A Foreign Affairs publicou um artigo
"Bearish on Brazil" (paywall). Um artigo robótico escrito automaticamente, cheio de chavões e erros. Vamos contar alguns? Minha contribuição segue, reproduzindo o que escrevi para um amigo.
No meu entendimento a análise é completamente errada. O autor acredita que o real está valorizado ou por causa dos juros altos, ou por causa do preço das commodities. Nenhuma dessas explicações se sustenta. São fatores relevantes, mas não explicam o câmbio atual. Nos últimos anos a taxa de juros baixou, e as commodities flutuaram, mas o real subiu.
O principal motivo da valorização do real é a falta de bons investimentos nos países ricos, e a percepção dos investidores que o Brasil é comparativamente um bom país para investir. O motivo para acreditar que investimentos no Brasil vão ter retorno é que o mercado consumidor está crescendo e que a produção pode crescer se os gargalos da infra-estrutura forem resolvidos.
Por outro lado, caso uma queda nos preços das commodities leve à desvalorização do real, a manufatura brasileira ficará mais competitiva. De qualquer forma, o preço das commodities só vai despencar se a economia chinesa sofrer uma pane. E se a economia chinesa sofrer uma pane, o argumento de que o Brasil erra em não copiar a China fica prejudicado, não é?
O fenômeno da desindustrialização que artigo menciona é uma invenção, ao que tudo indica. A manufatura não está crescendo à mesma taxa que os setores que mais crescem, o que não significa que esteja desaparecendo. O argumento do artigo é contraditório: a indústria não cresce porque a indústria cresce tanto que faltam engenheiros. Outro disparate do tipo "it's so crowded that no one goes there anymore" é a frase "As a result, although unemployment is now at a decade-low six percent, businesses complain that they have no choice but to hire unqualified applicants." É justamente isso: a economia está crescendo tanto que os gargalos ficam evidentes.
No meio dessa análise disparatada há alguns pontos válidos e conhecidos: o Brasil precisa investir mais em educação, a burocracia brasileira atrapalha, os impostos são complexos demais, o protecionismo dificulta a inovação, etc. São pontos que não têm relação com o argumento principal, um besteirol que amontoa slogans da direita e da esquerda sem qualquer referência à realidade ou à ciência econômica.
Vale a pena ler o artigo com cuidado para procurar mais erros e verificar como existe gente escrevendo bobagem por aí.