Comecei a ler Longitude, de Dava Sobel, e logo no começo aprendi uma coisa. É perfeitamente plausível que Cabral tenha se perdido no meio do Atlântico e não soubesse que estava a mais de 30 graus de longitude oeste da costa da África. A tecnologia da época não fornecia medidas de longitude, que em alto mar só podia ser estimada a partir de medidas de velocidade. Os erros da medida de velocidade iam se somando ao calcular a posição - fenômeno bem conhecido de quem estuda navegação inercial - e causaram desastres piores do que a descoberta do Brasil ;-)
As navegações portuguesas se orientavam pela costa da África, e seguiam a Volta do Mar que aproveitava os ventos permanentes favoráveis no meio do Atlântico. Na falta de vento, a localização em alto mar era incerta.
No meu tempo de escola ensinavam que não era plausível um engano dessa magnitude. Isso demonstrava que a viagem de Cabral que resultou na assim-chamada descoberta do Brasil tinha sido algum tipo de conspiração de forças ocultas. A explicação não era muito coerente com a curta estadia de Cabral no Brasil - 2 semanas, tempo para reabastecer e rezar 2 missas - mas o atrativo da teoria da conspiração era irresistível. Não sei como explicam na escola hoje - não caiu no vestibular - mas a versão da Wikipedia é mais cautelosa e apenas indica que o desvio de rota pode ter sido intencional. A teoria de conspiração não resiste ao estudo da história, que de qualquer forma é muito mais interessante.
27 dezembro 2011
21 dezembro 2011
Sinclair, BBC, and Acorn computers
Acorn Computers grew in Cambridge, England. It evolved in cooperation and competition with products such as the Sinclair home computer, a ludicrously inexpensive machine from the time of the Apple II and the TRS 80. Acorn's defining product was the BBC computer - developed and marketed in cooperation with the British broadcaster.
To improve on the BBC computer's 6502 processor, Acorn developed an architecture called the Acorn Risc Machine. I wrote previously about the Risc x Cisc war, which the former is winning decisively though somewhat belatedly. Acorn doesn't exist anymore; but its Risc architecture, owned by a former subsidiary called ARM, has a 95% market share of smartphone processors.
ARM is the only relevant alternative to the Intel processor architecture, despite (or because) its socialist taxpayer-funded state-owned origins. It is always instructive to remember the history of the computer industry. Wikipedia links are provided for the benefit of the younger, the forgetful, and the non-geeks.
To improve on the BBC computer's 6502 processor, Acorn developed an architecture called the Acorn Risc Machine. I wrote previously about the Risc x Cisc war, which the former is winning decisively though somewhat belatedly. Acorn doesn't exist anymore; but its Risc architecture, owned by a former subsidiary called ARM, has a 95% market share of smartphone processors.
ARM is the only relevant alternative to the Intel processor architecture, despite (or because) its socialist taxpayer-funded state-owned origins. It is always instructive to remember the history of the computer industry. Wikipedia links are provided for the benefit of the younger, the forgetful, and the non-geeks.
19 dezembro 2011
Adeus Saab
Num passado muito remoto, numa galáxia distante, minha escola primária, o Externato Pequeno Príncipe, fez uma excursão para as Minas Gerais. Visitamos as cidades históricas, a gruta de Maquiné, ficamos alojados no Mineirão infestado de pernilongos. Mas esse post é sobre outro tipo de nostalgia - o saudosismo tecnológico.
O motorista que nos levou tinha muito orgulho de seu ônibus Scania Vabis. Recordo bem do motorista, encostado nas escadas do ônibus em uma parada na estrada, contando aos meninos do grupo que o Mercedes era o Fusca das estradas; mas ônibus de qualidade mesmo era o Scania. Nunca vou dirigir um ônibus, mas gostaria de ter dirigido um Saab-Scania - um carro escandinavo originado na Escânia. O Saab nunca foi vendido a sério no Brasil; e nas 2 oportunidades que tive para comprar um carro nos Estados Unidos, por motivos práticos as escolhas foram Renault e Volkswagen.
Nos anos 90 a fabricante de carros Saab se separou da Scania e se juntou à GM. O início do fim de uma fabricante pequena e inventiva. Agora a Saab fechou de vez. Não terei a oportunidade de ser motorista de um Scania Vabis. Nem de viajar no último dos vapores transatlânticos - o Eugênio C foi para Alang em 2005.
O motorista que nos levou tinha muito orgulho de seu ônibus Scania Vabis. Recordo bem do motorista, encostado nas escadas do ônibus em uma parada na estrada, contando aos meninos do grupo que o Mercedes era o Fusca das estradas; mas ônibus de qualidade mesmo era o Scania. Nunca vou dirigir um ônibus, mas gostaria de ter dirigido um Saab-Scania - um carro escandinavo originado na Escânia. O Saab nunca foi vendido a sério no Brasil; e nas 2 oportunidades que tive para comprar um carro nos Estados Unidos, por motivos práticos as escolhas foram Renault e Volkswagen.
Nos anos 90 a fabricante de carros Saab se separou da Scania e se juntou à GM. O início do fim de uma fabricante pequena e inventiva. Agora a Saab fechou de vez. Não terei a oportunidade de ser motorista de um Scania Vabis. Nem de viajar no último dos vapores transatlânticos - o Eugênio C foi para Alang em 2005.
18 dezembro 2011
Barça
Não consegui assistir o baile, mas fica claro que o futebol europeu está em grande fase: 30 anos depois de começarem a importar craques como Falcão e o Dr Sócrates, os europeus estão aprendendo a jogar futebol. Venceram 2 copas do mundo em seguida, pela 1a vez em 3 gerações; e sem roubar, pela 1a vez desde....... (quantas vezes algum país europeu tinha vencido a copa do mundo usando talentos futebolísticos mais do que os talentos de prata?). Clubes europeus ganharam 5 copas da Fifa seguidas, e estão se aproximando dos sul-americanos em títulos interclubes intercontinentais.
O Barça do Cruyff, o maior futebolista europeu, é mesmo um timaço. Uma democracia corintiana que deu certo.
07 dezembro 2011
Prêmio Excelência, 2011
Poste escrito sobre o Prêmio Excelência Acadêmica Institucional USP. O prêmio não foi pago pelo ano 2010, com o pretexto que algum índice caiu - tem mais índice de desempenho do que universidade no mundo, então sempre tem um que sobe, outro que desce. Para 2011 vamos receber dobrado, e mais uma explicação de cafezinho: além de algum índice ter subido, não houve greve. Já sabemos o critério para premiar todo mundo igualmente!
4 types of photo camera
I did some research and I'd say there are now 4 types of camera. At the high end, professional cameras with large sensors (APSC or larger), meant to be used with several lenses: fast normal, telephoto, wide-angle, and macro. At the low end, telephones are always in your pocket. Cameras that have small sensors but don't make phone calls no longer make sense, even if they are cheap. Note that the main spec that affects picture quality is sensor size, assuming that you have the camera with you - a large and heavy camera that stays at home doesn't take any pictures, good or bad.
In the middle there are 2 types: cameras that amateurs use when they want to look like pros, and cameras that pros use when they are not on assignment. The first are prosumer digital SLRs. If you carry only one zoom lens the advantage of a large sensor is unclear, but the weight is still there. The latter are the interesting ones: the ones we should reserve the word "camera" for. They all try to be more or less like Leica rangefinders. Choices include Fujifilm X100; Leica X1; Olympus and Panasonic micro 4/3 mirrorless cameras; and Sony NEX. The Nikon 1 cameras are in the low end of the range, because their sensor is barely large enough to get them out of the "telephone" category. In fact the Nikon 1 format is pretty much the only sensor with intermediate size. The Fujifilm X10 is nice but not quite there. I still like Pentax but I believe their Q format is a flop.
All have prices in the range of a prosumer digital single lens reflex. Among them I think it's a question of personal preference. I find the X100, with manual controls and a hybrid viewfinder, the most interesting one, although it has a fixed non-zoom non-image stabilized lens. Or because of that - zoom with your feet and stabilize with your hands. The Leica is a Leica. Micro 4/3 has more lenses available. I bet that Sony will be the most successful in the market. And Nikon knows what they are doing, even with a smaller sensor.
(Reposted from a comment on And now for something completely different… Cameras!)
In the middle there are 2 types: cameras that amateurs use when they want to look like pros, and cameras that pros use when they are not on assignment. The first are prosumer digital SLRs. If you carry only one zoom lens the advantage of a large sensor is unclear, but the weight is still there. The latter are the interesting ones: the ones we should reserve the word "camera" for. They all try to be more or less like Leica rangefinders. Choices include Fujifilm X100; Leica X1; Olympus and Panasonic micro 4/3 mirrorless cameras; and Sony NEX. The Nikon 1 cameras are in the low end of the range, because their sensor is barely large enough to get them out of the "telephone" category. In fact the Nikon 1 format is pretty much the only sensor with intermediate size. The Fujifilm X10 is nice but not quite there. I still like Pentax but I believe their Q format is a flop.
All have prices in the range of a prosumer digital single lens reflex. Among them I think it's a question of personal preference. I find the X100, with manual controls and a hybrid viewfinder, the most interesting one, although it has a fixed non-zoom non-image stabilized lens. Or because of that - zoom with your feet and stabilize with your hands. The Leica is a Leica. Micro 4/3 has more lenses available. I bet that Sony will be the most successful in the market. And Nikon knows what they are doing, even with a smaller sensor.
(Reposted from a comment on And now for something completely different… Cameras!)
03 dezembro 2011
Questões erradas na Fuvest 2012
Havia 3 questões erradas na prova da Fuvest 2012. O tipo de erro era semelhante: a questão podia ser resolvida seguindo os passos que se espera do estudante, levando a uma das alternativas apresentadas, mas a resposta era incompatível com o mundo real.
A questão 62 da prova V pedia cálculos sobre os ângulos de um hexágono convexo. Os cálculos mostravam que pelo menos um ângulo do polígono era maior ou igual a 180°, portanto não podia ser um hexágono convexo. Matemática sendo um assunto relativamente fácil, os professores de cursinho descobriram o erro e a questão foi anulada. Note que não falei que a prova de matemática era fácil - pelo contrário, achei de longe a prova mais difícil.
A questão 74 da prova V trazia um texto cuja interpretação era dada na alternativa E: "o principal motivo da adoção da mão de obra de origem africana era o fato de que esta precisava ser transportada de outro continente, o que implicava a abertura de um rentável comércio para a metrópole...". De fato o texto afirmava isso, portanto como questão de interpretação de texto a alternativa está correta. Porém a afirmação não faz sentido. A escravidão no Brasil só foi estabelecida pelos colonizadores porque a venda dos produtos do trabalho escravo na Europa era rentável. Caso contrário, o tráfico de escravos africanos não traria qualquer lucro. Um estudante que raciocinasse a respeito da alternativa, sem estar inoculado contra o viés ideológico que produz esse tipo de explicação absurda, não encontraria nenhuma alternativa correta. Talvez pela maior complexidade do tema, o erro não foi detectado pelos professores de cursinho.
Finalmente, segundo a resposta "correta" da questão 22 da prova V: "Uma das consequências do “efeito estufa” é o aquecimento dos oceanos. Esse aumento de temperatura provoca .... menor dissolução de CO2 nas águas oceânicas, o que leva ao consumo de menor quantidade desse gás pelo fitoplâncton, contribuindo, assim, para o aumento do efeito estufa global." O estudante poderia lembrar que a absorção de CO2 pelos oceanos ajuda a diminuir o o efeito estufa, que é causado em grande parte pelo aumento da concentração de CO2 na atmosfera. A maior concentração de CO2 no ar aumenta a proporção de CO2 entre os gases absorvidos pelos oceanos, um efeito contrário à diminuição da dissolução de ar na água devida ao aumento da temperatura. O efeito descrito na questão, embora seja a resposta "correta", é menos importante. Esse erro também não levou a anulação da questão.
Conclusão: a prova de matemática é a mais difícil, apesar de matemática ser a ciência mais fácil.
A questão 62 da prova V pedia cálculos sobre os ângulos de um hexágono convexo. Os cálculos mostravam que pelo menos um ângulo do polígono era maior ou igual a 180°, portanto não podia ser um hexágono convexo. Matemática sendo um assunto relativamente fácil, os professores de cursinho descobriram o erro e a questão foi anulada. Note que não falei que a prova de matemática era fácil - pelo contrário, achei de longe a prova mais difícil.
A questão 74 da prova V trazia um texto cuja interpretação era dada na alternativa E: "o principal motivo da adoção da mão de obra de origem africana era o fato de que esta precisava ser transportada de outro continente, o que implicava a abertura de um rentável comércio para a metrópole...". De fato o texto afirmava isso, portanto como questão de interpretação de texto a alternativa está correta. Porém a afirmação não faz sentido. A escravidão no Brasil só foi estabelecida pelos colonizadores porque a venda dos produtos do trabalho escravo na Europa era rentável. Caso contrário, o tráfico de escravos africanos não traria qualquer lucro. Um estudante que raciocinasse a respeito da alternativa, sem estar inoculado contra o viés ideológico que produz esse tipo de explicação absurda, não encontraria nenhuma alternativa correta. Talvez pela maior complexidade do tema, o erro não foi detectado pelos professores de cursinho.
Finalmente, segundo a resposta "correta" da questão 22 da prova V: "Uma das consequências do “efeito estufa” é o aquecimento dos oceanos. Esse aumento de temperatura provoca .... menor dissolução de CO2 nas águas oceânicas, o que leva ao consumo de menor quantidade desse gás pelo fitoplâncton, contribuindo, assim, para o aumento do efeito estufa global." O estudante poderia lembrar que a absorção de CO2 pelos oceanos ajuda a diminuir o o efeito estufa, que é causado em grande parte pelo aumento da concentração de CO2 na atmosfera. A maior concentração de CO2 no ar aumenta a proporção de CO2 entre os gases absorvidos pelos oceanos, um efeito contrário à diminuição da dissolução de ar na água devida ao aumento da temperatura. O efeito descrito na questão, embora seja a resposta "correta", é menos importante. Esse erro também não levou a anulação da questão.
Conclusão: a prova de matemática é a mais difícil, apesar de matemática ser a ciência mais fácil.
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