Da engenharia de transportes vem a proposta de eliminar a física moderna do currículo da Poli. No lugar, um curso "de economia" cujo conteúdo não é economia - engenharia econômica aplicada, seja lá o que é isso, talvez ensinar comandos da HP12C. Ou então um curso sobre os impactos ambientais de antenas. Ou talvez outra coisa, contanto que seja ensinada pelo próprio autor da proposta.
Quem conhece física moderna lembra que Einstein ganhou Nobel por mostrar que microondas não conseguem ionizar moléculas - não foi pela relatividade. Quem não conhece os fundamentos da ciência, dá cursos sobre impacto ambiental da telefonia celular. O impacto não existe, mas o curso serve para preencher currículos.
Da mesma forma, quem vê a engenharia como um conjunto de especialidades desconexas resume engenharia de transportes a planilhas de compra de pavimentos. Engenheiro que pensa assim tem culpa pelo trânsito em S Paulo. #prontofalei
31 agosto 2012
14 agosto 2012
O programa de governo do Haddad
O PT planeja redesenhar S Paulo descentralizando o desenvolvimento da cidade. Enquanto políticos e jornalistas discutem irrelevâncias, por exemplo se o projeto tem origem malufista, martista, ou neotucanista, e especialistas se entocaiam em suas especialidades, vamos pensar sobre os conceitos fundamentais do programa.
Para justificar grandes investimentos que rompem com o paradigma de planejamento urbano, em 1o lugar é necessário assumir que o transporte é a mais importante questão que a prefeitura deve abordar. Certamente existem questões mais relevantes para a cidade: educação, saúde, e segurança. Desperdiçando menos tempo no trânsito, produzindo mais e trabalhando menos, o cidadão teria recursos e tempo para investir nessas áreas. A educação, por exemplo, depende menos de gastos centralizados na prefeitura do que da soma dos esforços de estudantes, professores, e famílias. Em comparação, o paulistano perde horas em transporte, um problema que só pode ser resolvido com ação coletiva. Portanto essa justificativa está correta, exatamente porque reconhece que a prefeitura deve se concentrar nos problemas que não podem ser resolvidos individualmente.
Em 2o lugar, é importante verificar se a proposta de descentralização melhora o transporte na cidade. Podemos confiar nos autores do plano, ou pelo menos dar o benefício da dúvida, e considerar que o investimento em obras públicas terá retorno em termos da diminuição de horas de trabalho e lazer atualmente perdidas em transporte. Vamos anotar como ponto a ser corrigido que o plano enfatiza demais o transporte por carros e ônibus andando em ruas, que é ineficiente e insuficiente para o tamanho da cidade.
Finalmente, temos que saber se a oferta de subsídios e isenções ficais terá o efeito descentralizador desejado. Para isso, é necessário entender a causa da centralização da atividade econômica em S Paulo. Depois que a indústria praticamente saiu da cidade, as atividades não se concentram devido à localização de grandes empresas. A concentração vem de efeitos de rede. Um ator precisa residir em cidade com muitos teatros; e um teatro precisa apresentar peças em uma cidade com público grande e muitos atores. Da mesma forma, negócios na área financeira ou de software preferem se estabelecer em S Paulo porque os trabalhadores com experiência em finanças ou software estão por perto; e os trabalhadores moram onde estão os empregos.
A atividade econômica na cidade gira em torno dos setores de serviço mais sofisticados e especializados, e nos serviços para as pessoas que trabalham nessas áreas. A presença de uma rede de serviços é muito mais importantes para a localização dos negócios do que custos de aluguel ou impostos. Subsídios da prefeitura e renúncia fiscal vão ter um impacto mínimo sobre a localização dos negócios, porque as pessoas estão amarradas não a empresas específicas, mas à toda a rede de serviços relacionados. Uma família de advogados não vai se mudar inteira para o Cupecê atrás de um emprego em um banco, porque um emprego é uma coisa temporária, e o que atraiu essa família para S Paulo não é um emprego em uma organização, mas a variedade de empregos e serviços disponíveis na cidade inteira. Da mesma forma, o banco não vai se mudar para locais que não possuem as vantagens da rede de serviços de S Paulo, para longe de seus clientes e funcionários; e se o fizer, o tempo que eles perdem em transporte aumenta.
Subsídios e renúncia fiscal vão apenas desviar recursos que deveriam ser investidos em transporte rápido para milhões de pessoas, que necessita de uma ação coordenada do poder público. O projeto de descentralização está baseado num entendimento incorreto da dinâmica urbana e vai fracassar.
Para justificar grandes investimentos que rompem com o paradigma de planejamento urbano, em 1o lugar é necessário assumir que o transporte é a mais importante questão que a prefeitura deve abordar. Certamente existem questões mais relevantes para a cidade: educação, saúde, e segurança. Desperdiçando menos tempo no trânsito, produzindo mais e trabalhando menos, o cidadão teria recursos e tempo para investir nessas áreas. A educação, por exemplo, depende menos de gastos centralizados na prefeitura do que da soma dos esforços de estudantes, professores, e famílias. Em comparação, o paulistano perde horas em transporte, um problema que só pode ser resolvido com ação coletiva. Portanto essa justificativa está correta, exatamente porque reconhece que a prefeitura deve se concentrar nos problemas que não podem ser resolvidos individualmente.
Em 2o lugar, é importante verificar se a proposta de descentralização melhora o transporte na cidade. Podemos confiar nos autores do plano, ou pelo menos dar o benefício da dúvida, e considerar que o investimento em obras públicas terá retorno em termos da diminuição de horas de trabalho e lazer atualmente perdidas em transporte. Vamos anotar como ponto a ser corrigido que o plano enfatiza demais o transporte por carros e ônibus andando em ruas, que é ineficiente e insuficiente para o tamanho da cidade.
Finalmente, temos que saber se a oferta de subsídios e isenções ficais terá o efeito descentralizador desejado. Para isso, é necessário entender a causa da centralização da atividade econômica em S Paulo. Depois que a indústria praticamente saiu da cidade, as atividades não se concentram devido à localização de grandes empresas. A concentração vem de efeitos de rede. Um ator precisa residir em cidade com muitos teatros; e um teatro precisa apresentar peças em uma cidade com público grande e muitos atores. Da mesma forma, negócios na área financeira ou de software preferem se estabelecer em S Paulo porque os trabalhadores com experiência em finanças ou software estão por perto; e os trabalhadores moram onde estão os empregos.
A atividade econômica na cidade gira em torno dos setores de serviço mais sofisticados e especializados, e nos serviços para as pessoas que trabalham nessas áreas. A presença de uma rede de serviços é muito mais importantes para a localização dos negócios do que custos de aluguel ou impostos. Subsídios da prefeitura e renúncia fiscal vão ter um impacto mínimo sobre a localização dos negócios, porque as pessoas estão amarradas não a empresas específicas, mas à toda a rede de serviços relacionados. Uma família de advogados não vai se mudar inteira para o Cupecê atrás de um emprego em um banco, porque um emprego é uma coisa temporária, e o que atraiu essa família para S Paulo não é um emprego em uma organização, mas a variedade de empregos e serviços disponíveis na cidade inteira. Da mesma forma, o banco não vai se mudar para locais que não possuem as vantagens da rede de serviços de S Paulo, para longe de seus clientes e funcionários; e se o fizer, o tempo que eles perdem em transporte aumenta.
Subsídios e renúncia fiscal vão apenas desviar recursos que deveriam ser investidos em transporte rápido para milhões de pessoas, que necessita de uma ação coordenada do poder público. O projeto de descentralização está baseado num entendimento incorreto da dinâmica urbana e vai fracassar.
12 agosto 2012
O projeto de desenvolvimento das elites paulistas
Na segunda metade do século 19 as elites paulistas formularam um projeto de desenvolvimento fundamentado nos seguintes pontos:
1 - Governo republicano regido por uma constituição liberal.
2 - Fim da escravidão: trabalho livre e a liberdade de empresa.
3 - Desenvolvimento econômico baseado na importação de conhecimento, capitais, e mão de obra.
4 - Preservação da independência, das instituições e da cultura brasileira através da modernização.
Esse projeto foi bem sucedido além das expectativas da época. O exercício para o leitor é identificar 3 ou 4 projetos nacionais de desenvolvimento com sucesso comparável durante o século 20, e verificar que todos são de países muito menores. Toda a confusão que ocorre no Brasil tem uma causa comum: a rapidez excessiva do sucesso, maior que a capacidade de adaptação da cultura e instituições locais.
Os 2 intervalos de retrocesso desse projeto vieram da reação de políticos e militares, principalmente cariocas e gaúchos, contra a modernização liderada por agricultores e comerciantes paulistas e mineiros. Contraditoriamente, durante os regimes ditatoriais a concentração da atividade econômica em S Paulo aumentou; porém os benefícios da modernização deixaram de se espalhar pelo Brasil. As ditaduras são justamente os períodos de declínio do Rio de Janeiro e estagnação no Sul e no Nordeste. Agora que voltamos à normalidade, o país volta a crescer junto, sob a liderança de políticos de S Paulo e Minas Gerais. É fácil notar que as elites paulistas se renovaram - confira sobrenomes e locais de nascimento de prefeitos e governadores - mas elas mantêm o mesmo projeto fundamentado nos pontos 1 a 4.
O motivo desse post é perguntar se devemos considerar como insucesso a baixa reputação que as elites paulistas do século 19 desfrutam em nosso meio intelectual. Pelo contrário. O desprezo pelos autores desse projeto nacional utiliza ideias racistas, marxistas, e fascistas de origem europeia. É um besteirol que veio, infelizmente, junto com a ciência, a arte, e a técnica, e a importação dessas é parte crucial do projeto de modernização da vida intelectual. Cabe a nós refutar esse preconceito injustificado.
Próxima vez que você ouvir algum intelectual semiletrado xingando a Zelite, lembre de seus avós e bisavós que vieram para esse terra abençoada, agradeça a liberdade que temos de dizer qualquer disparate que nos passe pela cabeça, tape os ouvidos, e vá trabalhar.
1 - Governo republicano regido por uma constituição liberal.
2 - Fim da escravidão: trabalho livre e a liberdade de empresa.
3 - Desenvolvimento econômico baseado na importação de conhecimento, capitais, e mão de obra.
4 - Preservação da independência, das instituições e da cultura brasileira através da modernização.
Esse projeto foi bem sucedido além das expectativas da época. O exercício para o leitor é identificar 3 ou 4 projetos nacionais de desenvolvimento com sucesso comparável durante o século 20, e verificar que todos são de países muito menores. Toda a confusão que ocorre no Brasil tem uma causa comum: a rapidez excessiva do sucesso, maior que a capacidade de adaptação da cultura e instituições locais.
Os 2 intervalos de retrocesso desse projeto vieram da reação de políticos e militares, principalmente cariocas e gaúchos, contra a modernização liderada por agricultores e comerciantes paulistas e mineiros. Contraditoriamente, durante os regimes ditatoriais a concentração da atividade econômica em S Paulo aumentou; porém os benefícios da modernização deixaram de se espalhar pelo Brasil. As ditaduras são justamente os períodos de declínio do Rio de Janeiro e estagnação no Sul e no Nordeste. Agora que voltamos à normalidade, o país volta a crescer junto, sob a liderança de políticos de S Paulo e Minas Gerais. É fácil notar que as elites paulistas se renovaram - confira sobrenomes e locais de nascimento de prefeitos e governadores - mas elas mantêm o mesmo projeto fundamentado nos pontos 1 a 4.
O motivo desse post é perguntar se devemos considerar como insucesso a baixa reputação que as elites paulistas do século 19 desfrutam em nosso meio intelectual. Pelo contrário. O desprezo pelos autores desse projeto nacional utiliza ideias racistas, marxistas, e fascistas de origem europeia. É um besteirol que veio, infelizmente, junto com a ciência, a arte, e a técnica, e a importação dessas é parte crucial do projeto de modernização da vida intelectual. Cabe a nós refutar esse preconceito injustificado.
Próxima vez que você ouvir algum intelectual semiletrado xingando a Zelite, lembre de seus avós e bisavós que vieram para esse terra abençoada, agradeça a liberdade que temos de dizer qualquer disparate que nos passe pela cabeça, tape os ouvidos, e vá trabalhar.
10 agosto 2012
Give peace a chance?
The prime minister of Israel, Ehud Olmert, could have exchanged the Golan for a peace treaty with Assad. He could also have accepted Mubarak's invitation to put the Arab league in charge of the peace process with Palestine. Instead, he chose to destroy the nuclear explosive factory built in Syria by the North Koreans and ignore Mubarak's offer. Links at the bottom.
Had Olmert given peace a chance, Assad might now have nuclear bombs. He could use them against his own people or threaten Turkey. Israel would have a peace treaty with a genocidal dictator and a fruitless relationship with a jailed one. There would be additional obstacles to the dialog with Palestine and extra worries in the Syria-Israel border.
How smart does "give peace a chance" sound now?
Olmert refused 2007 invite to address Arab League http://t.co/HO4rgTc9
Arie Shavit reflects on how had #srael given GolanHeights to Syria for peace in the 2000s, we'd have bloodshed today http://t.co/qn4u5CWv
The inside story of how a Syrian nuclear reactor was discovered and destroyed in 2007 http://t.co/segEp4NR
Had Olmert given peace a chance, Assad might now have nuclear bombs. He could use them against his own people or threaten Turkey. Israel would have a peace treaty with a genocidal dictator and a fruitless relationship with a jailed one. There would be additional obstacles to the dialog with Palestine and extra worries in the Syria-Israel border.
How smart does "give peace a chance" sound now?
Olmert refused 2007 invite to address Arab League http://t.co/HO4rgTc9
Arie Shavit reflects on how had #srael given GolanHeights to Syria for peace in the 2000s, we'd have bloodshed today http://t.co/qn4u5CWv
The inside story of how a Syrian nuclear reactor was discovered and destroyed in 2007 http://t.co/segEp4NR
07 agosto 2012
Defesa dos mensalões
Digam se entendi corretamente o argumento da defesa: o que os réus fizeram juntos é contra a lei, mas eles não devem ser condenados porque cada um deles individualmente não cometeu um crime completo. É contra a lei pagar por um favor político, mas um fez o pagamento, outro tratou do favor político, então ambos são inocentes.
É essa mesma a defesa?
É essa mesma a defesa?
03 agosto 2012
IEEE Spectrum magazine, digital version
Since I opted for the digital version of the IEEE Spectrum magazine, I haven't read it. I noticed this because the pdf file for January issue was open on one of my desktops, and the email alerts were stored in some inbox.
Perhaps it is a failure of digital distribution, perhaps it is a symptom of information overload. I also noticed issues of technical magazines piling up on the table outside my office, which means students are not picking them up. In any case, maybe I will switch back to paper at the next renewal.
Perhaps it is a failure of digital distribution, perhaps it is a symptom of information overload. I also noticed issues of technical magazines piling up on the table outside my office, which means students are not picking them up. In any case, maybe I will switch back to paper at the next renewal.
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