trânsito

Por trás de todos os problemas de transporte numa grande cidade está o "Axioma fundamental do trânsito", que ninguém parece contestar, nem mesmo saber que existe ou que as coisas poderiam ser diferentes. Em todos os traçados urbanos a via dos automóveis é contínua, enquanto a calçada desaparece nos pontos em que o pedestre precisa atravessar o caminho dos automóveis. O mesmo se dá com ciclovias em relação às "ruas" - a própria terminologia já indica a concepção de que a rua é do carro, o resto vem depois.

Uma vez explicitando o axioma fundamental do transporte urbano, fica fácil de ver que ele está errado. O correto seria o contrário. As calçadas deveriam ser contínuas, de forma que o automóvel teria que atravessar a calçada para passar de um quarteirão a outro. Onde houver ciclovia, a rua dos carros teria uma descontinuidade extra no cruzamento com a ciclovia. O ciclista por sua vez teria que atravessar a calçada do pedestre para ir de um quarteirão ao outro.

Isso aumentaria a velocidade e segurança do transporte a pé, consequentemente favorecendo o transporte público e diminuindo problemas urbanos e sociais. É incrível como uma hipótese geométrica tão simples e tão obviamente indesejável pode perdurar por tanto tempo sem ser contestada, apesar de causar tantos problemas urbanos, sociais, e ambientais.

(Post motivado por uma discussão no grupo da Poli no Linkedin.)

Vamos formalizar, para o caso sem ciclovias por simplicidade.

Definições: Rua é a via pelo qual se movem os automóveis. Calçada é a via pelo qual se movem os pedestres.

Axioma fundamental do trânsito: O conjunto das ruas formam uma via conexa.

Axioma fundamental do trânsito, versão 2: O conjunto das calçadas possui descontinuidades.

Teorema: O pedestre deve atravessar a rua para chegar de um quarteirão ao outro.

Lição de casa: Provar a equivalência das 2 versões do axioma e mostrar o teorema acima.

São conhecidas 2 contra-exemplos, para os quais o axioma não é válido. Primeira, na entrada de garagens. Isso não contradiz as hipóteses, apenas exige que a definição de rua não inclua estacionamentos subterrâneos. Porém note que a maioria dos estacionamentos ao ar livre, bem como postos de gasolina, podem ser considerados como ruas sem violar as hipóteses.

O segundo contra exemplo ficava no subúrbio de Copenhagen, mas acho que eles mudaram para um sistema mais convencional com ruas sem saída. Vou buscar me informar.

02 janeiro 2011

Correção a artigo da Folha sobre Gaza

Enviei a seguinte correção à Folha de S Paulo, referente a artigo publicado hoje.

O artigo "Ex-assentamentos viram terreno baldio" dá a entender que as instalações agrícolas em Gaza foram destruídas quando as colônias israelenses foram retiradas. Na verdade a maioria das instalações agrícolas foram adquiridas com dinheiro de doadores internacionais por iniciativa do antigo presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, e transferidas a autoridades palestinas.

Subsequentemente as instalações foram depredadas por vândalos palestinos, na época em que o Hamas assumiu o controle da faixa de Gaza.

Uma boa referência para iniciar a verificação dos fatos é o artigo:

http://www.csmonitor.com/2005/1025/p04s01-wome.html

Sinceramente,
Felipe Pait